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2.2 O C ONSELHO M UNDIAL DE I GREJAS E A PROMOÇÃO DA HETERODOXIA

2.2.1 E MANAÇÕES DO ALTO : O ECUMENISMO E A D ÉCADA NO B RASIL

Para entender a recepção da Década por parte do Conselho Nacional de Igrejas

Cristãs, o CONIC, organismo que a promoveu no Brasil e que congrega as igrejas em pauta

neste estudo, além das igrejas Anglicana, Metodista, Ortodoxa, Presbiteriana e Reformada

(ver BOCK, 1998, TIEL, 2000; BAESKE, 2001, p. 19), é necessário levar em conta a

configuração das relações entre as igrejas protestantes no Brasil. Tal configuração permite

entender a filiação de algumas ao CMI e a recepção de suas pautas como tomadas de posição

nesta configuração, da qual não se excluem as relações do “protestantismo brasileiro” com a

Igreja Católica.

Isto porque o CMI representa e congrega os protestantismos que se voltam para uma

ação (moral) no mundo e se contrapõem à tendência protestante “pietista”, “fundamentalista”,

que coloca ênfase na salvação espiritual, no encontro individual e emocional com Deus. A

tendência pietista agrega os protestantismos dissidentes, os pentecostais, e certas lideranças

carismáticas protestantes (COLONOMOS, 2000, p. 143-154) e considera que a “abertura para

o mundo” do protestantismo tradicional desconsidera as escrituras bíblicas e está fundado

numa intelectualização excessivas e na secularização (PRESIDENTE ..., 1976, p. 1069-1067).

Esta clivagem entre os protestantismos se reproduz no Brasil: de um lado os protestantismos

“tradicionais”, “históricos”, (os luteranos da IECLB, os reformados, os metodistas, os

como a Igreja Universal do Reino de Deus, denunciados como “manipuladores das massas”

(MAFRA, 2000), ou então caracterizados como “fundamentalistas”, centrados nas escrituras

bíblicas, mais “atrasados”, como a Assembléia de Deus e os batistas. Por outro lado, esta

identificação com o “moderno”, o “progressista” e o “intelectual” se redobra no caso da

IECLB como distinção da IELB, que não é filiada ao CMI, considerada “pietista”, e mesmo

“reacionária”. Estas lógicas de diferenciação e de “modernização”, levam a cúpula da IECLB

à escuta atenta dos estímulos do CMI para ações em favor dos oprimidos, e à adesão – por

parte das cúpulas das Igrejas, mais ecumênicas e teológicas – a suas formulações e

problemáticas, o que se concretizará, por exemplo, na criação e atuação do CONIC e na

Década.

Também é necessário levar em conta certa similitude da proximidade entre o CMI e a

Igreja Católica, que teve seu auge na década de setenta, e os protestantismos históricos e a

Igreja Católica no Brasil, em seus setores progressistas, e no Rio Grande do Sul, suas cúpulas

e setores mais intelectualizados. Assim, o CMI e membros da Igreja Católica se engajam na

formação de comissões mistas de trabalho teológico (CMI, 1982, p. 283-287), e no fomento

aos ecumenismos locais. No Brasil, esta proximidade inspirou a existência de um setor da

CNBB voltado ao ecumenismo (HORTAL, 1989, p. 248). Esta cooperação entre

protestantismo tradicional representado pelo CMI e Igreja Católica é um dos fundamentos da

criação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o CONIC.

O ecumenismo protestante-católico pode ser caracterizado, em termos de agentes que

o levam a cabo, como “ecumenismo do saber”. Isto porque ele constitui espaços de

engajamento e atuação de teólogos: as numerosas comissões de trabalho e estudo, os setores

dos conselhos de Igrejas voltados à reflexão teológica, destinam-se a estudar de forma

teológica e fazem com que as instituições ecumênicas tenham uma grande ênfase nesta

dimensão46.

