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A palavra “protocolo” tem origem no latim medieval, protocollum, abrangendo um leque extenso de significados. Um de seus significados é o plano detalhado de um experimento, tratamento ou procedimento científico ou médico (MERRIAM-WEBSTER, 2018). Assim sendo, com o objetivo de sistematizar informações quanto às necessidades das crianças com TEA em relação aos aspectos construtivos de um

ambiente, foi elaborado um “Protocolo para identificação das necessidades da criança

com TEA (PIN-TEA)".

4 - MÃE e MENINO 5 - CASAL DE PAIS e ADULTO Apartamento com sete cômodos. Para a mãe a

casa não precisa ficar arrumada, o importante é o filho ficar bem.

Apartamento grande em rua movimentada. Mal iluminado.

Vestibular Móveis (balcão, sofá). Espaço na casa. Paredes. Piscina. Rede. Rede de sentar. Balanço. Pula-pula.

Pátio. Muito espaço livre (sem obstáculos). Tapete. Móveis na circulação. Parde, janela, grade e tela

de proteção.

Proprioceptivo Cobertas pesadas, lençol sensorial, balanço de

Lycra. Sofá.

Tatil _ _

Auditivo Barulho para os vizinhos. Layout da casa. Portas.

Música. Aparelho de som. Barulho de gente. Barulho da TV. Volume dos sons. Barulho para os

vizinhos.

Visual

Luz natural. Pouca luz artificial, penumbra. Organização (brinquedos, livros, roupas). Breu

para dormir. Espelho

TV, organização da casa, sacada (movimento da rua). Luz. Enfeites. Ventilador de teto.

Olfato _ Perfumes, cremes, incenso. Cheiro das coisas. Rede. Painéis de informações. Alvo dentro do vaso

sanitário. Espaços livres, aparelhos de som, organização. Aspectos gerais SI ST EM A S EN SORI A L Adaptações na casa

Atributos do ambiente relacionadas ao processamento sensorial, citados nas entrevistas com as mães e observados nas visitas ENTREVISTAS e OBSERVAÇÔES

As características comuns entre as crianças com TEA foram reconhecidas na análise das informações coletadas nas entrevistas, no levantamento de características ambientais e recomendações presentes nas publicações destacadas na revisão da literatura, no Perfil Sensorial 2 (DUNN, 2017) e na área sensorial da CARS (SCHOPLER et al., 2010). No entanto, foram as visitas que possibilitaram à pesquisadora observar os comportamentos resultantes da sensibilidade aos estímulos do ambiente construído. As quatro crianças e o adulto visitado demonstram maneiras diferentes de interagir, ou não interagir, com o ambiente construído, assim como, apresentaram maneiras particulares de comunicação. Cada um deles, em algum momento da visita, usou elementos do ambiente construído para demonstrar um desejo ou um desconforto. As visitam revelaram diferenças entre os indivíduos com TEA e os neurotípicos, bem como diferenças entre aspectos comuns a estes indivíduos.

Para a elaboração do PIN-TEA as informações sobre as sensibilidades e os

comportamentos adaptativos resultantes dos estímulos do ambiente construído, foram relacionadas aos aspectos que compõem o ambiente construído. Os comportamentos resultantes da sensibilidade alterada aos estímulos do ambiente construído, assim como as características em comum e as diferenças entre as crianças com TEA levaram a definição das nove categorias de perguntas, apresentadas no Quadro 20. As perguntas são relacionadas à forma de comunicação, às sensibilidades e aos comportamentos das crianças com TEA que resultam nos requisitos destas crianças para elaboração de projetos de interiores.

Quadro 20 - Categoria de perguntas que compõem o PIN-TEA.

(fonte: Elaborado pela Autora).

CATEGORIA DE PERGUNTAS DO PIN-TEA 1 - Características e requisitos da criança relacionados a forma de comunicação.

2 – Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados à aspectos do layout e da organização do espaço. 3 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados a texturas e cores de acabamentos e revestimentos. 4 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados à organização de brinquedos, livros e objetos de decoração. 5 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados à Iluminação.

6 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados à acústica.

7 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados à ventilação, aquecimento e climatização. 8 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados a cheiros.

As perguntas que compõem o protocolo PIN-TEA são referentes aos comportamentos apresentados pela criança com TEA para a qual será desenvolvido um projeto de interiores. As perguntas estão agrupadas de acordo com a forma de comunicação da criança, os aspectos técnicos de projeto e uso do banheiro. Cada ambiente possui características sensoriais próprias que afetam a participação do usuário (DUNN, 2017). Assim sendo, o esperado é que as respostas dadas à estas perguntas levem à definição dos requisitos da criança com TEA.

1 - Características e requisitos da criança relacionados a forma de comunicação:

A identificação de características gerais da criança, como processam informações, pretendem proporcionar ao profissional um entendimento mais amplo dos comportamentos (SCHOPLER et al., 2010).

