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3.2. O cotidiano da política local até os anos 1970

3.2.2. As eleições municipais em Paripiranga

Com a emancipação de Patrocínio do Coité e com o nascimento do regime republicano as eleições passaram a ter mais importância porque estavam em jogo postos importantes do mando local. Dito de outro modo, os títulos e cargos da Guarda Nacional não eram mais suficientes para garantir o poder de mando, mas sim a disputa de eleições para conquista de cargos administrativos e de reconhecimento junto às elites políticas estaduais. Na República Velha as eleições eram marcadas por fraudes e manipulações visto que tudo era decidido pela mesa apuradora formada por políticos e não por um órgão eleitoral autônomo. Por isso mesmo chamavam-se de eleições “bico de pena” tendo em vista que era na caneta do mesário que tudo se decidia. Encontram-se referências a eleições locais em 1890 nas cartas de Victor Marcolino ao Barão de Jeremoabo onde se menciona o registro de apenas 118 eleitores e aparecem as preocupações com as possibilidades de fraudes251. Em 1903, os eleitores chegam a 521 e são divididos em duas seções sob o comando do presidente do Conselho252.

A pesquisa não encontrou maiores informações sobre episódios envolvendo eleições durante a República Velha no município, embora o jornal O Paladino noticie alguns pleitos realizados na década de 1920253. Na eleição de 1936, a única eleição municipal realizada durante a Era Vargas e a primeira com voto secreto e com voto feminino, inaugurou-se a utilização de algumas artimanhas que seriam aperfeiçoadas nas eleições seguintes. Segundo Valdir da Fraga Dias (24/11/2012), que era sobrinho de Ismael e à época era ainda adolescente, os dois candidatos “mataram bois” e serviram verdadeiros banquetes aos

251 Na carta de 8 de dezembro de 1890, Victor Marcolino fala ao Barão que os olhos atentos da oposição exigem

que sejam tomadas precauções como tirar cópias de atas e protege-las das “fraudes” (CARNEIRO, 2005, pp.2308-2315).

252 “Atos do Presidente do Conselho Municipal (Patrocínio do Coité, 1903)”.

253 Em 13 de novembro de 1921, por exemplo, foi realizada eleição para Intendente sendo vitorioso o Coronel

Joaquim de Mattos (O Paladino, 08/01/1922). Já em 1922 houve eleição para presidente e vice-presidente da República e em Paripiranga menos de 300 eleitores votaram: para presidente Nylo Peçanha obteve 296 votos e Arthur Bernardes 2 votos; para vice-presidente J. J. Seabra obteve 295 votos e Urbano Santos 2 (O Paladino, 19/02/1922). Encontra-se em diversas edições de O Paladino avisos do Presidente do Conselho Municipal relativo à organização de eleições, o que confirma a ingerência política sobre estas. Chama atenção que no pleito de 1922, para escolha de presidente e vice, a mesa receptora foi formada pelo juiz municipal e uma liderança de cada uma das facções: o Major Justino pelo peba e o Coronel Manoel de Matos Santa Rosa pelos cabaús. Já no jornal O Ideal, edição de 12 de setembro de 1954, Francino Silveira Deda fala das eleições realizadas durante a República velha quando o mesmo era escrivão no município e cita episódios típicos das eleições a “bico de pena”: “assinávamos nós mesmos abaixo das atas, os nomes dos eleitores qualificados, vivos ou mortos e assim estavam eleitos os candidatos recomendados”.

eleitores e cabos eleitorais em suas residências. A Constituição de 1946 estendeu o direito de voto a todos os cidadãos maiores de 18 anos, exceto os analfabetos. Estas mudanças na legislação associada à modernização em curso fizeram o eleitorado ampliar-se progressivamente entre nos anos seguintes. Com efeito, o número de votantes254 cresceu vertiginosamente no período como indica o gráfico a seguir:

Gráfico 2 – Evolução do Número de Votantes (1947-1976)

Fonte: Elaborado com dados do TRE-BA.

