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PROSPECTIVAS TRAÇADAS PARA A QUESTÃO AMBIENTAL: LEITURA COMUNITÁRIA

No documento Série III: RESULTADOS DE PESQUISAS (páginas 92-99)

4DWX PERSPECTIVAS TRAÇADAS PARA A QUESTÃO AMBIENTAL EM LONDRINA: PLANO DIRETOR DE MUNICIPAL DE

PROSPECTIVAS TRAÇADAS PARA A QUESTÃO AMBIENTAL: LEITURA COMUNITÁRIA

No município de Londrina, no ano de 2018, foi realizado o processo de revisão do plano diretor de Londrina-PR ano 2018-2028. Pautados na dimensão democrática, todos os trabalhos foram realizados por uma equipe multidisciplinar de técnicos que atuavam no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (IPPUL) de Londrina.

A equipe até aquele momento era composta por técnicos servidores públicos municipais, dentre os quais arquitetos/as (em maior quantidade numérica), seguido por geógrafos/as, uma bióloga, uma engenheira florestal e uma bacharel em direito, tendo apoio de estudantes que no momento realizavam estágios remunerados junto ao IPPUL e de diversos outros técnicos externos servidores públicos ou privados de instituições de ensino superior, principalmente das área do direito, engenharia civil, arquitetura, serviço social, geografia. Todo o trabalho geral foi supervisionado por um profissional do campo do direito. Ou seja, dentro dos recursos financeiros e humanos, buscou-se ao máximo formar uma equipe multidisciplinar para a realização dos trabalhos de revisão do PDM de Londrina.

No decorrer do 1º semestre de 2018, os trabalhos foram desenvolvidos em 04 etapas, estando as mesmas ancorada em objetivos e indicativos do Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), como forma de dar continuidade ao caráter participativo iniciado na revisão de 2008, quando na revisão do PDM de Londrina (2008-2018) buscou-se pela primeira vez no município a integração da população das áreas urbanas e rurais, na época sob a supervisão de um arquiteto.

Contemplar a voz da população no PDM de qualquer município é de suma importante, ao passo que permite além da visão técnica, a incorporação da voz daqueles que vivenciam a cidade real (SANTOS; MONTANDON, 2011), repleta de aspectos positivos e/ou negativos diretamente ligados a gestão municipal.

E por ser o município na grande maioria dos casos composto por população urbana e rural, também é fundamental pensar o PDM para além da cidade, incorporando o campo também nas discussões e propostas, principalmente quando se trata da questão ambiental. Só assim, tendo um olhar para questões do campo e cidade a partir do diálogo com a população, o PDM cumprirá seu papel de ferramenta útil, conforme discutido por (ANTONELLO, 2013).

Assim, buscando dar continuidade ao processo democrático de revisão do PDM, em 2018, almejando envolver a participação popular da zona urbana e rural, as etapas II e III referentes aos fóruns de participação popular ficaram assim organizadas: a) para avaliar e pontuar os problemas vivenciados no cotidiano (etapa II), b) para projetar melhorias necessárias, por meio de propostas (etapa III) e c) na definição dos aspectos importantes que, posteriormente, somariam na minuta de lei (etapa IV). Tais fóruns, em termos espaciais, foram organizados no território municipal a partir de agrupamento de porções da área urbana (norte, sul, leste, oeste e centro) e os distritos rurais, organizado pela equipe do IPPUL (figura 2).

No decorrer dos fóruns populares, a partir da coordenação de técnicos do IPPUL, os moradores de cada porção urbana e rural participaram de forma ativa, no fórum II detectando os problemas vivenciados no cotidiano e no fórum III apontando saídas para as problemáticas. Cabe ressaltar ainda que as questões norteadoras das discussões eram do tipo aberta e direcionavam as reflexões para a realidade vivida pela população residente no distrito sede ou no aglomerado do distrito rural e nas propriedades rurais, ficando a cargo do técnico o direcionamento com maior

intensidade para a zona urbana nos caso dos fóruns na cidade ou para o campo quando se tratava dos fóruns nos distritos. As questões perpassaram 4 grandes temas, a saber: atendimento social, transporte e vias de circulação, economia e meio ambiente, estrutura urbana.

Figura 2. Porções delimitadas pelo IPPUL como as nove áreas de abrangência de cada fórum de participação popular na revisão do PDM-Londrina 2018

Fonte: LONDRINA, 2018.

