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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: UM OLHAR PARA A IES PRIVADA

No documento Série III: RESULTADOS DE PESQUISAS (páginas 54-61)

4DPF EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O CURSO DE DIREITO: APROXIMAÇÕES

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: UM OLHAR PARA A IES PRIVADA

Em uma breve reflexão sobre o ambiente educacional de ensino superior, por exemplo, é importante frisar a deficiência que a ausência da educação ambiental traz ao profissional que está sendo formado. Isso porque interfere em seus relacionamentos com professores, colegas de profissão e futuros clientes ou

indivíduos da sociedade, de uma forma geral. O predomínio da prática pedagógica autoritária faz com que os profissionais sejam formados a partir de um pensamento mais individualista, sem interesse com relação ao próximo e ao ambiente.

Ainda que muito ausente nos dias atuais, à educação ambiental tem enfoque na formação do caráter social de um indivíduo não apenas com relação ao meio ambiente, como já foi mencionado, mas com relação aos outros indivíduos com quem interage diariamente em sociedade. Mas como chegar a uma sociedade em que há mais empatia, mais auxílio entre colegas de profissão e mais dedicação com relação ao próximo?

Torna-se possível, portanto, o desenvolvimento de indivíduos e, consequentemente, de uma sociedade, com caráter social, envolvendo suas relações com o meio ambiente, familiares e amigos, e trazendo para a cultura brasileira mais consciência ecológica e empática.

Dito isto, entramos na importância da interdisciplinaridade. A sociedade atual encontra-se em um momento crítico em que se faz necessária a construção de indivíduos com posturas e valores diferentes, mais aprimorados. A educação ambiental no ambiente acadêmico está diretamente relacionada à temática da interdisciplinaridade, afinal se torna difícil analisar sem reflexão e conhecimento como esse segmento favoreceria um estudante de matemática, por exemplo.

É de vital importância que não se deixe passar a essencialidade do papel que as Universidades/Instituições de Ensino Superior têm na formação do indivíduo. Deste ângulo, podemos, portanto, relacionar de forma direta o ensino de Educação Ambiental à profissionais de quaisquer áreas, visto que estarão diariamente em contato com o ambiente, com indivíduos e com projetos que, com esse conhecimento interdisciplinar, podem adquirir um pensamento crítico com relação à política, à prática profissional, dentre outros temas que rondam diariamente a vida de um cidadão.

Morales (2009) ao analisar a política pública, entende que com a publicação da Lei nº 9.795/1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (EA), houve um grande impulso para as questões ambientais no território brasileiro, reafirmando-se no texto legal um caráter integrador e sistêmico da EA. No entanto, apenas em “2002 há a regulamentação da Lei nº 9795/99 e do órgão Gestor da

Política Pública Nacional de Educação Ambiental, que definem as bases para sua execução. Aqui, fica explícito que a educação ambiental é ainda muito inconsistente no ambiente político, dependendo do interesse de cada representante político e partidário vigente no âmbito nacional” (MORALES, 2009, p. 46).

Ganha importância então o movimento e a união de esforços da sociedade ou, pelo menos, de parcela desta, para reivindicar ações do Estado no sentido de melhor encaminhar os anseios por uma EA. Quintas (2000 apud LOUREIRO, 2012) reforça a ideia de que, ao favorecer o direito democrático da sociedade na elaboração e execução de políticas públicas, que venham a interferir no ambiente e em empreendimentos que possam alterar as condições do território, que é comum a todos, o Estado assegura uma condição necessária e vital à vida humana.

Loureiro (2011) afirma que a EA adquire projeção no âmbito social e o devido reconhecimento público na década de 1990, no Brasil, mesmo figurando de forma substancial na Carta Constitucional de 1988, em que lhe é dedicado um capítulo específico. Coloca o autor que ocorre, assim, uma busca por coerência por meio de princípios e sua implementação em condições alinhadas com as diretrizes mundiais já estabelecidas, como, por exemplo, o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), em 1994; os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), em 1996; a Conferência Nacional de EA, em 1997; e a Política Nacional de EA, implementada pela Lei nº 9.795/1999.

