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1. INTRODUÇÃO

2.3. TURISMO

2.3.2. Definição de turismo

2.3.2.5.1. Potenciais benefícios e malefícios do turismo

Quanto aos potenciais benefícios do turismo, estima-se que, combinados, o turismo doméstico e internacional contribuem para mais de 10% (10,2% em 2004, segundo o PENT,

64 2007) da totalidade dos empregos em Portugal, frequentemente garantidos por pequenos negócios localizados fora dos principais centros empregadores. Por este motivo, apoiar e desenvolver o sector turístico deverá ser uma opção estratégica a considerar pelas autoridades locais que aspiram ao desenvolvimento económico das suas regiões (Tabela 19). Para além dos benefícios económicos, um turismo fundado em princípios de sustentabilidade, contribuirá para o bem-estar social, cultural e ambiental de um local ou região.

Tabela 19 - Potenciais benefícios do turismo

• • • Protege e providencia uma fonte de receitas para o património natural e construído;

• • • Contribui para a melhoria da imagem externa e interna de uma região ou localidade;

• • • Atrai investimentos também fora do sector turístico, pela demonstração aos potenciais investidores de que o espaço/região é agradável para se localizarem;

• Um catalisador significativo para o crescimento económico e do emprego; Aumento da procura por outras actividades e negócios não turísticos; • Conduz à criação e manutenção de novos serviços e estruturas de suporte local e comunitário; • Permite um acréscimo da atenção dispensada ao ambiente e à necessidade de o proteger e preservar, encorajando uma mais rigorosa análise da importância dos ecossistemas locais;

• • Suporta e ajuda a manter serviços locais, como o comércio tradicional e restaurantes;

• • Providencia a reciclagem das competências pessoais, a formação e novas oportunidades de emprego; • • Permite receitas suplementares a todos os que procuram segundas oportunidades de negócio ou de emprego (tempo parcial, auto-emprego, etc.); • • Encoraja os residentes a permanecer nos seus locais de residência aproveitando aí os seus momentos de lazer e consumo; • • Encoraja a modernização e recuperação de edifícios e terrenos degradados ou abandonados;

• • Permite a manutenção e conservação da paisagem agrícola com recurso à revitalização das actividades agrícolas tradicionais (por norma mais ecológicas);

• Importa despesas e consumos de outros agentes exteriores para dentro do mercado local;

• Suporta e contribui para um programa mais extenso de actividades recreativas, culturais, desportivas e outras; • Ajuda a construir comunidades mais coesas e confiantes, e portanto, mais activas;

• Cria oportunidades de inclusão social e encoraja a diversidade cultural

Legenda: •económicos; • sócio/culturais; •ambientais Fonte: Nunes, 2008

Quanto aos malefícios do turismo, Rodrigues (1997) citado por Fratucci (2000) propõe uma sistematização das dimensões espacial e territorial do turismo a partir de três elementos organizadores: os pólos compostos pelas áreas emissoras de turistas, os pólos definidos pelas áreas receptoras e as linhas de ligação desses pólos por onde circulam os turistas e as informações. De acordo com Fratucci (2000) é nas áreas receptoras que podemos identificar o território do turismo ou o lugar turístico. É no lugar turístico que os fenómenos da procura e da oferta ocorrem e se intensificam as relações, utilizando-se para o feito os recursos primários e secundários disponíveis e as infra-estruturas de apoio.

65 O turismo apropria-se do território e dos seus recursos primários para desenvolver actividades, ultrapassa os limites geográficos dos territórios e unifica os espaços para satisfazer as necessidades que lhe são impostas pela procura por um lado, e por outro, para potenciar a oferta aumentado o leque da diversidade, verificando-se muitas vezes a “produção de territórios” para satisfazer a prática turística. Para Nicolás (1996), citado por Fratucci 2000, o turismo vai “turistificando” os lugares.

Na década de 1960 Boorstin (1964), citado por Banducci (2003), havia chamado a atenção para o carácter estandardizado e alienado da prática turística. Na perspectiva deste autor, a massificação é sinónimo de artificialidade. A procura da quantidade para adensar lucros é uma relação desprovida de responsabilidade social para com os outros participantes no sistema turístico e para com os stakeholders da área de destino, provocando desequilíbrios na gestão turística (no âmbito da capacidade de carga de um local21) onde a dimensão económica do turismo é enfatizada, ficando subestimada a dimensão social e ambiental.

O turismo deve primar pela construção de um lugar onde a abordagem territorialista ganhe expressão e o cidadão seja considerado parte integrante no planeamento do sistema de turismo, em detrimento da produção de um “não-lugar22” que gera artificialidade desrespeitando um legado inter-geracional construído de forma colectiva.

Face à previsão de que o Turismo Internacional quase triplicará o seu volume nos próximos vinte anos, os Membros da Organização Mundial do Turismo estão convencidos de que o Código Mundial de Ética do Turismo (Tabela 20) é necessário para ajudar a minimizar os efeitos negativos do turismo no meio ambiente e no património cultural, aumentando, simultaneamente, os benefícios para os residentes nos destinos turísticos.

Tabela 20 - Princípios do Código Mundial de Ética do Turismo

Código Mundial de Ética do Turismo

1 Contribuição do Turismo para a compreensão e o respeito mútuo entre homens e sociedades 2 Turismo, instrumento de desenvolvimento individual e colectivo

3 O Turismo, factor de desenvolvimento sustentável

4 O Turismo, factor de aproveitamento e enriquecimento do Património Cultural da Humanidade 5 O Turismo, actividade benéfica para os países e para as comunidades de destino 6 Obrigações dos agentes de desenvolvimento turístico

7 Direito do Turismo

8 Liberdade do deslocamento turístico

9 Direito dos trabalhadores e dos empresários da indústria turística 10 Aplicação dos princípios do Código Mundial de Ética do Turismo

Fonte: (WTO, General Assembly, 2001)

21 Ver “2.3.4.4.1. Planeamento estratégico e capacidade de carga”, página 108.

22 A definição de “não-lugar” é um conceito proposto por Marc Augé, antropólogo francês, para designar um espaço de passagem

incapaz de dar forma a qualquer tipo de identidade, isto é, segundo o autor todo e qualquer espaço que sirva apenas como espaço de transição e com o qual não criemos qualquer tipo de relação é um “não-lugar” (Augé, 2005).

66 Quando o fenómeno turístico é desenvolvido assente na sustentabilidade, podemos minimizar os impactos negativos do turismo e tirar benefícios das externalidades positivas que a actividade proporciona quer na óptica da oferta quer na óptica da procura, promovendo-se assim a prática de um turismo sustentável.