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Em Educação como Prática da Liberdade, Paulo Freire (1979) destaca o caráter existencial do homem, considerando-se a diferença entre viver e existir. Existir não seria apenas estar no mundo, mas integrar-se a ele, é não se ajustar ou se acomodar, mas construir uma atitude crítica que permita a transformação da realidade, é ter uma visão nova acerca de velhos temas, significa transcender, dialogar, comunicar. Todavia, a realidade em quaisquer dos mundos é outra: o homem simples é esmagado, diminuído e convertido em espectador, é dirigido pelo poder dos mitos que forças sociais poderosas criam para ele. Mitos que, voltando-se contra ele, o destroem, o aniquilam. Sentimentos assim assustam o homem, o qual passa a temer a convivência autêntica e até a duvidar de sua possibilidade de mudança.

O Brasil, desde o início de sua formação, recebeu colonos que exploraram, através do trabalho escravo, os nativos que aqui viviam e, em seguida, os negros africanos que eram maltratados e submissos aos senhores, a quem deviam total obediência. Dentro desta esfera de violência, mandonismo, dependência, "protecionismo", é que nasceu e se desenvolveu o homem brasileiro. Este cenário de cerceamento das liberdades não proporcionou a comunicação, pelo contrário, as decisões eram tomadas e impostas de maneira hierárquica, não havendo nenhum espaço para o exercício da democracia. O contexto histórico brasileiro não propiciou espaços para diálogo, porque não se poderia pensar em diálogo com a estrutura do grande domínio, com o tipo de economia que o caracterizava, marcadamente, autárquica. A dialogação implica, pois, uma mentalidade que não floresce em áreas fechadas, autarquizadas. Estas, pelo contrário, constituem um clima ideal para o antidiálogo. Para a verticalidade das imposições, para a ênfase e robustez dos senhores, para o mandonismo, para isso tudo serve bem o antidiálogo (FREIRE, 1979).

Freire (1979) ressalta que o período colonial foi marcado por um acentuado poder advindo dos senhores das terras, dos governadores-gerais, dos capitães-gerais, dos vice-reis e dos capitães-mores. A quantidade de terras para administrar era imensa, o que dificultou o desenvolvimento de aglomerações urbanas, fato que inviabilizou a participação popular na gestão produzindo posições antidemocráticas que nos caracterizam até hoje.

Este contexto histórico demanda uma reforma imediata e total no processo educativo, o qual necessita extrapolar os limites estritamente pedagógicos. Necessitamos de uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política.

Em um salto histórico, a educação começa a mudar as suas bases. Urge a importância do educador brasileiro para a sociedade no que diz respeito ao "planejamento", pois a educação precisa ser crítica e criticizadora, levando à passagem da transitividade ingênua à transitividade crítica. A transitividade ingênua representa a consciência inocente, simples, de indivíduos que se posicionam diante dos fatos sem criticá-los, pois ele se encontra envolto por uma ideologia dominante que o impede de ver além, de perceber as intencionalidades e o mecanismo de funcionamento de um sistema econômico cujos pilares são a exploração do homem pelo homem. A transitividade crítica é quando o indivíduo possui consciência crítica que o torna capaz de avaliar, diagnosticar e analisar problemas que o atingem, ou não. Temos a urgência de uma educação que possibilite ao homem a discussão corajosa de sua problemática e de sua inserção nesta problemática.

Logicamente que, para atingir esse objetivo, a educação precisa se desvincular da memorização, do decorar de trechos, das afirmações sem relação entre si, da transmissão de conhecimentos. É preciso criar uma atmosfera em que diante dos problemas apresentados, ocorra a possibilidade de mudança de atitude, de efetiva participação do educando, para que ele tenha condições de realizar análises e intervenções.

O autor destaca que o grande desafio das novas condições de vida brasileira não seria somente a superação do analfabetismo, mas especialmente a superação da sua inexperiência democrática. O Brasil tem pouco tempo de democracia se comparado a outros países do mundo como Estados Unidos e França, estamos aprendendo a ser democráticos e isso nos impossibilita de termos uma participação verdadeira nas decisões que incidem mudanças na vida em sociedade. Quando somos democráticos respeitamos o direito de todos(as), suas necessidades, suas diferenças culturais e ao Estado de direito se consolida.

