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MARCOS TEÓRICOS QUE FUNDAMENTAM A EAD NO BRASIL

5. PEDAGOGIA DE PROJETOS

“Se fizermos do projeto uma camisa de força para todas as atividades escolares, estaremos engessando a prática pedagógica”. (ALMEIDA, 2002).

Uma temática que vem sendo muito discutida, atualmente, no cenário educacional é o trabalho por projetos. Seja o projeto político-pedagógico da escola, o projeto de sala de aula, o projeto do professor, o projeto dos alunos, o projeto de informática e muitos outros, dependendo do contexto e da vivência escolar. Essa diversidade de projetos que circula no âmbito do sistema de ensino, muitas vezes, deixa o professor preocupado com a maneira de situar sua prática pedagógica, que deve ser capaz de integrar as diferentes mídias nas atividades do espaço escolar.

Na pedagogia de projetos, o aluno aprende no processo de produzir, de levantar dúvidas, de pesquisar e de criar relações, que incentivam novas buscas, descobertas, compreensões e reconstruções do conhecimento. O papel do professor deixa de ser aquele que ensina por meio da transmissão de informações, para criar situações de aprendizagem cujo foco incide sobre as relações que se estabelecem nesse processo. Cabe ao professor realizar as mediações necessárias para que o aluno possa encontrar sentido naquilo que está aprendendo, a partir das relações criadas nessas situações. A esse respeito Valente (1999) acrescenta:

“[...] no desenvolvimento do projeto o professor pode trabalhar com diferentes tipos de conhecimentos que estão imbricados e representados em termos de três construções: procedimentos e estratégias de resolução de problemas, conceitos disciplinares e estratégias e conceitos sobre aprender”. (VALENTE, 1999, p. 4).

Percebemos então que, para fazer a mediação pedagógica, o professor precisa acompanhar o processo de aprendizagem do aluno, entendendo seu caminho, seu universo cognitivo e afetivo, sua cultura, história e contexto de vida. O professor deve ter clareza da sua intenção pedagógica para saber intervir no processo de aprendizagem do aluno, garantindo que os conceitos utilizados na realização do projeto sejam compreendidos, sistematizados e formalizados pelo aluno.

Trabalhar com projetos significa lidar com ambigüidades, soluções provisórias, variáveis e conteúdos não identificáveis a priori e emergentes durante o processo de

desenvolvimento. Esse conjunto de variáveis, dá ou projeto uma característica de plasticidade e flexibilidade nas tomadas de decisões. O desenvolvimento de projetos visa, portanto, transformar uma situação problemática em uma situação desejável.

Mas, o que vem a ser um projeto? Um projeto é:

Uma pesquisa ou uma investigação, mas desenvolvida em profundidade sobre um tema ou um tópico que se acredita interessante conhecer. O projeto parte de uma proposta que os educadores definem após um contato inicial com as crianças e o seu meio ambiente (social, cultural, histórico, geográfico), procurando atender às necessidades constatadas, transformando a escola em um espaço de vivências. (ANTUNES, 2001, p. 15).

Muitas vezes, os projetos apontam sugestões para novos conhecimentos a serem questionados e investigados. Um mesmo projeto, trabalhado por turmas diferentes, pode tomar direções opostas, pois as indagações levantadas são peculiares a cada grupo. Nos projetos, não está se buscando respostas absolutas e, sim, àquelas que respondam de forma significativa às inquietações do grupo, de parte dele ou até mesmo de um aluno (ANTUNES, 2001). Nesse sentido, percebemos que o aluno passa a ser agente ativo do seu processo de aprendizagem, o qual é capaz de formular e resolver problemas, diagnosticá-los, desenvolver estratégias de análise e avaliação. A aprendizagem, portanto, passa a ser responsabilidade individual e coletiva.

Mais uma vez, percebe-se a função primordial do professor, que deve ser capaz de facilitar o processo de ensino e de aprendizagem, induzindo o aluno a questionar investigar, organizar discussões, problematizar e registrar. O professor é: “[...] um decodificador de símbolos, isto é, um profissional que interpreta textos, analisa gráficos, explora mapas, perscruta fotografias, inventa ilustrações, e, enfim, traz para o aluno as mensagens ocultas dos diferentes símbolos, presentes nas múltiplas linguagens”. (ANTUNES, 2001, p. 21).

