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3. O CASO DO CONCELHO DE CORUCHE

3.3. PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM TURISMO SUSTENTÁVEL NA

3.3.2. Um plano para o desenvolvimento do turismo

3.3.2.1. Enquadramento

O plano de desenvolvimento do turismo para o Concelho de Coruche, com especial enfoque sobre a área de floresta de Montado do território, tem como objectivo, a partir da auscultação aos stakeholders e da interpretação das percepções dos residentes locais realizada, definir a missão e uma a visão para o turismo no concelho e contextualizar, quanto possível, o papel dos actores locais, públicos e privados, na afirmação de uma estratégia comum, propondo- se um conjunto de intervenções que contribuam para consolidar o desenvolvimento turístico no concelho, tirando partido, não só, da sua posição geográfica central a nível nacional mas, também, como zona de interface com o restante território da Região de Lisboa e Vale do Tejo e Região do Alentejo, valorizando, complementando e potenciando as suas especificidades neste contexto de proximidades.

O plano desenvolve-se a partir de três pressupostos iniciais: O património natural e o património cultural, tangível e intangível, constituem os recursos primários para a configuração do destino turístico Coruche; O inventário dos recursos turísticos é relevante e deve ser actualizado como forma de assegurar a consolidação dos recursos turísticos; O turismo deve ser abordado, num quadro de municipalização crescente do turismo, como um sector de diversificação da economia local dinamizado pela autarquia local.

Existe a consciência que o concelho de Coruche não tem um percurso turístico relevante, porventura devido à proximidade do concelho de Santarém, que possuí recursos patrimoniais de grande importância nacional, gerando-se um efeito de “sombra” sobre o concelho. Importa então perceber como poderá Coruche tirar proveito dessa proximidade na potencialização do seu próprio território, identificando os recursos turísticos existentes, conhecendo a razão porque não se intervém, por exemplo, na recuperação e valorização do património construído ou porque não se aposta verdadeiramente no turismo como sector alternativo e diversificado para a económica local.

171 A identificação dos recursos turísticos é um exercício delicado porque, se for muito abrangente e pouco selectivo, poderá induzir uma ideia errónea sobre as reais capacidades turísticas do território. Nem todos os recursos, mesmo aqueles que possuem simbolismo para a comunidade e que contribuem para a construção da sua identidade, possuem potencialidades turísticas.

É de extrema importância concretizar políticas de desenvolvimento sustentável. As propostas que se seguem constituem um contributo, e porque não um ponto de partida, para o enorme desafio que é a construção do futuro de uma forma responsável e consciente. É no entanto fundamental que este caminho seja percorrido com a participação e envolvimento da população, das instituições e dos agentes económicos do concelho, porque só com o efectivo contributo de todos é possível transportar Coruche no rumo pretendido.

3.3.2.2. Concepção do plano de desenvolvimento

O turismo no Concelho de Coruche deverá ser considerado como sector estratégico num quadro diversificação da economia local, devendo ser alvo de aposta de intervenção por parte das “forças” públicas e privadas do concelho, e é nesse sentido que se opta por uma estratégia alicerçada nos recursos endógenos do território e nas identidades culturais como forma de alcançar um desenvolvimento que se pretende sustentável.

Considera-se que o dinamizador primário para a concretização do plano é o Município de Coruche e os dinamizadores secundários os agentes privados do concelho e da região. No esforço de desenvolvimento do turismo de Coruche os pressupostos referidos determinam um campo estratégico no qual:

ƒ A área de intervenção é a definida pelos limites do concelho de Coruche; As intervenções devem concentrar-se sobre:

o Valorização e desenvolvimento de recursos e produtos (p.e. o museu municipal e um parque temático);

o Equipamentos e serviços de apoio aos turistas para satisfazer as necessidades decorrentes da sua estada (p.e. um parque de campismo e caravanismo);

o Comunicação de marketing: institucional, através da criação de marca e imagem e reconhecimento pelos mercados (p.e. promoção em feiras de turismo); promocional, através da captação e fidelização de visitantes (p.e. cartazes outdoor);

o Acessibilidades, sinalização e informação turística (p.e. posto de informação turística e sinalética);

172 o Na envolvente, ao nível inter-municipal (p.e. na Lezíria do Tejo para marketing

institucional como destino turístico);

o No sistema interno, em coordenação com outras áreas: cultura, ambiente, desporto, educação (p.e. para organização de eventos) e em parcerias público- privado (p.e. para a construção de um parque temático relacionado com o rio, a agricultura e o Montado).

