• Nenhum resultado encontrado

Educação a Distância: o que é isso afinal? 116

5   A EaD na Formação Continuada de Professores

5.1   Educação a Distância: o que é isso afinal? 116

A educação a distância é caracterizada:

• pela separação do professor e aluno no espaço e/ou tempo;

• controle do aprendizado realizado mais intensamente pelo aluno do que pelo instrutor distante;

117

• comunicação entre alunos e professores é mediada por documentos impressos ou alguma forma de tecnologia.

A separação do professor e aluno no espaço e/ou tempo sempre foi uma prática educacional. Todos os sistemas de ensinos tradicionais consideram importante que o aluno estude após suas aulas. É justamente nos momentos em que estão sozinhos que os alunos fixam aquilo que estudaram coletiva e presencialmente com o professor.

No que diz respeito ao controle do aprendizado realizado mais intensamente pelo aluno do que pelo instrutor distante, podemos afirmar que o professor presencial tem pouquíssimo controle do aprendizado realizado pelo aluno. Este mito carece de melhor discussão, pois controlam-se processos como tempo de aula, presença, assuntos abordados, sugerem-se leituras, aplicam-se provas, porém nada disso é garantia de aprendizado ou de que todos os alunos num curso presencial leram, estudaram, discutiram ou refletiram. Todos aqueles com prática no ensino, quer fundamental, médio ou superior, sabem que sempre existirão alunos que participam, alunos que não participam mas estudam, alunos que pouco se importam com os estudos, mas conseguem desenvolver estratégias para prosseguir nos estudos ou obter certificações, bem como alunos que pouco conseguem, mesmo participando, adquirir os conhecimentos necessários para sua certificação.

O fato de existir uma comunicação entre alunos e professores mediada por documentos impressos ou alguma forma de tecnologia também é outro mito a ser discutido. Mediação por documentos impressos existe desde a publicação do primeiro livro, no entanto a prática do aprendizado por intermédio dos livros é mais antiga ainda. Nesta forma de aprender significa que há uma separação de espaço e tempo entre quem escreveu e quem lê o livro. Podemos afirmar que é a prática mais antiga de aprendizado a distância que temos, é de largo uso e sua prática encontra-se estabelecida e aceita, embora haja quem não tenha se dado conta que a leitura é uma modalidade de educação a distância. Embora a tecnologia digital seja hoje uma parte importante da educação a distância, esta sempre aconteceu mediada por tecnologias diversas. No início havia tecnologias de escrita e seus diversos suportes, e graças a elas aprendemos ainda hoje por meio de materiais já perdidos no tempo e no espaço, como os textos de Platão da Grécia antiga, ou nos Vedas, com mais de 3 mil anos, da Índia antiga.

A EaD passou por diversas gerações. Foi no século XIX que se estruturou no modelo que a conhecemos hoje, voltada para uma formação técnica e profissionalizante, já no século XX surgem as primeiras experiências de Universidades Abertas, com formação de nível superior, sendo no final do século XX, com o desenvolvimento das novas tecnologias, que aparece como um projeto sério de massificação do acesso ao ensino superior e passa a fazer parte das políticas públicas dos países. No Brasil, o mercado a descobre tardiamente, e a EaD voltada para o ensino superior se torna um fenômeno somente neste início de século XXI.

Esta apresentação tem como objetivo inicial demonstrar que a EaD é uma prática educacional largamente utilizada há milhares de anos. Certamente essa não é a EaD utilizada nos dias atuais, com todo contexto sócioeconômico e político da qual está revestida, mas é importante retirar do debate que a EaD é uma novidade, quando, muito pelo contrário, é uma prática consagrada. Isso feito é possível sair da dicotomia bem e mal e passar a entender os limites e possibilidades da EaD. Nesta presente proposta, assumimos uma nova vertente que tem discutido que a virtualização do ensino vem se apresentando não mais como EaD e sim como uma nova abordagem educacional, ou melhor, ensino mediado por tecnologias digitais. Por que isso ocorre? O que temos assistido na produção social e cultural com o desenvolvimento das novas tecnologias é a incorporação de novos modos de produzir as relações sociais, as comunicações pessoais, já que, mesmo os relacionamentos mais íntimos, hoje já são mediados por estas tecnologias. Apresentamos uma discussão a este respeito no capítulo anterior, e podemos acrescentar que isso tem sido demonstrado pelo largo uso de portais de relacionamento como Orkut22 e Facebook23, ou ferramentas de comunicação como

email, Skype24, MSN25, celulares etc. Podemos assim entender que o que se torna uma prática cultural