Em virtude da expansão do número de eleitores e a evolução nos mecanismos de exercício do voto, ocorreram mudanças significativas na condução das eleições. Numa edição de 31 de junho de 1960 do jornal O Ideal, Francino Silveira Deda (um discípulo do Professor Abreu) nos dá um sinal de como aquele quadro se apresentava para as elites locais. Sob o título “Remédio para calvície”, escreve o jornalista:

[...] Estão chegando os momentos sensacionais dos comícios [...] figuras políticas, com autorização tácita, oriunda do entrelaçamento político-partidário, vem até nós, pintando das melhores cores e burilando com expressões escolhidas, o programa do candidato em foco [...]. Mas, o que se verifica depois, é sempre a desilusão. Tudo não passando de franco engodo e promessas vãs para ludibriar o povo. [...] Vamos recordar então que, na nossa antiga Vila de Patrocínio do Coité, nos tempos idos, o engodo era o mesmo, mas não tínhamos o trabalho estafante de organizar comícios, não nos dávamos aos choques ou sensações prejudiciais ao coração e do sistema nervoso, na arregimentação do eleitorado, sua assistência e seu agrupamento [...].

254 Trata-se do número de votos válidos anunciados nos diplomas dos candidatos eleitos. Os dados da eleição de

Observa-se que, mesmo admitindo que o sistema anterior a 1945 era um “engodo”, o autor reporta-se a ele com saudosismo em virtude do “trabalho estafante” que o novo paradigma impõe aos políticos. Trata-se de uma precisa exposição do quadro político que se configurou no período “populista”, bem como da visão que determinados setores sociais tinham sobre ele. O “trabalho estafante” ao qual o autor se refere envolve muitas atividades que passaram a serem práticas correntes nos tempos de eleição e necessárias para a sobrevivência das facções. Em primeiro lugar eram as agremiações partidárias que se encarregavam de registrar os eleitores o que muitas vezes incluía despesas com documentos necessários à obtenção do título.

Outra prática dispendiosa dizia respeito às dádivas eleitorais. De acordo com a maioria dos entrevistados, os “brindes” eram principalmente peças de vestuário, exigidas pelos eleitores sob o pretexto de que sem essas não teriam como comparecer à eleição. Por fim, havia a despesa do dia da eleição, pois cabia ao candidato ou ao chefe da facção fornecer a alimentação para seus eleitores255. Além das despesas com a aquisição destes bens, o

“trabalho estafante” a que se refere o autor do artigo de O Ideal supõe o emprego de um contingente de pessoas envolvidas nas atividades políticas que acarretavam novas despesas. Um depoimento colhido confirma esta hipótese. Rita Santa Rosa Rabelo (05/06/2012), viúva de João Vitorino de Menezes, prefeito em três gestões, afirmou que já naquele período a política era muito cara. Para ela, os maiores gastos eram com os cabos eleitorais e com a doação de roupas aos eleitores. Com efeito, segundo a mesma entrevistada “a cada eleição [o marido] tinha que vender uma fazenda” (ibidem).

Os “choques” e “problemas no coração” aos quais também se refere o artigo, diz respeito ao fato de que com o voto secreto as eleições não eram mais de cartas marcadas como nas eleições “bico de pena”. Campanhas equilibradas em termos de mobilização (tanto no alistamento quanto nos comícios) geravam suspense até a hora do anúncio do resultado. As contagens eram realizadas no dia seguinte à votação e os resultados parciais eram aguardados com ansiedade pelas duas facções. Para o povo, era um espetáculo, mas para os políticos era um martírio256. Ademais, eleições como a de 1954, cuja diferença foi ínfima257, deixavam os políticos tensos mesmo dias depois do encerramento do pleito. Ademais, a prática da fraude

255 De acordo com vários entrevistados, no dia da eleição “matava-se um boi” e distribuía entre os chefes

políticos para que os eleitores se sentissem atraídos para comparecer à votação e, sobretudo, para ter o último contato com seu “chefe político”.

256 Os entrevistados menos envolvidos no processo político afirmaram que a contagem de votos era uma festa

para o povo, mas os chefes político só faltavam “se pegar”.

257 Na apuração contabilizou-se 4.215 votos e a diferença entre os candidatos foi de apenas 15 votos (Francisco

Trindade 2.082 votos e Faustino Lima 2.067) (“O Ideal”, 24 de outubro de 1954). Fala-se que o resultado foi contestado pelo PSD e houve recontagem de votos, porém o resultado não teria sido alterado.

eleitoral passou a ser frequente e usada das formas mais originais possíveis como, por exemplo, o uso de “batom” pelos escrutinadores para anular votos258.

