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1. INTRODUÇÃO

2.3. TURISMO

2.3.3. Turismo: estratégia de desenvolvimento local

2.3.3.1. Papel do turismo no Portugal rural

Quando não sabemos mais o que fazer por uma região rural frágil, quando o êxodo populacional parece ser inexorável, quando tudo o que podemos imaginar como apoio à

Efeitos globais: a incidência é sobre os objectivos gerais da política económica, abrangendo o conjunto do sistema económico, sendo, ao mesmo,

objectivos do próprio turismo

Efeitos parciais: efeito do turismo sobre os agentes, variáveis e macro-dimensões

fundamentais da economia nacional

Efeitos externos: efeitos de domínio sociocultural, físicos e

69 agricultura e aos agricultores parece ineficaz, um recurso é aparentemente sempre fácil: o turismo verde, ou seja, o turismo integrado nos espaços e nas sociedades rurais (Figueiredo, 2004). Esta tem sido a estratégia seguida, quer no âmbito da União Europeia, quer em Portugal ao longo da última década.

O turismo em espaço rural tardiamente foi reconhecido institucionalmente em Portugal, ainda que o Estado tenha tido um papel decisivo como impulsionador da constituição de uma oferta rural privada de alojamento turístico, sempre de muito pequena escala e diversificada nos tipos, nos modos de inserção local e nos serviços complementares oferecidos (Cavaco, 1999). O papel do Estado manifestou-se sobretudo na criação de instrumentos jurídicos e financeiros para avaliar as ofertas e enquadrar a criação e exploração das unidades de turismo em espaço rural. Se em 1983 houve o reconhecimento institucional deste tipo de turismo, pode-se dizer que só a partir da adesão do país à União Europeia em 1986, e no contexto dos diversos programas e medidas de desenvolvimento rural aplicados em Portugal desde então, o turismo começou a ser visto como instrumento de desenvolvimento.

Só a partir do inicio da década de noventa, o turismo se traduziu como parte integrante das políticas da União Europeia. A oferta de alojamentos turísticos associados ao espaço rural (turismo de habitação, agro-turismo, aldeias de tradição, turismo rural, turismo de natureza, etc.) foi-se intensificando, quer pelo incremento do número de unidades, quer pelo aumento da procura, ou ainda pela diversificação de actividades relacionadas. Para esta consolidação, os programas europeus como o LEADER23, o RIME24 e o SAJE25 foram fundamentais.

Assim, o turismo é, actualmente, em Portugal, como no contexto da maior parte dos países da União Europeia, encarado como uma importante ferramenta de desenvolvimento rural. Deste modo, o turismo tem vindo a ser reconhecido institucionalmente pelas suas potencialidades como factor de desenvolvimento, a várias escalas, nacional à local. São com efeito, múltiplos e de grande visibilidade aos seus impactos, directos, indirectos e induzidos (Cavaco, 1999).

Sendo uma actividade transversal que se apoia e complementa noutras actividades, particularmente a agricultura, o turismo interfere necessariamente nos contextos socioeconómicos a diversos níveis: demográfico, de emprego, ambiental, cultural. Neste sentido, os contributos do turismo para a revitalização da base social e económica das áreas rurais são relativamente difíceis de avaliar. Pode-se referir, que até agora, em Portugal o turismo em espaço rural tem pouco significado, em termos dos seus efeitos económicos, ambientais, sociais e outros. Tem no geral também pouco significado ao nível das comunidades locais

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Sigla que resume a expressão “Ligação Entre Acções de Desenvolvimento da Economia Rural”, programa comunitário que promove abordagens de desenvolvimento local em meio rural, proporcionando a experimentação e a emergência de novas soluções para os problemas do mundo rural.

24 Sigla que resume a expressão “Regime de Incentivos às Micro Empresas”, programa de incentivo ao desenvolvimento.

25 Sigla que resume a expressão “Sistema de Apoio a Jovens Empresários”, programa de estímulo, promoção e reforço da

70 (Cavaco, 1999). Estes aspectos relacionam-se com a afirmação de que o turismo em espaço rural embora constituindo um importante factor de diversificação da oferta turística, decisivamente não tem cumprido o seu papel, nomeadamente ao nível da necessidade de encontrar novas vocações para o espaço rural (Cavaco, 1999). Tal situação fica a dever-se principalmente ao facto de se tratar de uma actividade de natureza familiar e àquilo que pode ser denominado como um processo de desenvolvimento extremamente elitizado (Cavaco, 1999). Mais do que um instrumento de dinamização dos locais, o turismo rural em Portugal tem sido entendido e utilizado, ainda que a uma escala reduzida, como estratégia de recuperação e conservação do património pessoal e familiar, assim como mecanismo de requalificação do património cultural e natural das aldeias. Esta requalificação parece configurar um processo em que o rural é recodificado pelas suas funções de salvaguarda de memórias do passado, das tradições e do ambiental, protagonizada predominantemente pelos não rurais.

Em Portugal esta requalificação ou recodificação do rural tem subjacente um duplo consumo simbólico por parte dos protagonistas e dos visitantes, onde a profissionalização do típico se constitui como reinvenção do rural, estruturadora de novos produtos. O estado surge como agente de um terceiro consumo simbólico. Através dos programas e medidas que propõe, o Estado veicula um rural que é palco para actividades de actores secundários ou exteriores que têm, face àquele espaço, representações muito diversas das dos seus habitantes. Assim, o rural proposto pelo Estado e desejado pelos visitantes é relativamente imóvel, preservado nas suas características mais tradicionais (desde as actividades económicas às manifestações sociais e culturais).

Em Portugal o turismo rural parece dar origem sobretudo a um processo com base na perpetuação de particularidades que, em muitos casos, deixaram já de fazer parte do quotidiano rural e embora as áreas rurais tenham desde sempre atraído visitantes, apenas nos anos mais recentes procuram explicitamente desenvolver, imaginar e promover-se a si mesmas de um modo integrado, no sentido de se tornarem mais atractivas para os turistas e investidores (Figueiredo, 2004).

Estas estratégias de reinvenção ou recriação da imagem do rural estão assim intimamente associadas ao consumo turístico desse mesmo rural, passando pela comercialização da genuinidade e da autenticidade e pelo respectivo consumo. Neste sentido, pode referir-se que o turismo fortifica a recriação da ruralidade, através da transformação das características (reais ou idealizadas) tradicionais das áreas rurais em amenidades, em bens comercializáveis e em produtos consumíveis. Através da constituição do rural como produto que pode ser revitalizado, publicitado, vendido e comprado, estimula-se a competição entre os vários rurais e, de certa forma, favorece-se igualmente a reestruturação da própria identidade. Os lugares

71 comercializados passam assim a oferecer semelhantes tipos de produtos típicos e genuínos aos visitantes.

Associadas à constituição do rural como um bem comercializável, as estratégias de

marketing envolvem com muita frequência a construção ou fabrico selectivo de imagens

particulares dos lugares que se relacionam intimamente com as dinâmicas da economia global e legitimam concepções particulares acerca de quais são as respostas políticas e Estatais mais adequadas (Figueiredo, 2004).

Torna-se claro pensar, que as áreas rurais vocacionadas ou promovidas para o turismo em Portugal apresentam, num futuro mais ou menos próximo, bastantes afinidades, isto é, todos os rurais turísticos se assemelharão e tenderão a oferecer paisagens, festivais, alojamentos, etc., pouco diversificados.