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4 FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO ESCOLAR: LUGARES,

4.3 EDUCADORA 02: a voz que deu origem a uma trajetória

Ao todo foram observadas 0713 aulas ministradas pela Educadora 02, numa instituição de ensino pertencente à rede particular, a qual possui certa particularidade, tendo em vista que se caracteriza como uma escola cristã, funcionando somente no turno vespertino. As observações iniciaram às 13h00min e encerraram às 15h40min14, nos dias 06 e 13 de setembro de 2017 (quartas-feiras), onde os horários das aulas tiveram a duração de 40 minutos cada. As turmas que foram observadas distribuíram-se da seguinte maneira:

Quadro 07 - Turmas da Educadora 02 que foram observadas

ANO QUANTIDADE DE TURMAS MÉDIA DE FAIXA ETÁRIA QUANTIDADE DE AULAS OBSERVADAS Nível IV (Educação Infantil) 01 05 anos 01 13

Estavam previstas 08 observações, mas na segunda semana não foi possível chegar para a primeira aula da tarde por motivo de saúde. Nesse horário seria a turma do Nível IV, e por isso, só consegui observar uma aula na Educação Infantil.

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Após esse horário, a educadora lecionava para as turmas de 4º e 5º ano, as quais não foram alvo dessa investigação.

1º ano (Ensino Fundamental I) 01 06 anos 02 2º ano (Ensino Fundamental I) 01 07 anos 02 3º ano (Ensino Fundamental I) 01 08 anos 02 Fonte: a autora (2017).

Foi possível observar apenas uma turma da Educação Infantil, pois as demais tinham suas aulas de música em outro dia da semana, o que impossibilitava a minha visita. Para sanar a necessidade da investigação, dei prioridade então aos anos iniciais do Ensino Fundamental I. Todas as turmas apresentaram uma média de 10 a 15 alunos presentes no período de observação.

De acordo com o planejamento da educadora, a aula da Educação Infantil que foi observada, estruturou-se em: 1) Acolhimento; 2) Desenvolvimento; e 3) Despedida. Para iniciar, a educadora cantou duas canções: uma já conhecida pelas crianças, e a outra de sua autoria, ainda em fase de aprendizagem por parte dos alunos. A canção “É hora de música” tem a seguinte letra:

Gosto muito de cantar É hora de música A aula vai começar

Vou participar

Música “É aula de música”, de autoria da Educadora 02

A educadora estruturou a música de forma simples, com melodia de fácil aprendizagem e letra curta, o que resultou no bom envolvimento das crianças. Para explorar a canção e repeti-las várias vezes, com o objetivo de possibilitar a aprendizagem, a docente propôs a execução de diversas maneiras, como cantando num andamento rápido, e posteriormente, lento. Com isso, a repetição não se tornou enfadonha e as crianças assimilaram a música de forma positiva. O objetivo central do desenvolvimento da aula foi a revisão sobre alguns instrumentos de bandinha rítmica – o reco-reco, a maraca e os pratos – e os parâmetros do som (forte/fraco). Cada criança teve a oportunidade de executar os instrumentos, tendo como tarefa a execução de sons referentes aos parâmetros estudados.

Ao final da aula, a docente propôs cantar novamente a canção “É aula de

música”, porém, com pequenas adaptações referentes ao momento de despedida.

Vejamos abaixo:

Gosto muito de cantar Foi hora de música A aula vai terminar

Já vou estudar

Adaptação da música “É aula de música” para o momento da despedida

As crianças apresentaram dificuldade em cantar a canção com a letra adaptada, tendo em vista que era uma música nova, e que ainda se encontrava em fase de aprendizagem por parte dos alunos. Porém, a educadora repetiu algumas vezes, enfatizando as mudanças e, ao final, as crianças conseguiram executá-la. É importante ressaltar que a expressão “já vou estudar” ao final da canção de encerramento nos desperta um questionamento, tendo em vista que uma aula de música já estava sendo finalizada. Não quero levantar uma crítica, mas uma reflexão sobre o cuidado com o conteúdo das composições didáticas. Quais concepções queremos desenvolver junto às crianças durante o processo de ensino e aprendizagem? Tal expressão poderia levar a pensar que a aula de música seria apenas um espaço de recreação.

