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Princípios para a implementação do turismo sustentável

1. INTRODUÇÃO

2.3. TURISMO

2.3.5. Turismo sustentável: operacionalização do conceito

2.3.5.3. Princípios para a implementação do turismo sustentável

A Agenda 21 for the Travel and Tourism Industry, publicada em 1995 pela Organização Mundial do Turismo, Conselho Mundial de Viagens e de Turismo e Conselho da Terra (WTTC, WTO, & EC, 1995), enunciou o papel a desempenhar para dar cumprimento aos objectivos da Agenda 21 (UNCED, 1992). Este documento preconiza o desenvolvimento turístico sustentável como aquele que permite atender às necessidades dos turistas e das regiões que os acolhem, no presente, sem perder de vista a satisfação dessas mesmas necessidades no futuro. O desenvolvimento, por sua vez, deve ser apoiado por uma gestão integrada dos recursos que possibilite satisfazer as necessidades económicas, estéticas e sociais, e preservar, em simultâneo, a integridade cultural, os ecossistemas, a diversidade biológica e os sistemas de suporte à vida.

Para que se possa compreender o alcance destas intenções, o documento alude a um conjunto de princípios de sustentabilidade do turismo, que podem ser observados na Tabela 29.

98 Tabela 29 - Princípios para o desenvolvimento turístico sustentável, mencionados na

Agenda 21 para o Sector das Viagens e do Turismo

O sector das viagens e do turismo deve contribuir para que as pessoas tenham uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza

O sector das viagens e do turismo deve contribuir para a conservação, protecção e recuperação do ecossistema terrestre

O sector das viagens e do turismo deve basear-se em modelos sustentáveis de produção e de consumo As nações devem cooperar no sentido de promover um sistema económico aberto, no qual as trocas de

serviços ao nível internacional relativos às viagens e ao turismo possam ocorrer numa base de sustentabilidade

As viagens e o turismo, a paz, o desenvolvimento e a protecção do ambiente são interdependentes Deve-se acabar ou tentar reduzir o proteccionismo na comercialização das viagens e do turismo A protecção do ambiente deve constituir uma parte integrante do processo de desenvolvimento turístico

As questões do desenvolvimento turístico devem ser tratadas com a participação dos cidadãos interessados e as decisões de planeamento devem ser tomadas ao nível local

As nações devem prevenir-se mutuamente sobre desastres naturais que possam afectar os turistas ou as áreas de destino turístico

O sector das viagens e do turismo deve promover a criação de emprego feminino e de membros da população autóctone

O desenvolvimento do turismo deve reconhecer e apoiar a identidade, a cultura e os interesses das populações autóctones

O sector das viagens e do turismo deve respeitar as leis internacionais que protegem o ambiente Fonte: Adaptado de WTTC, WTO, & EC (1995)

No Guide for Local Authorities on Developing Sustainable Tourism (WTO, 1998), a organização apela ao compromisso político como garantia de sucesso na implementação de planos e políticas para o desenvolvimento sustentável do turismo e reconhece que este depende também, em larga medida, da actuação dos agentes do sector e das atitudes dos turistas. Neste documento é enunciado um elenco mais elaborado de princípios para o desenvolvimento turístico sustentável (Tabela 30).

Tabela 30 - Princípios para o desenvolvimento turístico sustentável, enunciados pela WTO

Os recursos naturais, históricos e culturais devem ser preservados para utilização futura, ao mesmo tempo que permitem a obtenção de benefícios pela sociedade actual

O desenvolvimento turístico deve ser planeado e gerido de modo a que não se provoquem problemas graves ao nível ambiental e sociocultural na área de destino

A qualidade do ambiente na área de destino deve ser preservada e até melhorada, se necessário Deve-se procurar manter um elevado grau de satisfação do turista com a visita, de modo a que o destino

turístico conserve a sua atractividade e popularidade

Deve ser promovida uma ampla distribuição dos benefícios do turismo pela comunidade local Fonte: Adaptado de WTO (1998).

Outro marco importante verificou-se por ocasião da sétima sessão da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (CDS-7), que ocorreu em Abril de 1999, quando se discutiu o papel do turismo no desenvolvimento sustentável. Esta iniciativa destinou- se a fomentar o diálogo entre governantes e representantes dos principais grupos interessados

99 envolvidos no sector e a identificar orientações políticas no sentido de reforçar os impactos positivos do turismo no desenvolvimento sustentável das nações, tendo levado à criação de um Comité para o Turismo Sustentável.

Na Tabela 31 transcrevem-se as recomendações constantes da resolução aprovada no decurso desse evento.

Tabela 31 - Resolução adoptada pelo Comité de Turismo Sustentável, por ocasião da CDS- 7, da ONU

Os governos devem consultar e trabalhar em parceria com todos os grupos principais, incluindo a população autóctone e as comunidades locais de modo a facilitar a sua participação activa em todos os

níveis do processo de desenvolvimento turístico

Os governos devem maximizar o potencial do turismo para erradicar a pobreza

As empresas do sector do turismo devem desenvolver tipos de turismo que sejam compatíveis em termos ambientais, sociais e culturais

As empresas do sector do turismo devem fornecer informação aos turistas sobre os valores ecológicos e culturais das regiões de destino

As actividades turísticas (incluindo a sua publicidade) não devem englobar acções ilegais, abusivas ou de exploração de tipo algum

A ONU e a OMT devem promover o desenvolvimento sustentável do turismo com o propósito de aumentar os benefícios provenientes dos recursos turísticos para a população e as comunidades

receptoras, a par da manutenção da integridade ambiental e cultural destas comunidades A ONU e a OMT devem reconhecer as potencialidades resultantes da integração das Agendas 21

Locais com a Agenda 21 para o Sector das Viagens e do Turismo Fonte: Adaptado de Fullana & Ayuso (2002)

Em Outubro de 1999, foi aprovado o Código de Ética Global para o Turismo, na Assembleia-geral da OMT, realizada em Santiago do Chile. Este código compreende dez artigos que estabelecem os princípios éticos sobre os quais deve assentar a transição para o turismo sustentável. Com esta carta de princípios pretende-se maximizar os benefícios do turismo para as comunidades receptoras, a par da minimização de impactes negativos sobre o respectivo património natural e cultural. Reconhecendo a importância desta iniciativa, em Novembro de 2001, a ONU adoptou uma resolução a apoiar este código (Tabela 20).

As publicações Sustainable Development of Tourism: A Compilation of Good Practices (WTO, 2000), Sustainable Development of Ecotourism: A Compilation of Good Practices (WTO, 2001) e Sustainable Development of Ecotourism: A Compilation of Good Practices in

SMEs (WTO, 2003) dão conta da singular tarefa de compilação e divulgação de centenas de

casos de sucesso na aplicação de práticas de sustentabilidade, em dezenas de países de todo o mundo. Os factores que contribuíram para o sucesso ou sustentabilidade destes projectos foram os seguintes (WTO, 2000):

ƒ O envolvimento da comunidade local no processo de planeamento, desenvolvimento e gestão dos projectos;

100 ƒ A cooperação entre todos os interlocutores para a prossecução dos objectivos dos

projectos ou das iniciativas;

ƒ O compromisso com a protecção ambiental assumido por parte dos promotores; ƒ A monitorização contínua do desenvolvimento do projecto.

Para além destes factores principais, a existência de legislação pertinente ou de um quadro regulamentar rigoroso e de apoios ou subvenções governamentais (ou de outros organismos de apoio), também foram mencionados como aspectos relevantes para os bons resultados alcançados.

No âmbito das comemorações do Ano Internacional do Ecoturismo, que decorreu em 2002, foram organizadas diversas acções, entre as quais se destaca a Cimeira Mundial do Ecoturismo. Na Declaração de Ecoturismo de Quebeque (OMT & UNEP, 2002), resultante desta Cimeira, é apresentada uma definição de ecoturismo, com o objectivo de esclarecer o significado deste conceito relativamente ao de turismo sustentável. Afirmasse que o ecoturismo respeita os princípios de sustentabilidade do turismo, no que concerne às suas dimensões económica, social e ambiental, mas distingue-se do conceito mais vasto de turismo sustentável na medida em que prevê alguns princípios específicos:

ƒ Contribui activamente para a protecção do património natural e cultural;

ƒ Envolve a comunidade autóctone no processo de planeamento, desenvolvimento e gestão, contribuindo para o seu bem-estar;

ƒ Preconiza a existência de centros de interpretação do património natural e cultural para os visitantes;

ƒ Coaduna-se melhor com um tipo de turismo individual ou de pequenos grupos organizados.

Depois de abordados os princípios e recomendações que têm merecido maior relevo na literatura de turismo, resta acrescentar que, apesar de estes revestirem um inegável interesse, é certo que respeitam mais a processos do que a resultados. Importa, pois, dar conta da sua implementação prática, através de abordagens de operacionalização, referindo critérios e instrumentos.