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2.11 INTEGRAÇÃO SENSORIAL

2.11.1 Perfil Sensorial

O Perfil Sensorial 2 é uma compilação dos formulários do Sensory Profile revisados, organizados em um manual de fácil utilização, composto por um conjunto de questionários para serem aplicados aos cuidadores. As respostas dos cuidadores proporcionam valiosas informações a respeito das crianças em relação a vários estímulos sensoriais que ocorrem ao longo do dia. Estas informações auxiliam na elaboração de hipóteses sobre o que pode auxiliar a criança a participar com sucesso de suas atividades (DUNN, 2017 - p. 1).

No modelo desenvolvido por Dunn, os limiares neurológicos ou limiares de estimulação (altos e baixos), são relacionados aos comportamentos respondentes (passivo e ativo). Limiares altos demandam muitos estímulos para que o sistema nervoso central (SNC) detecte, processe e produza respostas. Limiares baixos envolvem moderada intensidade de estímulos para provocar respostas. Quando os limiares neurológicos de uma criança são mais elevados do que o normal, o SNC exige estímulos sensoriais mais intensos para provocar uma reação. Por outro lado, quando os limiares neurológicos são mais baixos do que o normal, a criança precisa de menos estímulos sensoriais para desencadear uma resposta (MATTOS, 2014).

O Perfil Sensorial 2 indica comportamentos que as crianças apresentam como padrões de processamento sensorial, com base em uma estrutura conceitual que propõe interação entre limiares neurológicos e respostas comportamentais de autorregulação. A interação desses dois contínuos (processamento sensorial e comportamento de autorregulação) fornece um método para explicar como as crianças processam as informações sensoriais e proporciona uma forma para auxiliar no planejamento de uma intervenção. A figura 1 ilustra as relações entre os conceitos.

Figura 1 - Estrutura de processamento sensorial de Dunn

(fonte: DUNN, 2017, p. 11)

Através da intersecção destes dois contínuos, a estrutura de processamento de Dunn fornece um conjunto de possíveis interpretações do comportamento das crianças, que resultam em quatro padrões de processamento sensorial (observação, exploração, sensibilidade e esquiva) (WINNIE DUNN, 2017 - p. 11).

Observação: Limiares neurológicos elevados, autorregulação passiva. São as crianças observadoras, descontraídas elas perdem mais os estímulos do que os outros e são

menos propensas a serrem perturbadas pelo que acontece no entorno. Estas crianças deixam de notar sinais sensoriais que as outras percebem com facilidade.

Exploração: Limiares neurológicos elevados, autorregulação ativa. São as crianças exploradoras, como forma de obter estímulo sensorial e permanecerem alertas elas tocam coisas, batucam ou querem mastigar coisas.

Sensibilidade: Limiares neurológicos baixos, autorregulação passiva. São as crianças sensíveis, elas identificam estímulos padrões que outras não percebem.

Esquiva: Limiares neurológicos baixos, autorregulação ativa. São chamadas de crianças que se esquivam, elas podem ficar sobrecarregadas pelos estímulos sensoriais imprevistos ao ponto de interferir na participação.

A abordagem mais neutra do Perfil Sensorial 2, explora o processamento sensorial como um conceito geral que explica como todos vivenciam suas vidas. O sistema de pontuação do Perfil Sensorial 2 reflete uma curva de distribuição normal (curva de sino), representada no Gráfico 1, que descreve como as pessoas respondem aos estímulos sensoriais. A maioria das pessoas respondem de maneira moderada, enquanto um número menor de pessoas responde mais ou menos que a maioria (a maioria ocorre na

faixa de desvio padrão de -1,0 a +1,0). “Mais que outros” significa que a pessoa

apresenta os comportamentos listados naquele grupo de itens com maior frequência que

seus pares. Assim como, “menos que outros” significa que a pessoa apresenta os

comportamentos listados naquele grupo de itens com menos frequência que seus pares.

Gráfico 1 - Curva normal e o sistema de classificação do perfil sensorial 2

As expressões “mais que outros”, “muito mais que outros”, “menos que outros” e “muito menos que outros” são usadas como referência as várias secções da curva de sino (Gráfico 1) e não indicam, necessariamente, que há algo errado com a pessoa. Os padrões de processamento sensorial de uma pessoa são um reflexo de como ela responde as experiencias sensoriais da vida cotidiana (em casa e na escola). O indicativo de que a criança necessita de atenção e intervenção é a combinação entre as características da criança, as atividades e as expectativas e o contexto.

O conjunto de questionários que compõem o Perfil Sensorial 2, deve ser preenchido pelos cuidadores (pais e/ou professor), estes devem ficar cientes da importância das informações que eles fornecem para o processo de planejamento da vida familiar da criança.

Os questionários avaliam o processamento auditivo, visual, tátil, de movimentos, da posição do corpo, de sensibilidade oral, de conduta associada ao processamento sensorial e respostas socioemocionais associadas ao processamento sensorial. O Quadro 4, “Questionário de processamento AUDITIVO”, é apresentado como modelo de um destes questionários.

Quadro 4 - Questionário processamento AUDITIVO

As respostas (quase sempre, frequentemente, metade do tempo, ocasionalmente, quase nunca e não se aplica) devem representar a frequência que eles observam os comportamentos na criança. Cada resposta recebe uma pontuação que resulta em uma pontuação da seção. A relação entre resposta e frequência, e a pontuação, estão listadas abaixo:

− Quase sempre = 5 pontos, quando a criança responde desta forma 90% do tempo ou mais.