É necessário compreender que, no trabalho por projetos, as pessoas se envolvem para descobrir ou produzir algo novo, procurando respostas às questões ou problemas reais. “Não se faz projeto quando se tem certezas, ou quando se está imobilizado por dúvidas” (MACHADO, 2000, p. 7). O projeto parte de uma problemática e, portanto, quando se conhece, a priori, todos os passos para solucionar o problema, esse processo se constitui num exercício e aplicação do que já se sabe (ALMEIDA, 2002). Projeto não pode ser confundido

com um conjunto de atividades que o professor propõe para que os alunos realizem a partir de um tema dado pelo professor ou colocado pelo aluno, resultando numa apresentação de trabalho.

Um dos pressupostos básicos do projeto é a autoria, seja individual, em grupo ou coletiva. A esse respeito Machado (2000) destaca que não se pode ter projeto pelos outros. O fato de o professor ter o seu projeto de sala de aula, não significa que este deverá ser executado pelo aluno. Cabe ao professor elaborar projetos para viabilizar a criação de situações que propiciem aos alunos desenvolverem seus próprios projetos. O professor pode ter o projeto, por exemplo, de descobrir estratégias para que os alunos construam seus projetos tendo em vista discutir sobre uma problemática de seu cotidiano ou de um assunto relacionado com os estudos da disciplina, envolvendo o uso de diferentes mídias disponíveis no espaço escolar.

O professor que trabalha com projetos deve respeitar os diferentes estilos, decisões e ritmos de aprendizagem dos alunos desde a etapa de planejamento, escolha do tema e respectiva problemática a ser investigada, transformando sua turma de alunos em uma comunidade de investigação (MORAN, 1998). Não é o professor que planeja para os alunos executarem, ambos são parceiros e sujeitos de aprendizagem, cada um atuando segundo seu papel e nível de desenvolvimento.

Para Almeida (2002) a prática pedagógica por meio de projetos está entrelaçada com a abordagem construcionista, na qual a aprendizagem ocorre por meio da interação como computador e da articulação entre conhecimentos de distintas áreas. Trabalhar com a metodologia de projetos significa, sobretudo, uma nova maneira de representar e construir o conhecimento, baseada na concepção de complexidade da ciência (MORIN, 1996), na idéia de articulação entre o simples e o complexo, no desenvolvimento da autonomia e na postura interdisciplinar.

6. INTERATIVIDADE

Para que o professor consiga romper com a lógica da comunicação centrada apenas na emissão-recepção, trabalhada de forma unidirecional, onde o aluno é visto com receptor

passivo da informação, precisamos refletir sobre os fundamentos da interatividade, apresentados por Silva (2002).

Seriam três os fundamentos da interatividade: (a) participação-intervenção, rompendo com o caráter reativo da informação, onde o usuário não interfere para uma lógica da comunicação, sendo o público gestor e manipulador desta; (b) bidirecionalidade-hibridação, criticando-se uma comunicação unidirecional que separa emissor de receptor, posicionando uma perspectiva de que não há mais emissor nem receptor, pois todo emissor é um receptor e vice-versa; (c) permutabilidade-potencionalidade, onde a comunicação pode ser caracterizada como um rizoma com múltiplas entradas, percursos e saídas interligados e em movimento.

Para Cabral (2005), esses fundamentos rompem com a banalização do uso do termo interatividade, desafiando os educadores a transpor de um modelo de comunicação centrado na mídia clássica em que a mensagem é fechada, para a mídia on-line onde o foco centra-se na participação e manipulação da mensagem.

Na verdade, a interatividade precisa tornar-se mola propulsora nos ambientes formados pela educação on-line, principalmente em relação aos dispositivos de suporte e manutenção do curso, como chats, fóruns, lista de discussão, etc. (SILVA; DIAS, 2005). O processo de construção do conhecimento, através da EAD, está diretamente ligado à ascensão da interatividade que, agregada à dialógica discursiva, deve formar uma espiral em sentido contínuo e crescente.