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Formação do conselho de sentença: como evitar sua frustração

VII EMENDA

5. NECESSIDADE DE APERFEIÇOAMENTO DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚR

5.2 OUTRAS ALTERNATIVAS DE APRIMORAMENTO

5.2.2 Formação do conselho de sentença: como evitar sua frustração

A impossibilidade de formação do conselho de sentença no plenário do Júri por insuficiência do efetivo necessário à instauração da sessão de julgamento, ou seja, a presença de no mínimo 07 (sete) jurados, recebe, por construção doutrinária, e om ção “e o o e ”. Ve -se um exemplo: presentes 15 (quinze) julgadores leigos, conforme exigência prevista no art. 463 do CPP, são inaugurados os trabalhos; tendo, na ocasião, a defesa e a acusação dispensado, cada parte, 03 (três) jurados imotivadamente, além de outros 03 (três), desta feita sob alegação de suspeição ou impedimento. No caso esboçado, restariam apenas 06 (seis) jurados e, sendo necessários 07 (sete) à realização do julgamento, tornar-se-ia impossível a realização da sessão de Júri.

Na prática, a frustração na formação do conselho julgador fica mais sujeita a

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NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p.837.

ocorrer quando do julgamento de mais de um acusado. Sendo direito pessoal de cada um deles recusar até 3 (três) jurados injustificadamente, cada um dos réus pode indicar a seu defensor as pessoas que não deseja que sejam seus julgadores. Ocasiões há em que o acusado conhece o jurado e não deseja sua presença no conselho de sentença. A defesa, por sua vez, por questão de estratégia, pode servir- se da faculdade legal para, recusando jurados, provocar o adiamento da sessão por estouro de urna.

A inexistência de jurados suficientes à formação do conselho leva, todavia, em caso de julgamento de mais de uma acusado, à cisão processual, capaz de gerar, por sua vez, decisões contrapostas e, inclusive, julgamentos díspares. Inegável que consequências dessa monta tergiversam contra o princípio do juiz natural. Além do mais, foge ao interesse da sociedade a obtenção de julgamentos contendo decisões contrapostas acerca de um mesmo episódio. Situações como a ora relatada afrontam ainda a família da vítima e, por que não, dos próprios acusados, gerando a sensação de insegurança jurídica e descrença nas instituições. Ob e v o o “e o o e ”, é e e pl o po o o . 471 o CPP, que, prevendo a insuficiência de jurados por motivos variados tais quais impedimento, suspeição, incompatibilidade, dispensa ou recusa, determina que seja o julgamento adiado para o primeiro dia desimpedido, com observância do disposto no art. 464 do CPP.

Apesar de encontrar previsão na lei, esta não parece ser a solução que venha a melhor atender os pressupostos da celeridade e da economia processual. O adiamento da sessão do Júri, a depender do estado em que se encontra a pauta de julgamentos e a condição de preso ou não, poderá mesmo prejudicar consideravelmente o acusado e a sua defesa.

Bem intencionada quanto a evitar ocorrências desse tipo, a Lei 11.689/2008, alterou a redação da norma, aumentando o número de jurados de 21 (vinte e um) para 25 (vinte e cinco)316 .

Segundo Guilherme de Souza Nucci, a proporção de jurados alistados já se fazia insuficiente na anterior previsão feita pelo art. 439, do CPP. Após a reforma trazida pela Lei 11.698/2008, o art. 425, caput, do mesmo códex, continuou a subdimensionar o número de alistados para os grandes centros urbanos. A título

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BRASIL. Código de Processo Penal e Constituição Federal. 54.ed. São Paulo: Saraiva, 2014. Art. 447 do CPP.

exemplificativo, alerta o autor que no Estado de São Paulo, ao regular o alistamento de jurados na comarca da capital, o Provimento nº 744, de 2000, do Conselho Superior da Magistratura (CSM), ao considerar a ocorrência de um montante de mais de 25.000 (vinte e cinco mil) processos e inquéritos em andamento (dados do ano 2000) nas cinco varas do Júri da comarca da capital, elevou para 38.000 (trinta e oito mil) o número de jurados alistados, assim divididos: 14.000 (quatorze mil) para o 1º Tribunal do Júri e 6.000 (seis mil) para o 2º, 3º, 4º e 5º Tribunais do Júri, cada317.

Solução interessante seria, para os casos de julgamento de mais de um acusado, o sorteio prévio de 05 (cinco) novos jurados, totalizando 30 (trinta), ao invés dos atuais 25 (vinte e cinco). Esse quinteto provisório de novos indivíduos não integraria o corpo de jurados da reunião periódica e somente funcionaria para aquela sessão determinada, sendo todos dispensados ao final da mesma, em caso de sorteados e não recusados ou, caso contrário, logo após a formação do conselho de sentença, como sói ocorrer com os demais jurados integrantes do corpo fixo. A forma de sorteio, sugere-se, deve seguir o disposto nos arts. 432 a 435 do CPP, sendo a data de ocorrência em conformidade com o que dispõe o parágrafo primeiro do art. 433 do mesmo códex, de modo a possibilitar a convocação e a posterior apreciação pelo juiz de eventuais pedidos de dispensa. Desse modo, acredita o autor que o risco de frustração na formação do conselho seria reduzido consideravelmente ou até mesmo impossibilitado de ocorrer.