Em se tratando da questão ambiental, no decorrer dos fóruns de participação popular da revisão do PDM de Londrina em 2018, a população urbana e distrital- rural apontou uma série de problemas, estando alguns diretamente correlacionado a problemática habitacional.

Conforme os quadros 1 e 2, é possível verificar que tanto na área urbana da cidade e rural, os moradores das diferentes porções indicadas na figura 2, apontaram soluções para reduzir a problemática ambiental. As indicações dos moradores foram organizadas em dois grupos de acordo com as atribuições da

Companhia de Habitação de Londrina/COHAB e da gestão, de outras secretarias e autarquias municipais (grupo 1: Gestão, COHAB (habitação/uso do solo urbano) e grupo 2: Gestão e secretarias diversas).

Quadro 1. Propostas envolvendo questões ambientais as zonas urbanas da cidade de Londrina - fóruns de participação popular na revisão do PDM de Londrina/PR em

2018

Gestão, COHAB (habitação/uso do solo urbano): realocar as famílias que residem em áreas de risco nos fundos de vale na zona leste da cidade; incentivar à habitação de interesse social; mapear ocupações irregulares e ver quais as possibilidades reais dessa população ser atendida por a política de moradia popular; em áreas de vazios urbanos criar forma de incentivos fiscais (como por ex. redução da alíquota de IPTU) para quem implementar hortas e estimular a criação de hortas comunitárias nos bairros, com participação da comunidade;

Gestão e secretarias diversas: Preservar os fundos de vale (moradores e pelas próprias secretarias municipais que estão próximas aos mesmos); revitalizar as pistas de caminhadas e áreas verdes próximas a córregos em diferentes zonas da cidade; criar forma de preservar nascentes urbanas; instituir política de turismo em áreas verdes urbanas; Atribuir uso de lazer aos fundos de vale (lazer que não provoque degradação); criar condições para que ocorra a co-participação de construtoras no desassoreamento do Lago Igapó; criar e desenvolver campanhas de educação ambiental nas diferentes zonas da cidade; promover a fiscalização dos parcelamentos irregulares das áreas de preservação; adequar sistema de drenagem em arruamentos e promover limpeza e manutenção das galerias dissipadores em diversas porções da cidade; criar política visando o estímulo a coleta de água pluvial (IPTU verde);

Fonte: LONDRINA, 2018. Org. Os autores, 2019.

Quadro 2. Propostas envolvendo questões ambientais nos distritos e patrimônios rurais de Londrina - fóruns de participação popular na revisão do PDM de

Londrina/PR em 2018

Gestão, COHAB (habitação/uso do solo urbano): instituir leis que “agilizem” a aprovação dos projetos de habitação de interesse social;

Gestão e secretarias diversas: promover a recuperação das áreas de nascentes na zona rural assim como a proteção das áreas de mananciais e a preservação dos fundos de vale e áreas de APP; garantir que a Zona de Amortecimento da mata do Godoy preserve de fato a vegetação e nascentes; Criar e rever o sistema de galerias e drenagem nos pontos de alagamentos em várias área urbanas dos distritos; Implantação de saneamento básico em áreas urbanas de diversos distritos; Criar um sistema de drenagem na área urbana do patrimônio de Guairacá e revitalizar áreas erodidas na porção urbana do referido patrimônio; criar projetos municipais de educação ambiental; criar projetos de formação de professores no campo da educação ambiental.

Conforme o quadros 1 e 2, a minimização dos problemas ambientais está diretamente correlacionada a ações direcionadas para a questão do déficit habitacional, como a viabilização de habitação de interesse social, o mapeamento das ocupações irregulares e a criação de instrumentos no Plano diretor que possam inibir a destinação de lotes urbanos para especulação imobiliária, que tem resultado em grandes vazios urbanos. Também foram apontadas ações referentes a preservação de fundos de vale, de nascentes, de áreas verdes e de proteção ambiental, e outros que estão diretamente correlacionados ao problema da ocupação irregular em fundos de vale e questão habitacional no distrito sede e nos rurais.

É importante destacar que tanto nos fóruns ocorridos na cidade como nos distritos rurais, foi indicada a importância da educação ambiental junto a população bem como na formação de professores.

