• Nenhum resultado encontrado

2 CONCEPÇÃO DE EAD

3. PANORAMA DA EAD NO BRASIL 1 A inclusão digital no Brasil

3.1.1 Mitos sobre a Inclusão Digital

A exclusão digital, considerada hoje a face mais moderna da inclusão social, é um fenômeno mundial, não uma particularidade brasileira. Silva, Parreiras, Bastos e Brandão (2004) afirmam que diversos países estão trabalhando e investindo no sentido de encontrar

soluções para esse problema. Obviamente, a intensidade e as particularidades com que esse fenômeno ocorre diferem dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento e, dentro desses grupos, de país para país. Esse fenômeno pode ser observado por diversos ângulos. Um deles se refere aos impactos na esfera da cidadania do indivíduo, no que diz respeito à sua participação ativa na sociedade. Um outro aspecto está relacionado à chamada exclusão digital de nações, decorrente da posse da tecnologia em questão pelos países desenvolvidos.

É fato que os esforços governamentais podem, através do uso da tecnologia, permitir às comunidades carentes o acesso à informação e ao conhecimento gerados em outros lugares. São inúmeros os exemplos de iniciativas nesse sentido no Brasil. Entretanto, é preciso atentar para o fato de que trilhar tal caminho pode acabar ocultando problemas já arraigados, que certamente estão relacionados às causas da exclusão, não apenas digital, mas social. Não basta disponibilizar acesso à Internet ou preços mais acessíveis para aquisição de computadores, se problemas como o analfabetismo e o baixo nível da educação de base e renda ainda afligem significativa parcela da sociedade. A perspectiva de que a exclusão digital seja, talvez, muito mais um sintoma do que uma causa, deve ser ressaltada quando se empreende esforços e recursos na tentativa de minimizá-la.

Desta forma, percebemos que a alfabetização, a capacitação no uso do software e do hardware, e a oportunidade de utilização constante dessas tecnologia no aprendizado são aspectos essenciais no processo de inclusão. Muitas vezes, entende-se que a mera utilização da tecnologia pode representar uma solução plena para melhorar a eficiência da esfera pública. Tal iniciativa, muitas vezes, é usada como uma forma de demonstrar uma resposta do governo aos cidadãos em forma de prestação de serviços. Esse tipo de iniciativa é importante, mas é necessário que faça parte de uma política mais abrangente, para que não acabe como ações esporádicas e inconsistentes

Nesse sentido, Lévy (1999) ressalta que não basta estar na frente de uma tela, munido de todas as interfaces amigáveis que se possa pensar, para superar uma situação de inferioridade. É preciso, antes de mais nada, estar em condições de participar ativamente dos processos de inteligência coletiva que representam o principal interesse do ciberespaço. Lima (2005), em concordância com Lévy, ressalta que é necessário não só dar acesso ao hardware, mas também disponibilizar recursos físicos, digitais, humanos, sociais e relacionais.

Dessa forma, conteúdo, linguagem, alfabetização, educação, comunidade e estrutura institucional devem ser levados em conta para dar um acesso significativo às tecnologias digitais. Lima (2005) argumenta ainda que há uma dificuldade muito grande de promover desenvolvimentos social nas propostas de inclusão digital que dão ênfase ao acesso ao

hardware, pois isso inibe que a tecnologia seja usada para fins mais significativos. A autora

ressalta ainda que, quando o enfoque é o uso da tecnologia para inclusão social, o foco deve estar na transformação social e não na própria tecnologia (WARSCHAUER, 2003 apud LIMA, 2005).

Aspecto problemático, no referencial adotado pelo governo, é a ênfase dada à tecnologia, como se ela, por si só, fosse responsável pela ocorrência de um desenvolvimento sustentável, de inclusão social de populações excluídas. Segundo Albuquerque (2005), essa mesma noção ocorreu com a educação quando acreditou-se que, ao colocar computadores em sala de aula, conectados à Internet, poderia estar sendo feita a inclusão social. A sensação é de que esperava-se uma melhoria automática na qualidade da aprendizagem e da educação, somente com o fornecimento de acesso às tecnologias digitais. Essa crença não leva em conta o conhecimento, as crenças e os valores do contexto cultural e social. Não obstante, existe ainda o risco de haver desencanto diante do potencial desses equipamentos em decorrência de expectativas descontextualizadas. (LIMA, 2005).

3.1.2 Projetos

A popularização dos computadores é um tema constantemente debatido pela comunidade envolvida com EAD. Como exemplo, a questão dos desafios e benefícios do computador a preço acessível, tema do último dia de eventos da sexta edição do congresso “e-

Learning Brasil”, realizado em São Paulo, 2006. Entretanto, para atingir a meta da inclusão

digital, vários obstáculos importantes precisam ser superados. Os notebooks para crianças, idealizados pela Intel e pelo MIT, por exemplo, dependem de uma grande melhoria da infra- estrutura disponível nos países emergentes.

A empresa de tecnologia Intel promove a plataforma Classmate, um conjunto de especificações técnicas para a criação de notebooks compactos e baratos destinados ao ensino. O valor dos modelos, espera a fabricante de chips, deve ser menor do que US$ 400. O

Classmate, tinha previsão de lançamento para o ano de 2007 e os fabricantes nacionais CCE

e Positivo deverão ser as empresas responsáveis pela produção dos modelos vendidos no país. Além do Brasil, a Intel tem acordos para venda do Classmate em outros países emergentes, como o Paquistão, o México e a Nigéria.

Outro grande projeto é o 2B1, idealizado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), que conta com o apoio do Governo Federal. Unidades experimentais deste

notebook já estão sendo testadas por especialistas e uma empresa de Taiwan foi contratada

para a produção em massa. Inicialmente, a idéia era que cada portátil custasse US$ 100, mas as dificuldades no desenvolvimento da bateria e da tela do laptop devem empurrar esse preço para cima. Tanto a iniciativa da Intel, quanto a do MIT, encontram apoio e desenvolvem-se com ajuda de empresas e de profissionais brasileiros.

Antecipando esses projetos, cinco milhões de laptops a baixo custo, denominados XO, serão distribuídos a nações em desenvolvimento, a partir de meados deste ano, em um dos mais ambiciosos projetos educacionais de todos os tempos, liderado pela organização não- governamental One Laptop Per Child. O Brasil está entre os primeiros países a receber as máquinas, junto com Argentina, Uruguai, Nigéria, Líbia, Paquistão e Tailândia (WATERS, 2007). O software do XO foi desenhado para trabalhar especificamente em um contexto educacional. Ferramentas de conexão sem fio e de videoconferência vão fazer parte do pacote, permitindo que crianças em diferentes locais possam trabalhar em grupo.

No entanto, “é necessário ajudar governos para assegurar que eles não considerem o laptop como algo que possa trabalhar em um ambiente desconectado. É vital que as crianças estejam conectadas à vasta quantidade de informação disponível para elas”, afirma Bletsas, coordenador da organização não-governamental One Laptop Per Child (FOLHAONLINE, 2007). De nada adiantará ter um portátil que acesse a Internet sem fio, se o usuário estiver em um local que não tenha sequer energia elétrica.