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VII EMENDA

3. O TRIBUNAL DO JÚRI NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE

3.4 A SOBERANIA DOS VEREDICTOS

O princípio da soberania dos veredictos proferidos pelos jurados em julgamentos do Tribunal do Júri encontra, como já mencionado, hierarquia constitucional no ordenamento jurídico brasileiro. Referido princípio baseia-se na evidência de que as decisões do conselho de sentença são soberanas, ou seja, não podem ser reformadas pelo tribunal a quem, em caso de recurso de apelação lastreado na alegativa de julgamento manifestamente contrário à prova dos autos.

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BRASIL. Lei nº 11.689, de 9 de junho de 2008. Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências. [Brasília: s.n.], 2008a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato 2007-2010/2008/Lei/11689.htm?>. Acesso em: 01 jun.2015.

Soberania, na lição de Flamarion Tavares Leite, é termo que encontra origem no final do século XVI, surgindo juntamente com a ideia de Estado para indicar o poder estatal em sua plenitude132.

Ao lado do princípio da soberania, destaque-se, caminha em mesmo plano aquele referente ao sigilo das votações. Não podendo rever a decisão dos jurados, pode, entretanto, o tribunal ad quem anular o julgamento (apenas uma vez) e determinar que outra sessão de Tribunal do Júri seja realizada, permitindo-se que outros jurados (necessariamente outros, não os mesmos que proferiram o veredicto atacado) possam reapreciar o caso e, sigilosamente, proferir sua própria decisão, conforme dispõe o Código de Processo Penal brasileiro, em seu art. 593, inciso III133.

Caracteriza-se, pois, a soberania dos veredictos pela impossibilidade de que o julgamento resultante da decisão dos jurados venha a sofrer qualquer reforma pelo tribunal ad quem quanto ao mérito do decisum; podendo, entretanto, anular-se a sessão do Júri uma única vez134.

Em outras palavras, a decisão coletiva dos jurados não pode ser alterada em seu mérito por um tribunal formado por juízes técnicos, mas apenas por outro conselho de sentença, quando o primeiro julgamento for manifestamente contrário à prova dos autos. O Tribunal do Júri é, em essência, aquele soberano, com poder de decidir sobre o destino dos acusados, e procedendo, na lição do doutrinador Walfredo Cunha Campos, liberto da tecnia própria dos magistrados.135.

Desse modo, os jurados emitem seus votos individualmente, 07 (sete) no total, que resultam em uma decisão coletiva, denominada veredicto; decisão essa, suprema. Daí a expressão que deságua no princípio da soberania dos veredictos, proveniente do latim supremus, ou seja, que tem a qualidade do soberano.

Costa Cruz, citado por José Frederico Marques, serve-se da expressão “ obe o ”, o efe -se às razões que levam os jurados a responder os quesitos que lhes são apresentados quando do julgamento136.

132

LEITE, Flamarion Tavares. Os nervos do poder: uma visão cibernética do Direito. São Paulo: Max Limonad, 2001. p.28.

133

BRASIL. Código de Processo Penal e Constituição Federal. 54.ed. São Paulo: Saraiva. 2014.

134

PRADO, Amauri Renó do; BONILHA, José Carlos Mascari. Manual de processo penal: conhecimento e execução penal. 2.ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003. p.262.

135

CAMPOS, Walfredo Cunha. Tribunal do júri: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2010. p.9.

136

CRUZ, Costa. Curso elementar de prática do processo criminal. rev. Paulo Maria de Lacerda. 1930. p. 198 apud MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 3.ed. Campinas: Millennium, 2009. v.3. p.248.

Sendo decisão soberana, suprema, pois, não se permite modificação no seu mérito por tribunal composto por magistrados togados, com exceção apenas, nos casos de sentença condenatória transitada em julgado, por meio da ação de revisão criminal, prevista nos arts. 621 a 631, todos do Código de Processo Penal, mas rigorosamente restrita aos casos previstos no art. 621 do mesmo diploma137.