Assim, o CMI promoveu e inspirou diferentes iniciativas ecumênicas nas quais se

engajam indivíduos ligados à formulação da Teologia da Libertação. Isto quer dizer que a

atuação em favor dos oprimidos e a teologia sobre os oprimidos são indissociáveis no âmbito

do CMI. Na América Latina, o CMI apoiou grupos ecumênicos-teológicos47, como é o caso

do Igreja e Sociedade na América Latina (ISAL) e posteriormente o Conselho Latino

Americano de Igrejas (CLAI) (COLONOMOS, 2000, p. 100-109; sobre o ISAL, ver também

SANTA ANA, 1990). Estas organizações ecumênicas promoveram o contato entre teólogos

protestantes e católicos e outros “intelectuais”, em especial cientistas sociais latino-

americanos engajados na elaboração de uma teologia latino-americana, que contemplasse os

problemas relativos à injustiça social (COLONOMOS, 2000, p. 101-102; SANTA ANA,

1990, p. 89).

Estas instituições, que conformam redes e referenciais de formulação teológica, vão

marcar para protestantes e mesmo para os católicos na América Latina e no Brasil uma

ruptura que será pensada por estes como geracional: a partir do engajamento de seus quadros

mais jovens nestas instâncias, os protestantismos latino-americanos considerados mais

“tradicionais” rompem com o pensamento liberal ou conservador vigente nestas igrejas até

então (SANTA ANA, 1990; SCHÜNEMANN, 1992). No entanto, Colonomos (2000, p. 103-

105), observa que o progressismo em meio protestante também está relacionado a uma

elaboração identitária destas igrejas como partícipes do cenário político, ou também influindo

46

Hortal , (1989, p. 218), jesuíta professor de instituições de ensino católicas como o colégio Cristo Rei em São Leopoldo e posteriormente, reitor da PUC-RJ, menciona o Diretório Ecumênico, regulamento para as relações da Igreja Católica com outras Igrejas, no qual consta a “nomeação de peritos para os conselhos”; p. 223, cita o Estatuto do CONIC, no qual a reflexão teológica é um dos objetivos do mesmo; p. 224 e 229, em que menciona que as comissões mistas são “principalmente de natureza teológica”, o que pode dificultar a difusão de sua mensagem junto aos fiéis. Além disto, as organizações ecumênicas de ensino e de estudo da Bíblia são também espaços de atuação de teólogos, como, por exemplo, o Centro de Estudos Bíblicos, o CEBI. Ver também Wolff , 1999, p. 47, o qual considera que o ecumenismo é resultado dos esforços de teólogos europeus.

47

Sobre os vários grupos teológicos ecumênicos sobre inspiração do CMI, surgidos na década de sessenta e setenta, ver Schünemann, 1992, p. 52-55.

nos rumos da sociedade, além de ganhar visibilidade no espaço religioso latino-americano

dominado pela Igreja Católica. Assim, é possível que a adesão à Teologia da Libertação entre

os protestantes esteja relacionada a aggiornamentos internos, percebidos como “necessários”

em uma sociedade que se “moderniza”. A recepção de novas pautas relativas aos oprimidos,

no caso, a mulher, não só segue a lógica de fomento ao trabalho teológico que é própria ao

ecumenismo, mas também tem legitimidade entre os “progressistas” que conformam o espaço

ecumênico no Brasil.

A atuação do grupo que levou adiante a proposta da Década foi bastante marcada

pelas características deste organismo. Se a Década foi caracterizada pela busca de atualização

das pautas relativas à mulher nas Igrejas-membros do CONIC, isto significou sua

circunscrição como próxima das cúpulas das igrejas e seus interesses, dentre os quais a

promoção de sua união e contemporização de “diferenças”.