Continuando, a proposta pedagógica para a turma do 1º ano apresentou-se na mesma estrutura de aula que aquela para Educação Infantil, tendo como foco principal a apresentação dos instrumentos da orquestra, baseando-se no livro “A orquestra tim-tim por tim-tim” (HENTSCHKE et. al., 2005), utilizando as figuras e os áudios desse material, a fim de possibilitar o contato das crianças com a temática. Como o formato da aula é o mesmo, a canção “É hora de música” também esteve presente no acolhimento – ainda em fase de aprendizagem. No momento da despedida, a música executada não foi de sua autoria.

Na segunda observação da turma do 1º ano, a docente variou as formas de execução da canção, como por exemplo, dividindo o coro entre meninos e meninas, e posteriormente, cantaram todos juntos. Alguns alunos chegaram a levar instrumentos de brinquedo, como um violão pequeno, duas maracas e duas flautas doces, e tentaram acompanhar a canção de alguma forma. Nesse dia, a educadora

também cantou outra música de acolhimento de sua autoria, sob o título: “Boa

tarde”.

Boa tarde, boa tarde, boa tarde A tarde vai começar Boa tarde, boa tarde, boa tarde

Vamos todos a cantar Uma boa tarde pra você

Música “Boa tarde”, de autoria da Educadora 02

Nesse momento, uma das alunas questionou à professora: “Você que inventou?”, e ela prontamente respondeu: “Fui eu que fiz”. Logo em seguida começou a cantar, e a menina rapidamente se propôs a acompanhar a professora com seu pequeno violão de brinquedo, demonstrando empolgação em fazê-lo. Por fim, o restante da aula se baseou na continuidade do planejamento da semana anterior, relacionado aos instrumentos da orquestra.

Nas turmas do 2º e 3º ano, a estrutura da aula foi a mesma. No entanto, no primeiro dia de observação as turmas fizeram uma avaliação individual da prática de flauta doce, o que ocupou quase todo o horário – porém, sem deixar de realizar o momento de acolhimento, dando início à aula. Na turma do 2º ano, a educadora cantou duas canções que não são de sua autoria, e no 3º ano, a música utilizada foi

“É hora de música”.

Com relação ao repertório de flauta doce que foi pedido na avaliação, no 2º ano, as duas músicas são de autoria da docente, intituladas “Alegria” e “Arco-íris”. A primeira música abrange do Dó3 ao Ré4, e a segunda, do Mi3 ao Ré4; ambas possuem um ritmo baseado em mínimas e semínimas, com andamento lento. Já no 3º ano, o repertório não era autoral. Como nessa turma, os alunos já se encontravam num nível de execução mais elevado, foi possível a professora acompanhar os alunos no violão durante a execução individual, o que facilitou para que as crianças preservassem o andamento e o ritmo da música.

Na segunda observação dessas turmas – tendo em vista que as avaliações foram concluídas na semana anterior –, a educadora iniciou uma nova etapa do processo de aprendizagem nesses níveis, propondo uma composição instrumental em pequenos grupos de três ou quatro crianças, na turma do 2º ano, e individual, na turma do 3º ano – utilizando a flauta doce. Primeiramente, a educadora revisou as

notas que ela elencou para utilização nas composições. No caso do 2º ano, as notas utilizadas foram do Sol3 ao Ré4 (notas da mão esquerda), e no 3º ano, utilizaram do Mi3 ao Ré4. Além disso, a professora delimitou que as composições precisariam de duas ou quatro frases musicais. Na primeira turma, apenas dois grupos concluíram suas composições e apresentaram para os colegas; já na segunda turma, quatro alunos finalizaram e tocaram para todos. Os demais ficaram de apresentar na próxima aula.

É importante ressaltar que, na turma do 2º ano, uma aluna já havia feito uma composição em casa, e pediu para apresentar aos colegas. A peça apresentada possuía duas frases musicais – similar à ideia da fraseologia ocidental –, utilizando as notas da mão esquerda. Já na turma do 3º ano, um dos alunos que concluiu a composição escreveu onze frases musicais, e as executou de forma clara e precisa. Ao finalizar a aula, a educadora pediu para que todos concluíssem suas composições, pois gostaria de registrar em vídeo na aula seguinte.