Ficou evidente na voz da população que além do conhecimento da problemática cotidiana que perpassa a questão ambiental, a mesma é capaz de contribuir nas propostas de ações. Essa parceria de técnicos e população no planejamento municipal, pode minimizar a continuidade de diversos problemas de cunho socioambiental e assim evitar a formação de áreas de risco a partir de fenômenos oriundos justamente na sociedade-natureza, conforme discutido por Marandola Jr e Hogan (2004).

CONSIDERAÇÕESFINAIS

A análise do mapa de risco ambiental produzido pelos técnicos do IPPUL e dos problemas ambientais da ‘cidade real’ segundo as vozes dos sujeitos que vivem na mesma, corroboram com a ideia de que o planejamento municipal realizado de forma democrática e com participação da população pode resultar em um plano diretor mais condizente com a realidade do município. Além disso, a iniciativa de dar voz aos munícipes pode contribuir para a construção da consciência ambiental.

Mas, ressalta-se que em Londrina a participação popular em termo quantitativo nos momentos de revisão do plano diretor tem ocorrido ainda de forma pouca expressiva. Segundo Antonello e Veiga (2019), no decorrer dos fóruns de

participação popular do PDM em 2018, nas etapas II e III correspondeu respectivamente a 0.045% e 0,051% do total de habitante do município. Esses percentuais indicam que grande parte da população esteve ausente nos fóruns de participação popular, sendo portanto esse um dos grandes desafios para a efetivação de uma gestão democrática.

REFERÊNCIAS

ANTONELLO, I. T. Potencialidade do planejamento participativo no Brasil. Soc. & Nat., Uberlândia, 25 (2): 239-254, mai/ago/2013.

CASTRO, C. M. de; PEIXOTO, M. N. de O.; RIO, G. A. P. do. Riscos Ambientais e

Geografia: Conceituações Abordagens e Escalas. Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ, Rio de Janeiro, v. 28, n. 2, p.11-30, 06 dez. 2005.

COSTA, H.S.M., ARAUJO, R.P.Z., CAMPANTE, A.L.G. A dimensão ambiental nos Planos Diretores de municípios brasileiros: um olhar panorâmico sobre a experiência recente. In: SANTOS Jr., O.A.; MONTANDON, D.T. (Org.). Os Planos Diretores Municipais pós Estatuto da Cidade: balanço crítico e perspectivas. Rio de Janeiro: Letra Capital, Observatório das Metrópoles/IPPUR/UFRJ, 2011.

CYMBALISTA, R. A trajetória recente do planejamento territorial no Brasil: apostas e pontos a observar. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, nº 111, p.29-45, jul.dez. 2006.

GROSSI, Y. de S. Mina de Morro Velho: a extração do homem, uma história de experiência operária. São Paulo: Paz e Terra, 1981.

BRASIL. Lei Federal n° 10.257 de 10/07/2001 (O Estatuto da Cidade). Diário Oficial da União, Seção I (Atos do Poder legislativo). Edição n° 133 de 11 /07/2001.

LIMA, C. de A.; MENDONÇA, F. Planejamento urbano-regional e crise ambiental Região Metropolitana de Curitiba. São Paulo em Perspectiva, 15, 1, 2001.

LONDRINA. Plano Diretor. 2018.

<http://www1.londrina.pr.gov.br/dados/images/stories/Storage/ippul/RELATORIOS/ETAPA_2 -CADERNO_DE_ANEXOS/PLANO_DIRETOR_DIGITAL.pdf>

MARANDOLA JR., E.; HOGAN, D.J. Natural hazards: o estudo geográfico dos riscos e perigos. Ambiente & Sociedade. Campinas, 2004.

SANTOS, O. A dos Junior; MONTANDON, D. T (Org.). Os Planos Diretores Municipais Pós- Estatuto da Cidade: balanço crítico e perspectivas. Rio de Janeiro: Letra Capital: Observatório as Cidades: IPPUR/UFRJ,2011. Disponível em:

www.observatoriodasmetropoles.net/download/miolo_plano_diretor.pdf. Acesso em maio de 2015.

XVII Encontro Paranaense de Educação Ambiental - XVII EPEA

IV Colóquio Internacional em Educação Ambiental

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XVII Encontro Paranaense de Educação Ambiental - XVII EPEA

IV Colóquio Internacional em Educação Ambiental

4DMY- CONSIDERAÇÕES SOBRE O COMÉRCIO JUSTO E

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