é passível de ser incorporada à educação, independente desta ser presencial ou a distância. Moran (2006) já apontava para estas possibilidades, propondo um sistema bimodal, usando a legislação, portaria 2253 do MEC, que permite que 20% da carga horária em um curso presencial seja realizada a distância. O que está sendo proposto não é discutir se 20% é muito ou é pouco, mas abolir a distinção entre o presencial e o a distância, já que esta divisão não é sadia para a educação.

22 www.orkut.com 23 www.facebook.com

24 www.skype.com, a partir do site/sítio baixa-se um aplicativo para uso no computador. 25 www.microsoft.com, O MSN ou Messenger é um aplicativo para uso no computador.

119

Certamente há temas relacionados a práticas educacionais que somente podem ser realizados presencialmente, para outros essa prerrogativa é indiferernte. São diversas as práticas educacionais que se beneficiam das possibilidades da mediação a distância, experiências positivas são relatadas por Miranda e Prado (2009), Maia, Mendonça e Leite (2004), Maia e Meirelles (2009), Moran (2006), Moraes (2002) entre tantas outras. Rodrigues (2008) propõe que a Aprendizagem Colaborativa em Rede (ACR), é um caminho, pois é justamente isso que as redes sociais fazem, e utilizar estes e outros recursos virtuais é aproximar da vida escolar a vida social do aluno. São muitas as possibilidades.

O “olho no olho” para transmitir conhecimentos ainda é fundamental? Se comunicar é muito difícil no presencial, como faremos bem isto no virtual? Do que adianta freqüentar uma aula presencial, se não nos empenharmos depois em estudar e aplicar o conhecimento recebido? Uma saída é a Aprendizagem Colaborativa em Rede utilizando modernas tecnologias da informação com interfaces amigáveis - por exemplo o Moodle - e técnicas especiais de ensino como, por exemplo, a Sócio/Construtivista. (RODRIGUES, 2008)

Além do Moodle26, temos diversas outras ferramentas, como o TelEduc27, o Tidia-Ae28, o e-

ProInfo29, o Sakai30, entre outros. As mudanças possíveis para a educação são enormes, os desafios

maiores ainda. Não se trata mais uma questão de definir o quanto de EaD terá um curso (20%, 30%, 50% ou 100%), mas é prioritário que os princípios educacionais venham em primeiro lugar. Isso significa que o Projeto Político Pedagógico (PPP) de qualquer programa educacional deve prever por meio de seus objetivos se determinadas disciplinas terão maior ou menor carga horária nos ambientes colaborativos e maior ou menor carga horária nos encontros presenciais. Denominamos Projeto Político Pedagógico o que em alguns momentos é chamado de Plano de Curso ou Proposta Pedagógica. A LDB, Lei 9394/96, em seu artigo 12, inciso I, prevê que "os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, tem a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica". Isso significa que deve explicitar em um projeto a intencionalidade educativa. 26 http://moodle.org/ 27 http://hera.nied.unicamp.br/ 28 http://tidiaae.nied.unicamp.br/site/ 29 http://e-proinfo.mec.gov.br/eproinfo/index.htm 30 http://sakaiproject.org/

