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4 FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO ESCOLAR: LUGARES,

4.4 EDUCADOR 03: materiais que fazem brincar e aprender

A prática criativa do Educador 03 difere-se um pouco dos outros dois profissionais investigados, pois tem como foco a produção de materiais. Sua atuação pedagógica foi observada na quarta-feira, dia 13 de setembro de 2017, numa escola da rede particular de ensino no município de Natal/RN. Ao todo, foram observadas sete aulas, com duração de 30 minutos cada, e por este motivo, as aulas que estavam previstas para serem assistidas foram apreciadas em uma única manhã, abrangendo o turno que iniciou às 7h30min e concluiu às 11h30min, tendo um intervalo de 30 minutos para descanso do professor. As turmas que foram observadas distribuíram-se da seguinte maneira:

Quadro 08 - Turmas do Educador 03 que foram observadas

ANO QUANTIDADE DE TURMAS MÉDIA DE FAIXA ETÁRIA QUANTIDADE DE AULAS OBSERVADAS Nível II (Educação Infantil) 03 03 anos 03 Nível III (Educação Infantil) 02 04 anos 02 Nível IV (Educação Infantil) 02 05 anos 02 Fonte: a autora (2017).

A estrutura das aulas do Educador 03 também se difere daquela proposta pelos Educadores 01 e 02, pois ela não apresentou momentos tão delimitados quanto nos demais planejamentos, tendo em vista que o docente utiliza enredos de pequenas histórias criadas para conduzir a aula. O enredo é flexível e pode mudar de acordo com as sugestões das crianças, como compreenderemos mais a seguir. Porém, é importante ressaltar que, durante as observações, as histórias eram diferentes, de acordo com os níveis de ensino. Nesse caso, foi possível observar três enredos diferentes: um para cada nível.

No Nível II, a aula iniciou-se a partir da história do menino Pedro – um dos personagens principais das histórias do Educador 03 –, que na ocasião saiu para passear até encontrar uma floresta. Para facilitar a ilustração da história, o professor utilizou uma caixa de papelão grande17, a qual foi revestida de feltro azul, a fim de

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fixar as figuras feitas de material emborrachado flexível ou de feltro – todas com velcro na região traseira, para que fixe facilmente em tecidos.

Figura 01 – Painel (caixa de papelão revestida de feltro azul)

Fonte: Educador 03 (2017).

Figura 02 – Painel ilustrado com figuras feitas de material emborrachado

Fonte: Educador 03 (2017).

A partir dessa contextualização inicial, o enredo começa a ser desenrolado através de uma floresta feita com feltro, a qual é exposta no chão, no meio da roda organizada pelas crianças. Inicialmente a floresta encontra-se vazia, apenas com o rio e a grama (elementos fixos). Na medida em que a história é contada, outros elementos vão sendo inseridos no cenário, como os animais, as flores e as árvores, todos confeccionados de feltro. A partir disso, a aula é realizada, executando canções e abordando elementos musicais de forma simultânea, além de trabalhar a

paisagem sonora do contexto abordado. Essa estrutura é utilizada pra todas as turmas, modificando apenas as histórias e/ou os conteúdos previstos.

Figura 03 – Cenário da floresta feito de feltro

Fonte: Educador 03 (2017).

O repertório executado nas turmas do Nível II abarcou canções infantis que falam sobre os animais e que fazem parte do repertório folclórico brasileiro, como por exemplo: “A cobra não tem pé”, “A Dona Aranha” e “O sapo não lava o pé”. O educador ainda executa músicas de compositores renomados, como “O Pato” (Vinícius de Morais/Toquinho/Paulo Soledade) e “Ciranda dos Bichos” (Sandra Peres/Paulo Tatit – Palavra Cantada). Além de todos os elementos musicais trabalhados nas canções, o docente ainda abordou aspectos extramusicais, como a questão da moradia dos animais, e brincou com as palavras através das rimas, utilizando a música “Fui no mercado”. Primeiramente, o professor começou a testar os alunos, cantando frases como: “Fui no mercado comprar café, e a formiguinha subiu no meu nariz...”, ou “Fui no mercado comprar batata roxa, e a formiguinha subiu na minha canela...”. Os alunos prontamente diziam que as palavras não combinavam, e proferiam as rimas corretas: café combinando com pé, e roxa combinando com coxa. Para finalizar a história, o Educador 03 conta que Pedro, depois de todo o passeio, foi para casa dormir, finalizando assim, a aula de música.

