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VII EMENDA

5. NECESSIDADE DE APERFEIÇOAMENTO DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚR

5.2 OUTRAS ALTERNATIVAS DE APRIMORAMENTO

5.2.5 Quesitação aplicada aos jurados: culpado ou não culpado

Denomina- e “q e o á o” peç el bo pelo juiz-presidente, contendo os quesitos, correspondentes às questões fáticas expostas pelas partes em plenário, além de dizer respeito ao conteúdo da pronúncia e decisões confirmatórias posteriores, quesitos esses que são levados à apreciação dos jurados para a

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RANGEL, Paulo. Tribunal do júri: visão linguística, histórica, social e jurídica. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2012. p.206.

realização do julgamento em sala especial. Na lição de Hermínio Alberto Marques Porto, o questionário (ou a quesitação) compõe-se de uma sequência de perguntas que são oferecidas aos 07 (sete) jurados integrantes do conselho julgador, baseados tais questões nas teses desenvolvidas no plenário do Júri349.

Jader Marques, por seu turno, conceitua o conjunto de quesitos como questionamentos postos aos jurados350. Nessa esteira, o art. 482, caput, do Código de Processo Pe l, p ev q e “O o elho e entença será questionado sobre a m é e f o e e o o eve e b olv o”.

Trata-se, portanto, de indagações objetivas, espelhando questões fáticas, e o o e m e é , “em p opo çõe f m v ” ( . 482, parágrafo único, do CPP). A manifestação do colegiado julgador em relação a cada um dos quesitos apresentados envolve, certamente, a emissão de uma opinião ou de um juízo de valoração íntimo.

Não é tarefa fácil elaborar quesitos, devendo o juiz-presidente ter atenção suficiente, durante os debates, para captar as teses expostas, bem assim durante o interrogatório, com o fim de buscar o conteúdo da autodefesa, assim como o da defesa técnica351.

Nesse diapasão, dispõe Jader Marques, considerando o período anterior à reforma de 1988, que, para que se conseguisse formar um juízo relativo à culpabilidade ou não do acusado, deveria ser o jurado submetido a teses jurídicas as mais diversas, muitas delas de grau elevado de complexidade. A simplificação do questionário pela Lei nº 11.689, de 9 de julho de 2008, não afastou, contudo, a necessidade de explicação minuciosa pelo magistrado do conteúdo de cada quesito.

A finalidade da simplificação da quesitação decorre do entendimento de que, no sistema anterior, por conta da formulação de perguntas as mais variadas e da abordagem de circunstâncias jurídicas diversas levadas ao crivo dos jurados, muitas incompreensões e muitos equívocos acabavam levando à anulação do

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PORTO, Hermínio Alberto Marques. Júri: procedimentos e aspectos do julgamento e questionários. 10.ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p.198.

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MARQUES Jáder. Tribunal do júri: considerações críticas à lei 11.689/08, de acordo com as leis 11.690/08 e 11.719/08. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p.138-139.

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“A el bo ção e q e o é m f e p o e m e ve ção o Jú . I o porque, diante das variáveis que se materializam na trama dos crimes dolosos contra a vida – tentativas, qualificadoras, causa de aumento e de diminuição da pena, concursos de agentes e outras mais –, condensá-las em quesitos precisos é uma tarefa árdua e ão veze g .” BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus 96469/RJ. Relator Ministro Carlos Britto. Publicado em: 14 ago. 2009c. Disponível em: <http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/ 5255688/habeas-corpus-hc-96469-rj>. Acesso em: 25 fev. 2015.

julgamento352.

Nessa esteira, o art. 482, parágrafo único, do CPP prevê que os quesitos evem e e g o “em p opo çõe f m v , mple e , e mo o q e m po e e po o om f e e l ez e e e á p e ão”353

. Na sua elaboração, o juiz-presidente deverá levar em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgarem admissível a acusação, do interrogatório do réu e das alegações das partes debatedoras.