Outra solução de concepção elogiável, apontada pela doutrina e já aventada pela jurisprudência, conforme se demonstrará adiante é o empréstimo de jurados de um plenário para outro. A ferramenta mostra-se viável quando as varas competentes para o Júri contam com mais de um ou mesmo vários plenários, todos funcionando ao mesmo tempo e possuindo o mesmo horário de realização das sessões. Desse modo, verificada a insuficiência de pessoal para dar início à sessão de uma vara, tomar-se-íam emprestados, literalmente, componentes do corpo de jurados do plenário vizinho.

Há na jurisprudência basicamente dois entendimentos predominantes, sendo um favorável ao empréstimo e o outro segundo o qual este não seria possível. Iniciar-se-á a explanação pelo último caso.

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NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p.822.

Ao apreciar o habeas corpus nº 88.801-SP, de relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal deferiu, em 06 de junho de 2006, writ impetrado em favor de condenado pela prática de crime de homicídio (art. 121, § 2º, II, do CP) que, em seu julgamento, tivera como membro integrante do conselho de sentença um jurado convocado de outro plenário para complementar o número regulamentar mínimo. Arguira a defesa a violação da regra do art. 442 do CPP (atuais arts. 462 e 463, caput, do Código de Processo Penal318), haja vista a ausência de quórum legal para a instalação da sessão, já que presentes apenas 11 (onze) jurados. Em consequência, juízes leigos de plenário distinto daquele constante do edital publicado referente ao Júri do paciente, foram tomados de empréstimo319.

O entendimento pretoriano deu-se no sentido de que os julgadores leigos não convocados para aquele julgamento específico não poderiam ser utilizados, tendo em conta a necessidade de conhecimento prévio daqueles que poderiam compor o conselho de sentença. Ademais, ressaltou-se que não seria razoável exigir-se das partes a consulta da relação de jurados convocados para todos os plenários. Por fim, asseverou-se que, na espécie, a efetiva influência do jurado ‘emp e o’ o e l o o lg me o m culara de nulidade o Júri. A ordem de habeas corpus foi finalmente concedida com vistas à anulação do julgamento, a fim de que outro se realizasse.

De outro modo, tem o Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, entendimento contrário ao da Corte Suprema, conforme exposto no recente julgamento, datado de 26 de novembro de 2014, do habeas corpus nº 127104/SP, da relatoria do Ministro norte-riograndense Gurgel de Farias, integrante da Quinta Turma. Durante o julgamento, consubstanciou-se que a convocação de jurado de um dos plenários do Tribunal do Júri da capital do Estado de São Paulo para complementar o número regulamentar mínimo de 15 (quinze) jurados do Conselho de Sentença de outro plenário não caracteriza nulidade.

Fez constar o Ministro Relator, ademais, que a possível irregularidade na formação do conselho de sentença poderia caracterizar tão somente nulidade relativa, cuja arguição deve verificar-se logo após a ocorrência (art. 571, inciso VIII, e

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BRASIL. Código de Processo Penal e Constituição Federal. 54.ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo do Supremo Tribunal Federal, Brasília, DF, n.430, 5 a 9 jun. 2006b. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/info rmativo430.htm>. Acesso em: 07 jan. 2015.

572, inciso II, ambos do CPP), isto é, na abertura da sessão plenária de julgamento, o que não ocorrera no caso em análise. Afastou-se, desse modo, o conhecimento do writ320.

É, então, de se entender que, na atualidade, mesmo diante da reforma introduzida pela Lei 11.689/2008, mas considerando-se as enormes dificuldades enfrentadas pelo Judiciário para manter-se em funcionamento e garantir uma justiça célere e eficaz, os plenários do Júri, particularmente nas grandes comarcas, devem admitir o empréstimo de jurados de um para outro, a fim de evitar-se a frustração na formação do conselho de sentença, nos casos em que convocados os julgadores para o mesmo dia e a mesma hora, variando, apenas, o plenário para o qual se encontram designados a atuar. Assim, basta que as partes, querendo, consultem as relações dos jurados que compõem cada Tribunal do Júri da mesma comarca para determinado dia, abrangendo todos os plenários, para tomarem conhecimento de quais serão os prováveis juízes leigos a compor o conselho de sentença de uma dessas varas do Júri.

Logo, segredo não é, nem se deixa de seguir o ritual da publicação do edital. A convocação é pública e seu resultado, também. Se a praxe forense vier efetivamente a consagrar essa ferramenta, todos ficarão cientes de que jurados complementares poderão provir de quaisquer dos plenários em atividade no dia e na hora designados para o julgamento. Enfim, sem haver surpresa, nem tampouco infringência à lei, afigura-se acertada a providência, até mesmo para buscar o que o jurisdicionado efetivamente deseja, a celeridade no trâmite processual.

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Vide, ademais, os seguintes julgados da lavra do Superior Tribunal de Justiça, todos favoráveis ao empréstimo de jurados entre plenários do Tribunal do Júri:

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 34357/SP. Relator Ministro Og Fernandes. Julgamento em: 24 ago. 2009b. Publicado em: 19 out. 2009b. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=HC+34357&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i =4. Acesso em: 07 jan. 2015.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 132291/SP. Relatora Ministra Laurita Vaz. Julgamento em: 06 out. 2009d. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/ documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=918818&num_registro=200900559007&data= 20091103&formato=HTML>. Acesso em: 07 jan.2015.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 12536/SP. Relator: Ministro Hamilton Carvalhido.Julgamento em: 13 fev. 2001. Publicado em: 13 ago. 2001. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudência/doc.jsp?livre=HC+12536&&b=ACOR&p=true&t=&l=10& i=8>. Acesso em: 07 jan. 2015.