Uma parcela significativa da população não conhece os seus direitos e não são respeitados em sua integridade, já que sempre há grupos que querem diminuí-los e reduzi-los a "coisas", "objetos". Por não possuírem a criticidade para combaterem a tirania e a humilhação, nutrem um sentimento de inferioridade que foi criado desde sua infância. "A nossa cultura fixada na palavra corresponde à nossa inexperiência do diálogo, da investigação, da pesquisa que, por sua vez, estão intimamente ligados à criticidade, nota fundamental da mentalidade democrática" (FREIRE, 1979, p. 96).

Freire (1979) sempre defendeu que os educandos tinham que ser sujeitos de seu processo de ensino e aprendizado, por isso, discutia, e elencava, com seus alunos, assuntos que eles gostariam de debater.

Freire (1979) contextualizava os conteúdos para que os educandos pudessem identificar elementos que faziam parte de sua realidade, de seu dia a dia. Questionava o que era cultura e, no diálogo estabelecido com os alfabetizandos, estes se viam como produtores dessa cultura. Isso significava a entrada do ator social no processo educativo e sua afirmação como partícipe do devir cultural. Homem como produtor e como produto da cultura. "A partir daí, o analfabeto começaria a operação de mudança de suas atitudes anteriores. Descobrir-se-ia, criticamente, como fazedor dêsse mundo da cultura" (FREIRE, 1979, p. 109).

Esse foi um momento ímpar, mas havia um longo caminho a ser percorrido, afinal, as demandas eram imensas e os avanços ocorrem de maneira lenta. Temos que persistir na luta pela libertação.

Em Educação e Mudança o debate acerca do papel da educação na formação da cidadania ganha fôlego maior. Neste livro, o autor propõe uma análise das possibilidades existentes no sistema educacional para efetivação de um processo de mudança da sociedade, sociedade esta, dominada pela classe burguesa. As discussões iniciam pelo conceito de compromisso, de ser profissional e do conceito de sociedade. O autor deixa evidente a necessidade de se estabelecer um compromisso entre o professor e a sociedade, já que a educação está inserida em um contexto social e o currículo e a maneira como a educação está estruturada busca a atender aos interesses da classe dominante. Essa lógica demanda do professor um comprometimento, como sendo uma "primeira condição para que ele possa se assumir como agente de mudança, capaz de levar seu aluno a agir e a refletir" (FREIRE, 2011).

A relação do professor com a sociedade revela um ato de ação e reflexão sobre o mundo que pode ser implementada por um ser de verdade, conhecendo o contexto em que atua. "Assim como não há homem sem mundo, nem mundo sem homem, não pode haver reflexão e ação fora da relação homem-realidade [...]” (FREIRE 201, p. 20). Isso significa que o compromisso assumido com o mundo, com a humanização do homem exige que o professor mergulhe na realidade em que atua para que possa conhecê-la. Essa ação precisa ser verdadeira, corajosa, decidida e consciente. O professor como agente de mudança não pode ser indiferente aos acontecimentos, mas assumir posições. Porém, existem os homens que se denominam neutros já que,

[...] a neutralidade frente ao mundo, frente ao histórico, frente aos valores, reflete apenas o medo que se tem de revelar o compromisso. Este medo quase sempre resulta em um "compromisso" contra os homens, contra a sua humanização, por parte dos que se dizem neutros. Pessoas assim estão comprometidas consigo mesmos, com seus interesses ou com os interesses dos grupos aos quais pertencem. E como esse não é um compromisso verdadeiro, assumem a neutralidade impossível (FREIRE, 2011, p. 22-23).

O compromisso não é algo passivo e sim práxis, resultado de ação e reflexão sobre os fatos que ocorrem de uma maneira dinâmica, enfatizam a importância de conhecer a realidade em sua totalidade. Desse ponto de vista, é impossível fazer uma reflexão sobre educação sem refletir sobre o próprio homem. Para Freire (2011), existe na natureza humana alguma coisa que funciona como o pilar sobre o qual se mantém o processo de educação. Esse pilar seria o inacabamento ou a inconclusão do homem.