A mudança era significativa e o comportamento do povo deixava de ser previsível e manipulável como antes. O depoimento de um lavrador do período que viria ser um político importante com vários mandados de vereador resume a forma como a população se adaptava à nascente “democracia”: “Em casa era dez votos. Pai mandava cinco pra casa de Odilon, que acompanhava Jonas e cinco pra casa de Gera que era o candidato de Ismael. Quando eu entrei pra ser candidato aí todo mundo ficou com Ismael” (Joaquim Cruz Siqueira, 01/11/2012).

As eleições de 1954 e as quatro eleições realizadas durante o regime militar (1966, 1970, 1972 e 1976) marcaram a história política do município pela disputa equilibrada e pelo uso dos mais diversos artifícios pelos candidatos. Em 1954 a disputa foi entre os herdeiros dos líderes que governaram a cidade da Revolução de 1930 até 1950. Tal era a força das oligarquias locais no período que o município contou com as visitas dos candidatos a governadores Pedro Calmon (PSD) e Antônio Balbino (dissidente do PSD apoiado pela UDN). A passagem de Pedro Calmon por Paripiranga, que veio acompanhado do candidato a deputado federal Tarcílio Vieira de Melo e do candidato a deputado estadual Carvalho Sá259, foi motivo de entusiasmo para os pessedistas, mas não geraria um mesmo impacto que a do seu rival. Ocorre que Antônio Balbino veio acompanhado do prestigioso político Juracy Magalhães que mantinha relações com Ismael Trindade desde os anos 1930260. Ademais, a passagem de Juracy por Paripiranga foi tensa e marcou o clima da campanha. Transcrevo a seguir um trecho do depoimento de uma testemunha ocular:

Quando Juracy tava falando, Seu Arnulfo, que era intusiasmado e muito amigo de Jonas [...], falou: ‘E os chicotes que ecoam no Terreiro de Jesus; que você mandou bater nos professores de medicina?’ [...] “Juracy não gostou daquilo, pensou e disse: ‘Mandei mesmo porque aquilo era uma cachorrada, não respeitavam as autoridades, e se precisar faço ainda porque os cães ladram e a caravana passa’”. [...] “As pessoas então começaram a dizer: ‘Arnulfo você é doido é, o pessoal de Pedro Novais tá aí viu!’. (Valdir da Fraga Dias, 24/11/2012).

Mais que um fato pitoresco, o episódio resume o clima político da eleição e, inclusive, da sintonia dos políticos locais com os acontecimentos da política estadual. O provocador,

258 Depoimento de Walker Rabelo Dias (21/02/2012).

259 João Gonçalves de Carvalho Sá era natural de Jeremoabo e filho do Coronel João Sá, um dois mais poderosos

líderes regionais do período. Advogado de profissão, Carvalho Sá foi suplente de deputado federal (1947-1950) e duas vezes consecutivas deputado estadual (1951-1955 e 1955-1959) pelo PSD. Terminou sua carreira política exercendo dois mandatos como prefeito de Jeremoabo (1964-1966 e 1976-1982).

260 Além da boa relação que Ismael estabelecera com o então interventor da Bahia, Juracy Magalhães, nos anos

1930, seu filho e candidato nesta eleição, Francisco Dias Trindade, fora contemporâneo de faculdade e amigo próximo de Juracy Magalhães Filho, o primogênito do líder udenista que viera a se suicidar.

assim como o entrevistado foram estudantes em Salvador nos anos 1930 e 1940 e tinham acompanhando os acontecimentos no período juracisista. Era esta elite que acompanhara a política baiana nas ruas de Salvador que agora se digladiava na disputa local. Outro entrevistado revelou que ao serem pressionados por autoridades locais para não fazerem mais comícios, a facção do PSD se deslocou para um território de fronteira, próximo ao povoado Conceição de Campinas, e realizou o comício do lado sergipano. “Se aproveitando do fato de estarem fora da jurisdição das autoridades que tinham desautorizado o comício, os participantes fizeram discursos inflamados e até ofensivos”, resume Walker Rabelo Dias (21/02/2013) que era primo dos dois candidatos que disputava a prefeitura.

Este clima de tensão só foi apaziguado na reta final com a chegada de um contingente do exército no município261. Garantida a segurança, a eleição transcorreu com tranquilidade,

embora o resultado tenha gerado inconformismo e acusações de fraudes por parte dos derrotados262.