Além da proposta de composição, a docente também fez os momentos de acolhida e de despedida em ambas as turmas, utilizando as músicas “É hora de música”, “Boa tarde” e “Terminando a aula” – todas de sua autoria. Foi a primeira vez que a professora cantou essas canções na turma do 2º ano, a qual apresentou muita agitação nas duas aulas que foram observadas. Com isso, no momento de aprendizagem não demonstraram muito envolvimento e interesse, causando uma dificuldade na assimilação da letra e da melodia.

Durante as observações, foi perceptível o engajamento da professora com a prática da composição musical, através da produção de um repertório de fácil assimilação, o qual foi apresentado permeado de melodias e harmonias simples, e letras curtas. Além disso, foi visto que a educadora utiliza o mesmo repertório para todas as turmas que foram observadas (Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental I), iniciando o processo de aprendizagem das canções praticamente no mesmo período em seu cronograma de aulas para essas turmas.

Outro fator relevante é que a educadora utiliza o fato de que possui a prática da composição, para instigar seus alunos a criar. Na ocasião, as crianças já haviam executado composições instrumentais da professora, e posteriormente, a mesma propôs que eles mesmos criassem suas músicas. Quando ocorreu a aula direcionada à criação, não foi visto nenhuma criança que tenha demonstrado indisposição para criar. Tiveram aqueles que estavam sem o seu instrumento na

ocasião, e que mesmo assim, a docente argumentou que eles podiam contribuir com ideias – e assim o fizeram. É possível pensar que o exemplo pode ter gerado o interesse, promovendo a ideia de que, qualquer um pode criar a sua própria música.

Na ocasião da entrevista, foi possível compreender melhor as concepções e escolhas da Educadora 02. Segundo ela, a educação musical no contexto escolar deve ser vivenciada com muita espontaneidade e criatividade. Ela argumentou que:

A gente tem que usar métodos sim, óbvio, mas não pode se prender a um método. [...] Tem que pegar um pouquinho de cada e ver o que vai dar certo para cada turma. Porque ainda tem essa história: cada turma é um mundo, então, em cada turma tem que usar a criatividade pra que a aula funcione (EDUCADORA 02).

É possível compreender suas ideias quando olhamos para a sua trajetória. A docente comentou que iniciou sua prática criativa ainda na adolescência, quando dava aula para crianças no contexto da igreja em que frequentava, numa programação fixa e oficial chamada “Escola Dominical”. Ela comentou que, em cada aula, havia um tema específico, e que não havia nenhuma música que abordasse tal tema. Com isso, ela se motivava a criar junto aos alunos, incentivando eles a também serem participantes nas criações musicais. Além disso, desde quando iniciou seu trabalho como professora de música – que no caso, foi no contexto de aulas extracurriculares –, ela pensou: “Vamos cantar músicas mais fáceis para as crianças, músicas pequenas”. A educadora comentou também que a ideia de criar algo novo lhe agradava muito, e assim, deu-se início a sua prática criativa. É importante ressaltar que, a necessidade foi apontada tanto no contexto da prática como professora na igreja – que na ocasião ainda não se enquadrava como professora de música – quanto no trabalho como educadora musical; porém, neste segundo, o interesse relatado também se deu a partir do prazer em criar, tendo em vista que a prática criativa já vinha se desenvolvendo a longo prazo.

Com relação ao seu processo criativo, a educadora comentou que muitas vezes as ideias surgem repentinamente em determinados momentos, e logo grava ou anota algum esboço para não esquecer. Quando questionada se isso ocorre durante aula, ela afirmou o seguinte:

Não. Às vezes na aula até vem, mas assim, eu não arrisco fazer naquele momento, né? Porque senão eu posso errar, e esqueço a melodia, ou a letra. Aí tento já levar pronto. Vejo, por exemplo, para

as crianças, uma música pra recepcionar, uma música de “bom dia” diferente, uma “boa tarde” diferente (EDUCADORA 02).