O cão e a árvore também são inacabados, mas o homem se sabe inacabado e por isso se educa. Não haveria educação se o homem fosse um ser acabado. O homem pergunta-se: Quem sou? De onde venho? Onde posso estar? O homem pode refletir sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento, numa certa realidade: é um ser na busca constante de ser mais e, como pode fazer esta autorreflexão, pode descobrir-se como ser inacabado, que está em constante busca. Eis aqui a raiz da educação (FREIRE, 2011, p. 33-34).

A educação é um sistema de caráter permanente e o homem está continuamente aprendendo. Mas isso não significa que ele seja um ser ignorante. As pessoas possuem saberes diferentes, os quais não podem ser julgados a partir de um juízo de valor. “[...] Portanto, não há saber nem ignorância absoluta: há somente uma relativização do saber ou da ignorância" (FREIRE, 2011, p. 35).

O professor tem um papel fundamental no contexto escolar, visto que é ele quem organiza, planeja e medeia o processo educativo. É prudente que o mesmo não desconsidere a pluralidade e a cultura que permeiam suas salas de aula. Diferentes saberes de diferentes culturas exige do professor a concepção de ser intermediador que não pode se colocar na posição de superior que ensina a um grupo de ignorantes, mas sim na posição humilde daquele que comunica um saber relativo a outros que possuem outro saber relativo (FREIRE, 2011). Isso demanda compreender que não há educação sem amor, pois é necessário haver respeito e compreensão pelo próximo, interação e diálogo em oposição à imposição. Para educar é preciso ter esperança, já que o inacabamento do homem leva a uma constante busca e quando estamos em busca de algo, ou de respostas, temos a esperança de que a mudança pode acontecer.

O homem é um ser social, razão pela qual está incessantemente se relacionando, tanto com as pessoas como com o mundo. Resulta desta relação à reflexão sobre a realidade vivenciada, que o conduz a investigar possíveis conjecturas sobre a sociedade e apontar sugestões viáveis para os problemas identificados. "Quando o homem compreende sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções”. Dessa forma, poderá transformá-la e, com seu trabalho, criar um mundo próprio: seu eu e suas circunstâncias (FREIRE, 2011, p. 38).

Ações que levam à construção de uma consciência crítica permitem ao homem transformar a realidade, isso, porque, na medida em que os homens, em seu contexto social, respondem aos desafios do mundo, vão temporalizando os espaços geográficos e vão fazendo história por meio de sua própria atividade criadora (FREIRE, 2011).

Sendo a sociedade um espaço em transição, pois atende aos anseios de seu contexto histórico, existem determinados valores, concepções, formas de ser e de comportar, porém os valores humanos podem decair, pois a sociedade cria novos anseios e expectativas, o que provoca uma mudança em busca da plenitude.

O ápice da discussão nesse livro consiste no conceito de sociedade fechada, que se caracteriza pela conservação do status, ou privilégio, ou por desenvolver todo um sistema educacional para manter esse status. Essas sociedades não são tecnológicas, são servis (FREIRE, 2011), pois consideram o trabalho manual como indigno, degradante e desqualificador. Nessas sociedades fechadas impera a consciência bancária, onde o professor é o detentor do saber e transmite ao aluno seus conhecimentos. Ele é superior e trata o aluno como um depósito onde ele vai dispondo as informações. Ele acredita que a quantidade de referências está proporcionalmente relacionada ao conhecimento. Quanto maior a quantidade de informações, maior será a quantidade de conhecimentos obtidos.

A discussão apresentada vai servir de base para o estudo do conceito de consciência e seus estados, momento em que Freire (2011) lista as características da consciência ingênua e da consciência crítica. No entanto antes de prosseguirmos, é necessário destacar, a concepção de Morin (2011), em relação à quantidade de informações acumuladas sem uma organização e sem acepção, ideias que estão de acordo com as de Freire, já que ele acredita que o mais importante é a habilidade para lidar com os problemas e saber utilizar alguns princípios que foram dispostos para estabelecer conexões e dar sentido aos saberes.