O PPP não se restringe a ser somente um texto contendo as boas intenções da escola para seus alunos, sequer deve se limitar a ser mais um documento burocrático. O PPP deve ser elaborado pela comunidade da escola, diretor, professores, funcionários, alunos e pais. No que se refere à dimensão política das práticas escolares, Paro (1996) entende que estando a prática política ligada à disputa pelo poder na sociedade, sua presença no cotidiano da escola pública tem a ver com os interesses antagônicos em jogo. A relevância das práticas políticas no cotidiano das escolas públicas se refere diretamente às condições da participação popular na tomada de decisões na escola. Sem essa participação, dificilmente o Estado se disporá a atender os interesses de classes que, por sua condição sócioeconômica, encontram-se alijadas do poder político. Para André (2001, p. 188) deve "expressar a reflexão e o trabalho realizado em conjunto por todos os profissionais da escola, no sentido de atender às diretrizes do sistema nacional de Educação, bem como às necessidades locais e específicas da clientela da escola" considerando desta forma não só a identidade da escola, mas a garantia da qualidade do ensino ofertado por esta. Considera como sendo características importantes a serem atendidas no PPP a participação coletiva nas decisões, a definição do trabalho pedagógico, conterá presença de princípios de solidariedade entre todos, o desenvolvimento de estratégias para a superação de problemas ao longo do trabalho, o atendimento à realidade e um forte compromisso com a formação do cidadão baseado em um planejamento continuado.

Como se pode observar, o PPP é um documento norteador que considera todas as situações vividas pela escola no passado, mas que acima de tudo não deixa de mostrar a realidade que a escola está vivendo no presente. Seu principal objetivo é ter um olhar dirigido e norteado para a realidade concreta para atingir metas almejadas para o futuro.

É evidente que o que temos vivenciado no ensino superior não corresponde ao apresentado. Na maior parte das vezes, o compromisso pode até estar explícito no PPP, mas frequentemente encontramos cursos baseados em simples atividades de verificação de leitura, com poucos debates em fóruns, que não passam do senso comum ou do “copiar e colar”. Diversos cursos utilizam as aulas via telão, que não chegam a ser uma vídeo-conferência, visto que a interatividade é bastante limitada. Isso porque há um professor para atender de 800 a 1500 alunos, com um chat aberto durante a transmissão e sendo permitido fazer somente uma ou duas perguntas por sala. Em outros cursos, os alunos nunca encontram seus professores e o monitor é alguém com pouca possibilidade

121

de problematizar, de dialogar com os conteúdos das disciplinas ou que não dispõe de tempo para realizar tal tarefa31.

A ideia de EaD deve estar vinculada ao professor, ao seu papel e à sua qualificação. A maioria dos cursos em EaD colocam um tutor como o principal mediador junto aos alunos, muitas vezes somente com formação restrita à graduação completa. Há um entendimento atual de que o que se chama de tutor é na verdade um professor com uma carga horária de trabalho grande, pois o trabalho docente em EaD é na maioria das vezes mais intenso que em cursos presenciais. O não entendimento desse fator tem acarretado a precarização e indignação de diversos profissionais que têm trabalhado em EaD.

O tutor é um professor. Por essa razão, para garantir seus direitos como tal e o desempenho das atribuições profissionais, a SEED [Paraná] o denomina professor-tutor. Esse aspecto já foi considerado anteriormente na literatura disponível sobre EaD. Mill et al. (2007) falam de docente-tutor quando se referem tanto ao tutor presencial quanto ao tutor a distância ou tutor virtual, caracterizando este último como o docente que desenvolve suas atividades por meio de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Maggio (2001, p. 98-99) iguala professor e tutor ao dizer que “tanto tutor como o docente são responsáveis pelo ensino, pelo bom ensino, e nesse aspecto não há distinções importantes no sentido didático”. Além disso, Maggio apresenta diferenciações entre professor e tutor, ficando essas apenas no âmbito das especificidades que a EaD apresenta. (BORTOLOZZO et al, 2009)

Este profissional da educação a distância, responsável pelo acompanhamento do aluno, tem atribuições de comentar, avaliar, orientar por meio de ferramentas tecnológicas a distância, quer nos ambientes virtuais ou não. Todas estas características só reafirmam a sua função professor.