Para entender a atuação do CONIC, é necessário dar conta de suas origens e de suas

relações com outras Igrejas, associações religiosas, ecumênicas ou não. Isto significa que é

preciso entender a “cena religiosa”, ou como as diferentes igrejas ou grupos de igrejas

demarcam alianças e simultaneamente excluem outras agremiações religiosas e igrejas. Elias

Wolff, padre católico e mestre em teologia, expõe a “regra de ouro” de toda a aliança entre

Igrejas:

Existe uma diversidade religiosa que é legítima e grupos constituídos com os quais a Igreja busca dialogar. (...) De outro lado, o pluralismo religioso é entendido também como conseqüência do agressivo proselitismo exercido por alguns grupos junto à população católica. Por isto, a abertura para o diálogo ecumênico por parte da Igreja Católica, não implica em assumir uma atitude passiva diante da perda de seus fiéis. É condição para o diálogo o não-proselitismo. Este é combatido com todas as forças, e com ele não existe diálogo (WOLFF, 1999, p. 62-63).

É possível extrapolar esta regra de entrada no jogo ecumênico para todas as igrejas em

Uma primeira e maior clivagem entre as Igrejas é aquela entre as Igrejas “históricas” e

de “missão” e as Igrejas Pentecostais. Numa tentativa de identificar o que está em jogo nestas

estratégias de diferenciação, pode-se indicar que, além do fato de que as “históricas” e de

“missão” são igrejas “consolidadas” e as pentecostais “proselitistas”, as alianças entre as

Igrejas podem estar relacionadas à proximidade social de seus fiéis. Como já foi dito, há uma

forte correlação entre religião e classe social no Brasil (WANIEZ e BRUSTLEIN, 2000, p.

114). Assim, as características sociais dos membros aproximam luteranos, anglicanos e

metodistas (mais favorecidos economicamente, brancos e escolarizados) em relação aos

pentecostais (não brancos, mais pobres e menos escolarizados) (WANIEZ e BRUSTLEIN,

2000, p. 115, 117 e 120-121). Da mesma forma, pode-se pensar que haja uma certa

homogeneidade em termos de características sociais entre os profissionais destas Igrejas,

principalmente entre seus teólogos e cúpulas dirigentes, o que seria dado principalmente por

sua alta escolarização. A Igreja Católica, conquanto seus fiéis espalhem-se por todo o espectro

social (WANIEZ e BRUSTLEIN, 2000, p. 109), em termos de cúpulas e teólogos, ou elites

intelectuais, é bastante próxima daquelas protestantes também devido à escolarização destes.

Colonomos (2000, p. 107) nota que a narrativa da história do protestantismo coloca as

igrejas “históricas” e de “missão” como “guardiãs das tradições legítimas” do protestantismo,

as quais os pentecostalismos e principalmente os neo-pentecostalismos subverteriam. As

igrejas protestantes históricas e de missão, em sua maioria, seriam as igrejas “ecumênicas”,

enquanto que as pentecostais seriam fechadas em si mesmas e proselitistas. São as históricas e

de missão Presbiteriana, Episcopal, Metodista, IECLB, Evangelho Quadrangular e Brasil para

Cristo (duas pentecostais “quase históricas”) que fazem parte da Confederação Evangélica do

Brasil (CEB) (1934-até início da dec.70). No entanto, haveria uma proximidade maior entre

Esta clivagem entre igrejas mais e menos legítimas estabelecida pelo ecumenismo

dominante se redobra entre as entidades ecumênicas preocupadas com a justiça social, ou

“abertas ao mundo”, e as igrejas que se fecham ao seu tratamento (pentecostais e mesmo

setores dos protestantismos “tradicionais”). Isto se traduz, para as igrejas históricas, na

formação e participação nas inúmeras organizações ecumênicas que surgem ao longo das

décadas de sessenta e setenta: Igreja e Sociedade na América Latina (ISAL), Coordenadoria

Ecumênica de Serviço (CESE), Centro de Ecumênico de Capacitação e Assessoria (CECA),

Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), e o próprio CONIC. Por fim, mesmo o ecumenismo mais

estritamente evangélico é demarcado em relação àquele que aproxima católicos e protestantes:

organismos como o Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI) prima pelo “diálogo” com

a Igreja Católica, o Grupo Ecumênico de Reflexão Teológica (GERT), que reúne professores

de teologia católicos, luteranos, metodistas e anglicanos (TIEL, 1998, p. 62-63) e também o

CONIC, do qual a Igreja Católica faz parte se contrapõem, por exemplo, à Associação

Evangélica Brasileira (AEVB), que procura um ecumenismo exclusivamente evangélico,

inclusive com as Igrejas pentecostais (TIEL, 1998, p. 70).