Nesse caso, é perceptível que a docente se propõe a fazer determinadas músicas com fins específicos, o que ela confirmou logo em seguida. Pode-se considerar então que o processo criativo da Educadora 02 se inicia de duas formas: a partir de uma inspiração ou improviso, seguida de uma esquematização, ou a partir da delimitação prévia dos objetivos, das características musicais e do tema a ser tratado na canção.

A formação musical que dá base para a prática criativa da professora é a formação em canto, pois ela possui o Curso Técnico Profissionalizante em Canto Lírico, e posteriormente, enveredou pelo Canto Popular. Segundo a educadora, o contato com o repertório do canto lírico é o que a faz ter inspiração em várias criações, pois ela declarou que as características musicais da Era Medieval até os dias de hoje, no contexto do canto lírico, lhe fornece um material de base que a ajuda no momento de criar.

Quanto aos tipos de composições musicais, a educadora comentou o seguinte:

Eu tenho instrumental e vocal também. [...] Porque, na verdade, como eu sou cantora, então, obviamente as crianças deveriam ser mais [conduzidas] pra música vocal; mas assim, eu tento me inspirar também pra tocar. [...] Tento compor balanceado, para as turmas não ficarem desequilibradas. Pra não ter só composições de canto, por exemplo (EDUCADORA 02).

Com relação às composições caracterizadas como instrumentais, a docente comentou que as direciona para a prática da flauta doce e da bandinha rítmica. Ao ser questionada sobre a organização desse material autoral, a educadora respondeu o seguinte:

[...] Hoje eu estou digitando e gosto muito de escrever, então eu escrevo à mão, e depois é que eu vou para o computador. [...] É o costume de escrever. Aí eu tô querendo fazer assim: copiar tudo numa pastinha, colocar num e-mail, sei lá... Pra não perder. E gravar, porque se eu não gravar, eu perco... Esqueço (EDUCADORA 02).

A professora ainda comentou que suas composições não são registradas legalmente, mas pretende fazê-lo, pois tem planos futuros relacionados à gravação de um CD. A docente declarou que, paralelo à sua atividade como educadora

musical no contexto escolar, desenvolve um trabalho de contação de histórias, apresentando-se em teatros e eventos, e também compõe para essa atividade. Com isso, muitas pessoas a procuram, perguntando se ela já possui um trabalho gravado, e por esse motivo, surgiu a ideia da gravação do CD.

Eu penso, futuramente, gravar um CD. Por exemplo, um CD de canto coral, de composição com as crianças e flautas, as minhas músicas mesmo autorais que eu faço para a contação de história, e por aí vai. Eu quero registrar sim. Preciso! Porque eu tenho muita coisa (EDUCADORA 02).

Referente ao planejamento pedagógico, a educadora também utiliza canções que não são de sua autoria. O critério de escolha para esse repertório é que tenha uma “musicalidade legal”, seja de fácil aprendizagem, e transmita uma mensagem positiva. Além disso, os alunos sempre levam músicas para que a docente aprecie; caso esteja dentro dos critérios pré-estabelecidos, o repertório é inserido em seu planejamento pedagógico. Porém, a educadora declarou que, atualmente, suas composições ocupam cerca de 60%15 do seu planejamento, pois constantemente cria canções pertencentes aos momentos de rotina – como o acolhimento e a despedida, por exemplo –, para que não se limitem a um repertório pequeno, nem repitam as mesmas canções várias vezes, renovando então o repertório da rotina a cada trimestre. Além disso, a professora também produz músicas instrumentais (flauta doce e bandinha rítmica) – como já mencionado –, e aquelas direcionadas à prática coral. Essas então ocupam a maior parte da aula: o desenvolvimento. Ela justifica essa prática com a seguinte fala:

Pra desengavetar mesmo tudo que eu já fiz, e botar. E inspirar também as crianças pra fazer. Eu acho tão legal quando eu consigo fazer com que elas façam duas linhas, seja lá do que for, e criem. Porque eu acho bacana essa questão de criar, fazer com que elas tentem fazer também. Hoje eu tô tentando fazer [no sentido de utilizar] bem mais minhas, do que de outros autores (EDUCADORA 02).

