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VII EMENDA

5. NECESSIDADE DE APERFEIÇOAMENTO DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚR

5.2 OUTRAS ALTERNATIVAS DE APRIMORAMENTO

5.2.3 Testemunhas em plenário

A primeira parte da instrução do processo em plenário, conforme encontra- se previsto no Código de Processo Penal, é reservada à inquirição da vítima (quando possível)321 e das testemunhas, peritos etc, nessa ordem. Colocada a depor, quem primeiro fará perguntas à vítima presente e à testemunha é o juiz- presidente. Em seguida, passa-se a palavra para quem a arrolou (se a testemunha foi indicada pela acusação, ao agente acusador e, na sequência, ao assistente, se houver; se a testemunha tiver sido arrolada pela defesa, ao defensor).

Nos termos do art. 473, caput, do CPP, deve-se assegurar às partes o direito de realizar as perguntas desejadas diretamente ao interrogando ou ao depoente. Daí se vê abolido o antigo método, segundo o qual voltava-se a parte ao juiz, de modo a dirigir a ele a pergunta, para que, após, o magistrado viesse a repeti-la ao depoente (ou ao interrogando), como se fosse um autêntico tradutor da questão322. À essa sistemática, de inspiração norte-americana, como visto no cap. 4, dá-se o nome de cross examination, segundo informa Walter Nunes da Silva Júnior323.

Vedou-se, entretanto, aos jurados semelhante forma de inquirição, obrigando-os a formular suas indagações por meio do juiz-presidente (art. 473, §2o, do CPP)324, haja vista sua condição de leigos.

De outro modo, perguntas indevidas, destoantes do contexto e impertinentes podem e, até mesmo, devem, ser indeferidas pelo magistrado. Nesse caso, não há falar-se em cerceamento de direito325 .

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Deve o ofendido ser ouvido, se possível (estando vivo e em local certo e conhecido), bem como as demais pessoas arroladas pelas partes (arts. 422 e 473, caput, do CPP). É certo, ademais, que a vítima não deve ser considerada testemunha, tanto que a sua inquirição é regida em capítulo diferenciado daquele destinado à prova testemunhal, mas não menos correto afirmar que se trata de meio de prova fundamental. Note- e o p e e o em le : “ emp e q e po vel, o ofe o será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando- e po e mo e l çõe ” ( . 201, caput, do CPP).

322

PARADA NETO, José. A defesa no plenário do júri. Tribunal do júri: estudo sobre a mais democrática instituição jurídica brasileira. São Paulo: RT, 1999. p.176.

323

SILVA JÚNIOR, Walter Nunes da. Reforma tópica do processo penal: inovações aos procedimentos ordinário e sumário, com o novo regime das provas e principais modificações do júri e as medidas cautelares pessoais (prisão e medidas diversas da prisão). 2.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2012. p.248.

324

BRASIL. Código de Processo Penal e Constituição Federal. 54.ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

325 “O efe me o e pe g fo m l pel p e à e em h é o q e e inclui na esfera

de discricionariedade do magistrado, podendo o mesmo fazê-lo quando julgá-la prolelatória ou desnecessária, já que no sistema processual penal brasileiro vige o princípio da livre apreciação das provas, esculpido no art. 157 do CPP, não conduzindo tal negativa, necessariamente, no cerceamento do direito de acusação. Cabe ao julgador aquilatar quaisquer dúvidas e fazer

Recomenda Edilson Mougenot Bonfim que quando da inquirição da testemunha, deve-se cuidar de posicioná-la na frente dos jurados, de modo a que possam eles melhor estudá-la no tête-à-tête, sentindo-a psicologicamente, e, assim, avaliar, ainda que superficialmente, se é ou não merecedora de confiança; não se descurando do compromisso de dizer a verdade, exceto nos casos previstos na lei processual penal326.

Encerrado o depoimento, não está a testemunha necessariamente dispensada. Iniciados os trabalhos do Tribunal do Júri, segundo a percepção de Guilherme de Souza Nucci, todas as testemunhas presentes passam a ser do juízo e não mais da acusação ou da defesa327. Desse modo, ao final da inquirição, o juiz- presidente questiona ambas as partes a respeito da dispensa. Em caso de negativa de dispensa, a testemunha retorna à sala em que se encontrava, permanecendo incomunicável. Eventual acareação ou reoitiva justificam a medida.

Impende ressaltar, ademais, que, também em plenário, pode-se aplicar o disposto no art. 217, caput, do CPP, segundo o qual caso a presença do acusado vier a causar humilhação, temor ou sério constrangimento à vítima ou à testemunha, determinar-se-á a retirada do mesmo do plenário durante o depoimento. O afastamento da presença do acusado, todavia, não descaracteriza a possibilidade do seu advogado acompanhar os questionamentos, sempre resguardado pelo princípio da plenitude de defesa.

Ocorre, contudo, que as oitivas da vítima, da testemunha, do acusado etc., são realizadas muitas vezes em duplicidade no âmbito do tribunal popular. A primeira, durante a audiência de instrução, na fase judicium accusationis, quando é permitido tanto à acusação quanto à defesa de cada um dos acusados arrolar o número máximo de 08 (oito) testemunhas. Já a segunda oportunidade se dá na fase judicium causae, quando sói ocorrer o julgamento em plenário, na presença dos jurados, cabendo agora ao acusador, assim como à defesa de cada um dos

questionamentos às testemunhas para o deslinde do feito, tratando-se de matéria reservada ao seu poder discricionário, incumbindo à defesa comprovar a inocência do réu e, à acusação, a autoria e a materialidade delitiva em relação aos fatos constantes na denúncia através de dados objetivos. O magistrado, em se tratando de crime de competência do Tribunal do Júri, poderá intervir, formulando perguntas, sem que tal fato signifique condução irregular, parcial, pergunta transversa ou que fira os princípios da ampla defesa e contraditório ou do devido processo legal, já q e b ve e e l”. BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, Ap. 0272651/MG Relator Desembargador Walter Luiz, Data da decisão: 13 dez. 2011a. Disponível em: <www.tjmg.jus.br>. Acesso em: 30 jan. 2015.

326

BONFIM, Edilson Mougenot. Júri: do inquérito ao plenário. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p.536.

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acusados indicar o número máximo de 05 (cinco) testemunhas para serem ouvidas em plenário.

Com a unificação das duas fases em apenas uma, nos moldes sugeridos no presente trabalho científico, não faria mais sentido o arrolamento consecutivo de 08 (oito) e, logo após, 05 (cinco) testemunhas, podendo estas últimas diferirem das anteriores.

Sugere-se, portanto, ante a unificação das fases judicium accusationis e judicium causae, a realização de uma única sessão, fixando-se o rol de testemunhas para a acusação, assim como para cada um dos acusados, no número máximo de 08 (oito), a serem ouvidas em plenário do Tribunal do Júri.