Das três turmas do Nível II que foram observadas, duas delas tiveram especificidades. Na segunda turma observada, a execução do plano de aula seguia de acordo como o planejado, até o momento em que o professor inseriu os peixes

no cenário. Um dos alunos disse que o peixe havia comido o anel. Ao ser questionado pelo professor que anel seria esse, a criança afirmou que era da sereia. Com isso, o educador percebeu que o aluno se remeteu à outra história utilizada – a qual tem o mar como cenário –, e por esse motivo pegou o material que continha os elementos da floresta e o guardou, comentando comigo o seguinte: “Mas aí é que

tá... E o planejamento? Pronto... Beleza! Eu tenho um planejamento: a questão de timbres, de som, relação à moradia, casa e tal... Mas a finalidade não é a musicalização? Então...”. Em seguida, iniciou o mesmo processo de construção da

história, mas agora tendo como base o cenário marítimo – o qual será melhor detalhado quando as aulas do Nível III foram relatadas, tendo em vista que, no dia, essa história estava programada para tais turmas.

Ainda na mesma turma, o Educador 03 proferiu alguns comentários no decorrer da aula, para que eu pudesse compreender certas questões. Com isso, ele apresentou alguns alunos que já estavam tendo aula de música há quase dois anos, pois já vieram do berçário com esse contato direcionado pelo mesmo professor. O desenvolvimento musical e o envolvimento na aula é nítido, em detrimento de outras crianças que estavam cursando seu primeiro ano na escola, como era o caso da terceira turma do Nível II. Essa última turma apresentou menos envolvimento, ainda iniciando o seu processo de sensibilização musical. Por esse motivo, o planejamento nesse contexto apresentou algumas diferenças, apesar da utilização do mesmo cenário para a história: a floresta.

Nessa terceira turma, aspectos primários como as propriedades do som e o pulso, por exemplo, ainda estavam sendo introduzidos. Por isso, novos materiais foram inseridos, como uma grande cabeça de elefante feita de tecido TNT com enchimento – onde o educador colocava seu braço na tromba e a movimentava, imitando o animal – e o cavalo, feito de material emborrachado, possibilitando o ensino do parâmetro VELOCIDADE, onde as crianças puderam imitar os passos do elefante (lento) e do cavalo (rápido). Além disso, a flauta de êmbolo também foi utilizada para trabalhar o movimento ascendente e descendente.

Figura 04 – Cabeça de elefante feita de TNT

Fonte: Educador 03 (2017).

Um acontecimento relevante que ocorreu nessa turma foi o fato do professor ter esquecido de levar o material que representaria o som do passarinho. Como substituição do material, o educador executou um “falso assobio”, contendo mais ar do que o próprio som, para que fosse possível a execução das crianças. A maioria executou da forma demonstrada pelo professor, e a outra parte tentou fazer utilizando a voz. Contudo, a internalização do som agudo característico do animal foi assimilada.

Durante as aulas do Nível II, foi visto que os alunos ficavam admirados com o material trabalhado. Alguns queriam se aproximar para apontar algo ou enxergar os detalhes, e outros – enquanto toda a turma se envolvia numa atividade de movimento corporal – se aproximavam do material que estava organizado num canto da sala, entre outras expressões de interesse. Gostaria de ressaltar o uso da imaginação como uma ferramenta muito importante para a proposta pedagógica do professor investigado. Em uma das turmas, o educador pediu para que as crianças imaginassem o cheiro das rosas, e em outra sala, chegou a utilizar uma colônia para borrifar no ventilador, a fim de tornar concreto esse perfume e trabalhar, não apenas com aquilo que estava sendo visto, mas com as sensações.

