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Perfil do profissional da educação brasileira 164

6   Análise de Uma Experiência: 163

6.1.1   Perfil do profissional da educação brasileira 164

Em 2003 o INEP realizou o segundo censo de professores no Brasil. O curso GESTORES deu início em 2005, pouco tempo depois, assim entendemos que as condições materiais, temporais e dados do Censo nos fornecem informações adequada para a nossa análise.

Após a coleta dos formulários e sistematizadas as informações, estas resultaram em um total de 247 variáveis de dados por professor. Em relação à taxa de resposta, de um total de 2.497.918 de PMEB, foram respondidos 1.542.878 formulários, resultando em uma taxa de resposta de 61,8%, cobrindo 75% das escolas do país. Como a pesquisa era censitária, não há como definir o erro da amostra, o INEP (2006) chama a atenção para que se tomem os devidos cuidados ao fazer a análise destes dados, principalmente os dados centrais de média e mediana.

Por essas razões, os resultados ora mostrados nesta publicação devem ser interpretados com cautela e relativizados, ao realizarmos inferências ou generalizações dos resultados. Não conhecemos o perfil dos profissionais que não responderam à pesquisa. Como não houve um delineamento amostral prévio, pois o intuito era a coleta censitária, não nos é permitido sequer, calcular o erro das estimativas. (INEP, 2006, p.10)

Sem dúvidas, independentemente deste importante aspecto, os dados nos mostram informações valiosas e que nos permitem traçar um perfil geral dos PMEB do Brasil. Podemos observar pelo Gráfico 4 - Distribuição do Número de PMEB por Sexo, que se trata de uma profissão feminina, com 85% de mulheres atuando na educação básica.

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Gráfico 4 - Distribuição do Número de PMEB por Sexo

Fonte: INEP(2006b)

Esse dado é para nós um indicador importante, uma vez que, em nossa cultura, os aspectos de domínio tecnológico são relegados ao mundo masculino. O resultado das análises dos dados certamente refletirão este aspecto e passaremos a fazer uma observação específica de como cada gênero respondeu a certas questões, fazendo um comparativo entre eles.

Gráfico 5 - Distribuição do Número de PMEB por Cor ou Raça

Fonte: INEP(2006b)

No Gráfico 5 - Distribuição do Número de PMEB por Cor ou Raça, podemos observar que em sua maioria os PMEB se declaram com sendo de cor/raça branca. Um menor número declara-se como sendo pardo e um pequeno número de pessoas se declara como sendo de cor preta. Apesar de ser um dado do perfil dos PMEB e esse aspecto não ser objeto de nossa análise, mas nos chamou atenção por não ser esta a proporção censitária demográfica – em 2005 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontava para 49,9% de brancos e 43,2% de pardos. A grande maioria marcou ser da raça/cor branca e reforçando não ser este o tema de nossa pesquisa, cabe

ressaltar que estes dados indicam problemas no sistema de ensino, uma vez que demonstra haver distorção na condução desta temática – um provável preconceito.

Gráfico 6 - Distribuição do Número de PMEB por Grupo de Idade

Fonte: INEP(2006b)

A idade média dos PMEB está situada acima dos 35 anos, conforme demonstra Gráfico 6 - Distribuição do Número de PMEB por Grupo de Idade, apesar de ser significativa a presença de profissionais entre 18 e 34 anos. Este dado é importante para a presente pesquisa, pois indica que em sua maioria, os PMEB são de uma geração44 anterior ao surgimento das TIC e alguns, pela idade

avançada, prováveis usuários mal adaptados. É provável que as estratégias de educação a distância baseadas na internet e no computador não sejam as mais adequadas, pelo menos par o início dos cursos e isso será discutido mais adiante nas análises da pesquisa.

Tabela 12 - PMEB por Nível de Ensino e Dependência Administrativa

Obs: O mesmo profissional pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino. Fonte: INEP(2006b)

A grande maioria dos PMEB está atuando no ensino fundamental, Tabela 12 - PMEB por Nível de Ensino e Dependência Administrativa. Como se pode observar, estes encontram-se

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principalmente no setor público, nas redes municipais. Reflexo das políticas de descentralização pelas quais o país tem passado, este número tendeu a crescer ao longo da primeira década do século XXI. Como indicador, podemos induzir que o campo de formação continuada tendeu a um retrocesso quando se deu a implementação das políticas de descentralização, pois os municípios não estavam capacitados para a realização de projetos e programas de capacitação. Isso ocorreu tanto por falta de profissionais gabaritados em suas estruturas, quanto por falta da própria estrutura, resultando nas parcerias público privado e na oferta de cursos a distância com a finalidade de suprir esta demanda, tema já discutido em capítulos anteriores.

Outro dado que introduzimos no perfil dos PMEB foi a remuneração, não diretamente associado à pesquisa, mas que indica o poder aquisitivo deste profissional, sua capacidade de compra para obter um computador, para pagar o acesso à internet banda larga e com isso ter o domínio tecnológico necessário para participar de um curso em EaD via internet. Considerando o valor hora- aula recebido pelos PMEB nos diversos níveis de ensino, Tabela 13 – Valor Hora-Aula por Nível de Ensino e Dependência Administrativa, podemos perceber a baixa remuneração e a desvalorização da profissão.