Em termos genéricos e conceituais, a educação é essencialmente política, pois político é o espaço de atuação humana em que nos formamos e moldamos as características objetivas que nos cercam. Uma das graves falhas dos processos educativos denominados ‘temáticos’ ou ‘transversais’ (Educação Sexual, Educação em Saúde, etc.), que reproduz na Educação Ambiental, é a falta de significado da dimensão política em educação. Esse fato se verifica se observarmos que a atuação dos educadores vem tomando as iniciativas educacionais ambientalistas, limitados à instrumentalização e à sensibilização para a problemática ecológica, mecanismo de promoção de um capitalismo que busca se afirmar como verde e universal em seu processo de reprodução, ignorando-se, assim, seus limites e paradoxos na viabilização de sociedade sustentável (LOUREIRO, 2011, p. 74).

Salienta-se, desta forma, que os desafios propostos estão presentes e materializam-se dia a dia no contexto político, econômico, social e, até mesmo, educacional, reforçando a ideia de que há a necessidade de um grande empenho, principalmente da educação, no sentido de desvelar essa realidade para as futuras

gerações, impulsionando-as para a busca do conhecimento, que pode, aos poucos, vencer os desafios presentes. “A Educação Ambiental tem a responsabilidade de formar cidadãos e cidadãs do Brasil e do mundo que saibam que a natureza-projeto somente poderá se tornar realidade pela política. E se essa está sendo desvirtuada, pertence à nova geração de lhe devolver a natureza de ferramenta voltada a construir no planeta solidariedade, liberdade, igualdade, cuidado, carinho, humildade” (LEROY; PACHECO, 2006, p. 68).

A política de EA é manifestada de forma geral pelo aparato Legal, que se estende a todos os estados da federação, sendo recepcionada também no estado do Paraná, no qual, por meio de ações imbuídas no sentido de fortalecer uma política estadual de EA, levou à conclusão de uma Deliberação por parte do Conselho Estadual de Educação, que instituiu normas complementares às Diretrizes Nacionais para a EA, destinadas às instituições de ensino públicas e privadas que atuam nos níveis e modalidades do sistema estadual de ensino.

O texto desta Deliberação Estadual expressa avanços importantes em relação ao estabelecido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, ao considerar que a educação ambiental deve buscar o cuidado e conservação das comunidades de vida, como sujeitos de direto, visando: à integração da educação ambiental formal e não formal, a partir da Lei da Política Estadual de Educação Ambiental; a territorialidade da bacia hidrográfica para integração das ações de política pública; a articulação de ações entre a educação básica e ensino superior; fortalecimento do papel da escola; participação e controle social no monitoramento dos resultados das políticas públicas; constituição de redes socioambientais para divulgação e socialização de ações (ROSA; CARNIATTO, 2015, p. 347).

O aspecto da integração mencionado na Deliberação estadual vem a reforçar a ideia de que as ações por políticas públicas não ocorrem de forma solitária, mas de forma unificada, pela ação em conjunto dos vários sujeitos envolvidos dentro do espaço territorial delimitado pela bacia hidrográfica, principalmente daqueles que representam as instituições de ensino.

Do texto da Deliberação, o governo do Estado do Paraná aprovou a Lei nº 17.505/2013, que instituiu a Política Estadual de EA e o Sistema de EA, também em consonância com os princípios e objetivos da Política Nacional de EA e do ProNEA.

No que se refere ainda sobre a EA no ensino superior no estado do Paraná, Rosa e Carniatto (2015, p.345), relatam o embate sobre a condição de a EA ocupar

um espaço no currículo como Disciplina obrigatória, optando-se então os Conselheiros do Conselho Estadual de Educação de forma unânime de que

a Educação Ambiental não deveria ser disciplina obrigatória, podendo ser facultativa. Argumentaram que esta temática requer reflexão teórica dos paradigmas filosóficos relacionados à educação, quanto à abordagem cartesiana em contraposição à visão holística e sistêmica. Uma vez que, a obrigatoriedade da Educação Ambiental como disciplina, fortalece a visão cartesiana na construção do conhecimento, a partir da abordagem disciplinar e fragmentada da realidade e do ambiente, em contraposição à visão de totalidade, holística e sistêmica necessária para a compreensão ambiental da realidade, buscada na articulação transdisciplinar (ROSA; CARNIATTO, 2015, p. 345).