Cada quesito, antes do advento da Lei nº 11.689/2008, devia representar uma assertiva constante do libelo, hoje extinto, apresentado pelo órgão acusatório, e pelo menos uma tese de defesa, sustentada em plenário. Segundo lição de Guilherme de Souza Nucci354, o legislador brasileiro optou por seguir o modelo francês de Júri, embora a origem moderna da instituição tenha ocorrido na Inglaterra, conforme mencionado anteriormente, razão pela qual não se indaga dos jurados tão somente se o acusado é culpado ou não culpado.

As sucessivas reformas no rito do Tribunal do Júri aproximaram, entretanto, o modelo brasileiro de votação do sistema anglo-americano, consubstanciado no veredicto único em relação à culpabilidade ou não. Daí que no Brasil, passou-se a indagar em regra, logo após às questões referentes à materialidade e autoria ou participação, se o acusado deve ser absolvido ou não.

A vantagem desse sistema é facilitar o trabalho dos jurados na busca da decisão, tendo em vista não terem eles que responder a uma quesitação extensa, contendo questionamentos por vezes pouco compreensíveis ao leigo. Por outro lado, o benefício do sistema adotado no Brasil é permitir às partes envolvidas uma visão mais apurada do modo e das razões pelas quais o conselho de sentença resolveu absolver ou condenar o acusado. Logicamente, torna-se mais fácil recorrer de um veredicto que tende a demonstrar qual foi o ponto aceito pelo Júri, do que contra uma decisão que se limita a dizer unicamente ser o acusado culpado ou não culpado.

O art. 483 do CPP, por sua vez, define a ordem para a apresentação das perguntas aos jurados, qual seja: I – a materialidade do fato; II – a autoria ou participação; III – se o acusado deve ser absolvido; IV – se existe causa de

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MARQUES Jáder. Tribunal do júri: considerações críticas à lei 11.689/08, de acordo com as leis 11.690/08 e 11.719/08. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p.138-139.

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BRASIL. Código de Processo Penal e Constituição Federal. 54.ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

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diminuição de pena alegada pela defesa; V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

Nesse sentido, Jader Marques versa sobre os questionamentos propostos aos jurados, iniciando pela materialidade que está ligada diretamente à existência ou não do fato relatado355. Desse modo, o primeiro quesito a ser elaborado e dirigido ao conselho de sentença deve relacionar-se ao fato principal; restrito, porém, ao aspecto concernente à materialidade, ou seja, à prova da existência do fato lesivo à vítima.

Entende-se por fato principal a tipicidade correspondente ao delito doloso contra a vida, justamente a infração penal que atrai a competência para o Tribunal do Júri. Logo, se vários forem os delitos imputados, indaga-se, em primeira série, acerca da ocorrência do crime doloso contra a vida, seja ele qual for. Somente após, passa-se à análise de outras infrações, em séries distintas.

Afirmada a existência do fato, pergunta-se no segundo quesito sobre a autoria ou participação, sendo que deverá ser indicada a ação imputada ao acusado que foi admitida na pronúncia. Cabe ainda dentro do questionamento observar o § 1º, o . 483, o CPP q e po v o eg e: “A e po eg v , e m e 3 jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do o.” E o § 2º o me mo go ompleme : “Re po o f m v me e po m e 3 o o q e o relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a eg e e ção: O o b olve o o?”356

.

Debate-se na doutrina e na jurisprudência se o terceiro quesito seria obrigatório ou facultativo quando a tese de negativa de autoria houver sido a única suscitada diante dos jurados. Há quem sustente que, uma vez que essa tese seja negada, não haveria razão para propor o quesito genérico de absolvição, já que não foi objeto de solicitação defensiva. Sob esse prisma, o quesito seria facultativo.

