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Quanto à motivação: foi perguntado ao professor se ele sente que seus alunos estão motivados e integrados à proposta pedagógica; e aos alunos, se eles se

sentem motivados e parte integrante de um ambiente virtual.

Visão dos professores

Entre os professores, quatro dizem que sim, seus alunos estão motivados; dois afirmam não terem certeza disso. Os dois professores que não têm certeza da motivação dos seus alunos, fazem uma afirmação extremamente questionável ao alegar que “a motivação

deve partir do próprio aluno”. A professora 3 reconhece que a motivação dos alunos deve

surgir a partir das propostas feitas pelos professores, entretanto, sente dificuldade para motivar os alunos em função de “não existir contato físico, todo contato é escrito”. Outra aparente confusão sobre como se dá a motivação, acontece quando a professora 3 faz a afirmação de que “a EAD é uma possibilidade para que o aluno possa desenvolver técnicas

de auto-motivação”.

A professora 5 pondera, e, fazendo um relação entre os cursos virtuais e presenciais já ministrados em sua carreira, lembra que o fato de existirem alunos não motivados e que fazem o curso “de qualquer maneira”, existe tanto em cursos virtuais como presenciais, sendo esta uma característica independe do ambiente onde se da aprendizagem.

Quando indagada sobre “como motivar alunos virtuais”, a coordenadora afirma que

“é necessário conhecer o perfil do aluno e proporcionar a oportunidade para que a própria turma se conheça, através da leitura do perfil de cada um, de mensagens, chats, etc” e, desta

forma, cada aluno pode “criar sua própria comunidade virtual”. A coordenadora cita ainda uma turma do semestre anterior onde a integração era tão grande que os alunos eram classificados, pelos professores, como “bagunceiros virtuais”. Foi necessário, inclusive, segundo a coordenadora a divisão do AVA em dois ambientes distintos, um para aprendizagem, outro para interações informais entre os participantes.

O professor 2 ressalta a forma com que inicia o contato com os alunos: “as primeiras

mensagens dos professores devem ser carinhosas para proporcionar a empatia.” O professor 4 ratifica: o professor deve ter a consciência de que “as mensagens devem ser

direcionadas à pessoa e não ao grupo e que o contato deve ser individual”. A professora 5

releva ainda a necessidade de se “manter uma comunicação recorrente, constante, insistente

e muito afetiva”, dizendo que, por vezes, ao se deparar com determinado tipo de mensagem

no AVA, já atuou, inclusive, como psicóloga.

Na visão dos alunos

A quase totalidade dos alunos virtuais (exceto o aluno 2, de pós-graduação) dedica um tempo mínimo ao ambiente virtual, exclusivamente o necessário para cumprir a tarefa proposta pelo professor. Esse tempo, segundo a aluna 6 pode chegar a apenas “dez ou quinze

minutos por semana”, às vezes imediatamente antes da hora limite para postagem do trabalho.

Fato interessante é que mais da metade dos alunos entrevistados não se sente parte de uma comunidade virtual de aprendizagem (CVA). Os que se consideram parte de uma comunidade, entretanto, notadamente atribuem essa característica ao fato de não serem analfabetos digitais ou estarem integrados com as novas tecnologias. Ou seja, para os alunos entrevistados, participar de uma CVA significa participar de programas que criam redes sociais virtuais, ou simplesmente comunidades virtuais (CA), como: MSN, ORKUT, FOTOLOG, entre outros; e não de uma Comunidade Virtual de Aprendizagem.

É gritante na análise das entrevistas o fato de que a maioria dos alunos participantes não se sente motivado. Os alunos, notadamente os de Medicina, dizem que se sentiriam motivado se as aulas fossem de matérias “mais importantes” para o seu curso, se referindo às matérias dispostas através de EAD como disciplinas secundárias ou sem importância para o currículo. O aluno 4 diz que se sentiria mais motivado se o ambiente virtual pudesse “trazer

aulas em tempo real, e o aluno pudesse acompanhar de sua casa ou de outra cidade: intervenções cirúrgicas, conferências entre médicos, cotidiano de hospitais [...]”

CAPÍTULO IV

DISCUSSÃO

É claro o hiato detectado entre as percepções de alunos e professores sobre a utilidade, a metodologia e a eficácia da EAD. A falta de consenso entre alunos e professores pode ser explicada, em parte, por Moraes (2005), quando afirma que a maioria dos trabalhos de educação a distância continua reproduzindo a sala de aula tradicional com um pouco mais de recursos e sofisticação. Isto necessita ser mudado, pois um ambiente virtual de aprendizagem necessita ser concebido com um sistema cognitivo-emocional onde interagem diferentes atores, instituições e tecnologias acopladas por meio de diferentes linguagens.

Para Curi (2007), fundamental para a consolidação da EAD é derrubar o temor de que ela está aí para concorrer com os programas presenciais ou para piorar a qualidade de ensino em busca de modelos mais baratos e lucrativos para empresários de setor de educação. Esta é exatamente uma das ponderações mais fortes entre os alunos, que atribuem o seu ingresso na disciplina virtual a uma imposição de grade horária da Universidade, como medida de diminuição de gastos operacionais. Valente (2003), entretanto, afirma que a EAD tem sido considerada uma alternativa para o processo educacional, atendendo a crescente demanda por mais educação, mais alunos e maior carga horária de instrução.