Assim, ao direcionarmos nosso olhar para a Instituição de Ensino Superior Privada observada no primeiro semestre de 2019, bem como após consulta aos seus documentos, como o Projeto Pedagógico de Curso (PPC) de Direito e suas Ementas de Disciplinas, verifica-se que a Educação Ambiental, incluída nos currículos dos Cursos de Formação Superior a partir dos anos 2000, manifesta-se apenas como um dos conteúdos a serem abordados na Ementa da Disciplina de Direito Ambiental no 8º Período, e não se apresenta outra forma de abordagem como se observou nos documentos analisados, embora o PPC do Curso relate sobre a preocupação de bem atender a política de Educação Ambiental, sem no entanto, referendar a Política Estadual de Educação Ambiental, conforme Lei nº 17.505/2013, que instituiu a Política Estadual de EA e o Sistema de EA no estado do Paraná. Em relação ao Corpo Docente do Curso, verificou-se também que a maioria dos Professores possui grande experiência profissional no trabalho como Advogados (as), em sua maioria com especializações na área jurídica sem registros sobre uma formação voltada à Educação ou Meio Ambiente, com exceção da uma das Docentes que frequenta o Doutorado em Educação.

Ao se observar a instituição como um todo, verifica-se que não existem incentivos maiores para uma prática ou atitudes sustentáveis e voltadas para um cuidado maior para o meio Ambiente, como, minimamente, lixeiras com o devido código de cores para a separação adequada do lixo, ou ainda qualquer incentivo ao não desperdício de papel, água, alimentos e outros cuidados que impactam ao meio ambiente e à saúde dos seres vivos. A instituição ainda é dividida por uma via de trânsito intenso, sem qualquer incentivo à travessia dos alunos na faixa de pedestres, condição que também afeta ao cuidado com os serem humanos, além de

não cumprir, outra política pública estabelecida que é a de Educação para o Trânsito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando-se o objetivo geral inicialmente estabelecido de buscar aproximações entre a Educação Ambiental e sua presença no ensino superior, com um olhar específico para o Curso de Direito de uma instituição privada de ensino superior de Curitiba, verifica-se que em regra a Educação Ambiental ainda não se apresenta da forma esperada no ensino superior e, principalmente, no Curso de Direito. Geralmente quando aparece está relacionada ao Direito Ambiental, uma única disciplina no universo de 5 anos consecutivos de formação. O mesmo se dá em termos da inexistência de projetos interdisciplinares que venham a amenizar esta ausência das questões ambientais ou socioambientais.

Com base ainda no resultados e com a autorização da Instituição e da Coordenação do Curso de Direito da IES investigada, foi realizada uma palestra na Instituição sobre Educação Ambiental, após a conclusão da presente pesquisa, para o público em geral e de forma específica para os alunos do Curso de Direito e do Núcleo de Prática Jurídica, com a participação de alguns docentes do Curso, com o intuito maior de despertar a preocupação com as questões ambientais e com política pública de Educação Ambiental vigente no país e no estado do Paraná.

Considera-se também que os objetivos específicos foram atingidos, possibilitando responder a indagação inicial de pesquisa de que a Educação Ambiental ainda não se faz presente na formação de professores que exercem a docência na área jurídica. Porém, existem alguns esforços no âmbito da ambientalização curricular que procura atender esta demanda em algumas instituições do ensino superior públicas e privadas, mas as lacunas ainda estão presentes e exigem esforços no sentido de que a Educação Ambiental se faça presente em todas as etapas e modalidades educacionais no país.

REFERÊNCIAS

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_______. Educação ambiental e movimentos sociais na construção da cidadania ecológica e planetária. In: LOUREIRO, C. F. B.; LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002.

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Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

_______. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2012.

MAIA, J. S. S. Educação ambiental crítica e formação de professores. Curitiba: Appris, 2015.

MORALES, A. G. M. Processo de institucionalização da educação ambiental: tendências, correntes e concepções. Pesquisa em Educação Ambiental, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 159- 175, 2009. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/pea/article/viewFile/30080/31967>. Acesso em: 16 jan. 2019.

NUNES, R.. Manual de introdução ao estudo do direito. Editora Saraiva, 2018. REIGOTA, M. O que é educação ambiental. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2012 ROSA, M. A.; CARNIATTO, I. Política de educação ambiental no Paraná e seus desafios. REMEA, Rio Grande, v. 32, n. 2, p. 339-360, jul./dez. 2015.

VEIGA, I. P. A.. Docência universitária na educação superior. Docência na Educação Superior. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira, 2006.

XVII Encontro Paranaense de Educação Ambiental - XVII EPEA

IV Colóquio Internacional em Educação Ambiental

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