• Nenhum resultado encontrado

REVISÃO DA LITERATURA

1. RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA EAD

1.1 EAD no Brasil

Diversos modelos de Educação a Distância já venceram a desconfiança de muitos dos tradicionalistas envolvidos com a Educação. Esta constatação surge a partir da percepção de que são cada vez mais numerosos os programas de EAD nas instituições de ensino. Em função de sua latente carência educacional e da sua geografia continental, o Brasil se apresenta como base potencialmente importante para o desenvolvimento dessa modalidade de educação. No entanto, a partir de uma análise histórica e da contextualização atual da EAD percebe-se que ainda há um longo caminho a ser percorrido.

São várias as instituições públicas e particulares que oferecem cursos à distância para a educação formal de graduação e pós, empreendendo, em parceria com empresas dispersas

pelo país, o treinamento e a capacitação de profissionais. O próprio governo federal vê com atenção o desenvolvimento da EAD como forma de democratizar o acesso dos brasileiros à educação.

Para Curi (2007), fundamental para a consolidação da EAD é derrubar o temor de que ela está aí para concorrer com os programas presenciais ou para piorar a qualidade de ensino em busca de modelos mais baratos e lucrativos para empresários de setor de educação. A

EAD é um modelo que não tem o objetivo de roubar espaço do ensino presencial, mas de atuar em um campo inexplorado e inacessível pelas restrições dos modelos convencionais de sala de aula.

1.1.1 A imprescindível busca do tempo perdido

Se no mundo, já no início do século XX, são documentadas produções de alguns filmes educacionais e transmissões radiofônicas realizadas por universidades norte- americanas, no Brasil a modalidade só se afirmou nos anos 60, através de aulas de rádio acompanhadas por material impresso (PAGENOTTO, 2007). A aulas focavam essencialmente a formação técnica, onde a maioria dos cursos se valia apenas do papel e dos Correios.

No entanto, o início da EAD no Brasil não está associado ao material impresso, e sim ao rádio, Bordenave (apud PIMENTEL, 1995) aponta a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923, por Roquete Pinto como o marco inicial da EAD no Brasil, transmitindo programas de literatura, radiotelegrafia e telefonia, além de línguas, de literatura infantil e outros de interesse comunitário (ALVES, 1994).

Em 1936, surgia o Instituto Rádio Técnico Monitor, com programas dirigidos ao ramo da eletrônica (ALVES, 1994; PIMENTEL, 1995) e, em 1941, o Instituto Universal Brasileiro, dedicado a formação profissional de nível elementar e médio utilizando material impresso.

A Diocese de Natal, no Rio Grande do Norte, criou escolas radiofônicas que deram origem ao Movimento de Educação de Base – MEB, em 1959, e que Alves (1994, p.16), Nunes (1992) e Pimentel (1995) colocam entre as experiências de destaque em EAD, cuja preocupação básica era alfabetizar e apoiar os primeiros passos da educação de milhares de jovens e adultos, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Em 1970, surgiu o Projeto Minerva, irradiando cursos de Capacitação Ginasial e Madureza Ginasial produzidos pela Fundação Padre Landell de Moura - FEPLAM e pela Fundação Padre Anchieta (PIMENTEL, 1995). Este programa foi implementado como uma solução, a curto prazo, aos problemas do desenvolvimento econômico, social e político do país. Tinha como panorama histórico, um período de crescimento econômico, conhecido como “o milagre brasileiro”, onde o pressuposto da educação era de preparação de mão de obra para fazer frente a este desenvolvimento e a competição internacional (ALONSO, 1996, p. 59). Este projeto foi mantido até o início dos anos 80, apesar das severas críticas e do baixo índice de aprovação, pois “77% dos inscritos não conseguiu obter o diploma” (ALONSO, 1996, p. 61).

No início dos anos 70, o número de analfabetos no Brasil era um entrave à modernização do país, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. A opção governamental foi a adoção das primeiras experiências de educação por satélite, baseado no relatório

Advanced System for Comunications and Education in National Development - ASCEND,

idealizado pela Stanford University, que preconizava a eficácia de um protótipo de “sistema total” de utilização do audiovisual com a finalidade de educação primária (MATTELART, 1994).

Surgiu então em 1974, o projeto SACI – Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinares, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, destinado à formação de professores da Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte. No formato de telenovela, atendia às quatro primeiras séries do primeiro grau. O projeto foi interrompido em 1977-1978 sob o “pretexto oficial de que seria demasiado dispendioso comprar outro satélite; colocando em evidência as contradições nas diferentes instâncias do Estado brasileiro entre as estratégias em matéria de telecomunicações, educação e política científica.” (MATTELART, 1994, p. 190)

Em 1978, a Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) e a Fundação Roberto Marinho (PRETI, 1996) lançaram o Telecurso 2° Grau, utilizando programas de TV e material impresso vendido em bancas de jornais, para preparar os alunos para o exame supletivo (PIMENTEL, 1995). Em 1995, foi lançado o Telecurso 2000, nos mesmos moldes (PRETI, 1996).