Quanto ao CONIC propriamente dito48, pode-se dizer que ele é tanto o resultado de

estímulos da CNBB e do CMI à formação de uma organização ecumênica de cúpula, quanto

da pré-existência de diálogo entre as Igrejas-membro no Rio Grande do Sul. Este “diálogo” se

dava a partir dos centros de ensino religiosos das respectivas Igrejas, ou seja, era um diálogo

entre teólogos (conforme BOCK, 1998, p. 49-51). Como se vê no depoimento de um jesuíta

professor de teologia em um seminário em São Leopoldo, vizinho da Faculdade de Teologia

luterana:

Eu me lembro do primeiro encontro que tivemos, o P. Bertoldo Weber, da Faculdade de Teologia do Morro do Espelho, e eu, em São Leopoldo. (...) Era a época da guerra. Naquela ocasião, nós falamos que, tendo duas escolas de teologia em São Leopoldo, os luteranos no Morro do Espelho, e os

48

A trajetória que leva à formação do CONIC e o detalhamento das suas atividades está descrita em Bock, 1998. Ver também Tiel, 1998.

jesuítas no Seminário Central de São Leopoldo (...), poderíamos iniciar um diálogo ecumênico como estava se realizando em outras partes. (...) Depois achamos ainda bom convidar a Igreja Metodista e a Igreja Episcopal, que também tinham casas de formação aqui no sul. O seminário de Viamão, que foi fundado um pouco mais tarde, também mandou um representante. (Frederico Laufer, in BOCK, 1995, p. 1).

A alta escolarização, que parece ser a característica comum entre estes pioneiros do

ecumenismo no Brasil e sua inserção nas instituições escolares das respectivas igrejas é

redobrada por outras proximidades. O diálogo entre teólogos-pastores da Faculdade de

Teologia e jesuítas de origem alemã do Seminário Cristo Rei remonta à década de 50, fruto de

uma convivência também em “encontros amigáveis esporádicos em certas ocasiões da vida

social” (Frederico Laufer, jesuíta, entrevista, in BOCK, 1995, p. 2). Além disto, está

relacionado também a um mesmo pertencimento étnico, o que se nota neste depoimento de

um ex-aluno da Faculdade de Teologia:

O intercâmbio com cristãos brasileiros de outras raízes não era assim tão fácil, já que havia também preconceitos não ligados à etnia e à língua, que dificultavam o diálogo. Mas será digno de nota que muitos anos antes do Concílio Vaticano II um grupo de docentes da Escola de Teologia realizava reuniões de estudo regulares com os professores jesuítas do Seminário Cristo Rei (por amor à verdade preciso dizer que os jesuítas eram alemães ...) (WEINGÄRTNER, 1986, p. 39).

Muitos dos que participaram dos diálogos que deram início ao CONIC passaram a

fazer parte dos quadros dirigentes de suas respectivas igrejas (conforme TIEL, 1998, p. 63).

Isto parece ter dado um caráter de ecumenismo de cúpula ao CONIC, o que se vê pelos seus

quadros49.