Na lição de Guilherme de Souza Nucci, essa seria uma interpretação claramente distorcida do objetivo da reforma trazida pela Lei nº 11.689/2008, uma vez que afrontosa aos princípios constitucionais da soberania dos veredictos (art. 5º,

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MARQUES Jáder. Tribunal do júri: considerações críticas à lei 11.689/08, de acordo com as leis 11.690/08 e 11.719/08. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p.140-142.

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inciso XXXVIII, alínea c, da CF) e da plenitude de defesa (art. 5º, inciso XXXVIII, alínea a, da CF)357.

Em prol do caráter obrigatório do quesito genérico de defesa, ainda que negada a tese de negativa de autoria e sendo a mesma a única arguida, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça358 e Tribunais de Justiça de Estados da federação, como o de Goiás, o do Rio Grande do Sul e o de São Paulo359.

Insta, ademais, ressaltar que um dos projetos de alteração do Código de Processo Penal, que acabou por sofrer alteração, trazia o terceiro quesito da eg e fo m : o vé f h “SIM” e “NÃO” o em q e o , o e e o e m el g f “CULPADO” e “NÃO CULPADO”. E e ção fo , omo á afirmado, alterada posteriormente para os “SIM” e “NÃO”.

Ora, a forma aprovada de quesitar parece absolutamente tendenciosa, levando a que o jurado pouco atento, pouco inteligente, preguiçoso ou descomprome o om elevâ e e e go, ve h e po e “SIM”360

. Ao reverso, considera o autor que o termo “CULPADO” e a expressão “NÃO CULPADO” conduzem a uma resposta despida de influências advindas dos problemas supra apontados.

Por fim, importante registrar-se a sugestão do doutrinador Guilherme de Souza Nucci, no sentido da informatização do processo de votação dos quesitos pelos jurados. Segundo o estudioso, a exemplo do que é feito com as urnas eletrônicas utilizadas para o sufrágio eleitoral, poderiam ser disponibilizados terminais eletrônicos para cada um dos membros do conselho julgador, de forma que, pressionada a tecla escolhida, viesse a surgir, à vista de todos, o voto (sem identificação do jurado, por óbvio). Ao final, automaticamente se teria o resultado da

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NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do júri. 5.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p.280.

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BRASIL. Superior Tribunal Justiça. Habeas Corpus 223.044/ES. Relator Ministro Jorge Mussi.

Julgamento em: 27 ago. 2013a. Disponível em: <

http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24198844/habeas-corpus-hc-223044-es-2011-0257134-0- stj/inteiro-teor-24198845>. Acesso em: 25 fev. 2015.

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BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Embargo de Declaração 70036400778/RS. Relator Desembargador Marco Antônio Ribeiro de Oliveira. Julgamento em: 09 jun. 2010. Publicação em: 16 jul. 2010c. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q =70036400778&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&filter=0&getfields=*&aba=juris&ents p=a__politica-site&wc=200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF-8&ud=1&lr=lang_pt&sort=date%3A D%3AS%3Ad1&as_qj=&site=ementario&as_epq=&as_oq=&as_eq=&as_q=+#main_res_juris>. Acesso em: 26 fev. 2015.

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A experiência do autor na realização de centenas de sessões de Tribunal do Júri leva-o ao entendimento de que alguns jurados, pouco compromissados com a relevância da missão social que lhes é confiada, optam pelo caminho que lhes parece mais fácil de desicumbir-se, mple me e epo o o vo o “SIM” , em e e e e po ável “l v - mão ”.

votação. Naturalmente, o voto não poderia a identificar o jurado, cabendo ainda ao sistema eletrônico descartar aqueles que ultrapassem os 4 (quatro) que representam a maioria, haja vista a instituição do voto definidor, como já analisado anteriormente.

O procedimento idealizado resultaria na salutar exclusão do instrumental atualmente utilizado, constituído de antiquadas fichas e urnas destinadas a recolher os votos depositados pelos jurados e recolhidos por servidores da vara, mecanismo incondizente com o avanço tecnológico dos tempos atuais361.