- Perguntas relacionadas à comunicação identificam necessidades básicas da criança em relação ao ambiente construído (KHARE; MULLICK, 2009; KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2015; NAGIB, 2014; SCHOPLER et al., 2010). A compreensão de comandos verbais e da forma como se comunicam indicam necessidades relacionadas a interação com o ambiente.

- As perguntas relativas à supervisão e a falta de sensibilidade aos estímulos sensoriais e as perguntas relativas aos comportamentos defensivos de fuga ou evitação e/ou comportamentos de autorregularão identificam aspectos relacionados a proteção e segurança da criança (CHERRY, 2012; CRITZ; BLAKE; NOGUEIRA, 2015; REEVES, 2012).

2 – Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados à aspectos do layout e da organização do espaço:

Perguntas referentes a layout e organização do espaço tem o objetivo de identificar aspectos relativos à previsibilidade e à regularidade do ambiente construído (BAUMERS, 2012; BEAVER, 2006; BOYLE, 2016; BRADDOCK; ROWELL, 2011; CHERRY, 2012; KHARE; MULLICK, 2009, 2013; KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2015; MOSTAFA, 2015, 2008, 2014b; NAGIB, 2014; NAGIB; WILLIAMS, 2017; REEVES, 2012).

As respostas a essas perguntas indicarão a necessidade de espaços cheios ou livres, tipo e quantidade de mobiliário, fornecimento de elementos especiais para tranquilizar ou estimular a criança e áreas de transição entre ambientes.

3 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados a texturas e cores de acabamentos e revestimentos:

Essa categoria de perguntas abrange aspectos das características de sensibilidade vestibular, proprioceptiva, tátil e visual da criança, que podem influenciar na especificação de acabamentos e revestimentos (BAUMERS, 2012; BEAVER, 2006; BOYLE, 2016; BRADDOCK; ROWELL, 2011; CHERRY, 2012; CRITZ; BLAKE; NOGUEIRA, 2015; KHARE; MULLICK, 2013; KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2015; MOSTAFA, 2008, 2014b; NAGIB, 2014; NAGIB; WILLIAMS, 2017; REEVES, 2012).

4 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados à organização de brinquedos, livros e objetos de decoração:

Essa categoria de perguntas trata da sensibilidade visual e da funcionalidade da criança no ambiente (BRADDOCK; ROWELL, 2011; CHERRY, 2012; KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2015; MOSTAFA, 2008; REEVES, 2012) com o objetivo de identificar aspectos relacionados à rotina, comunicação, funcionalidade e autonomia da criança. 5 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados à Iluminação: Essa categoria de perguntas trata da sensibilidade visual e auditiva (BAUMERS, 2012; BEAVER, 2006; BOYLE, 2016; BRADDOCK; ROWELL, 2011; CHERRY, 2012; KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2015; MOSTAFA, 2008, 2014b, 2015; NAGIB, 2014; NAGIB; WILLIAMS, 2017; REEVES, 2012; RIJN, 2012) com o objetivo de identificar características de iluminação que podem interferir nas horas de sono e vigília da criança.

6 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados à acústica: Essa categoria de perguntas trata da sensibilidade auditiva, vestibular e proprioceptiva (BAUMERS, 2012; BEAVER, 2006; BOYLE, 2016; BRADDOCK; ROWELL, 2011;

CHERRY, 2012; CRITZ; BLAKE; NOGUEIRA, 2015; KANAKRI et al., 2017a; KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2015; MOSTAFA, 2008, 2014b, 2015; NAGIB, 2014; NAGIB; WILLIAMS, 2017; REEVES, 2012). Características acústicas dos materiais de acabamentos e revestimentos e eletrodomésticos ruidosos podem interferir na sensibilidade auditiva da criança, bem como alguns comportamentos inapropriados da criança podem causar barulho dentro e fora do ambiente.

7 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados à ventilação, aquecimento e climatização:

Essa categoria de perguntas abrange a sensibilidade tátil, visual e auditiva que podem influenciar na escolha de equipamentos para ventilação, aquecimento e climatização e na especificação de acabamentos e revestimentos (BEAVER, 2006; BRADDOCK; ROWELL, 2011; CHERRY, 2012; KANAKRI et al., 2017a; KHARE; MULLICK, 2009, 2013; KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2015; MOSTAFA, 2014b, 2015; NAGIB, 2014; NAGIB; WILLIAMS, 2017; REEVES, 2012)

8 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados a cheiros: Essa categoria de perguntas trata da sensibilidade olfativa, de questões de higiene e funcionalidade da criança (BRADDOCK; ROWELL, 2011; CHERRY, 2012; KHARE; MULLICK, 2013; MOSTAFA, 2008, 2014b; NAGIB, 2014; NAGIB; WILLIAMS, 2017; REEVES, 2012) que podem influenciar na escolha dos elementos de composição do ambiente e na definição do layout do ambiente.

9 - Comportamentos, sensibilidade e requisitos da criança relacionados ao uso do banheiro:

Por apresentar características construtivas distintas dos outros cômodos da casa e acreditando que quanto mais intensa a experiência do autismo, mais pressão e estresse são associadas em torno da mecânica do banheiro (BRADDOCK; ROWELL, 2011), foi definida uma categoria de perguntas específicas sobre os comportamentos da criança no uso do banheiro.

Para pessoas com TEA, os banheiros devem combinar as atividades básicas e rotineiras de higiene, como tomar banho, escovar os dentes, pentear os cabelos, com atividades

recreativas e terapêuticas, como brincar na água (BRADDOCK; ROWELL, 2011). No entanto, os equipamentos e os materiais que compõem o banheiro, como chuveiro, vaso sanitário, azulejos e porcelanatos, são elementos de estimulação sensorial e podem levar à comportamentos adaptativos inapropriados, colocando os usuários, autista e cuidadores, em risco de lesões, além de causar danos a construção (MOSTAFA, 2014b; SEGADO; SEGADO, 2013).

Quadro 21 - Organização dos dados coletados na revisão da literatura específica para o uso do banheiro.

(fonte: Elaborado pela Autora).

Autores Referências ao banheiro

Drenos de piso (ideal) ou membrana impermeável sob o piso Piso antiderrapante

Paredes e teto totalmente de azulejos

Dispositivo de desligamento do sensor de água Impedir que a água saia para salas adjacentes

Vaso sanitário suspenso com cisterna embutida, câmara de inspeção e botão de descarga As torneiras que precisem ser pressionadas para que a água flua

Limitador de temperatura da água Barras de apoio para pendurar tolhas Espaço para o cuidador

Tabela etapas de atividades / agendas de imagens. Recipientes ou cestos herméticos para roupas sujas Danos ao banheiro

Inundações

Escorregões e quedas Vidro temperado

Janela para iluminação e ventilação Chuveiro com varinha

Barras de apoio montadas em suporte sólido Espaço de toalete ampliado

Vaso sanitário de parede

Torneiras fixas que não direcionam a água

Torneiras com dispositivos de prevenção de escaldadura e controle de demanda Piso antiderrapante, com dreno e aquecido

Encanamentos e conexões escondidos

Armários fechados com trancas para medicamentos, produtos de higiene pessoal e limpeza Dispositivos de segurança em banheiras e chuveiros

Cantos arredondados nas paredes e nas bancadas

Porta do chuveiro e haste de cortinas solidamente fixadas à parede Controle de temperatura de água

Desviadores de banheira e chuveiro com válvulas sensitivas de temperatura.

Aspectos relacionados ao uso e às características físicas do banheiro

BOYLE, 2016

BRADDOCK; ROWELL, 2011

Quadro 22 - Organização dos dados coletados na revisão da literatura específica para o uso do banheiro.

(fonte: Elaborado pela Autora).

Com o objetivo de identificar necessidades das crianças com TEA no uso do banheiro, foi realizada uma releitura dos artigos selecionados e destacadas nove publicações que tratavam de comportamentos de autistas no uso do banheiro e aspectos construtivos de banheiros (Quadros 21 e 22).

Essa categoria de perguntas abrange a sensibilidade vestibular, proprioceptiva, tátil, visual, auditiva, olfativa e a funcionalidade da criança no uso do banheiro (BOYLE, 2016; BRADDOCK; ROWELL, 2011; CHERRY, 2012; CRITZ; BLAKE; NOGUEIRA, 2015; MOSTAFA, 2014b; NAGIB, 2014; REEVES, 2012; RIJN, 2012).

Autores Referências ao banheiro

Som da descarga do vaso sanitário Cheiro de produtos de limpeza doméstica Dificuldade de ir ao banheiro

Banheiro com os principais elementos de estimulação sensorial Acessórios de segurança de água quente

Evitar bordas afiadas e cantos

Inundação no banheiro e nos corredores

Sensores de temperatura e tempo de uso nas pias e nos chuveiros Xixi no chão do banheiro

Impedir que a casa de cheire a fezes Limpeza do banheiro

Medidas de segurança para medicamentos e detergentes Sensores para controlar o fluxo de água e evitar inundações Pisos antiderrapantes

Vidros e espelhos temperados Torneiras com proteção escaldadura Sensor de água para evitar inundações Dreno para controlar a água derramada Facilidade de limpeza

Vaso sanitário suspenso

Espaço para o cuidador ao prestar assistência Remoção de espelhos

Boa ventilação para eliminar odores de toalete

Algumas pessoas não têm olfato e não percebem odores extremos Indivíduos podem lamber objetos

Problemas de higiene

RIJN, 2012 Avisos visuais de etapas e sequência das atividades no banheiro REEVES, 2012

MOSTAFA, 2014

NAGIB, 2014

NAGIB; WILLIAMS, 2017

Aspectos relacionados ao uso e às características físicas do banheiro

CRITZ; BLAKE; NOGUEIRA, 2015