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Educação para a Paz, os Direitos Humanos e a Democracia

CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA

3. A Educação e os seus Objectivos

3.1. Educação para a Paz, os Direitos Humanos e a Democracia

Após o mundo ter sido assolado pela Segunda Guerra Mundial, as nações preocupadas em evitar que novos acontecimentos pudessem eclodir e que fossem fatais para a civilização, fundaram a Organização das Nações Unidas. Assumiram-na como um fórum onde os governantes de todos os Estados pudessem discutir, pacificamente, diversos temas e chegassem a consensos internacionais, evitando guerras e tentando garantir a paz para toda a humanidade.

Fruto dessa preocupação foi a adopção da Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de Dezembro de 1948, apontada como ideal comum a atingir por todas as nações e por todos os povos, onde se consagram os direitos do homem, considerados fundamentais para a criação de um Estado de Direito e como meio para a humanidade se defender contra actos de barbárie como os que tinha sofrido sob o regime nazi.

Um dos direitos fundamentais consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem é o direito à educação, apontando-se como seus principais objectivos: i) o “ reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais”; ii) a promoção da “ compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos” e iii) “o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.”84

Após a Declaração Universal dos Direitos do Homem, diversos instrumentos normativos e programas de acção que se lhe seguiram, são reveladores de que a educação é uma via relevante apontada pela comunidade internacional para resolver os grandes problemas que a preocupam.

Nas décadas que se seguiram, os Estados, preocupados com a Guerra Fria e com a luta pela libertação do colonialismo, não investiram na troca de experiências, apostando na educação mais em termos quantitativos do que qualitativos. A grande preocupação passou a ser “...o

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alargamento do acesso à educação a todos os níveis de ensino e o ajustamento das estruturas, conteúdos e métodos educativos para a sua implementação” 85 (cfr. Unesco, 2000, p. 113).

Com efeito, nas Conferências Internacionais sobre Educação Pública, que se realizaram nos vinte anos seguintes à proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, só duas vezes os objectivos da educação nela constantes foram o principal objecto de debate (cfr. Unesco, 2000, 113).

A Convenção contra a Discriminação no Campo do Ensino, adoptada em 15 de Dezembro de 1960, vem retomar os objectivos da educação, que foram delineados na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Em 1974, a Recomendação relativa à Educação para a Compreensão, Cooperação e Paz Internacionais e a Educação relativa aos Direitos do Homem e às Liberdades Fundamentais, adoptada pela Conferência Geral da Unesco, em 19 de Novembro de 1974, vem delinear os objectivos e conteúdos da educação, segundo a orientação dada pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, dando especial ênfase à educação para a compreensão, a cooperação e paz mundiais, e à educação relacionada com os direitos humanos e liberdades fundamentais. De acordo com aquela Recomendação, pretendia-se que esta influenciasse os países a adoptarem, nas suas políticas educativas, medidas que reforçassem a dimensão internacional nos conteúdos educativos86.

Em 1995, da Conferência Internacional de Educação, ocorrida em Genebra, resulta a Declaração sobre a Educação para a Paz, Direitos Humanos e Democracia, em que se considera que a educação se deve basear em “... princípios e métodos que contribuam para o desenvolvimento da personalidade dos alunos, estudantes e adultos que respeitem os seus semelhantes e estejam determinados em promover a paz, os direitos humanos e a democracia” (cfr. Unesco, 2000, p. 118). Esta Declaração vem usar o termo “democracia”, o que é uma inovação relativamente à Recomendação de 1974, mas que já constava da

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Relatório Mundial sobre a Educação, 2000

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Declaração Universal dos Direitos do Homem87, no Preâmbulo do Acto Constitutivo da Unesco e na Declaração do Congresso Internacional sobre Educação para os Direitos Humanos e Democracia (Montreal, 1993), e em 1993, em Viena, na Declaração adoptada na Conferência sobre os Direitos Humanos88 (cfr. Unesco, 2000, p. 114).

Na sequência das Declarações de Montreal e de Viena, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclama em 1994, um período de dez anos, com início em 1 de Janeiro de 1995, como a “ Década das Nações Unidas para a Educação em Matéria de Direitos Humanos”, proclamando o ano de 1995, como o “ Ano das Nações Unidas para a Tolerância” (cfr. Unesco, 2000, p. 114).

Em 1995, é adoptada a Declaração de Princípios sobre a Tolerância, pela Conferência Geral da Unesco, e em 1999, é adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a Declaração sobre uma Cultura de Paz, em que se considera a educação como uma das vias para se desenvolver uma cultura de paz, o que se obtém “...através da difusão de valores, atitudes, comportamentos e estilos de vida conducentes à promoção da paz entre os indivíduos, os grupos e as nações.”89 E acrescenta-se que “ A educação, a todos os níveis, é um dos meios principais para a construção de uma cultura da paz. Neste contexto, a educação para os direitos humanos reveste-se de especial importância”.90

Para além dos tratados e recomendações adoptados pela comunidade internacional, revestiu-se de grande importância na difusão dos objectivos da educação, o aparecimento de diversas actividades por parte das instituições educativas, na área da educação cívica ou educação para a cidadania, e de materiais de ensino-aprendizagem criados na área da História, Geografia e Estudos Sociais, destinados a desenvolver os ideais contidos na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Também se promoveram diversas conferências internacionais, seminários e simpósios, assim como diversos projectos entre escolas de diferentes países, que têm desenvolvido intercâmbios educativos, proporcionando a troca de conhecimentos e a partilha de experiências entre 87 Art. 29º, nº 2; 88 & 79; 89

Art. 2º da Declaração e Programa de Acção para uma Cultura de Paz, Resolução A/53/243 da Assembleia Geral, Nova Iorque, Nações Unidas, 1999;

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profissionais de diversas instituições educativas, no âmbito daquelas áreas de interesse (cfr. Unesco, 2000, pp. 117-121).

Para além da Educação para a Paz, os Direitos Humanos e a Democracia, a comunidade internacional considera a Educação para o Desenvolvimento outro grande desafio para a comunidade educativa e para a sociedade em geral. Nesse sentido, vamo-nos debruçar, seguidamente, sobre este objectivo que se traduz, juntamente com o que acabamos de analisar, num legado das gerações presentes para as gerações vindouras.