Um fato que chama a atenção é que, segundo a edição de 10 de outubro de 1954 do jornal O Ideal, os eleitores não seguiram suas afiliações partidárias e votaram por “afeição pessoal” aos candidatos. Todavia, na edição de 12 de dezembro de 1954 do mesmo jornal, o Professor Abreu fala do “mercado eleitoral” afirmando que este pleito foi marcado pela imposição do dinheiro como grande instrumento de barganha política sem, no entanto, se referir diretamente ao pleito local. Seu registro menciona as cifras gastas por deputados e senadores, mas não é difícil concluir que algo semelhante aconteceu também em Paripiranga visto que os concorrentes pertenciam às famílias mais ricas da cidade na época.

A eleição de 1954 foi um divisor de águas na história dos primos rivais de modo que ambos tiveram suas vidas mudadas para sempre. O primeiro a ser afetado pelo resultado do pleito foi Faustino Lima que, derrotado, se afastou do município. Em um panfleto distribuído entre os correligionários, Faustino agradece o voto recebido e justifica seu afastamento de Paripiranga:

261 O jornal “O Ideal” de 26 de setembro de 1954 registra a chegada de 8 praças, um cabo e um sargento.

262 De acordo com depoimento de Jorge Jacinto de Santana (01/12/2012), Bernardino Barbosa, dirigente do PSD,

guardava títulos em casa para entregar a seus eleitores do dia da eleição. Porém, o namorado de sua filha, que era parente do candidato da UDN, percebeu uma mochila cheia dos títulos e “deu sumiço”.

Documento 2 – Panfleto do PSD de Paripiranga em 1954. Fonte: Arquivo pessoal de Marcelo Ricardo de Sales Rabelo.

Faustino fixaria residência em Feira de Santana onde foi secretário municipal e depois ocupou vários cargos municipais e estaduais como o de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Bahia (1986-2000). Só voltaria à política no início dos anos 1980 quando se elegeu Deputado Estadual pelo PDS (1983-1987) e chegou à presidência da Assembleia Legislativa (1985-1986). Ironicamente, o destino do vencedor foi semelhante. Por sua vez, Francisco Trindade só exerceria o cargo até o início de 1957263 quando se afastou para exercer cargo na prefeitura da capital Salvador264. Como não existia a figura do vice-prefeito, assumiu o presidente da Câmara de Vereadores, seu irmão Antônio Trindade.

263 Na ata da seção ordinária da Câmara Municipal de Vereadores, de 03 de junho de 1957, Antonio Dias

Trindade assina como “Presidente da Câmara e Prefeito em Exercício”.

264 Assessor Jurídico da Secretaria de Viação e Obras Públicas da Prefeitura de Salvador, 1957/1959. Entre 1962

e 1963, Francisco Dias Trindade exerceu o cargo de Secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia. Com a posse de Lomanto Júnior em 1963, saiu do cargo, mas manteve-se instalado em Salvador agora como Assistente

Em 1962 houve novamente suspeitas de fraudes, mas esta eleição é considerada uma das mais tranquilas do período. O regime militar, entretanto, esquentou o clima político, particularmente em seus primeiros doze anos quando se realizaram quatro eleições municipais (1966, 1970, 1972 e 1976). De fato, o regime militar promoveu uma mudança significativa na política local, embora sem os mesmos efeitos gerados nos grandes centros onde políticos foram cassados e militantes perseguidos. O primeiro desafio foi fazer o ajuste ao novo marco político-institucional marcado pelo bipartidarismo. UDN e PSD acabaram integrando-se à Arena e tornaram as disputas ainda mais delicadas. Como disse em seu depoimento Lauro Ferreira do Nascimento, que à época era advogado e assessor político de Joao Vitorino: “As convenções eram o ápice de tudo265. Quem ficava com a ata não queria cumprir quando perdia” (26/07/2012). A acomodação partidária foi dramática para o PSD. João Vitorino estava na dúvida entre a Arena e o MDB, mas seu líder, Oliveira Brito, deu o seguinte conselho:

Imagine que você está debaixo de uma chuva danada de modo que se continuar caminhando pra chegar em seu destino desejado vai se encharcar. Aí você vê uma marquise, o que é que você deve fazer? Passar a chuva debaixo da marquise e depois que o temporal for embora você vê o que faz com calma. (Lauro Ferreira Nascimento, 26/07/2012).