A soberania dos veredictos caracteriza-se, finalmente, pela impossibilidade de ataque ao mérito do que decidiram os jurados (exceção permitida apenas à ação revisional suprarreferida), recebendo esse princípio hierarquia constitucional, conforme impõe o já referido art. 5º, inciso XXXVIII, da Carta Magna.

Claro resta que, em prol da absolvição do acusado, todavia, tal princípio não é absoluto, admitindo-se que o tribunal absolva quem restou condenado injustamente pelo Júri popular em sentença transitada em julgado, no âmbito da ação de revisão criminal. Nesse sentido, posiciona-se Fernando da Costa Tourinho Filho, que entende que o direito à liberdade supera qualquer outro, o que justifica a desconstituição de uma sentença penal condenatória transitada em julgado pela via da ação revisional, em sobreposição ao princípio da soberania138. De mais, que se esclareça que a ação de revisão criminal só é permitida quando em favor do réu e, ainda assim, nos casos excepcionais previstos no já mencionado art. 621 do CPP139. Deve-se destacar, por fim, que a soberania dos veredictos funda-se no princípio da equidade. Antes mesmo, porém, de adentrar na discussao, válida a menção de que o termo equidade deriva do grego επιεικέια, e tem origem no pensamento de Aristóteles. A equidade, segundo o filósofo grego, encontra-se relacionada à justiça, sendo esta última considerada como a principal das virtudes, visto que se manifesta na relação com o próximo, por meio de práticas reiteradas de ações justas.

Hodiernamente, a equidade é por vezes reconhecida como fonte de direito em alguns ordenamentos jurídicos e como instrumento de integração em outros. A ordem jurídica brasileira não faz menção explícita ao uso da equidade, seja como fonte de direito, seja como instrumento integrador. Assim é que o art. 4º, da Lei de introdução às normas do Direito brasileiro (LINDB) não prevê a possibilidade do uso

137

BRASIL. Código de Processo Penal e Constituição Federal. 54.ed. São Paulo: Saraiva. 2014.

138

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado. São Paulo: Saraiva, 1996. p.351.

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da equidade em casos de omissões legislativas, restringindo-se à utilização da analogia, dos costumes e dos princípios gerais de direito.

No entanto, o art. 5º do me mo po vo leg l p ev q e, “ pl ção lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem om m”. De e mo o, o leg l o , que tacitamente, ao estabelecer tal norma, conduz o magistrado à busca de decisões equitativas com o escopo de se atingir o bem comum e os fins sociais pretendidos pela ordem jurídica, viabilizando o uso da equidade como parâmetro de uma decisão razoável.

A equidade, portanto, é a adequação da lei ao caso concreto, atendidas as suas peculiaridades, tendo em vista o caráter genérico e abstrato da atividade do legislador, atribuindo ao juiz a ponderação proporcional da norma à situação fática.

No Tribunal do Júri, é o instrumento responsável pela absolvição ou condenação do acusado, não pelo juiz togado, mas pela união dos votos dos jurados que, como já explicitado, são essencialmente leigos. Devem, pois, os mesmos julgar baseados em suas convicções íntimas e nas peculiaridades do caso submetido à sua apreciação, não havendo que se falar em juízo normativo, tal é obediência ao princípio da equidade.

Em outras palavras, o jurado, na imensa maioria dos casos, não possui formação jurídica; de modo que dele não se pode exigir que decida conforme o entendimento da doutrina ou da jurisprudência, senão com base na sua "íntima convicção" a respeito do caso que lhe é dado julgar.

Ao determinar o ordenamento jurídico brasileiro que o julgador deve tomar a sua decisão lastreado em sua convicção íntima, está delineando um julgamento por equidade, ou seja, na justiça do caso dado; não se constituindo, pois, em um julgamento normativo.

É o q e M g o To e e om e “vo o e o ” eg o aos jurados, diante o ção e q e “Há q e o f , po o, o p óp o ão, q e elle e e e pel o om , el v , m e e á o J y” 140

.

E omple o me e: “E v zá-lo à jurisprudência, controlal-o pelas regras legaes de prova seria desvirtual-o, além de o tornar inútil141.

140

TORRES, Magarinos. Processo penal do jury no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Jacintho, 1939. p.119-122.

141

3.5 A COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA