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4.3 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DECISÓRIO, DA COMUNICAÇÃO

4.3.1 Características do processo decisório A

4.3.1.4 Efetividade da comunicação organizacional no processo decisório A

As análises de efetividade da comunicação organizacional, dentro do processo decisório A, apresentaram características interessantes. Os cinco aspectos (acesso; tempo; clareza;

combinação entre canal e natureza; e redução de ambigüidade e incerteza) levantados na base teórico-empírica para a avaliação da efetividade estiveram presentes na decisão A. Porém o

comportamento do fator tempo parece ter influenciado a questão do acesso, da clareza e da redução da ambigüidade e incerteza para a decisão A.

De acordo com os dados coletados, cerca de dois anos se passaram entre a elaboração da proposta e a tomada de decisão no processo decisório A, ou seja, a organização A teve tempo disponível para buscar ou criar as informações necessárias para a tomada de decisão como mostra a seguinte passagem: “a gente tinha dificuldade de levantar esses números [informação para a decisão]... só demorava um pouco mais” (ENTREVISTADO 1). A existência de um prolongado período de tempo disponível para a tomada de decisão parece ter influenciado os aspectos, acesso à informação e clareza das informações, envolvidos nas análises da efetividade. Essa constatação é coerente com o que March e Simon (1966, p. 209-210) propõem:

[...] aos efeitos da pressão do tempo, podemos predizer que o padrão das comunicações terá maior influência nas atividades não programadas, realizadas com prazo marcado e sob a pressão do tempo, do que sobre atividades que exijam processos decisórios relativamente lentos e ponderados. Havendo tempo suficiente, se uma determinada informação estiver disponível em qualquer setor da organização, e for pertinente a uma determinada decisão, esse fato provavelmente será notado [se não, a organização poderá criá-la]. Entretanto, quando as decisões são tomadas com relativa rapidez, é provável que somente sejam aproveitadas as informações disponíveis no próprio local14.

A organização A teve tempo suficiente para buscar ou elaborar as informações no seu processo decisório, situação que acabou influenciando o aspecto acesso, pois se a informação

14 Outra forma de exemplificar essa questão consiste em fazer uma analogia com uma partida de xadrez utilizando um contador regressivo que marque o tempo para fim da partida. Enquanto houver tempo disponível para os jogadores refletirão sobre o maior número possível de jogadas que podem ser executadas para minimizar as possibilidades de erros. Na medida em que o tempo vai acabando, os jogadores precisam levar em consideração um número cada vez mais limitado de possibilidades de jogadas para serem executadas, se eles não quiserem perder a partida pelo fim do seu tempo disponível.

A pressão do tempo no caso do jogo de xadrez aumenta a possibilidade de os jogadores realizarem jogadas equivocadas e acabarem perdendo a partida. De modo similar, acontece com os processos decisórios organizacionais, como propõem que March e Simon (1966); a pressão do tempo aumenta a possibilidade de uma decisão ser equivocada, pois restringe o tempo necessário para análise das informações e alternativas para uma determinada decisão.

não existisse, havia tempo hábil para buscá-la ou criá-la; e o aspecto clareza, porque se não ocorresse entendimento mútuo entre emissor e receptor havia tempo hábil para promovê-lo.

Assim, o fator tempo, conseqüentemente, influenciou a redução da ambigüidade e da incerteza na decisão A, demonstrada nas análises anteriores. Porém, de acordo com o entrevistado 2, ainda faltou maior consistência nas previsões de mercado a longo prazo, cerca de dez anos, que poderiam alterar o tamanho da indústria na proposta.

A combinação entre canal de comunicação e natureza do assunto em pauta, proposta por Lengel e Daft (1988), não foi verificada dentro dos processos de comunicação para a decisão A. De acordo com os dados apresentados, a reunião foi o canal de comunicação mais utilizado nessa decisão; por meio dele foram abordadas informações do tipo rotineiro e não-rotineiro (LENGEL; DAFT, 1988). Essa situação não caracterizou uma falha nos processos de comunicação, como propõem os autores, visto que, no final do processo, ocorreu entendimento entre o emissor e receptor. Aparentemente, a concentração no canal reunião pode estar ligada ao efeito multiplicador, proposto por March e Simon (1965), que ocorre quando um instrumento é utilizado com “freqüência para um determinado fim, fica estimulada a sua utilização também para outros fins não correlatos” (MARCH; SIMON, 1966, p. 208).

De acordo com o conjunto de dados coletados, a utilização de canais “pobres” (LENGEL;

DAFT, 1988) pareceu estar ligada ao grau de formalidade (SIMON, 1965; BARNARD, 1971) dos processos de comunicação, ou seja, para as resoluções, instruções, normas e regras foram utilizados os canais “pobres” (LENGEL; DAFT, 1988); essa situação não estava relacionada ao tipo de informação, rotineiro ou não-rotineiro, que era transmitido (LENGEL; DAFT, 1988).

A partir dos dados apresentados, a decisão da organização A ainda pode ser relacionada a mais um aspecto identificado por Simon (1965). Essa decisão pode ser considerada como

“irreversível”, porque ela criou uma situação organizacional que influencia as decisões e atividades subseqüentes da organização. Como mostram as citações a seguir:

O grande negócio é que a gente tá podendo crescer, porque a gente tem espaço para crescer até este ano [...] por isso que foi tomada a decisão para este novo investimento [construção da nova torre], pois se nós quisermos continuar crescendo na taxa que nós vínhamos crescendo, nós tínhamos que ter mais investimento [...] A gente pode ampliar nossos clientes, podemos fazer parceria mais a longo prazo...

(ENTREVISTADO 1).

Este investimento influenciou diretamente com abertura de mercado com nossos clientes, com grandes clientes [...] Abriu novos mercados, tinha um potencial que nós conseguimos explorar, conseguimos um diferencial no produto (ENTREVISTADO 2).

Essa decisão balizou tudo o que está acontecendo hoje. A sustentabilidade hoje é devida àquele investimento (ENTREVISTADO 4).