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Sociedade da Informação e Comunicação 54

2   Contexto Mundial 27

2.2   Escola, Sociedade e Trabalho 46

2.2.2   Sociedade da Informação e Comunicação 54

Com o desenvolvimento tecnológico recente, principalmente com o incremento da informática e da internet, a sociedade encontra-se frente a fronteiras ainda não totalmente conhecidas. Temos exemplos disso no comportamento social, principalmente dos jovens que hoje passam a maior parte do seu tempo conectados ao mundo virtual possibilitado pela internet. Nota-se atualmente uma quantidade de informação produzida, acessada e disponibilizada jamais imaginada em qualquer tempo passado. Há também o rompimento da idéia de tempo e espaço, justamente pela capacidade de comunicação desenvolvida por essas tecnologias.

No entanto, antes de olharmos as possibilidades, uma revisão crítica se faz necessária, uma vez que, com estas novas tecnologias, o poder das mídias relacionadas à comunicação e à informação passaram a ter novos papéis sociais. Resgatando o amplo panorama delineado neste capítulo nos tópicos anteriores, podemos perceber que as práticas sociais estão sendo fortemente influenciadas e ao mesmo tempo produzidas e recriadas pelo amálgama formado pela crescente produção tecnológica e pelas formas que a própria cultura cria, provocando o surgimento de novas tecnologias. Adorno e Horkheimer (1975), já em fins da década de 40, trataram deste tema, definindo o que seria indústria cultural, dando a esta o mesmo status atribuído ao sistema político ou econômico, sendo sua finalidade a produção de bens culturais – filmes, livros, música popular, revistas, programas de TV etc. – que eram vistos como mercadorias e tinham por finalidade o controle social.

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Trazendo estas idéias aplicadas aos dias de hoje, temos o seguinte panorama: os meios de comunicação, ou mass media tais como a TV, o rádio, os jornais e hoje, os portais da internet, são empresas com interesse em obter lucros e por isso mantêm o sistema econômico capitalista de modo a preservarem seus lucros. Dentro desta lógica, filmes, programas para a TV, músicas de massa não são entendidos, ou tratados, como bens culturais, artísticos ou educativos, mas sim como mercadorias e vendidos como produtos de consumo, em nada se diferenciando de produtos como roupas, carros ou refrigerantes. Apesar de manterem a aparência de que são veículos neutros, interessados na cultura, nas artes ou na educação, acabam por deformar a opinião pública, conduzindo a massa para um estado de alienação e controle.

Esta análise precoce, de Adorno e Horkheimer, nos permite entender a mass media e sua forma totalitarista de impor a verdade, modelar padrões de moda, consumo, comportamentos etc. Certamente, como em qualquer estrutura de controle, existem contradições, brechas pelas quais a resistência se manifesta e novas possibilidades se anunciam.

Há um problema de cunho ético, que se choca com os ideais de liberdade propagado pela tecnologia, e emerge no meio deste caldo de possibilidades: com as novas tecnologias aumentou-se a capacidade de controle na sociedade. As empresas do setor produtivo controlam todos os processos de produção em âmbito global, cada unidade de produção, independente de sua localidade, é coordenada coletivamente e integradamente vista como uma unidade produtiva única, rompendo o tempo e espaço. Com isso, controla-se o emprego, as economias locais por forças externas e, na maioria das vezes, interferindo na qualidade de vida de uma nação, ferindo sua soberania. O sistema financeiro internacional está completamente interligado, a quantidade de dinheiro circulante na grande rede bancária representa mais de 90% do montante mundial. Há a possibilidade de um controle absoluto, já que é possível saber a origem e destino de praticamente todas as transações financeiras, mas este controle não é utilizado para desmontar os esquemas de lavagem de dinheiro no mundo, sequer para inibir os diversos tipos de tráficos. Ao contrário, serve a estes e mantém a acumulação de capital em níveis nunca atingidos. Os dados cadastrais do cidadão são passíveis de serem rastreados e sua vida totalmente devassada, cada vez mais se usa dinheiro eletrônico e menos o de papel. Assim, pelo cartão, de débito ou de crédito, sabem-se os interesses de um indivíduo, suas necessidades, onde ele esteve, o que comprou, seus hábitos, enfim sua capacidade de crédito. Até o cidadão mais comum, usuário de linhas de ônibus e metrô pode ter rastreada sua movimentação pelo

seu cartão de passe usado nas catracas eletrônicas. Das grandes às pequenas cidades, encontramos as câmeras espiãs a delatar as faltas e aplicar penalidades. Hoje com sua capacidade ampliada, além de multas por excesso de velocidade, por passagem em sinal fechado, elas fazem a leitura da placa do veículo e identificam se foi roubado, se está com licenciamento atrasado ou se possui alguma irregularidade junto aos órgãos de trânsito. Outras, com característica distinta, registra a multidão e permite a identificação individualizada de cada indivíduo presente, mesmo entre milhares de pessoas. Quando navegamos na internet, tudo que visitamos, acessamos, enviamos etc., fica registrado e pode ser rastreado. Podemos incluir nesta lista, sem fechá-la, pois é extensa, as chamadas telefônicas, uma vez que todos os dados a elas relativos ficam armazenados e é possível conhecer todas as ligações, inclusive conversas que foram feitas. Prosseguindo, sem cair na fascinação criada pela mídia e pelo mercado, e sem negar os benefícios e possibilidades, mas mantendo o senso de análise critica, apontaremos mais alguns problemas e desafios vivenciados pela sociedade atual, pois,

