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3   A CENP e o Campo da Formação Continuada de Professores 75

3.4   O Curso Gestores 98

O curso Gestores, foi uma iniciativa da SEESP. Inicialmente, seria um curso de extensão e para isso foi solicitado à Unicamp que desenvolvesse uma proposta, com o desenvolvimento das negociações. Como a carga horária prevista para o curso era equivalente a uma pós-graduação lato sensu, o curso acabou se tornando um curso de pós-graduação.

O programa de formação O Diretor de Escola como Líder Comunitário e Empreendedor Social terá início em novembro próximo, com término em dezembro de 2006. Este é o primeiro programa de formação latu sensu realizado pela Secretaria de Estado da Educação e contou, na sua origem, com formulações do jornalista Gilberto Dimenstein e do Programa Aprendiz. O programa do curso, que será realizado nos pólos de Campinas e do Morumbi da Unicamp, inclui 75% de atividades a distância e 25% de atividades presenciais.

Para esta formação, a CENP abriu seis mil vagas para dirigentes regionais, diretores de escola titulares de cargo em efetivo exercício, diretores titulares de cargo em outra função, diretores designados, vice-diretores, supervisores de ensino, assistentes técnicos pedagógicos (ATPs) em exercício na oficina pedagógica, e professores coordenadores da Coordenadoria de Ensino da Grande São Paulo (COGSP), onde diretor ou vice não se inscreveram. O certificado de conclusão do curso será expedido pela instituição contratada, conforme modelo estabelecido pela Secretaria Estadual de Educação, aos participantes que comprovarem freqüência mínima de 80% e avaliação de aproveitamento satisfatória, em todos os módulos que compõem os cursos. (MICROEDUCAÇÃO, 2007)

Por desejo do Secretário de Educação, Gabriel Chalita, o curso deveria estar voltado a capacitar os Diretores de escola para que estes pudessem exercer os papéis de líderes comunitários e empreendedores sociais. Porém, como a Unicamp não aceitou esta orientação, e após um impasse inicial, que quase provocou o rompimento de contrato entre as duas instituições, ficou decidido que a SEESP usaria o termo “Gestão Educacional, com ênfase em Liderança Comunitária e Empreendedorismo Social”, enquanto a Unicamp usaria o termo “Gestão Educacional” somente.

A criação do curso de Gestão Educacional, segundo o coordenador do Grupo Gestor de Projetos Educacionais (GGPE), Fernando Antonio Arantes, nasceu do interesse da Secretaria da Educação, que procurou a ajuda da Unicamp. Em seguida, o GGPE propôs à Faculdade de Educação que elaborasse um projeto nesse sentido. Assim que ficou pronta, a proposta foi discutida com os representantes da Secretaria até que se chegasse ao formato final. Inicialmente, as atividades estavam previstas para durar 12 meses. Entretanto, elas foram estendidas por mais quatro meses, para que o programa pudesse ser cumprido e a qualidade do curso, assegurada. A Unicamp arcou com os custos adicionais desse prolongamento. Ao todo, o Estado investiu aproximadamente R$ 10 milhões. O curso foi coordenado por um colegiado formado pelos coordenadores das disciplinas e contou com a participação de representantes do GGPE, do corpo discente e Secretaria de Estado da Educação. (ALVES FILHO, 2007)

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O convênio foi estabelecido via órgão da SEESP, responsável pela formação continuada, a CENP. Esse órgão que tido um papel de destaque nas políticas públicas educacionais dos diversos governos até então, incluindo suas diretrizes para a formação continuada de professores baseadas na EaD. Inicialmente, a intenção era que 75% das atividades fossem realizadas a distância, contudo, por exigência da FE, esse número caiu para 50%.

Quanto aos conteúdos de empreendedorismo e protagonismo, a FE entendeu que não haveria em seu corpo acadêmico pessoal capacitado para estes temas, sendo solicitado à Organização Não Governamental (ONG) Escola Cidade Aprendiz que assumisse a disciplina.