Em 1991, foi iniciado o Programa “Um Salto para o Futuro”, uma parceria do Governo Federal, das Secretaria Estaduais de Educação e da Fundação Roquette Pinto (PRETI, 1996, PIMENTEL, 1995) dirigido à formação de professores. Este programa vem crescendo e aprimorando o atendimento aos professores, aumentando o número de telepostos organizados pelas Secretarias de Educação dos Estados.

Entretanto, foram várias as iniciativas que não tiveram sucesso e continuidade no país. Loyolla, diretor científico da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), citado por Pagenotto (2007), ressalta que, já no final da década de 60, a EAD perdera força no Brasil, por falta de uma legislação apropriada para o setor. O Brasil ficou parado no momento em que a modalidade crescia fortemente em todo o mundo e a discussão em torno do tema só voltou a ganhar força em dezembro de 1998. A partir de 1999, o Brasil pôde começar a ter seus primeiros cursos superiores a distância regulamentados pelo Conselho Federal de Educação, atual CNE.

Segundo dados da Abed, de 2004 para 2005, a modalidade de Educação a Distância cresceu 32%. Nesse mesmo período, foram catalogados 215 novos cursos de Ensino a Distância reconhecidos pelo MEC, ministrados por 116 instituições espalhadas pelo país.

Loyolla (apud PAGENOTTO, 2007) ressalta ainda que, a cada nova tecnologia utilizada pela sociedade, abre-se uma gama de possibilidades para o ensinar e o aprender, o que gera forte impacto na Educação a Distância. O surgimento de novos meios tecnológicos e de comunicação é capaz de desencadear novas experiências educacionais e a conseqüência deste impacto é a concretização de novas bases pedagógicas do pensamento da EAD. A tabela a seguir mostra um histórico da implementação destas tecnologias no país.

Tabela 3

Histórico das Tecnologias de EAD no Brasil

1904 Mídia impressa e correio – ensino por correspondência privado. 1923 Rádio Educativo Comunitário

1965 – 1970 Criação das TV´s Educativas pelo poder público.

1980 Oferta de supletivos via Telecursos (televisão e material impresso), por fundações sem fins lucrativos.

1985 Uso de mídias de armazenamento como meios de complemento (vídeo-aulas, disquetes, CD- ROM).

1989 Criação da Rede Nacional de Pesquisa (uso de BBS, Bitnet e e-mail)

1990 Uso intensivo de teleconferências (cursos via satélite) em programas de capacitação a distância). 1994 Início da oferta de cursos superiores a distância por mídia impressa.

1995 Disseminação da Internet nas Instituições de Ensino Superior, via Rede Nacional de Pesquisa.

1996 Redes de videoconferência – Início da oferta de cursos de pós-graduação a distância por universidade pública em parceria com empresa privada.

1997 Criação de Ambientes Virtuais de Aprendizagem – Início da oferta de especialização a distância, via Internet, em universidade públicas e particulares.

1999 – 2001 Criação de redes públicas privadas e confessionais para cooperação em tecnologia e metodologia para uso nas NTIC na EAD.

1999 – 2002 Credenciamento oficial de instituições universitárias para atuar em Educação a Distância.

Fonte: Abed

A constatação de que a Educação a Distância, intermediada por ambientes virtuais, estará cada vez mais presente nas instituições de ensino superior e a maneira como tem sido metodologicamente tratada esta modalidade de educação, torna inconcebível que esta nova maneira de educar ainda se prenda a antigos paradigmas.

Este fato pode ser verificado, no documento - Educação a Distância (EAD) na Graduação: as políticas e as práticas (2002), apresentado pelo Fórum Nacional de Pró- Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras (FORGRAD). O documento do FORGRAD nos possibilita concluir que as novas tecnologias para EAD também serão utilizadas pelas IES como um dos meios para a ampliação do processo de democratização da educação e, principalmente, para a ressignificação do paradigma educacional.

Também o MEC, através de sua Secretaria de Educação a Distância – SEED, ressalta uma finalidade semelhante para o EAD:

A Secretaria de Educação a Distância - SEED compõe a estrutura organizacional do Ministério da Educação – MEC, e suas competências constam no artigo 25 do Decreto nº 5.159, de 28 de julho de 2004, a saber: I – formular, propor, planejar, avaliar e supervisionar políticas e programas de educação a distância, visando à universalização e democratização do acesso à informação, ao conhecimento e à educação (BRASIL, MEC/SEED, 2004).