− Frequentemente = 4 pontos, quando a criança responde desta forma cerca de 75% do tempo.

− Metade do tempo = 3 pontos, quando a criança responde desta forma cerca de 50%.

− Ocasionalmente = 2 pontos, quando a criança responde desta forma 25% do tempo.

− Quase nunca = 1 ponto, quando a criança responde desta forma 10% do tempo ou menos.

− Não se aplica = 0 pontos, quando o cuidador não observou o comportamento ou acredita que este não se aplica a criança em questão.

A pontuação obtida no questionário deve ser transferida para a tabela dos quadrantes, onde será verificada a pontuação total por quadrante (observação, exploração, sensibilidade e esquiva). A Tabela 2, apresenta um exemplo da “Tabela do quadrante”.

Tabela 2 - Tabela do quadrante

(fonte: DUNN, 2017, p. 43)

O resumo do quadrante proporciona uma maneira adicional de considerar as pontuações da criança. Essas pontuações revelam padrões relacionados à responsividade da criança a estímulos nos ambientes com base na Estrutura de processamento sensorial de Dunn.

A pontuação bruta de cada quadrante deverá ser transferida para a coluna de pontuação bruta total correspondente da tabela do resumo do quadrante, onde será possível obter a pontuação de corte correspondente (muito menos que outros, menos que outros, exatamente como a maioria dos outros, mais que outros, muito mais que outros). A Tabela 3, apresenta um exemplo do “Resumo do quadrante”.

Tabela 3 - Resumo do quadrante.

fonte: DUNN, 2017, p. 96)

O Perfil Sensorial 2 foi concebido para associar os padrões de comportamento sensorial aos comportamentos mais frequentes. Os padrões de processamento sensorial de um indivíduo será uma vantagem, uma desvantagem ou não terá significado para ele dependendo do contexto e da tarefa a ser realizada por ele. A combinação única das pontuações de uma pessoa nos quadrantes descreve os padrões de processamento sensorial de dessa pessoa. As pontuações baixas podem significar tanto quanto as pontuações altas. Comportamentos específicos atípicos ou não característicos do repertório de uma pessoa são tão expressivos como os que dominam o repertorio dessa mesma pessoa. O Quadro 5 apresenta um resumo do significado das pontuações extremas da curva de sino.

Quadro 5 - Resumo do significado das pontuações extremas da curva de sino.

fonte: DUNN, 2017, p. 54)

Cada pessoa possui certa quantidade de cada um dos padrões sensoriais, e cada um dos quadrantes é independente, de forma que qualquer combinação de pontuações é viável.

Com a interpretação das pontuações é possível planejar intervenções para apoiar a criança em atividades cotidianas. O Perfil Sensorial 2 emprega a ecologia do desempenho humano e modelos baseados nos pontos fortes para criar intervenções eficazes (DUNN; BROWN, 1994; POHL; DUNN, 1998). A ecologia do desempenho humano propõe uma estrutura para considerar as influências ambientais sobre o desempenho e elaborar uma ampla gama de intervenções.

A base de evidências para confiabilidade e validação do Perfil Sensorial 2 incluiu 78 crianças com TEA e uma amostra correspondente de crianças sem necessidades especiais (DUNN, 2017). Os pais das crianças com TEA relataram que o processamento sensorial de suas crianças era diferente da amostra correspondente de pares. A avaliação dos relatos indicou que as diferenças são perceptíveis e relevantes para a prática, e que em todos os casos de diferenças significativas as crianças com TEA se envolveram em comportamentos adaptativos mais que seus pares sem TEA.

O foco principal do Perfil Sensorial 2 é determinar os pontos fortes e os desafios associados ao processamento sensorial no contexto da vida cotidiana, para atingir tal objetivo o manual inclui quatro anexos. O Anexo A apresenta faixas de percentil do perfil sensorial 2, estas são apresentadas como uma pontuação adicional para os casos nos quais é necessária uma pontuação padronizada. O Anexo B oferece estratégias de

intervenções em tabelas com sugestões para os processamentos sensoriais de mais ou de menos para cada quadrante. O Anexo C, contém materiais adicionais com os quais a Dra. Winnie Dunn apresenta as medidas de processamento sensorial e o perfil sensorial. O Anexo D, Avaliação ecológica das características do contexto do processamento sensorial, apresenta uma estrutura simples para documentar as características sensoriais dos contextos dentro dos quais as crianças devem operar. Este material possibilita avaliar como os eventos sensoriais ocorrem e afetam a participação da criança, auxiliando na criação de alternativas ambientais.

Na avaliação ecológica das características do contexto do processamento sensorial (auditivo, visual, tátil, olfato, sensação de movimento e da posição do corpo) são classificados o ambiente e a reação da criança. Para a classificação das características ambientais a presença e a intensidade de cada aspecto listado são classificados de zero seis. Sendo que, zero significa que o ambiente não apresenta tal característica e seis significa que o aspecto está presente de forma muito intensa. A classificação da criança em relação ao ambiente varia de “+3 à -3”. Sendo que “+3” significa que a característica favorece a criança, “zero” significa que a característica parece ser neutra para a criança, e que “-3” significa que a característica afeta a criança de maneira significativa, conforme ilustrado no Quadro 6.

Quadro 6 - Avaliação ecológica das características do contexto do processamento sensorial.