O propósito é que esse gestor, além de subsidiar a prática pedagógica, saia dos limites da escola para buscar parcerias e crie, naquela comunidade, a noção do pertencimento. Ou seja, fazer de segunda à sexta-feira aquilo que já acontece todos os fins de semana com o Programa Escola da Família: a escola se apropria do bairro e o bairro se apropria da escola. Um dos módulos da especialização traz o conteúdo da Cidade Escola Aprendiz, a ONG criada pelo jornalista Gilberto Dimenstein com foco em educação comunitária e que vai trabalhar na direção de criar esse espaço educativo bairro-escola. (MICROEDUCAÇÃO, 2007b)

Na verdade, existia uma resistência de cunho teórico quanto a esta abordagem. É de entendimento da FE que ao Diretor de escola, chamado de Gestor, não cabe a tarefa de ir ao mercado buscar parcerias para suprir o que o Estado deveria estar fazendo, e a idéia de protagonismo, ao colocar jovens, dentro da escola, para fazer trabalhos e serviços que deveriam ser executados por profissionais contratados é considerada inadequada. Agora cremos ser possível entender o impasse na oferta do curso que se deu entre a SEESP e UNICAMP. A solução encontrada pareceu satisfatória para os dois lados e o curso teve início com atraso de um mês.

Inicialmente, previa-se a abertura de matrículas para todos os diretores da Rede, no entanto a FE-UNICAMP não se mostrou capacitada para um número tão grande dentro dos seus critérios de qualidade e propôs o número de 5 mil alunos. Porém como a procura por parte dos Diretores foi muito grande, o número foi estendido para 6 mil alunos. Este curso teve três características que o diferenciaram na Rede. Primeiro não era obrigatório como de costume. Os interessados é que procuraram a SEESP para se matricular e, por essa razão, muitos acabaram ficando de fora.

O curso da UNICAMP, diferentemente do PROGESTÃO não foi obrigatório, só fez inscrição quem sentiu necessidade de fazê-lo, isso é bom, pois ninguém estuda sob pressão.

A SEE ofereceu seis mil vagas e muitos ficaram de fora, pois o interesse pelo tema foi grande, acho que a SEE não esperava que fosse acontecer isso. Todos estão com muita vontade de acertar dentro da gestão. (PONTES, 2007, pg. 104)

Outra característica que o diferenciou foi que neste curso os alunos tinham que estudar assuntos teóricos e não somente temas de ordem operacional.

[...] Um bom exemplo de como está sendo visto o curso aparece do depoimento de uma das alunas, que está há 15 anos na rede estadual. Ela afirmou recentemente, durante um congresso internacional sobre gestão educacional, realizado em Rio Claro, que foi neste curso da Unicamp que pela primeira vez ela percebeu ter sido chamada para estudar. Normalmente, segundo ela, os gestores só são chamados para aprender rotinas de trabalho [...] (ALVES FILHO, 2007)

Por fim, como um último diferencial, este foi o primeiro curso de pós-graduação lato sensu oferecido pela SEESP.

A titular da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (Cenp) da Secretaria de Estado da Educação, Maria Aparecida Marques Kuriki, fez o curso de Gestão Educacional oferecido pela Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. De acordo com ela, esta foi a primeira vez que a Pasta proporcionou aos profissionais da rede estadual de ensino uma capacitação em serviço. “Penso que essa especialização fará diferença para a carreira dos nossos educadores. A excelência do curso foi patenteada por todos os alunos”, afirma. (ALVES FILHO, 2007)

A estrutura do curso foi composta por 390 horas, sendo 180 horas de aulas presenciais, 180 horas de atividades a distância e mais 30 horas de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A Coordenação Pedagógica e as disciplinas ficavam sob a responsabilidade da FE e a logística do curso sob a responsabilidade da Reitoria via o Grupo Gestor de Projetos Educacionais (GGPE).

As disciplinas desenvolvidas foram dez, sendo oito com duração de trinta horas e duas com duração de sessenta horas (Tabela 2 – Disciplinas e Cargas Horárias). As disciplinas de trinta horas foram distribuídas ao longo de três semanas, e as de sessenta horas ao longo de seis semanas. A distribuição das aulas presenciais foi composta por jornadas com duração de 7 horas e meia em cada dia, aos sábados, totalizando duas ou quatro jornadas por disciplina.