49

No grupo de São Leopoldo (pré CONIC), temos B. Weber, professor da Faculdade de Teologia da IECLB, representou o Brasil na Comissão Mista Católico Luterana, presidiu a Comissão Ecumênica da IECLB e participou da 5ª Assembléia do CMI. P. Olejak e F. Laufer, jesuítas professores do Seminário Cristo Rei. Laufer posteriormente lecionou em Roma. W. Altmann, professor da EST, reitor e diretor do IEPG, futuramente presidente do CLAI e da IECLB. Jesus Hortal, jesuíta, professor no Seminário Cristo Rei, posteriormente Reitor da PUC do Rio, assessor do CONIC e da CNBB para o ecumenismo, Karl Gottschald, presidente da IECLB, participou da 5ª Assembléia do CMI; Sinésio Bohn, bispo de Brasília (1977), de Santa Cruz do Sul (1989), coordenador da pastoral da juventude e do ecumenismo na CNBB, depois vice presidente e presidente do CONIC; Cláudio Hummes e Ivo Lorscheitter, bispos católicos, este último presidente da CNBB, participou dos primeiros diálogos entre os professores de teologia, e dos encontros de dirigentes de igrejas para a fundação do CONIC. Augusto Kunert, presidente da IECLB (1979-1985), participou dos encontros de dirigentes das igrejas. As diretorias do CONIC: a primeira entre 1982 e 1986 teve Ivo Lorscheitter como presidente, Augusto Kunert como Vice, Orlando Silveira, reverendo da Igreja Anglicana como Secretário, Sady da Silva, bispo metodista e presidente do colégio episcopal como tesoureiro; além de dois pastores da Igreja Luterana como Secretários- Executivos: Godofredo Boll (que também coordenara o movimento estudantil luterano na década de 70), e Rui

Uma das características deste ecumenismo seria justamente seu distanciamento das

“bases”, como ecumenismo de “cúpula”, como considera o primeiro vice-presidente do

CONIC, bispo metodista: “ele [o CONIC] nasceu com as lideranças das igrejas, as lideranças

maiores, e, por isto, em relação às bases, que ele tem até (...) um distanciamento de origem”

(Stanley da Silva Moraes, in BOCK, 1998, p. 66). E também como ecumenismo intelectual,:

“(...) determinados documentos do CONIC, determinados pronunciamentos do CONIC,

certamente careceriam de uma tradução para uma linguagem mais próxima daquela que as

pessoas usam (...)” (Emil Sobottka, secretário adjunto e secretário executivo do CONIC, in

BOCK, 1998, p. 51).

A valorização das cúpulas dirigentes tem a ver com a busca de legitimidade por parte

das Igrejas-membro para pronunciar-se sobre os problemas sociais: uma das tônicas do

CONIC, além da investigação teológica sobre questões religiosas (os problemas relativos aos

contatos entre membros das Igrejas: batismos, casamentos mistos, etc.), seria sua disposição a

dar sua contribuição quanto às “questões sociais” do país: “O CONIC realmente é a

participação conjugada das igrejas em seu sentido bem oficial. Talvez isto foi bom para tirar

qualquer dúvida, dar mais confiança a esta entidade (...)” (Ivo Lorscheitter, bispo católico e

primeiro presidente do CONIC, in BOCK, 1998, p. 72). Isto se faz não por uma inserção de

seus membros em “lutas sociais”, ou pela difusão de pronunciamentos junto aos fiéis das

Igrejas membro, mas em pronunciamentos destinados à sociedade em geral e às autoridades

Bonatto; a segunda diretoria (1986-1990): Gottfried Brakemeier, professor da EST, presidente da IECLB entre 1985 e 1994, presidente da FLM, Sinésio Bohn como vice-presidente; Isaac Aço, bispo metodista como Secretário, Cláudio Gastal, bispo anglicano como tesoureiro, G.Boll como secretário-executivo; Emil Sobottka, teólogo e sociólogo como secretário adjunto (1987) e Carlos Gilberto Bock também como Secretário Adjunto. A diretoria de 1990 a 1994: Isaac Aço, que faleceu em 1991, sendo substituído pelo vice-presidente, Sinésio Bohn. Vice-presidente passa a ser Gerson Meyer da Igreja Presbiteriana Unida. H. Kirchheim, primeiro vice-presidente da IECLB, depois presidente, como secretário, e Olavo Luiz, bispo primaz da Igreja Anglicana como tesoureiro, Emil Sobttka como secretário executivo. A diretoria de 1995 a 1998 marca uma diversificação com relação às Igrejas que ocupam os cargos mais altos e também com relação à entrada de mulheres na mesma: Glauco Soares de Lima, bispo primaz da Igreja Anglicana no Brasil, assume a presidência do CONIC, Stanley da Silva Moraes, bispo metodista, é seu primeiro vice-presidente, Sinésio Bohn, o segundo vice; Emil Schubert, pastor regional da IECLB, terceiro vice, Terezinha Motta da Cruz, pedagoga e assessora da CNBB para ensino religioso nas escolas como secretária e Nilson Pinto Correa, reverendo presbiteriano como tesoureiro. Tais informações estão em Bock, 1998.