Morin (2011) enfatiza que dados demasiados podem prejudicar o conhecimento, nem mesmo os especialistas conseguem dominar todas as informações da sua área, elas estão sendo produzidas a uma velocidade muito grande e estão sendo geradas em excesso. “Uma cabeça bem feita é uma cabeça apta a organizar os conhecimentos e, com isso, evitar a sua acumulação estéril” (MORIN, 2011, p. 24). Temos que impulsionar o desenvolvimento da inteligência, da curiosidade, da dúvida, da experimentação, para que todos tenham a oportunidade de desenvolver potencialmente suas aptidões.

Entretanto quando pensamos em educação, em conhecimentos, em tendências, não podemos desconsiderar a função do trabalhador no processo de mudança social. Freire (2011) estudou essa atuação e defendeu a profundidade da questão, visto que é importante que se tenha entendimento de seu papel nas várias esferas que constituem a sociedade. É preciso entender a estrutura social, pois ela pode ser tanto dinâmica quanto estática e a mudança seria apenas uma parte de toda a dimensão. "Não há nenhuma estrutura que seja totalmente estática, como não há uma absolutamente dinâmica" (FREIRE, 2011, p. 99).

O homem é um ser histórico-cultural, o trabalho cria seu mundo e responde aos inúmeros desafios advindos de sua práxis. A partir dessa realidade, realiza intervenções na sociedade, porém o homem é sujeito dessas transformações. Mas ele precisa ser crítico e ser atuante em face das mudanças que se fazem

necessárias. O trabalhador social não pode ser neutro, pois a sociedade não é neutra, ele precisa optar pela adesão, ou não, à mudança; pela humanização ou pela desumanização do homem.

O trabalhador social que opta pela mudança não vê nesta uma ameaça. Adere a mudança da estrutura social porque reconhece esta obviedade: que não pode ser trabalhador social se não for homem, se não for pessoa, e que a condição para ser pessoa é que os demais também o sejam [...] (FREIRE, 2011, p. 67).

A ação educativa ocorre dentro de uma determinada sociedade e, em vista disso, ela precisa pensar o homem como ser social que possui uma história, uma memória, e está inserido dentro de uma determinada cultura.

Nenhuma ação educativa pode prescindir de uma reflexão sobre o homem e de uma análise sobre suas condições culturais. Não há educação fora das sociedades humanas e não há homens isolados. O homem é um ser de raízes espaçotemporais [...] (FREIRE, 2011, p. 83).

O homem deve ser sujeito da sua educação, ele não deve receber passivamente as informações, mas deve ser crítico e problematizar determinadas situações. Quando o homem analisa as suas condições de vida, e a sociedade da qual ele faz parte, ele é capaz de interferir na sua realidade provocando mudanças. Quanto mais for levado a refletir sobre a sua situacionalidade, sobre seu enraizamento espácio- temporal, mais "emergirá" dela conscientemente "carregado" de compromisso com sua realidade, da qual não deve ser simples espectador (FREIRE, 2011). O autor faz uma reflexão sobre o processo de mudança que ocorreu no Brasil, o qual ocasionou algumas rupturas, isto é, a passagem de uma sociedade "fechada" para uma sociedade "aberta". O que só foi possível por intermédio do conhecimento, do diálogo, da comunicação, da organização do pensamento.

Em Pedagogia do Oprimido, Freire (1987) destaca que os homens pouco sabem de si, se desconhecem e estão ansiosos por saberem mais, então, estão sempre fazendo indagações a que eles mesmos respondem e suas respostas os conduzem a novas perguntas. Questões dessa natureza enfatizam o pressuposto de que somos seres inconclusos. Conscientes desse fato, talvez, decorram daí nossa inquietação, nossos questionamentos constantes.

O livro também aborda a questão da desumanização do homem pelo seu opressor, que geralmente são os patrões, as pessoas mais favorecidas, as quais humilham os que estão hierarquicamente submissos a elas. Porém os oprimidos, em algum momento, irão solicitar sua humanização, irá reivindicá-la e se organizarão socialmente.

[...] A luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como "seres para si" não teria significação. Esta somente é possível porque a desumanização, mesmo que um fato concreto na história, não é porém, destino dado, mas resultado de uma ordem injusta que "gera" a violência dos opressores e esta, o ser menos (FREIRE, 1987, p. 30.).

