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2.3 Investigações com o SAC

2.3.4. Estudos com Grupos Especiais

Para além dos estudos realizados no âmbito das dificuldades de aprendizagem, várias investigações têm procurado estudar a relação entre os processos PASS e outros grupos especiais, tais como, crianças com problemas de hiperatividade e défice de atenção, crianças com atraso mental, crianças sobredotadas, crianças com lesão cerebral traumática, crianças com transtornos emocionais severos, entre outros (e.g. Naglieri & Das, 1997b).

2.3.4.1. Crianças com PHDA

A Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) é tipicamente descrita como um problema de desenvolvimento da inibição da resposta que gera problemas com impulsividade, hiperatividade e dificuldades atencionais (ver Barkley, 1990).

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Segundo os especialistas, o funcionamento cognitivo representa o mecanismo que melhor diferencia as crianças com e sem este distúrbio (Barkley, 1990; Barkley, Edwards, Laneri, Fletcher & Metevia, 2001 cit. por Naglieri, Goldstein, Iseman & Schwebach, 2003). No funcionamento cognitivo aqui considerado entram processos como o planeamento, inibição, coordenação e autorregulação, que parece ser o fulcro da relação com as dificuldades de atenção.

A identificação da PHDA é feita, mais frequentemente, através de entrevistas e escalas de perceção respondidas por adultos, ou ainda através do desempenho na WISC-III, não se mostrando muito efetivas nesse desígnio (Anastopoulos, Spisto & Maher, 1994, cit. por Naglieri & Paolitto, 2008). Embora o objetivo primário do SAC não seja o diagnóstico da PHDA, tal como outros testes, há validação científica que fundamenta o seu uso, ao contrário do que acontece com a WISC-III. De facto, se a PHDA se encontra associada a problemas na inibição da ação (e respetiva atividade do lobo frontal), é expectável que essas pessoas tenham mau desempenho nas Escalas de Planificação e Atenção do SAC (Das, Naglieri & Kirby, 1994).

Por exemplo, num estudo realizado por Naglieri e Paolitto (2008) com uma amostra de 60 crianças que cumpriam os critérios de diagnóstico de PHDA conforme o DSM-IV, os autores reiteraram a hipótese de que estas crianças têm um desempenho significativamente inferior nos subtestes da Escala de Planificação (ou seja na capacidade de determinar, selecionar e usar uma estratégia eficaz para resolver um problema) e, moderadamente inferior na Escala de Atenção; diferenças, estas, que se acentuam nas tarefas com maior complexidade (Naglieri et al., 2003). Estes dados são consistentes com a perspetiva de que a desinibição comportamental/ dificuldades de controlo da ação joga um papel central na PHDA.

Relativamente à interação deste tipo de resultados com o uso de medicação como o Metilfenidato (Ritalina), constata-se que o seu uso melhorou significativamente o desempenho das crianças no SAC, especificamente as funções executivas relacionadas com a autorregulação, tais como a planificação, a monitorização e a avaliação (Naglieri et al., 2003). Paralelamente, noutro estudo em que recorreram apenas à WISC-III, não se verificou melhoria significativa com o tratamento com a Ritalina, talvez porque este instrumento de avaliação da inteligência não é sensível o suficiente para avaliar os processos cognitivos e os efeitos da medicação (Schwean, 2008).

Outras investigações têm comparado o desempenho de crianças com PHDA e outros grupos, por exemplo: Paolitto (1999) estudou amostras emparelhadas de crianças com PHDA e crianças normais; Naglieri, Goldstein, Iseman, Schwebach (2003) compararam crianças com PHDA e crianças com transtorno de ansiedade e/ou depressão; e, Naglieri, Salter e Edwards (2004) compararam crianças com PHDA, crianças com Perturbação da Leitura e crianças do ensino regular. Todos estes

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estudos revelam que as crianças com PHDA tendem a apresentar um perfil PASS distinto, caraterizado por resultados médios significativamente mais baixos na Escala de Planificação.

A aferição americana do SAC também contemplou estudos com crianças com PHDA (e.g. Naglieri & Das, 1997b). Estes estudos mostram que as crianças com PHDA obtêm os seus resultados mais baixos na Escala de Planificação, apresentando ainda pontuações pobres na Escala de Atenção, encontrando-se em conformidade com os dados das restantes investigações.

2.3.4.2. Crianças com Atraso Mental e Crianças Sobredotadas

Na aferição americana do SAC foram também realizados estudos, quer com crianças com atraso mental, quer com crianças sobredotadas (e.g. Naglieri & Das, 1997b).

O estudo com crianças com atraso mental incidiu sobre uma amostra de 86 crianças que beneficiavam de programas de educação especial. Este estudo permitiu verificar que as crianças com atraso mental obtinham pontuações médias nas Escalas do SAC, todas elas situadas na categoria descritiva baixa (70-79) ou muito baixa (69 ou menos), existindo uma pequena variação ao longo das 4 Escalas do SAC (ver Naglieri & Das, 1997b). Estes dados vão no sentido de que as crianças com atraso mental tendem a ter uma deterioração cognitiva generalizada.

O estudo com crianças sobredotadas incidiu numa amostra de 173 crianças, identificadas por equipas multidisciplinares usando-se critérios, tais como, pontuações em testes de desempenho escolar e pontuações em testes de inteligência. A este grupo aplicou-se o SAC e verificou-se que as pontuações na Escala Completa situam-se a mais de um desvio-padrão acima da média, tal como nas Escalas Simultâneo e Sucessivo. Por sua vez, as médias de Planificação e Atenção situavam-se a 2/3 de um desvio-padrão acima da média. Naglieri & Das (1997b) consideram previsíveis as pontuações mais altas em Simultâneo e Sucessivo, na medida em que, estas Escalas são muito similares aos testes tradicionais de QI utilizados para identificar estas crianças.

2.3.4.3. Outros grupos especiais

A aferição americana do SAC inclui ainda estudos com outros grupos especiais, tais como crianças com lesão cerebral traumática e crianças com transtorno emocional grave (ver Naglieri & Das, 1997b).

As crianças com lesão cerebral traumática tendem a apresentar resultados baixos em Planificação e Atenção, consistentes com as descrições que existem sobre esta população, tais como

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dificuldades com a organização, o controlo do impulso, a resolução de problemas, a planificação e a atenção focalizada (Savage & Wolcott, 1994 cit. por Naglieri & Das, 1997b).

As crianças com transtorno emocional grave obtiveram os seus resultados mais baixos na Escala de Planificação, a qual se situa na categoria Média Baixa, em contraste com as classificações médias, nos processos Simultâneo e Sucessivo. Estes dados são consistentes com a investigação que aponta para défices nas funções executivas nas crianças com desordens da conduta disruptiva (Grodzninsky & Diamond, 1992, Moffitt, 1993, Moffitt & Lynam, 1994 cit. por Naglieri & Das, 1997b). Ou seja, a dificuldade que estas crianças têm com a impulsividade, a falta de controlo e a agressividade está associada com pontuações pobres em Planificação (Naglieri & Das, 1997b).

Muitas outras investigações têm sido realizadas com grupos especiais, que aqui não vamos desenvolver. O importante é reforçar a ideia de que o SAC tem-se revelado um instrumento viável na caraterização dos processos PASS, envolvidos na aprendizagem de crianças com um funcionamento normal e em crianças com um funcionamento caraterizado por diferentes problemáticas, contribuindo, assim, para apoiar o diagnóstico diferencial e para o planeamento duma intervenção psicoeducativa diferenciada.