estatais. O CONIC tenta ser uma “autoridade moral”, que inspira o bom tratamento das

injustiças sociais, nos moldes da atuação dos bispos da CNBB durante o regime militar: “(...)

acho que em momentos cruciais do Brasil, a palavra do CONIC tem um peso. Acho que todo

este movimento de ética na política, certas tomadas de posição em questões de fundo, como a

fome, a situação geral do país, acho que tem um peso diferente que as igrejas falem juntas, e é

um exemplo.” (José Oscar Beozzo, in BOCK, 1998, p. 20).

Esta atuação se faz a partir de uma hegemonia da Igreja Católica no CONIC, como já

mencionado. A Igreja Católica presidiu inicialmente o CONIC e esteve à frente de seus

principais cargos. É como se as igrejas membro protestantes necessitassem da autoridade

adquirida pela Igreja Católica em questões sociais para seus posicionamentos serem ouvidos,

o que não deixa de gerar um certo desconforto entre estes: “As Igrejas tinham a sensação de

que juntas poderiam contribuir mais para a reformulação da vida pública brasileira (...) Essa

preocupação havia. O CONIC não é um anexo da CNBB, o CONIC tem uma posição própria.

As igrejas evangélicas tem [sic] que fazer ouvir a sua voz dentro do CONIC.” (Godofredo

Boll, pastor luterano e secretário executivo do CONIC, in BOCK, 1998, p. 90 e 91).

É a partir deste ecumenismo de cúpulas dirigentes e de vocação teológica que é

fomentada a discussão oficial destas igrejas sobre os problemas da condição feminina. Deve-

se dizer, por outro lado, que a participação feminina na diretoria do CONIC só a partir de sua

quarta diretoria, que integrou uma mulher na direção, e nenhuma delas jamais esteve na

prestigiada Comissão Teológica. A maioria de mulheres que entrou no CONIC foi como

membro de uma comissão específica, a Década – e todas entraram como não teólogas

(conforme BOCK, 1998, p. 73). Não se pode deixar de mencionar que elas também entram

pelo “lado prático”, no posto de secretárias. É que ao lado da boa vontade esclarecida em

relação à mulher, e aos estímulos do CMI para sua “promoção”, impõe-se “naturalmente” o

depoimento do secretário executivo do CONIC, o qual não pode prescindir de “uma secretária

que tivesse experiência de escritório (...). Achamos. (...) era uma secretária de mão cheia. Ela

salvou o CONIC e a mim também, porque eu via as coisas, dizia como deviam ser feitas e ela

dava encaminhamento. Na verdade, ela era a executiva (...)” (Godofredo Boll, in BOCK,

1998, p. 89).

A Década foi o compromisso possível entre um ecumenismo de cúpula, masculino e

intelectualizado, que o implementou, e as pautas estabelecidas no CMI relativamente às

mulheres ao longo das décadas de 70 e 80. Assim, o CONIC teria “assumido na íntegra” as

pautas da Década da mulher do CMI (Sobottka, in BOCK, 1998, p. 49 e 5 anexo). Para as

igrejas membro do CONIC estas pautas significaram a “modernização” das temáticas relativas

à condição feminina. Isto se dá principalmente entre as igrejas protestantes, as quais possuem

formas de organização e enquadramento de mulheres que podem ser chamadas de