Mas Freire (1987) é enfático ao afirmar que a libertação dos oprimidos deverá ser realizada por eles, visto que, quem é oprimido sente na carne os efeitos da opressão, ninguém melhor do que eles para restaurarem a sua humanidade, para construírem a realidade social que desejam [...] "A pedagogia do oprimido, que não pode ser elaborada pelos opressores, é um dos instrumentos para esta descoberta crítica – a dos oprimidos por si mesmos e a dos opressores pelos oprimidos, como manifestações da desumanização" (FREIRE, 1987, p. 32).

Uma questão importante é evidenciada na discussão, qual seja a de que os opressores se tornem um modelo para os oprimidos, e é fundamental que os oprimidos libertados não assumam o papel de opressores, pois é importante defender os interesses da coletividade. Porém eles vivem em uma sociedade contraditória, em que o “ser homem” para eles é ser “opressor”.

O “homem novo”, em tal caso, para os oprimidos, não é o homem a nascer da superação da contradição, com a transformação da velha situação concreta opressora, que cede lugar a uma nova, de libertação. Para eles, o novo homem são eles mesmos, tornando-se opressores de outros. A sua visão do homem novo é visão individualista. A sua aderência ao opressor não lhes possibilita a consciência de si como pessoa, nem a consciência da classe oprimida (FREIRE, 1987, p. 33).

O opressor se solidariza com os oprimidos quando os consideram homens de verdade, que foram injustiçados, embora, sendo livres, precisam de uma manifestação de amor e não de um gesto sentimental, pois se for piegas se

caracterizará como uma farsa. Já para as massas oprimidas se libertarem, é necessário ação e reflexão, visto que é preciso ter consciência da sua condição, é preciso serem críticos para transformarem a sua realidade. Mas na nova circunstância, os opressores não irão se reconhecer como em estágio de libertação, eles se verão como oprimidos, tendo seus direitos cerceados, não tendo mais os privilégios que os diferenciavam da classe baixa. O sentimento de individualismo se sobrepõe ao de comunidade, uma pessoa pode ser favorecida em detrimento a uma multidão de famintos. É como se os menos favorecidos estivessem ocupando um lugar social que não lhes pertencesse, que não correspondesse ao que está historicamente preestabelecido.

É que, para eles, pessoa humana são apenas eles. Os outros, estes são “coisas”. Para eles, há um só direito – o seu direito de viverem em paz, ante o direito de sobreviverem, que talvez nem sequer reconheçam, mas somente admitam aos oprimidos. E isto ainda, porque, afinal, é preciso que os oprimidos existam, para que eles existam e sejam “generosos” [...] (FREIRE, 1987, p. 45).

Os oprimidos precisam estar convencidos da necessidade de lutar, de serem os sujeitos dessa revolução e não apenas objetos que se deixam convencer. Eles precisam se reconstruir enquanto homens, pois foram aniquilados, reduzidos a "coisa", manipulados e tiveram sua dignidade reduzida a frações. "Desse modo, a presença dos oprimidos na busca de sua libertação, mais do que pseudoparticipação, é o que deve ser: engajamento" (FREIRE, 1997, p. 56).

Não obstante, Loureiro e Franco 2014 também apresentam o discurso Freiriano de que é preciso que o ser humano tenha conhecimento crítico para que seja capaz de intervir em transformações estruturais que possam efetivamente assessorar na transposição da sociedade de classes, pois, o oprimido por intermédio da educação libertadora, pode formular alternativas para a concretização desta ação. A educação libertadora proposta por Freire pode ser um instrumento para que o homem alcance a emancipação, para que ele reflita e atue para mudar a sua condição de humilhado, a fim de, recuperar a sua dignidade. Para que isso aconteça, os sujeitos precisam estar cônscios da sua exploração por uma classe dominadora, que busca ser sempre reverenciada e socialmente contemplada como superior.

Mas nosso autor sabe que seria ingenuidade acreditar que as mudanças obrigatoriamente conduzirão à superação do regime opressor que mantém o trabalhador em situação de marginalidade se ele próprio não superar os condicionamentos sociais que sustentam sua alienação e que são dependentes de seus níveis de consciência (LOUREIRO; FRANCO, 2014, p. 165).

Loureiro e Franco 2014 destacam que a conscientização do oprimido é um ato