Outro ponto importante, é que o docente se mostrou sensível ao clima emocional expresso na sala e aos interesses das crianças, sendo capaz de, prontamente, modificar o seu plano de aula. Esse fato nos remete ao Educador 01, tendo em vista que o mesmo proferiu em suas palavras que o repertório da rotina,

por exemplo, é executado de acordo com o estado da turma naquele dia específico. O interessante é que o Educador 03, durante o período de observação, comentou que sente a necessidade de observar aulas de outros educadores, tendo em vista que, muita coisa ele aprendeu com o Educador 01, coincidentemente. O fato se deu quando este último realizou seu estágio de docência assistida18 na turma do Educador 03, quando este ainda cursava a licenciatura em música. Desta forma, podemos perceber certa afinidade entre os dois educadores em relação ao uso da criatividade na prática pedagógica.

Dando continuidade ao relato das observações, as aulas das turmas do Nível III foram direcionadas a partir da história que trata sobre o passeio do personagem Pedro à praia. Com isso, os materiais se modificaram pelo fato do contexto da história ser diferente, além do educador ter usado um tipo de cenário para cada turma desse nível. Na primeira aula observada, o docente iniciou o encontro mostrando um barco pequeno, confeccionado de material emborrachado, e fez várias perguntas, como: “O que é que o barco faz?”, “O que o barco precisa para navegar?”, entre outras, e as crianças iam contribuindo com o enredo a partir dos seus conhecimentos prévios. Posteriormente, o professor pegou uma caixa de pizza revestida com feltro azul e bege, caracterizando uma praia, onde dentro possuía alguns materiais que produziam som, imitando o barulho do mar quando balançada.

Figura 05 – Caixa de pizza revestida (praia)

Fonte: Educador 03 (2017).

Figura 06 – Elementos do mar feitos de feltro e material emborrachado (01)

Fonte: Educador 03 (2017).

Figura 07 – Elementos do mar feitos de feltro e material emborrachado (02)

Fonte: Educador 03 (2017).

O professor foi pegando alguns elementos do mar e colando na pequena caixa, criando/contando a história gradativamente. No momento seguinte, o docente utilizou um lençol azul, onde as crianças puderam segurar em suas pontas, a fim de esticá-lo e balançá-lo, imitando o movimento das ondas do mar. Para incrementar, o barquinho foi colocado em cima e o educador começou a cantar a música “A canoa virou”, trabalhando os andamentos rápido e lento, movimentando o lençol de acordo com a velocidade da execução do professor. As crianças demonstraram muita agitação e empolgação ao realizar a atividade. Às vezes, mesmo sem a execução rápida da canção, os discentes queriam movimentar o tecido rapidamente, sendo preciso o Educador 03 ou a professora titular da turma chamar a atenção das

crianças para a real proposta da atividade. Ao final, foi perceptível a compreensão dos alunos sobre o que foi lhes solicitado.

Posteriormente, o professor guardou o material utilizado e ainda cantou canções referentes aos animais, como por exemplo, a música “Caranguejo”. Partiu então para outra proposta, tendo em vista que, no enredo, o menino Pedro encontrou um pescador que estava chorando, pois havia perdido um anel. Sendo assim, o educador tirou a sua aliança e a utilizou para a conhecida brincadeira de “Passa Anel”. Enquanto alguma das crianças ia passando o anel, o educador ia cantando a música “O anel”, de Bia Bedran, acompanhado pelas vozes dos discentes. Os alunos demonstraram muita satisfação em participar da proposta. Pelo visto, eles já a haviam realizado em outra ocasião, pois demonstraram conhecer a brincadeira. Depois, o educador finalizou a aula com uma canção de despedida.

Na segunda turma do Nível III, a proposta e o enredo foram os mesmos; a única diferença foi com relação ao material utilizado para ilustrar a história. A aula iniciou da mesma maneira, mas a caixa que produzia o som do mar foi usada apenas para atrair as crianças ao tema através do som que produzia. O cenário em si foi um tecido de feltro azul, esticado no chão, no meio da roda, onde o educador foi inserindo os elementos da história – como pequenas ilhas, um barco, os animais marinhos, entre outros, também confeccionado de feltro – à medida que ia contando. O formato do cenário se assemelhou aquele da história da floresta, onde os alunos puderam visualizá-lo no meio do espaço que eles organizaram. O restante da aula foi semelhante a da outra turma.

No Nível IV, o personagem principal não foi o menino Pedro, e sim, o “Gato Xadrez”. O enredo se iniciou quando o Educador 03 mostrou uma casa de boneca pequena, a qual tinha a possibilidade de abrir suas portas frontais, e dentro haviam pequenos móveis e utensílios, como mesa, cadeiras, camas, pratos, copos e talheres. O docente me relatou que esse material pertence à sua filha, e que de vez em quando ele pegava emprestado para usar nas aulas de música. A partir daí, o professor começou a fazer os questionamentos: “Quem mora nessa casa?”. A maioria dos alunos respondeu que era o Gato. Com isso, foi perceptível que eles já tinham vivenciado a história em outra ocasião.

Figura 08 – Casinha de boneca e Gato Xadrez

Fonte: Educador 03 (2017).

A partir desse momento inicial, as crianças começaram a imaginar várias coisas, a partir das perguntas do educador. Uma das alunas disse: “Vamos ver se ele tá dormindo, ou tá preguiçoso”; e nessa linha, as crianças foram imaginando de acordo com o caminho que o professor ia traçando. Finalmente o Gato apareceu. Não apenas um, mas três. Todos feitos de tecido com enchimento, que foram entregues aos alunos enquanto o professor ia cantando a canção “Gato Xadrez”, de sua autoria. A música possui uma letra curta, e com relação à melodia, existem frases onde as notas dão lugar às palavras quase faladas.

Miau, miau Miau, miau, miau

(BIS)

Era uma vez um Gato Xadrez Morava numa casa bem engraçada

Ele saiu para passear

Encontrou com seus amigos e foi lanchar

Música “Gato Xadrez”, de autoria do Educador 03

A última frase da canção muda de acordo com o enredo proposto pelas crianças. No dia, a primeira opção comentada pelos alunos foi a que está destacada na letra acima, mas logo depois, o educador modificou-a, resultando na seguinte

frase: “E foi tomar café da manhã no Brasil com Tio João19 e depois foram dançar”. Essas foram as sugestões das crianças para a história do Gato Xadrez durante as aulas observadas. O Educador 03 relatou que essa música foi feita numa aula na turma do 2º ano do Ensino Fundamental I em outra escola, onde ele sugeriu a composição conjunta de uma canção. O docente comentou que gostou do resultado da música, pois quando ele profere o questionamento: “O Gato foi pra que lugar?”, as crianças lhe dão a sua referência imediata de lugar, além de possibilitar o trabalho com rima e ritmos, tendo em vista que em uma das turmas, o professor cantou a canção com dois ritmos diferentes do original: o rock e o samba.

A continuidade da história se dá quando o Gato vai passear, e chegando na fazenda, encontrou outros animais, como borboletas, abelhas, cavalo e cobras. Nesse momento, o educador recolheu os gatos de tecido e começou a entregar instrumentos feitos de material reciclado, como pequenas cabaças com elementos em seu interior que produzem som (para personificar o som das borboletas), garrafa grande de material de limpeza com tampinhas de refrigerante presas ao seu corpo com barbante, ou garrafa pet pequena com arame redondo no final contendo tampinhas (para personificar o som das abelhas), quengas de coco (para personificar o som do cavalo), e garrafa pet pequena com arroz dentro (para personificar o som das cobras). Enquanto o professor ia falando sobre os animais, simultaneamente ia fixando suas figuras confeccionadas de material emborrachado no painel. Após a entrega dos instrumentos, todos executaram juntos, ou conforme a indicação do docente, várias canção que tratavam sobre os animais e a fazenda.

Figura 09 – Instrumentos musicais feitos de material reciclado

Fonte: Educador 03 (2017).

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Depois, o educador perguntou: “Como é o som desses animais com a boca? Tem diferença? E o som dos instrumentos que vocês estão, também tem diferenças?”, e a partir disso, trabalhou brevemente a questão dos timbres. Posteriormente, o professor finalizou a aula, cantando a música de encerramento, acompanhado dos instrumentos. Algo a se destacar, foi a fala de uma aluna quanto à música final: “Rock agora!!!”, e assim o educador o fez, sendo perceptível a assimilação do conteúdo trabalhado na música/atividade do Gato Xadrez.