Para as atividades a distância foi utilizada a plataforma TelEduc, desenvolvida pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED), usando as ferramentas de fóruns de discussão, videoconferências, cyber café, emails, agenda, portfólio, chats entre outras. Além disso, foram produzidas diversas vídeos-aula disponibilizadas para cada aluno em CD-ROM, e foi impressa uma publicação em três volumes compondo um kit educacional de apoio para leitura.

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Tabela 2 – Disciplinas e Cargas Horárias

Código CH Aulas Disciplina

M01 30 M01-1 M01-2 Gestão Escolar M02 30 M02-1 M02-2 Planejamento e Avaliação (parte 1)

M03 30 M03-1 M03-2 Planejamento e Avaliação (parte 2)

M04 30 M04-1 M04-2 Políticas Públicas M05 30 M05-1 M05-2 Gestão, Currículo e Cultura (parte 1)

M06 30 M06-1 M06-2 Gestão, Currículo e Cultura (parte 2) M07 30 M07-1 M07-2 Relações de Trabalho e Profissão Docente M08 30 M08-1 M08-2 Tecnologias de Informação e Comunicação

M09 30 M09-1 M09-2 Escola, Gestão e Cultura

M10 30 M10-1 M10-2 O Cotidiano da Escola

M11 30 M11-1 M11-2 Gestão Escolar: Abordagem Histórica M12 30 M12-1 M12-2 A Escola e a Educação Comunitária

Fonte: FE (2005)

A distribuição da carga horária de cada disciplina se deu por módulos de três semanas, ocorrendo na primeira semana as aulas a distância, conforme Tabela 3 - Distribuição da Carga Horária.

Tabela 3 - Distribuição da Carga Horária Sábado: Livre 0:30 h de Vídeo Aula 1:00 h de Fórum 1ª Semana 2a. a 6a. 3:30 h de Atividades e Estudo Sábado: Aula presencial – 7:30 h

1:00 h de Videoconferência 1:00 h de Fórum 2ª Semana

2a. a 6a.

3:00 h de Atividades e Estudo Sábado: Aula Presencial – 7:30 h

0:30 h de Vídeo Aula 2:00 h de Fórum 3ª Semana

2a. a 6a.

2:30 h Produção de TCC (trabalho parcial) Total de carga horária: 30 h

Fonte: FE (2005)

Os 6 mil alunos foram divididos em 120 grupos de 50 alunos, cada 10 grupos formou uma turma, totalizando doze turmas. O curso está dividido em 12 blocos de três semanas cada. Cada turma (dez grupos) frequentará uma determinada disciplina de tal forma que ao término do curso todas as turmas (doze) terão frequentado todas as disciplinas (dez – sendo que duas têm carga horária dobrada). Na Tabela 4 - Esquema de distribuição das disciplinas por turma, pode-se visualizar esta distribuição.

Tabela 4 - Esquema de distribuição das disciplinas por turma

Fonte: FE (2005)

Pelo fluxograma no Gráfico 1 - Fluxograma dos Ciclos e de Pessoal, podemos observar como se deram os ciclos de atividades e a organização de pessoal docente. Cada grupo de 20 turmas (20 grupos = 1000 alunos) serão monitorados por um Monitor de Turma, que fará o acompanhamento dos grupos do início ao fim do curso. Cada disciplina de 30 horas ficou com um conjunto de 500 alunos. As de 60horas com 1000 alunos por vez, auxiliados na EaD por quatro Monitores de Disciplina acompanhados por um Supervisor de Disciplina que por sua vez responde ao Coordenador de Disciplina, este sempre um professor da FE.

Gráfico 1 - Fluxograma dos Ciclos e de Pessoal

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Segundo o Plano de Curso elaborado pela FE, os diversos conteúdos e práticas da proposta de Curso de Especialização foram norteados pelos seguintes princípios básicos: Construção Coletiva de Projeto Pedagógico; Cidadania e Inclusão; Currículo; e Educação Contínua (FE, 2005, p. 6).