Neste sentido, surge um novo trabalhador docente que, em virtude da falta de uma regulamentação específica, vem desenvolvendo suas atividades em condições inadequadas de trabalho como: elevada carga horária, número excessivo de aluno por docente, forma de remuneração incompatível, despesas com os equipamentos tecnológicos necessários, etc. (BARROS, 2008)

Assim, colocar um tutor sem a qualificação adequada de domínio dos conteúdos, com aulas via telão entre outras estratégias que são empobrecedoras, acabam por não criar um ambiente de aprendizagem e sequer garantir que o estudante supere suas limitações ou suas concepções de

31 Todos estes exemplos foram retirados de cursos reais, a verificação se deu por informações fornecidas pelas secretarias

dos cursos, por conversas com alunos ou ex-alunos de 5 instituições, sendo elas: Claretianos, UNIP, UNOPAR, UNIARARAS e UNIPAR. Além destas informações diretas, Moran (2009) apresenta um extenso levantamento destes dados em diversas outras instituições, e aponta para o uso destas tecnologias em EaD que nós entendemos ser de forma precária.

mundo. Nesses exemplos, encontramos as novas tecnologias dentro dos princípios de precarização, individualização e da barbárie do mundo globalizado, sem identidade e sem sujeitos. Com as idéias colocadas e deixando nosso ponto de vista bem claro nestes aspectos, podemos avançar sem cair no terreno pantanoso dos milagres da EaD. Uma vez que o que estará sendo tratado aqui não está relacionado a estas experiências precarizantes ou deficientes de EaD.

Entendemos que para uma EaD de qualidade, qualquer programa de sucesso deve focalizar mais nas necessidades instrucionais, sociais, cognitivas e afetivas dos alunos do que na própria tecnologia. Devem ser considerados, por exemplo, suas idades, sua base cultural e socioeconômica, seus interesses e experiências, seus níveis de educação e familiaridade com métodos de educação a distância, ou os meios de mediação tecnológica. Em um curso a distância, mediado por tecnologia digital via internet, a primeira disciplina, ainda necessária, deveria ser aquela que capacitaria os alunos a vencerem a barreira tecnológica, aprenderem a linguagem e cultura da internet, dominarem as formas de comunicação e interação, entre outras habilidades necessárias para o bom andamento e aproveitamento do curso que irão empreender.

Além da necessidade do domínio da cultura da internet, faz-se necessário que o curso seja desenvolvido a partir de uma lógica que não a mesma dos cursos presenciais, se bem que mesmo estes, os presenciais, necessitam de mudanças estruturais e paradigmáticas profundas. Nos cursos presenciais, tradicionalmente, entende-se que uma bibliografia será apresentada aos alunos, lida antes ou depois de uma aula presencial e que no desenvolvimento da sequência programada para a disciplina, por meio de problematizações, seminários e outras estratégias amplamente conhecidas, todos os alunos terão superado o senso comum e dominado os conteúdos mínimos, pois fizeram um mesmo percurso. Nos cursos a distância via internet temos a necessidade de desenvolver conteúdos de formas distintas. Temos que entender que mesmo nos cursos presenciais, os conteúdos não são simplesmente apreendidos pela leitura ou realização de exercícios de verificação de leitura. Ora, para um aluno medianamente autônomo um curso assim não é necessário, pois esse aluno consegue fazer isso sem a necessidade de recorrer a professores ou cursos. Porém, se considerarmos as outras dimensões presentes na relação ensino-aprendizagem e que um curso não tem a função de meramente certificar um aluno, e sim de ajudá-lo a compreender significados mais complexos e a aprender a fazer relações mais aprofundadas de sua realidade a partir da compreensão dos assuntos selecionados na grade curricular, necessitamos repensar como iremos proporcionar isso via distância.

123

O ensino a distância baseia-se na lógica da assimetria. Assimetria de tempo e de lugar, assimetria entre etapas e ritmos, por isso é necessária a construção de estratégias diferenciadas, e montar estratégias utilizando a mediação por computador e via internet exige domínio dos meios e recursos existentes neste modelo. Criar processos educacionais, cognitivos e de produção de conhecimento, implica desenvolver estratégias que envolvam discussão e produção coletivas. Como humanos, dizia Vygotsky (1984; 1989), somos seres que se desenvolvem e se produzem histórica e coletivamente, por isso entendemos que todo processo educacional necessita criar um meio de interação social. De outra forma perdemos nossa identidade, nos isolamos, nos fragilizamos, pois só somos fortes quando nossa identidade social está fortalecida, ou seja, sou alguém porque tenho uma identidade em um grupo. As estratégias em educação a distância, quando mediadas por outros veículos, como a televisão, por exemplo, sempre envolveram os momentos coletivos, pelo menos as experiências bem sucedidas, e se engana quem achar que o momento de aula presencial foi o que garantiu a qualidade e o conteúdo, precisam ser incluídos aí as dimensões de trocas, de encontros pessoais e coletivos, inclusive os encontros nos intervalos, a troca de olhares e a identidade de grupo criada. Temos as experiências de EaD do Instituto Universal Brasileiro (IUB), que eram mediadas32