Quero ressaltar dois pontos vistos nas aulas que ainda não foram comentados. O primeiro é com relação à utilização de instrumentos musicais convencionais. Os únicos instrumentos utilizados pelo professor foi o banjo, para executar o acompanhamento harmônico das músicas, e o pandeiro, utilizado apenas nos momentos das canções referente às atividades de movimento corporal. O outro ponto a se destacar é que, praticamente toda a aula é baseada nas respostas das crianças aos questionamentos realizados pelo professor. Em algumas turmas, isso resulta na latente euforia dos discentes, demonstrando ansiedade ao responder. O educador afirmou que ele não enxerga essa agitação como um sinal de indisciplina, e sim, de ansiedade, ou euforia, comum ao processo de aprendizagem que ele promove.

Com relação aos comentários proferidos pelo educador durante as observações, o mesmo discorreu que o trabalho se modifica de um nível para o outro, tendo em vista a proposta pedagógica e os objetivos traçados para cada um deles, de acordo com as características da faixa etária. Desta forma, a proposta para o Nível II se caracteriza pela exploração corporal; já no Nível III, é possível perceber uma transição, da sensibilização para algo mais concreto, como os diversos sons a serem explorados, por exemplo; e no Nível IV, a prática instrumental já é iniciada, utilizando os instrumentos de material reciclado.

Outro ponto que ele destacou, é com relação à organização da escola e a rotineira roda estruturada em sala. O fato das crianças já esperarem o educador sentadas em formato de circulo colabora para o bom andamento da aula, tendo em vista o ambiente tranquilo e organizado em que as crianças estão inseridas, e a economia de tempo pelo fato do professor já adentrar numa sala de aula onde toda a turma encontra-se organizada e a postos para participar das propostas pedagógico-musicais do dia.

Como já comentado, as aulas do Educador 03 não apresentam momentos rigorosamente delimitados, mas se baseiam na contação de histórias. O professor comentou que faz uso desse recurso a fim de chamar a atenção das crianças para a aula de música que se inicia. Durante a aula de uma das turmas do Nível III, o docente me proferiu a seguinte declaração:

É o seguinte: o que eu percebi é que, nas aulas que eu vi, existia muito o tradicionalismo. Porque tem que ser só o instrumento? Não! A aula de música é interação total. É tudo. É afetividade, é a satisfação da criança... Aí eu sou obrigado a só fazer música, som, gesto? Não! Eu vejo o conjunto. Você tá na escola, então você tá ajudando a desenvolver a criança, o ser humano. Então você tá formando o cidadão, independente de ser Ana20, que é a professora, independente de ser Laura21, que é auxiliar, ou eu, que sou professor de uma disciplina específica. Então, muitos colegas se apressam pra ver a questão da música. Tem que entrar toda hora, tem que tá ali, e tal. Vamos trabalhando os elementos musicais? Vamos, porque é uma aula de música. Mas eu acho que tem tanta coisa por trás que deixa de ser trabalhado, pra ver só a música, só o som... Então eu vejo muito diferente, assim, sabe? (EDUCADOR 03).

Com isso, já foi possível compreender um pouco acerca das suas concepções, que foram melhor compreendidas a partir da coleta de dados realizada durante a entrevista. Ao responder a questão “Qual a sua concepção sobre a

educação musical no contexto escolar?”, o docente discorreu que visualiza um

trabalho permeado de diversas possibilidades, não focando só na música, como comentado na fala citada mais acima, mas indo além na formação do ser humano.

[...] Acho que, a musicalização em si, ela vai muito além do que propriamente a questão do instrumento, ou do contato com a música em si. Acho que ela abrange outras necessidades... Necessidades do ser humano, necessidade pessoal, necessidade física, necessidade mental, necessidade corporal, de afeto... Então, abrange muita coisa, né? Eu acho que o que mais me motiva é esse sentimento. [...] Se nós, como eu sempre falei quando eu era só aluno [da graduação], chegarmos na aula pensando que vamos só dar aula de música, aula em si de música voltada para a questão do instrumento, eu acho que a gente vai se frustrar, porque não vai conseguir (EDUCADOR 03).

O profissional ainda discorreu que o papel do professor vai muito além do fato de promover o conhecimento, pois com o tempo, ocorre o desenvolvimento de uma