Ocorre que Oliveira Brito estava sob ameaça de perder os direitos políticos por ser uma das lideranças mais influentes do período populista e, assim, para sobreviver, tentou convencer os militares de que reconhecia como legítimo o novo regime. Todavia, sua estratégia não teve êxito e suas bases sofreram o gosto amargo do definhamento progressivo durante o Regime Militar. A Arena foi oficialmente instalada em Paripiranga no dia 2 de julho de 1966 e sua direção municipal eleita no dia 4 de julho, em reunião realizada no prédio do Fórum, sob a observação da Justiça Eleitoral. A nova agremiação ficou sob a presidência de Ismael Trindade e a vice-presidência de Jonathas Lima, o que era simbólico, já que ambos eram desafetos desde os anos 1930.

Jurídico da Federação das Indústrias do Estado da Bahia, até 1965. Foi ainda Assistente Jurídico da Secretaria de Saúde Público e Assistente Social da Bahia em 1963 e Procurador do Estado da Bahia a partir de 1966. Depois Francisco seguiu a carreira de Juiz Federal assumindo como substituto da 2ª Vara da Seção Judiciária da Bahia, a partir de 13/3/1967. Segundo Renivaldo Pimentel Lima (15/11/2013), a ascensão de Francisco Trindade se explica por sua amizade com a família de Juracy Magalhães, pois ele teria sido colega de um dos filhos do líder baiano na faculdade de direito da Bahia.

265 Não se trata da convenção em si, mas do processo político em torno dela visto que na prática as convenções

eram de fachada. Como testemunha Walker Rabelo Dias (21/02/2013), embora todos estivessem filiados ao mesmo partido as convenções eram separadas e não havia nenhum confronto direto.

Se a organização partidária foi inicialmente tranquila, o mesmo não se pode dizer da escolha de candidaturas ao pleito de 1966 e ao restante do processo eleitoral. O depoimento a seguir, de um dos candidatos a prefeito daquela eleição, merece ser citado na íntegra:

Eu tava morando em Salvador quando veio a Revolução de 1964. [...] Vitorino tava respondendo um processo e era sujeito não ser candidato. Aí Oliveira Brito procurou Jonas Lima e disse: ‘Vamos contornar as coisas aqui’. Procuraram Ismael e Antonio Trindade e inventaram essa de unir as famílias. [...] Eu não queria de jeito nenhum ser candidato, mas com essa de unir as famílias acabei aceitando. No dia da convenção, Raimundo Sales, que era o estrategista de Vitorino, me procurou e disse: ‘Oi Jura, Oliveira Brito teve aqui e disse que Vitorino pode ser candidato e ele vai ser candidato’. Eu disse: rapaz eu aceitei ser candidato porque era candidato único, pra unir as famílias, isso que vocês tão fazendo é safadeza de vocês. O pessoal já tava no Fórum me esperando pra Convenção e eu tava em casa. Aí veio uma comissão com Pedro Faustino que era o prefeito dizendo que o povo me aguardava, mas eu disse que não ir ser mais candidato, primeiro porque não queria ficar contra minha família. Foi quando meus irmãos chegaram e disseram que não aceitavam a safadeza que o PSD tava fazendo e estavam todos comigo. Aí eu fui, mas fui candidato sem querer ser prefeito. (Walker Rabelo Dias, 21/02/2013).

Observa-se que a acomodação das facções no interior da Arena e a escolha dos candidatos para o primeiro pleito, durante o regime militar, foi articulada em manobra política das antigas lideranças estaduais-nacionais e locais, no intento de sobreviverem ao novo cenário. Em convenção separada, o PSD de Oliveira Brito acabou ficando com a sublegenda 2 (Arena II), tendo como candidato a prefeito João Vitorino de Menezes, e contornou um impasse político já que sem a mudança de regime tal candidatura teria provavelmente tido maiores dificuldades jurídicas. Contudo, esse primeiro pleito do novo regime encontraria outros impasses diante do sistema jurídico em mutação, conforme conta um dos candidatos:

Eu era diretor do colégio Cenecista e andaram fazendo um documento e recolhendo assinaturas para dizer que eu não podia ser candidato e ao mesmo tempo diretor. Quando isso chegou ao meu conhecimento eu mesmo fiz uma declaração assumindo