pelo suporte escrito e via Correios. Nesse caso, não havia nenhuma atividade presencial, por isso mesmo não era possível levar para muitos alunos os cursos, que permaneciam sempre numa categoria secundária na formação profissional e eram considerados como uma formação inferior. Na verdade, existem bons cursos no IUB, mas estes exigem grande capacidade de organização, persistência e autonomia do aluno, justamente por não ter em suas estratégias as atividades de interação entre colegas, professores e espaço, ou seja, não abrange o conceito de território no contexto de Milton Santos (1997). Como resultado disso, não se cria identidade e não temos uma comunidade de alunos ou ex-alunos do IUB.

As TIC hoje propiciam novas formas de interação, diferentes daquelas tradicionais já totalmente assimiladas pela sociedade, como as mediadas por telefonia ou escrita em papel. Além de ser necessário o domínio tecnológico e o conhecimento sobre uso de programas e manipulação de imagens, sons, multimídias, há a necessidade em se conhecer a linguagem visual que os ambientes tecnológicos utilizam e de se saber formatar os diversos materiais instrucionais dentro de um padrão

32 Certamente que o IUB ainda existe e nos seus mais de 70 anos muito ajudou na formação de milhares de profissionais

que é totalmente novo. Não basta dominar conteúdos e ter boa didática, pois neste novo espaço educacional são necessárias outras formas de comunicação e de interação entre o sujeito-aluno e o objeto-conhecimento. Colocar informação no espaço virtual é a parte mais fácil, pois além de ser este um repositório por excelência, tem uma capacidade quase infinita de suportar as diversas mídias, de armazená-las e disponibilizá-las facilmente. Então podemos definir que a utilização do suporte tecnológico e da internet para a educação a distância é aparentemente um grande livro didático. Sendo assim, toda a longa discussão acerca do livro didático na educação formal pode ser trazida para este novo campo. A simples transposição de material do livro didático para os meios eletrônicos, com imagens e sons ao invés de texto e ilustrações consiste em travestir com uma nova parafernália a tradicional e inócua “educação bancária”, como dizia Paulo Freire.

As diversas pesquisas sobre o livro didático no ensino fundamental no Brasil, como em outros países (Gayan e García, 1997), têm mostrado como o livro passou a ser o principal controlador do currículo. Os professores(as) utilizam o livro como o instrumento principal que orienta o conteúdo a ser administrado, a sequência desses conteúdos, as atividades de aprendizagem e avaliação para o ensino das Ciências. O uso do livro didático pelo(a) professor(a) como material didático, ao lado do currículo, dos programas e outros materiais, instituem-se historicamente como um dos instrumentos para o ensino e aprendizagem. (NÚÑEZ et al, 2009)

Portanto, entendemos que os livros didáticos, além de não poderem veicular preconceitos e estereótipos, tampouco conter informações erradas ou desatualizadas, não pode ser a única fonte de informação. Primeiro, por não dar conta da extensa produção de conhecimento produzida pela ciência e cultura, segundo por criar uma distorção sobre a verdade, uma vez que fica implícito ao aluno que tudo que ele necessita aprender está contido naquele resumido universo do livro didático.

E o professor não pode se transformar em refém do livro, imaginando encontrar ali todo o saber verdadeiro e a narrativa ideal. Sim, pois o livro é também instrumento de transmissão de valores ideológicos e culturais, que pretendem garantir o discurso supostamente verdadeiro dos autores. Em um processo pouco dinâmico como o que se