Com este plano pretende-se contribuir para a “pilotagem” do turismo de Coruche de uma forma interactiva, basicamente qualitativa e muito apoiada nas políticas activas nacionais, regionais e municipais. Este plano é assim um quadro de referência para a intervenção proactiva dos agentes públicos em conjunto com os outros actores do sistema turístico e cívico, uma matriz para o desenvolvimento do turismo no concelho.

3.3.2.3. Planeamento Interactivo

A concepção de planeamento interactivo traduz-se no seguinte (Centro de Estudos de Turismo e Cultura do IPT, 2005):

ƒ Os objectivos são expressos em visões de mudança e o sucesso do plano mede-se pelas acções acordadas, pela contratualização e pelas mudanças resultantes, não através de metas quantitativas de crescimento de produto, de número de camas ou outras;

ƒ O essencial da estratégia visa definir um conceito para o território enquanto destino turístico e tomar opções sobre as fontes de vantagens competitivas em que se deve apostar;

ƒ As propostas centrais do plano apontam intervenções consideradas estruturantes, i.e. com capacidade de integrarem um fio condutor de uma estratégia integradora de projectos e acções com efeitos sinérgicos sobre um produto turístico total a consolidar no território;

ƒ O plano não pretende abarcar a totalidade do processo turístico actual e futuro, o plano apresenta propostas com efeitos de alavanca, i.e. com capacidade para gerarem impactes positivos que ampliem o seu efeito isolado, e com um sentido estratégico unificado numa visão de futuro que confere um fio condutor à estratégia;

ƒ Deverá haver interacção com os diversos actores relevantes para o processo de desenvolvimento turístico, em busca da concretização de acções.

173 3.3.2.4. Horizonte, visão de futuro e objectivos estratégicos

O desenvolvimento do turismo, por se tratar de um processo de mudança territorial, num concelho como o de Coruche deve ser pensado em horizontes de longo prazo como forma de antecipar futuros e gerar dinâmicas. O horizonte 2020 cumpre esses requisitos. A próxima década é um período no qual se inscreve o derradeiro quadro comunitário de apoio, o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) de 2007-2013. Este quadro assume-se como uma ferramenta de grande importância na promoção do potencial humano, na valorização do território e dos factores de competitividade.

Outros instrumentos territoriais estratégicos, de cariz nacional, regional ou municipal, são também preponderantes no desenho do futuro. São eles o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT), o Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT), a Agenda 21 para a Lezíria do Tejo, o Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo (PROT-OVT) e o Plano de Desenvolvimento Estratégico Coruche 2020.

Significa isto que as acções inseridas no quadro da estratégia preconizada visam gerar mudanças em direcção a uma situação desejada, possível e, sobretudo, ancorada no potencial endógeno do território, com especial ênfase para os recursos disponibilizados pela floresta de Montado, e das pessoas e nas identidades locais que afirmam as diferenças genuínas e atraem os visitantes de forma sustentável.

A visão de futuro expressa em termos qualitativos e prospectivos, os objectivos enquanto intenções de mudança e as orientações estratégicas consubstanciadas em acções são apontados para um horizonte de longo prazo que se pode concretizar por volta de 2020, visto estarmos a falar de um horizonte prospectivo e não de um termo de programação.

3.3.2.5. Situação do turismo no concelho de Coruche

A situação do turismo no concelho de Coruche caracteriza-se em traços largos por:

ƒ A actividade turística no concelho é praticamente incipiente e de muito pouco valor acrescentado, resumindo-se a algum turismo rural e turismo cinegético de qualidade e à realização de alguns eventos gastronómicos que atraem visitantes;

ƒ O touring cultural apresenta poucos argumentos. A sede de concelho possui um centro histórico com interesse mas em decadência. Genericamente o concelho possui algum património religioso e não religioso construído de relevância;

ƒ As actividades turísticas relacionadas com o Rio Sorraia são praticamente inexistentes e pode-se mesmo afirmar que as potencialidades do rio se encontram manifestamente subaproveitadas;

174 ƒ À imagem do subaproveitamento do Rio Sorraia, também as potencialidades do

Montado de Sobro se encontram desaproveitadas, com excepção para a actividade cinegética;

ƒ Verifica-se algum lazer de fim-de-semana baseado na recuperação de algumas casas tradicionais alugadas ou para 2ª residência;

ƒ O turismo escolar e juvenil tem alguma expressão (quintas temáticas, p.e. Cantar de Galo);

ƒ Alguns eventos desportivos e gastronómicos realizados ao longo do ano atraem visitantes.

