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1. INTRODUÇÃO

2.3. TURISMO

2.3.3. Turismo: estratégia de desenvolvimento local

2.3.3.3. Efeitos e repercussões do desenvolvimento turístico

De acordo com Cunha (2006), o contributo do turismo para o desenvolvimento regional é, efectivamente, um dos efeitos mais evidenciados e que melhor corresponde aos anseios das populações localizadas em territórios economicamente desfavorecidos. As razões que levam a que o turismo seja um motor de desenvolvimento económico são de vária ordem.

O turismo produz movimentos de capitais e de rendimentos das regiões mais para as menos desenvolvidas e provoca exportações de bens e serviços através da compra de produtos da região receptora por parte dos visitantes, bem como o próprio consumo feito por estes no local, exportações estas que, de outro modo, não se verificariam.

Por outro lado, esta actividade implica investimentos que, numa primeira fase, se centram na reabilitação e construção de infra-estruturas turísticas, alargando-se depois a outros equipamentos. Estes últimos, nomeadamente infra-estruturas e equipamentos sociais, que dificilmente seriam construídos noutras circunstâncias que não envolvem-se o desenvolvimento turístico da área (designadamente por questões de dimensão), beneficiam a população local e permitem a instalação de outras actividades que acrescem à produção local.

73 O turismo contribui, ainda, para a dinamização, diversificação e modernização da produção local, isto porque o consumo turístico se caracteriza pela sua heterogeneidade e arrasta simultaneamente, de forma directa ou indirecta, distintos sectores.

Neste ponto, é de destacar a possibilidade que o turismo proporciona de recuperar e revigorar produções agrícolas e artesanais que, de outro modo, tenderiam a desaparecer.

O turismo é também uma fonte geradora de emprego, quer directo (em resultado, por exemplo, da construção de um hotel e seu posterior funcionamento, bem como de agências de viagem, restaurantes, etc.), quer indirecto ou induzido (neste caso, as empresas empregadoras não são turísticas mas são fornecedoras do sector). Os postos de trabalho gerados por esta actividade vão depender do grau de desenvolvimento turístico da região (inclusivamente, em termos de qualificação da mão-de-obra existente), sendo de realçar que em áreas rurais, sobretudo nas primeiras etapas do desenvolvimento, os empregos criados na maioria das actividades directamente influenciadas pela procura turística são reduzidos, em virtude da flexibilidade da gestão familiar destas actividades. Importa, contudo, reter que permite a estabilização e consolidação do emprego destas famílias, evitando ou travando a sua emigração.

Em termos económicos, e de forma simplificada, podemos agregar estes efeitos gerados pelo turismo em directos, indirectos e induzidos (Cunha, 2006). Os efeitos directos resultam das despesas efectuadas pelos turistas na aquisição de bens e serviços turísticos e em empresas de apoio. Os efeitos indirectos decorrem da despesa efectuada pelas empresas que proporcionam esses bens e serviços na compra de bens e serviços de outro tipo, utilizando para tal o dinheiro que foi trazido pelo turista. Numa terceira etapa de circulação do dinheiro do turista estão os efeitos induzidos, que são constituídos pelas despesas realizadas por aqueles que receberam o dinheiro dos prestadores dos serviços turísticos e similares.

Como qualquer actividade económica, o turismo pode apresentar inconvenientes que vão desde gerar inflação, ocorrendo estes aumentos de preço quer ao nível do mercado imobiliário quer o nível dos restantes produtos de consumo corrente; provocar tensões no mercado de trabalho; implicar a utilização excessiva de infra-estruturas insuficientes; desarticular a produção tradicional em alguns lugares onde é introduzido; criar dependência de empresas procedentes do exterior, quando a capacidade financeira local é fraca; entre outros.

Em termos de impactes socioculturais, o turismo funciona como um incentivo à reabilitação e conservação do património histórico que, de outra forma, poderia até mesmo desaparecer, passando a constituir atracções para os turistas, e permite uma tomada de consciência da salvaguarda e respeito pela arquitectura local.

A actividade turística pode, também, actuar como um importante factor de valorização de hábitos, tradições e costumes, que podem perder-se caso não se opte por promover as particularidades e diferenças da cultura típica local.

74 Igualmente relevante é o papel do turismo no processo de promoção do contacto e diálogo entre diferentes culturas, a do “visitante” e a do “visitado”, normalmente portadores de saberes, códigos de valores e estilos de vida distintos. Assim, e no caso do turismo cultural, Pereiro (2003) refere que, enquanto os visitantes evadem as suas preocupações, os residentes locais podem estabelecer pontes de comunicação não estereotipada com estes, contribuindo para um encontro intercultural não assimétrico, educativo e profundamente convivencial.

Apesar destes efeitos positivos, há que pensar-se que, também aqui, podem ocorrer consequências nefastas associadas, por exemplo, ao perigo do “folclorismo turístico”, que implicaria a negação das singularidades locais ou, ainda, e menos visível, da “fusão de culturas”, habitualmente com clara vantagem para a cultura dominante, a do turista. Sempre que os valores alheios substituem os valores locais ou sempre que se adoptem figurinos estranhos, descaracterizando uma região, produz-se a uniformização, reduzindo ou eliminando as diferenças, que constituíam a sua força competitiva (Cunha, 2006). O turismo pode, ainda, ser um factor de marginalização das populações locais e um veículo de tensões sociais quando concebido sem integrar os valores locais e sem fazer participar as populações nos seus benefícios (Cunha, 2006).

Em termos ambientais, o turismo, quando bem planeado e controlado, pode ajudar a manter e a melhor o meio ambiente natural de várias formas (Valls, 2003): estimulando as populações e as autoridades para uma tomada de consciência do valor do seu meio ambiente; ajudando a justificar e a financiar a conservação de importantes áreas naturais (algumas delas sem características particularmente atractivas), de lugares arqueológicos e históricos como atracções turísticas; contribuindo para melhorar a qualidade ambiental das áreas através do controlo do ar, da água, da poluição sonora, de problemas de lixo, uma vez que os turistas desejam visitar lugares atractivos, limpos e não contaminados.

No entanto, entre o turismo e o ambiente natural existem, não raras vezes, relações contraditórias, gerando-se numerosos efeitos negativos que se produzem quando o seu planeamento não é o mais adequado: intensa urbanização em determinadas áreas e construções pouco integradas; consequentemente, contaminação da água e do ar, problemas com o tratamento dos resíduos sólidos, ruído, congestionamento, pressão especulativa sobre os terrenos agrícolas, erosão das costas, entre outros.

Embora pareça um paradoxo, o principal e quase único prejudicado pelos problemas que gera é o próprio turismo (Boullón, 2000). De facto, quem vai sofrer com os erros que, por vezes, se cometem na exploração turística são os recursos naturais e culturais, os próprios turistas e as empresas de serviços, bem como os centros e corredores turísticos a eles ligados. Deste modo, de forma a potenciar os benefícios e a minimizar os problemas associados ao desenvolvimento do turismo é necessário definir alternativas ou estratégias de desenvolvimento

75 turístico que impliquem uma utilização responsável do espaço, harmonizando os interesses do próprio turismo, do meio ambiente e da comunidade local (Bote, 2001).