O conceito de efetividade organizacional é importante e, ao mesmo tempo, complexo para ser trabalhado dentro da área acadêmica de Administração; importante porque o contexto ambiental atual é o de acirramento da competitividade global, e complexo porque existem diferentes tipos de conceitos e formas de acessá-lo (SCOTT, 2003). Desconsiderando-se a ambigüidade e a confusão no tratamento, esse construto é fundamental para a ciência administrativa, para ser ignorado pela teoria e pela pesquisa científica (CAMERON, 1986).
A definição do conceito pode variar de acordo com o tipo de enfoque que um estudo apresenta para as organizações. Um estudo que adote a perspectiva do modelo racional de organizações, provavelmente, vai mensurar a efetividade organizacional por meio do atendimento ou não dos objetivos da organização (SCOTT, 2003). Na perspectiva do modelo natural, a mensuração da efetividade vai incluir aspectos como, por exemplo, satisfação, motivação dos funcionários (SCOTT, 2003). Nos sistemas abertos, o foco recai em aspectos que possibilitam a manutenção das atividades de processamento das organizações, na habilidade de detectar mudanças ambientais e a elas responder, fazendo a aquisição e o processamento de informações (comunicação) se tornarem um aspecto crítico para a efetividade (SCOTT, 2003).
Cameron (1978) identificou no conjunto teórico existente quatro tipos de aspectos que influenciam a caracterização da efetividade organizacional.
a) Aspectos organizacionais – a efetividade seria igual a objetivos atingidos;
efetividade igual à aquisição de recursos valiosos e escassos, relação com o ambiente; ou efetividade é igual a processos e práticas internos com articulação de preferências, percepção de demanda e tomada de decisão.
b) Universalidade x especificidade – a efetividade possui o mesmo critério de avaliação para todas as organizações; ou para organizações diferentes existem critérios diferentes para a mensuração da efetividade.
c) Normativo x descritivo – organizações efetivas necessitam apresentar um conjunto de características específicas que, se elas não possuírem, não podem ser efetivas;
ou primeiro as características das organizações devem ser descritas, para depois os critérios de avaliação serem elaborados.
d) Dinâmico x estático – os estudos sobre efetividade tendem a ser transversais, visão estática de inputs, processo e output, ao invés de adotarem uma perspectiva longitudinal.
O nível de análise também interfere nos estudos sobre efetividade (CAMERON, 1978). Para um nível de análise ambiental, a efetividade é a habilidade de se adaptar ao ambiente; para um nível de organizacional, a efetividade pode estar relacionada aos objetivos, processos e características da organização; com um nível departamental, a efetividade está relacionada às contribuições e à coordenação entre os departamentos; e tomando como nível de análise o indivíduo, a efetividade pode ser indicada pelo comportamento individual e/ou satisfação (CAMERON, 1978).
Outro fator que influencia a análise do conceito de efetividade é o tempo (SCOTT, 2003 e CAMERON, 1978). Hall (1984) mostra que até para o lucro, critério essencialmente objetivo, o fator tempo interfere na questão da efetividade, pois é necessário conduzir a análise para
avaliar o curto e/ou o longo prazo. Cameron e Whetten (1981) mostraram que a noção de efetividade varia de acordo com o estágio de ciclo de vida das organizações. Ele identificou que, para diferentes níveis de análise, a importância do conceito de efetividade variou para diferentes ciclos de vida, como mostra a figura abaixo:
Figura 3: Importância da efetividade por ciclo de vida.
Fonte: adaptado de Cameron e Whetten (1981).
Scott (2003) identifica três indicadores para realizar a mensuração da efetividade organizacional: resultados, processos e estruturas. Os indicadores de resultados estão relacionados aos objetos nem que a organização realizou algum tipo de operação. Eles não representam claramente a qualidade de desempenho porque podem ser influenciados por condições ambientais favoráveis. Os indicadores de processo focam na quantidade ou na qualidade das atividades desenvolvidas pelas organizações e não nos resultados dessas atividades. Eles sofrem limitações para a realização da coleta de dados por sua própria natureza. Indicadores de estrutura enfocam a capacidade que uma organização tem para conseguir desempenho efetivo.
A efetividade de um processo decisório está ligada à qualidade e aos resultados gerados pela decisão tomada. Porém é característica de qualquer processo decisório a existência de incerteza e/ou ambigüidade (DAFT; LENGEL, 1986). Incerteza, segundo Galbraith (1977 apud DAFT; LENGEL, 1986), é a diferença entre a quantidade de informação requerida e a
quantidade de informação que a organização possui para realizar uma ação. E ambigüidade, é a existência de múltiplas e, às vezes, conflitantes interpretações a respeito de uma situação, em que não se possui certeza a respeito de como caracterizá-la nem de como solucioná-la (DAFT; LENGEL, 1986).
Para Daft e Lengel (1986), as organizações processam informações para reduzir a ambigüidade e/ou a incerteza dentro das atividades que elas operacionalizam, cujos administradores possuem racionalidade limitada e executam atividades com restrições de tempo. Os autores desenvolvem uma matriz dois por dois, que avalia a relação entre ambigüidade e incerteza dentro do contexto organizacional, como mostra a figura abaixo:
Incerteza
Figura 4: Relação entre ambigüidade e incerteza.
Fonte: baseado em Daft e Lengel (1986).
A partir dessa idéia, quanto menor for a existência desses dois aspectos durante um processo decisório, maior será o potencial para a decisão ser efetiva (CLEMEN, 2001; DAFT;
LENGEL, 1986). De fato, essa relação entre comunicação e incerteza/ambigüidade ainda se torna mais explícita a partir da reflexão feita por Menezes (1973, p. 157).
[...] a comunicação é, por natureza, um processo aleatório, variável, probabilístico: só ocorre comunicação quando a conduta comporta certo grau de incerteza. Com efeito, se pudéssemos predizer com antecedência exatamente aquilo que alguém vai proferir [...] não haveria necessidade de que ele falasse, e excluiríamos assim a possibilidade de ocorrência do fenômeno comunicativo.
Baixa
Nesta dissertação, em coerência com o objeto de estudo e o desenvolvimento do referencial teórico-empírico apresentado até este ponto, o modelo adotado para orientar as análises a respeito da efetividade nas organizações cooperativas é o modelo de recursos, que avalia a comunicação dentro do processo decisório e a relação entre a cooperativa e seus cooperados, por meio de processos de comunicação. Essa escolha é realizada porque, para uma organização cooperativa, a efetividade está relacionada à manutenção dos seus associados que, a partir de uma analogia, podem ser interpretados como o principal recurso de uma organização cooperativa, pois sem a presença deles, a cooperativa deixaria de existir.
Após essa simplificada explanação dos aspectos que envolvem a questão da efetividade, agora serão apresentados os aspectos ligados à questão da comunicação5, segunda parte do referencial teórico-empírico e um dos focos de análise desta dissertação.