Tabela 13 – Valor Hora-Aula por Nível de Ensino e Dependência Administrativa

Fonte: INEP(2006b)

Esta desvalorização da profissão pode ser mais bem observada se comparada com outras profissões de nível superior, como indica o Gráfico 7 – Rendimento Médio Mensal em R$ por Profissão no Brasil - 2001. Os valores recebidos pelos professores, menos os do Ensino Médio, na

época, 2001, equivaliam a salários de profissionais de nível médio sem qualificação técnica. Os professores do Ensino Médio estavam com salários na faixa dos profissionais técnicos de nível médio. A LDB exige nível superior para atuar na educação, e a grande maioria dos profissionais já possuem essa qualificação. Porém, distorções ainda são presentes na Educação Básica, com professores sem a devida formação, o que não justifica a baixa remuneração destes profissionais.

Gráfico 7 – Rendimento Médio Mensal em R$ por Profissão no Brasil - 2001

Fonte: IBGE – Pnad 2001 apud INEP, 2003

Ao calcular a mediana do salário45 dos profissionais da educação temos em setembro de 2003

o valor de R$648,00 para mulheres e de R$719,00 para homens. Lembrando que as mulheres são maioria absoluta e as oportunidades de salários mais altos são mais restritas, a mediana tende a ser menor neste grupo. Isso pode também ser um indicador das desigualdades de gênero existentes no pais, em que os cargos com salários mais altos são prioritariamente masculinos, pois, muitas vezes, mesmo dentro da mesma função os homens recebem salários maiores. Um indicador dos baixos salários desta profissão está no valor de ganho para fazer parte dos 30% mais bem pagos, entra neste grupo o PMEB que ganha mais que R$975,00 para as mulheres e R$1.100,00 para os homens. Para a faixa dos salários mais altos temos que somente 1% ganha mais que R$4500,00, tanto para homens quanto para mulheres.

No Gráfico 8 – PMEB por Grau de Formação, podemos observar que a grande maioria possui nível superior com licenciatura. Podemos verificar que ainda encontramos um número

45 Valores referentes ao mês de setembro de 2003 do salário bruto (sem descontos), incluindo as gratificações. Não foi

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significativo de profissionais que só possuem formação em magistério em nível médio. É visando a esses profissionais que cursos específicos de formação continuada estão presentes nas políticas públicas atuais (UNIVESP, UAB, entre outros) utilizando da EaD para qualificá-los em nível superior, conforme a LDB exige. Justamente devido ao fato de ser esta clientela muito grande que a presente pesquisa pretende dar algumas diretrizes para que não sejam oferecidos cursos precarizantes a estes profissionais. Em menor número temos os professores sem licenciatura e aqueles que sequer possuem magistério em nível médio, tendo alguns deles concluído o Ensino Médio, outros, apenas o Ensino Fundamental. Todos esses são clientes dos cursos de formação inicial em exercício, ou seja, cursos de formação continuada com enfoque na formação inicial.

Gráfico 8 – PMEB por Grau de Formação

Fonte: INEP(2006b)

Outro indicador do perfil dos PMEB é a carga horária semanal. Este, é um dado importante quando se trata de formação continuada, pois implica ter ou não tempo para estudar, para realizar as atividades em EaD e ainda para cuidar dos afazeres domésticos, atividade que há de ser considerada levando-se em conta o grande número de profissionais femininos que seguem o curso e a realidade brasileira em que é pequena a participação do público masculino nas atividades domésticas. Encontramos médias de 26,2 horas por semana para as mulheres e de 27,7 horas semanais para os homens. No entanto, 40% dos PMEB trabalham mais que 30 horas e 19% das mulheres e 21% dos homens trabalham 40 horas. Como curiosidade, somente 0,5% trabalha cerca de 50 horas semanais, mas há casos extremos de profissionais que trabalham 80 horas semanais. Como o censo não identifica número total de horas trabalhadas por profissional, e sim o número de horas trabalhadas na escola onde o profissional respondeu o censo, e como é conhecida a dupla jornada dos professores, quer em redes, quer em níveis de ensino diferentes, podemos supor que há um número incerto de PMEB que trabalha com jornada dupla. Essa informação é relevante, pois se acrescida à

jornada doméstica, indicaria uma falta de tempo deste profissional para qualquer curso de formação continuada, mesmo em EaD.

Complementando a informação sobre o perfil dos PMEB, incluímos alguns dados do perfil familiar deles, uma vez que isso implica impactos na disponibilidade de tempo e dinheiro. A média é de 2 filhos, tanto para as mulheres quanto para os homens. Chama a atenção o fato de que somente 1% possui mais que 4 filhos, havendo profissionais com o surpreendente número de 10 filhos (0,1%). No perfil geral, tanto as mulheres quanto os homens são casados ou moram com um(a) companheiro(a).