Constata-se assim uma situação muitíssimo distante do que se pode considerar um destino turístico competitivo, mesmo em parâmetros regionais. O concelho tem argumentos interessantes ao nível dos recursos primários de atractividade, principalmente os naturais com foco no espaço de Montado, mas não se tem conseguido afirmar como destino turístico.

Além do mais, o nível de notoriedade e reconhecimento de Coruche como destino turístico pelos mercados é praticamente nulo, mesmo no mercado doméstico regional, o que é resultado de debilidades estruturais, de uma envolvente geográfica adversa.

3.3.2.6. Questões-chave para a estratégia turística

Visitantes e turistas: Muitas vezes, quando falamos em turistas, referimo-nos a visitantes de uma forma geral, englobando turistas e visitantes de dia. Devem ser prosseguidas estratégias dirigidas de uma forma genérica à atracção de visitantes, o que não significa deixar de ter presente o objectivo de conseguir uma cada vez maior importância dos turistas nesse conjunto, isto é de criar condições de atractividade, de actividades e de facilidades para que haja estadas mais longas no concelho.

As fronteiras entre o turismo e o recreio e lazer tendem a desaparecer, pelo que um plano de desenvolvimento do turismo não se deve limitar aos segmentos estritamente turísticos, isto é, necessariamente associados ao alojamento turístico.

Considera-se interessante um projecto de parque temático relacionado com o Rio Sorraia, com a Actividade Agrícola e com o Montado de Sobro (fauna, flora e produtos do Montado, como a cortiça ou o mel), que destaque as potencialidades endógenas do concelho.

Segundas residências: A procura de segundas residências associada às necessidades de lazer e recreio de fim-de-semana e férias significa um mercado com algum potencial e interesse para o concelho.

Para além do acolhimento às procuras e ao investimento, propõe-se mesmo uma política activa municipal para estimular este segmento, o que pode constituir um elemento muito eficaz

175 de marketing territorial e ao mesmo tempo ser decisivo na revitalização de alguns núcleos rurais, alguns deles já abandonados.

Nível de reconhecimento e imagem nos mercados: O défice de notoriedade e reconhecimento é provavelmente a maior limitação actual de Coruche. Neste contexto prevêem- se mudanças substanciais, p.e. ao nível das acessibilidades, que atenuarão o défice referido, nomeadamente a construção do IC-13, actual EN-119, que ligará Alcochete a Coruche e a construção do novo Aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete.

Verifica-se contudo outras dificuldades de atracção territorial, nomeadamente ao nível da captação de investidores. Esta questão ultrapassa contudo o domínio do turismo, e não tem apenas a ver com dificuldades de comunicação, não se resolvendo apenas com soluções promocionais ao nível de campanhas de marketing turístico, a situação requer soluções globais e deve ser vista num quadro de projecto territorial e de políticas municipais activas que conjuguem acções diversas. Nestes termos o PROT-OVT e o Plano de Desenvolvimento Estratégico Coruche 2020 ganham preponderância e a sua consideração é de máxima relevância.

Cooperação inter-local e regional: Face ao posicionamento geográfico de Coruche e às dinâmicas e interesses dos outros municípios da Lezíria do Tejo, faz todo o sentido pensar em formas de organização estruturadas a esse nível, propondo-se mesmo um reforço na cooperação com a Entidade Regional de Lisboa e Vale do Tejo, no sentido de garantir uma intervenção mais eficaz no desenvolvimento de produtos e na promoção do destino.

3.3.2.7. Orientações seguidas na formulação estratégica

A estratégia apoia-se na definição de um conceito genérico de posicionamento: “NATUREZA, IDENTIDADE E RURALIDADE NO RIBATEJO”. E num desígnio:

“CORUCHE INSPIRA81”

O conceito e o desígnio são desenvolvidos em termos de posicionamento geral numa visão de futuro (consultar ponto 3.3.7.).