As unidades do Curso de Especialização tiveram como foco, com maior ou menor ênfase, os seguintes aspectos:

- A Educação, a Escola e a Sociedade

- A Escola: sua Organização e seu Funcionamento - O Entorno da Escola: o Local e o Regional - A Escola e seus Profissionais

- A Escola e seus Alunos

- A Escola, seu Currículo e seus Projetos - O Cotidiano da Escola (FE, 2005, p. 8)

O curso teve como objetivos:

- Fortalecer o compromisso dos gestores para a construção de um projeto de gestão democrática e para um tipo de autonomia que tenha como foco o sucesso escolar dos alunos (Ensino Fundamental e Médio) e o bem-estar do coletivo escolar, buscando superar toda e qualquer forma de discriminação e/ou exclusão social.

- Ampliar os conhecimentos dos gestores de unidades escolares no que se refere aos múltiplos aspectos envolvidos no planejamento e gestão como processo de construção coletiva, estimulando a realização e o aprofundamento de estudos na perspectiva de uma formação continuada.

- Valorizar a prática profissional concreta dos gestores de unidades escolares e incrementar o intercâmbio de experiências sobre a gestão de projetos sociais, as de âmbito curricular e as relacionadas ao Projeto Político Pedagógico. (FE, 2005, p. 8)

Para o oferecimento do curso foram necessários: 12 Coordenadores de Disciplina, 120 professores para a etapa presencial, 12 Supervisores de EaD, 48 Monitores de Disciplina, 6 Monitores de Turma. Além do Coordenador Geral, Assistente de Coordenação, Assistente de EaD, Monitores de Informática (5 no primeiro mês e 1 por 10 meses). O total de professores envolvidos com as aulas presenciais foi de cerca de 300 professores, para isso além do corpo docente da FE, composto por pouco mais de 100 professores, os alunos da pós-graduação, tanto de Mestrado como de Doutorado, participaram diretamente ministrando as aulas das disciplinas.

Ao final do curso, os TCCs produzidos pelos alunos aprovados, 4,2 mil, foram apresentados e defendidos em uma mostra pública, montada dentro do Ginásio de Esportes da Unicamp.

Durante 16 meses, profissionais que atuam na rede estadual de educação de São Paulo, entre eles diretores, coordenadores, supervisores e dirigentes regionais de ensino, voltaram a ser estudantes. Nesse período, eles freqüentaram o curso de pós-graduação lato

sensu de Gestão Educacional oferecido pela Unicamp, por meio de sua Faculdade de

Educação (FE). Dos cerca de 6 mil matriculados, 4,2 mil foram aprovados. Estes participaram no último dia 31 de março da cerimônia de encerramento das atividades acadêmicas. Na ocasião, os trabalhos de conclusão de curso (TCCs), vários com nível que os qualifica para publicação, foram apresentados e defendidos numa mostra pública. (ALVES FILHO, 2007)

Uma pesquisa de satisfação foi elaborada ao final do curso. Como resultado, geral ela apontou para um grande contentamento do público atendido, tanto pela qualidade do curso, quanto pelas experiências teóricas e práticas proporcionadas pelas diversas disciplinas. Certamente ocorreram problemas ao longo do curso, principalmente de comunicação, o que resultou em alguns desacertos e reprovação de alunos por motivos aparentemente banais. Um exemplo disso foi a não possibilidade de faltas às aulas presenciais, uma vez que estas representavam 50% da disciplina. Uma única falta fazia com que o aluno ultrapassasse os 20% permitidos no Regimento da CENP, presente no contrato com a Unicamp. Outro problema apresentado foi o número elevado de reprovação, 1800 alunos, representando 30% do total, um número que pode revelar, por parte dos alunos, a não adaptabilidade a este formato de metodologia e uso das tecnologias digitais. As análises da pesquisa trarão algumas respostas a esses problemas, porém antes de apresentá-las discutiremos no próximo capítulo a formação continuada de professores e depois a EaD e o seu uso nos dias de hoje, para contextualizá-la melhor.