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ESTUDO DAS QUALIDADES PSICOMÉTRICAS DO SAC

ESCALA COMPLETA

5.1. Efeito das variáveis idade, género e nível socioeconómico nos resultados do SAC

5.1.1. Efeito da variável “idade”

A idade é concetualizada como uma variável relativa a características de estádios de desenvolvimento psicológico, que engloba aspetos qualitativos e quantitativos das experiências prévias dos sujeitos. De um modo geral, são esperadas mudanças no funcionamento cognitivo dos sujeitos em função da idade cronológica que, assim, se considera como um fator de diferenciação dos desempenhos. Neste sentido, Simões (2000) considera que “a idade cronológica constitui uma fonte de variabilidade dos resultados num teste, cuja regularidade evolutiva é particularmente importante e notória na infância e na adolescência” (p. 411).

De facto, a idade constitui uma das variáveis que tradicionalmente é tida em conta nos estudos relativos às diferenças individuais, demonstrando a investigação que, de uma maneira geral, existe um crescimento do desempenho médio dos sujeitos, em várias aptidões, à medida que se avança na idade, pelo menos até à adolescência (e.g. Almeida, 1988a; Cliffordson & Gustafsson, 2008; Lemos, 2007; Pinto, 1992; Ribeiro, 1996).

Vários estudos têm demonstrado que os resultados em testes de habilidade cognitiva tendem a aumentar não só com a idade como também com a escolarização, sobretudo na infância e na adolescência, encontrando-se estas duas variáveis altamente correlacionadas (e de difícil separação) (e.g. Almeida, 1988a; Almeida, Lemos, Guisande & Primi, 2008; Cliffordson & Gustafsson, 2008; Lemos & Almeida, 2006; Primi, Couto, Almeida, Guisande, & Miguel, 2012). Por isso, Almeida et al. (2008) referem que a opção por uma delas na normalização de testes pode parecer um tanto arbitrária, ainda que cada uma delas reflita aspetos diferentes do desenvolvimento cognitivo. A idade, especialmente na infância, acompanha o desenvolvimento maturacional e, por isso, a sua associação com as habilidades cognitivas é tida como estimação da influência de fatores biológicos. Já a escolaridade é uma variável que se encontra associada à estimulação escolar formal e, portanto, a sua associação com as habilidades cognitivas é tida como estimação de fatores ambientais. Entretanto, como o aumento da escolaridade acompanha e é condicionado pela idade, não é fácil separar a influência única que cada uma pode refletir no desenvolvimento cognitivo.

Durante a infância até ao início da adolescência, a associação entre idade e inteligência poderá ter uma magnitude mais forte em razão da maturação cerebral que tem sua influencia mais marcante nesse período, daí as provas de inteligência para estas faixas etárias utilizarem normalmente normas por nível etário (por exemplo, as Escalas de Inteligência de Wechsler). No entanto, alguns autores alertam para o facto de que na adolescência poderá fazer mais sentido que as normas sejam elaboradas de acordo com o nível de escolarização, já que este reflete a idade acompanhada de influências

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acumuladas do ambiente que se vai tornando progressivamente mais importante com o passar do tempo (Almeida et al., 2008; Lemos, 2007; Primi et al., 2012).

Nesta investigação, optámos por selecionar os sujeitos da nossa amostra por anos de escolaridade (2º, 4º, 6º e 9º anos), mas com a condição prévia de excluir os sujeitos com retenções escolares precisamente para tentar controlar o efeito destas duas variáveis, obtendo-se assim 4 grupos distintos em termos de escolarização, mas em cada grupo todos os sujeitos apresentam uma idade bastante próxima (nunca ultrapassando os 12 meses). Esta organização permite então comparar as seguintes faixas etárias: 7/8 anos (2º ano), 9/10 anos (4º ano), 11/12 anos (6º ano) e 14/15 anos (9º ano).

Tendo por base os dados da investigação, é de esperar que os resultados obtidos no SAC apresentem diferenças significativas em função da idade, constituindo a progressão desses resultados ao longo das distintas faixas etárias um indicador da validade de construto deste mesmo instrumento (Naglieri & Das, 1997b).

Na Tabela 5.1 indicamos os valores da média (M) e do desvio-padrão (D.P.) dos resultados obtidos nos subtestes do SAC, nomeadamente: Emparelhamento de Números (EN), Planificação de Códigos (PC), Matrizes Não-Verbais (MNV), Relações Verbais-Espaciais (RVE), Atenção Expressiva (AE), Deteção de Números (DN), Série de Palavras (SP) e Repetição de Frases (RF). Cada grupo etário é constituído pelo mesmo número de efetivos (N=60).