Todos se tornam ávidos “consumidores da informação”. Informação que se oferece sob a forma de mercadoria e que estabelece um outro estágio de valores na versão capitalista da era em que vivemos. A informação como produto acessível a todos é um bem volátil, efêmero, que exige consumo freqüente do que é novo, permanentemente diferente e original, sob pena da desatualização. (KENSKI, 2006)

Todo este aparato, com suas enormes possibilidades, mantém viva a idéia fundante da Modernidade, aquela idéia de linearidade evolutiva muito bem demonstrada por Benjamim, o moderno é a superação do antiquado e nos trás o melhor do passado para um presente acabado e ligado a um futuro evolutivamente melhor. Como diz Benjamin, em Paris, Capital do Século XIX (KOTHE, 1985, p.32) as imagens do passado remoto se fundem com o presente, o antiquado é o passado recente. A identificação da modernidade com a história clássica se dá já no início da própria cultura moderna, no iluminismo, na retomada dos clássicos gregos e romanos, na arte e nas ciências. O passado recente torna-se inadequado, e justamente na superação deste antiquado, que é o passado recente, é que a modernidade não cessa de construir, reconstruir-se, inventar e reinventar-se; ou como diz Benjamin, ergue-se sobre suas próprias ruínas.

Um dos grandes problemas envolvidos na afirmação “consumidores de informação” é que o excesso de informação gera o desconhecimento, explicando melhor, ao se entrar em contato com um excesso de informação há uma banalização desta, fica-se na superfície dos fatos e nada acaba sendo aprofundado. Assim, o experimentado no presente, é que toda uma geração vivencia a realidade pelo

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slogan, pelas primeiras linhas dos noticiários e, na sua grande maioria, pelas imagens presentes neste – quer desenhadas, fotografadas ou filmadas.

Hoje tudo parece indicar que vivemos sob amplo processo de democratização de informações. Apregoa-se pelos quatro cantos do mundo que, graças à globalização e ao avanço da tecnologia, vivemos na “sociedade do conhecimento”, aquela da “geração @”, na qual as qualidades essenciais ao indivíduo são a flexibilidade, a inteligência técnica, a rapidez e a fluidez na busca da informação sempre disponível e, acima de tudo, a capacidade de transformar esse conhecimento em mercadoria de fácil circulação. Essa “comercialização da alma”, na expressão de Robert Kurz (2001), movimento irresistível, se fortalece a cada dia, assumindo a dimensão de um fenômeno abrangente, elevado a uma espécie de culto, a uma verdadeira apologia às liberdades do mercado. (HOSTINS, 2009)

Temos aqui estabelecida uma contradição, com o tamanho do volume do informação disponível, produz-se mais informação, é informação que gera informação. No entanto, a contradição está no fato de que a maioria destas novas informações são geradas sem ser digeridas. Mal ouve-se falar sobre um assunto e rapidamente já se tem opinião formada, isso cria certezas baseadas em material sem consistência, isso inicia um processo perigoso de idéias fundamentalistas. Pois basta acessar meia dúzia de sites e artigos respondidos pelo novo Deus, o Google3, até então a mais poderosa máquina

de pesquisa já desenvolvida pela tecnologia, para formular teses e formular novas teorias.

Como se pode depreender dessas reflexões o que está - e sempre esteve - em jogo é a questão da produção do conhecimento. Afinal de contas, desde sempre homens e mulheres trabalham e têm no trabalho a fonte originária também da sua atividade teórica. Além disso, toda sociedade é definida pelo tipo de conhecimento que produz e do qual dispõe. No entanto, parece espantoso que no discurso da “sociedade do conhecimento” que se consolida com o século 21, veicule-se a idéia de um progresso intelectual, de um novo significado, de uma generalização do conhecimento na sociedade pela sua aplicação econômica, pragmática e instrumental, como se só agora tivessem descoberto o verdadeiro conhecimento. (HOSTINS, 2009)

Impactos disso podem ser encontrados na maioria dos trabalhos de estudantes, desde o ensino fundamental até o superior, com uma presença de excessos de cópias e plágios ou uma larga produção de textos a partir da colagem de diversas idéias retiradas da internet sem o cuidado de articulação, coerência e mesmo sem a devida leitura das fontes de onde pesquisou ou mesmo do que se produziu. Há ainda sites especializados em produzir trabalhos acadêmicos inéditos, desde trabalhos de conclusão de curso, dissertação de mestrado, até teses de doutorado!

Por estas últimas linhas dá para entender que esta relação entre as novas tecnologias e a educação gera novos problemas, os quais ainda não temos as respostas.