A docente também comentou que os alunos demonstram boa aceitação sobre o repertório autoral, e ficam surpresos quando ela afirma que determinada música é de sua autoria, fazendo comentários como: “Olha! A professora que fez essa música”. Segundo a educadora, o fato das canções serem autorais, por muito

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tempo não foi comunicado às crianças. Simplesmente as cantava e os discentes participavam, demonstrando satisfação. A partir do último ano, a professora começou a comunicar aos alunos que as músicas são de sua autoria.

Ah... Na verdade, tem canções que eu não falo que são minhas. Eu faço, aí depois de muito tempo é que eu falo. Hoje em dia – como eu tô trabalhado a questão da criação deles, pra inspirar eles a fazerem também – eu tô falando mais. Mas eu já trabalhei muita coisa que eles nem sabiam que era minha e gostavam: “Professora tem uma música tão legal... Canta aquela”. Aí eu dizia: “Ah tá, essa é a minha, então vamos lá”. Mas, acho que, até o ano passado não me interessei muito em divulgar que era minha (EDUCADORA 02).

Como a educadora hoje vem comunicando aos alunos acerca de suas composições, é possível perceber que a prática criativa docente tem virado rotina nas aulas, possibilitando aos alunos certa consciência sobre as músicas autorais e a prática de composição da professora. Inclusive, em uma das aulas observadas, uma aluna perguntou se a música “Boa tarde” tinha sido ela que tinha “inventado”, e a professora afirmou que sim. Ou seja, para os alunos tem sido comum a execução de músicas criadas pela professora, tendo em vista que agora ela tem comunicado acerca da autoria das canções.

Ao responder a questão “A partir do seu ponto de vista, você acredita que

atinge seus objetivos como educadora musical fazendo uso da prática autoral?”, a

docente emitiu a seguinte resposta:

Sim, eu atinjo. Eu procuro assim: como a gente tem a questão da metodologia, e as faixas etárias e tudo, tem composições que eu paro pra fazer: “Peraí! Vamos mudar esse acorde aqui... Vou mudar essa melodia, pra facilitar pra eles pegarem”. Porque tem umas músicas que eu toco violão, aí já facilita para que eles toquem também e possam acompanhar comigo, ou só eles, né? [...] Eu procuro realmente fazer bem objetivo: música pequena pra o infantil. Um repertório mais simples, no máximo um cânone, sei lá... Pra um repertório coral. Aí eu num arrisco muito não, eu tento avaliar a turma e ajudar o máximo possível, aí eu consigo alcançar. (EDUCADORA 02).

Sendo assim, percebe-se que os objetivos são alcançados porque as criações são pensadas e estruturadas de acordo com a faixa etária, as características das turmas e as necessidades emergentes. Por esse motivo, a educadora declarou que não se recorda de nenhuma vez que o objetivo da criação não tenha sido alcançado.

Com relação à rede de ensino, ao ser questionada se na rede pública ela teria a mesma atitude criadora que na rede privada – tendo em vista que a docente atualmente não atua nas escolas públicas –, ela afirmou que “sim, com certeza”. Então perguntei se ela já havia tido alguma experiência com a rede pública, e a mesma respondeu positivamente, explicando em seguida que trabalhou durante cinco anos com canto coral. Primeiramente em um projeto intitulado “Canto na Escola” – o qual teve a duração de dois anos –, no contexto público estadual, onde trabalhou em duas escolas: uma em Natal/RN e a outra na zona rural de Ceará- Mirim/RN. Depois do encerramento desse trabalho, a docente foi realocada para o projeto “Mais Educação”, o qual é fornecido aos alunos no contra turno do horário escolar, contando com diversas atividades. Nesse cenário, a educadora também trabalhou com a prática do canto coral.

A docente declarou que não produziu muito material autoral no Projeto “Canto na Escola”, mas ainda assim, considera que criou cerca de “30%”16

do repertório utilizado. Além disso, existia um senhor que participava da atividade e que também produzia composições. Desta forma, esse repertório autoral também foi aproveitado, contribuindo para o enriquecimento da formação cultural dos alunos, assim como para a valorização dos artistas locais. No Projeto “Mais Educação”, a docente declarou que chegou a criar pouca coisa, devido ao número de turmas e da quantidade de alunos, e à necessidade de buscar um conteúdo pertencente à