Tabela 5.1 – Médias (M) e Desvios-Padrão (D.P.) dos resultados nos subtestes do SAC por grupo etário

7/8 anos 9/10 anos 11/12 anos 14/15 anos

Subtestes M D.P. M D.P. M D.P. M D.P. EN 5.62 1.40 8.23 1.97 10.88 2.39 15.23 4.80 PC 29.05 7.99 39.95 11.34 58.18 12.75 88.02 26.95 MNV 14.32 4.25 17.05 4.45 19.52 4.98 24.02 4.47 RVE 14.33 2.84 15.23 2.78 16.45 3.03 18.55 4.11 AE 30.02 9.07 36.40 8.46 45.33 9.49 62.05 14.55 DN 34.97 7.08 46.03 9.43 58.68 10.66 72.90 16.62 SP 9.70 1.96 10.08 2.17 11.33 2.26 12.27 2.97 RF 6.32 1.93 7.02 1.95 8.32 1.91 8.80 2.30

A análise da Tabela 5.1 permite verificar uma progressão das pontuações médias ao longo dos quatro grupos etários, em todos os subtestes do SAC. Estes dados parecem ir ao encontro do conhecimento teórico e prático de que as competências cognitivas melhoram progressivamente com a idade (e ano de escolaridade).

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A significância do fator “idade” sobre os resultados nos subtestes do SAC foi então avaliada com uma MANOVA, dado que os subtestes do SAC se encontram interrelacionados.

A análise de variância multivariada (Manova) revelou que o fator “idade” tem um efeito de elevada dimensão e estatisticamente significativo sobre o compósito multivariado [Traço de Pillai=.83;

F(24,693)=11.03; p=.000; η2

p=.28; Potência=1].

Observada a significância multivariada no fator “idade”, procedeu-se à ANOVA univariada para cada um dos subtestes que constituem o SAC, seguidas de teste post-hoc Sheffé. Na Tabela 5.2 indicam-se os valores estatísticos obtidos nesta análise.

Tabela 5.2 – Análise da variância dos resultados nos subtestes do SAC em função da idade

Subteste g.l. F Probabilidade η2 p Resultados post-hoc EN 3 116.74 .000*** .60 43***, 42***; 41***,32***, 31***, 21*** PC 3 147.60 .000*** .65 43***, 42***; 41***,32***, 31***, 21** MNV 3 49.28 .000*** .39 43***, 42***; 41***,32*, 31***, 21* RVE 3 20.19 .000*** .20 43**, 42***; 41***,32 (ns), 31**, 21(ns) AE 3 101.77 .000*** .56 43***, 42***; 41***,32***, 31***, 21* DN 3 121.30 .000*** .61 43***, 42***; 41***,32***, 31***, 21*** SP 3 14.77 .000*** .16 43(ns), 42***; 41***,32*, 31**, 21(ns) RF 3 19.16 .000*** .20 43(ns), 42***; 41***,32**, 31***, 21(ns)

Nota: (ns) não significativo; *significativo para p.05; **significativo para p.01; significativo para p<.001.

Através da análise da Tabela 5.2. verifica-se que a variável “idade” tem um efeito estatisticamente significativo em todos os subtetses do SAC (p<.001).

Analisando a dimensão do efeito da variável “idade” fornecida pelo Eta2 parcial (η2

p), utilizando a classificação proposta por Maroco (2010), verifica-se que a mesma é “muito elevada” nos subtestes PC, EN, DN e AE (todos eles com valores acima de .50), por sua vez é “elevada” no subteste MNV e “média” nos subtestes RVE, RF e SP (Tabela 5.2).

De acordo com o teste post-hoc, quando comparamos os grupos extremos (1 e 4) que correspondem respetivamente ao grupo de sujeitos mais novos (7/8 anos) e ao grupo de sujeitos mais velhos (13/15 anos), as diferenças encontradas são todas estatisticamente significativas para p.001. As diferenças entre o grupo 2 (9/10 anos) e o grupo 4 (13/15 anos) são igualmente significativas para p.001 (Tabela 5.2).

Quando comparamos os grupos intermédios (1 e 2, 2 e 3, 3 e 4), verificamos que nos subtestes EN e DN essas diferenças são sempre estatisticamente significativas para p.001. No subteste RVE

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não existem diferenças estatisticamente significativas entre os grupos 1 (7/8 anos) e 2 (9/10 anos) e também não existem diferenças estatisticamente significativas entre os grupos 2 (9/10 anos) e o grupo 3 (11/12 anos). Nos subtestes SP e RF não se encontram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos 1 (7/8 anos) e 2 (9/10 anos) e entre os grupos 3 (11/12 anos) e 4 (13/15 anos) (Tabela 5.2).

Em síntese, em todos os subtestes do SAC encontram-se diferenças estatisticamente significativas (p.001) entre os alunos mais novos (com 7/8 anos e 9/10 anos) e os alunos mais velhos (13/15 anos). Mas, quando se consideram idades mais próximas, em alguns subtestes, as diferenças encontradas não são estatisticamente significativas (nomeadamente, nos subtestes de RVE, SP e RF). Apesar destas exceções, verifica-se sempre uma progressão crescente das pontuações médias ao longo das 4 faixas etárias consideradas.

Concluímos, assim, que os resultados obtidos nos subtestes do SAC são sensíveis ao desenvolvimento, permitindo diferenciar os sujeitos em função da idade (e/ou ano de escolaridade), embora alguns subtestes se mostrem mais sensíveis ao desenvolvimento do que outros.