Passando agora para o tema da formação continuada no perfil dos PMEB, adentremos nas informações relativas a EaD e ao domínio tecnológico. Na questão “Participação em cursos de formação continuada nos últimos dois anos”, 762.789 responderam que sim, ou seja, cerca de 49% do total realizaram esses cursos. Quanto à distribuição destes na modalidade dos cursos, Tabela 14 – Modalidades dos Cursos de Formação Continuada e Participação, temos que 573.901 fizeram curso presencial, ou cerca de 75% dos que responderam afirmativamente. Os cursos tiveram cargas horárias bem diversificadas e aquelas com mais frequência foram: com 40h (61mil), com 80h (46mil) e com 120h (43mil respostas). Para os cursos realizados via EaD responderam afirmativamente 82.856, cerca de 11% do total dos que responderam, as cargas horárias de maior frequência nesta modalidade foram para cursos com 180h – 17mil e com 200h – 13mil respostas. E em relação aos cursos semi-presenciais foi respondido afirmativamente um total de 44.759, cerca de 6% dos que responderam, sendo que a maior frequência de carga horária foi para cursos com 180h – 8400 respostas.

Tabela 14 – Modalidades dos Cursos de Formação Continuada e Participação

Carga Horária dos Cursos com Mais Frequência de Respostas

Modalidade dos Cursos

Frequência de Respostas

%

CH Freq. CH Freq. CH Freq.

Presencial 573.901 75% 40 61.000 80 46.000 120 43.000

A Distância 82.856 11% 180 17.000 200 13.000 - -

Semi-Presencial 44.759 6% 180 8.400 - - - -

Fonte: INEP (2006c46)

46 Todas as tabelas e gráficos cuja fonte de dados foi INEP(2006c) foram elaboradas pelo autor da tese a partir dos dados

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Podemos entender que um número muito pequeno de PMEB, 17%,já havia participado de cursos de formação continuada usando a metodologia da EaD, incluindo tanto os cursos totalmente a distância quanto os semi-presenciais. É provável que esse número tenha aumentado significativamente nos últimos anos da década passada, quando as políticas de formação continuada de professores usando da EaD se acentuaram.

Na Tabela 15 – Número de PMEB por participação em Capacitação Tecnológica, temos o resultado das respostas dos PMEB sobre capacitação tecnológica. Encontramos que 663.973, cerca de 43%, consideram que tem domínio do computador, no entanto aqueles que participaram de capacitação foram 542.418, cerca de 35% somente.

Tabela 15 – Número de PMEB por participação em Capacitação Tecnológica

Fonte: INEP(2006b)

Ainda na Tabela 15, sobre cursos de capacitação em internet, temos que 538.941, cerca de 34% afirmam que sabem usar esse recurso, entretanto somente 259.157, ou 17%, haviam realizado cursos sobre o tema. Estes dois aspectos nos dão um indicativo importante: se poucos PMEB assumem ter domínio do computador e menos ainda da internet, é provável que junto com outros condicionantes (tempo, ter computador em casa, ter acesso à internet, entre outros) esta abordagem para cursos a distância não seja a mais adequada.

Na Tabela 16 – Valor Mediano da Hora-Aula dos PMEB, podemos perceber que as políticas de formação continuadas pouco representam na vida profissional dos PMEB, chegando, em alguns casos, a ser contraditórias quando verificamos o valor hora-aula recebido pelos que participaram de cursos de formação e aqueles que não participaram, pois somente os PMEB da dependência administrativa Municipal tiveram sua remuneração majorada após a realização de cursos de formação continuada.

Tabela 16 – Valor Mediano da Hora-Aula dos PMEB

Fonte: INEP(2006b)

Esta situação contradiz as políticas de formação promovidas por uma melhor qualificação profissional e que prometem remunerações melhores para seus docentes. Uma possível suposição para tentar entender esse desvio pode ser a pergunta que originou a resposta: Participação em Formação Continuada nos Últimos Dois Anos. É provável que profissionais menos experientes tenham sido os que mais procuraram cursos de formação continuada nos dois anos que antecederam o censo, por isso não eram os mais bem remunerados, gerando a contradição.

Finalizando o perfil brasileiro dos PMEB, apresentamos os resultados das respostas quanto ao uso de internet fora do ambiente de trabalho e quantos computadores os PMEB interrogados possuem em casa. 26% dos profissionais marcaram que navegam na internet fora do ambiente de trabalho e 38% marcaram que possuem um ou mais computadores em casa. Para efeito de comparação, temos que 97,4% possuem um ou mais televisores em casa. Entendemos que estes três últimos dados do perfil – poucos participaram de formação tecnológica, não têm computador, não têm acesso à internet – completam o diagnóstico de que os PMEB não estão preparados para enfrentar cursos de formação continuada por EaD usando computador via internet. É provável que outras estratégias sejam mais adequadas para estes cursos e garantiriam muito mais acesso, inclusão e assimilação.

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