Já nos primeiros questionamentos da entrevista, a maioria dos alunos ressalta a falta de motivação em participar de ambientes virtuais de aprendizagem. Para os alunos, principalmente os de Medicina, o AVA poderia ser capaz de proporcionar outras formas de interação com o conteúdo. Esse aspecto deveria ser mais observado nas instituições pesquisadas, segundo Castro (2003, p.19), “o diferencial desta nova fase da EAD é a ênfase na construção do conhecimento novo e original, baseada nas possibilidades de fortalecimento da interação e do coletivo”.

O receio demonstrado pela professora 3, quanto à necessidade de constante aprendizagem, e a aparente dificuldade em lidar com as novas tecnologias, é explicado em parte por Moraes (2002, p.10), quando comenta o novo paradigma educacional, e ressalta que: “na verdade, continuamos educando baseados em valores do passado cada vez mais distantes das nossas necessidades atuais, esquecendo-nos que a educação do presente estará no centro do nosso futuro e que todos dependeremos dela”.

Um dos relatos mais interessantes é o da coordenadora quando afirma que, no semestre passado, existia uma turma de alunos tão empolgados com o ambiente virtual, que chegaram a ser classificados, por ela, como “bagunceiros virtuais”. Em concordância com isso, Pallof e Pratt (2002) descrevem o aluno bem sucedido nos cursos a distância como sendo um “aprendiz barulhento”, ou seja, ativo e criativo no processo de aprendizagem.

Dois professores relatam, como desvantagem dos cursos virtuais, o fato de o aluno não poder ter, na EAD, a mesma postura que têm em um curso presencial. Conforme citado no decorrer deste pesquisa, Palloff & Pratt (2004) apontam que o envolvimento ativo do aluno, é realmente crítico para o êxito do processo e definem ainda que alunos virtuais devem ser capazes de: produção de conhecimento, colaboração e gerenciamento do processo. Essas características, entretanto, não chegam a ser, no entender do pesquisador, desvantagens; mas sim um conjuntos de papéis, entrelaçados e interdependentes, para que alunos virtuais passem a ter responsabilidades.

A professora 5 cita um exemplo de alunos que têm o conjunto de características desejáveis ao perfil de aluno virtual. Ela afirma já ter ministrado disciplinas para alunos que

“rendiam mais no virtual que no presencial” e ressalta que esses alunos “preferem esse tipo de ambiente”. Os conceitos abordados por Palloff e Pratt (2002) são reforçados não só quanto

aos alunos tímidos que preferem o ambiente virtual, mas também quando a professora 5 ressalta que “a EAD requer uma característica própria de alunos que possuem disciplina,

autonomia, interesse e organização.”

Extremamente questionável é o relato da professora 3, quando afirma que, através da EAD, o aluno tem “a oportunidade de se auto-motivar”. Embora a motivação dos aluno seja uma tarefa difícil, pois é algo que surge de dentro para fora, acreditamos ser o professor,

responsável por proporcionar as condições ambientais para que a motivação dos seus alunos ocorra. Almeida (2001) relata que, para que haja qualidade nos processos de ensino e aprendizagem através da EAD, é preciso criar um ambiente que favoreça a aprendizagem significativa ao aluno, despertando a disposição para aprender, disponibilizando as informações pertinentes de maneira organizada e, no momento apropriado, promova a interiorização de conceitos construídos.

Ainda sobre motivação, Moran (2003) afirma que, se é difícil manter a motivação no presencial, será muito mais difícil no virtual, se não envolvermos os alunos em processos participativos, afetivos, que inspirem confiança. O aluno virtual deve ser capaz de fazer contribuições significativas tanto para a sua própria aprendizagem, quanto para a de seus colegas.

Silva (2003) afirma que o ambiente virtual deve favorecer a interatividade, entendida como participação colaborativa, bidirecionada e dialógica, além da conexão de teias abertas como elos que traçam a trama das relações. Esta afirmação é demonstrada pelos professores quando reconhecem a necessidade de implementar técnicas capazes de aproximar, “através

de gestos carinhosos” (professores 2 e 5), professores e alunos no ambiente.

Essa aproximação, no entanto, fica extremamente prejudicada, quando não existe consenso, entre professores e alunos, sobre a sua estabilidade. O professor 2 afirma que a EAD é capaz de proporcionar que o professor esteja 24h à disposição do aluno, o que vem a ser veementemente confrontado pelos alunos 1, 4 5 6 e 7, quando afirmam que as respostas demoram dias para serem dadas: “as respostas não são tão instantâneas quanto o prometido”

(aluna 4).

Para a coordenadora, ministrar um curso EAD é uma “oportunidade do professor

repensar suas prática pedagógicas”. Para o pesquisador, mais que uma oportunidade, uma

necessidade. Isso pode ser observado, por exemplo, quando a professora 3 revela dificuldade em avaliação, por achar que, “na EAD, o que se avalia é o produto final do aluno, e não os

processos de construção do conhecimento”. Percebemos aqui, claramente, a inobservância a

um dos conceitos mais importantes destacados nesta pesquisa: o estar junto virtual, que possibilita a interação entre professor e aluno, baseada na construção coletiva do conhecimento via rede (VALENTE, 2003).