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Apêndice I: Teste de Normalidade – Divido por Região de Coleta

4.2 Empreendedorismo

4.2.2 Empreendedorismo: Perspectiva Psicológica

Thomas e Muller (2000) afirmam que o termo empreendedor é composto de um conjunto de traços psicológicos, atributos, atitudes e valores de um indivíduo para iniciar um novo negócio, e mesmo com a dificuldade de utilizar traços psicológicos para caracterizar os empreendedores, inúmeros estudos nesta área têm buscando encontrar estas características.

As abordagens psicológicas para o estudo do empreendedorismo contaram com uma revitalização nos últimos anos devido ao reconhecimento da importância dos empreendedores para as economias e também pelo fato do conceito de empreendedorismo ser limítrofe a várias áreas da Psicologia, como a Psicologia do Trabalho, a Psicologia Organizacional e Psicologia Mercadológica, utilizando conceitos úteis para o entendimento do empreendedorismo, assim muitas questões organizacionais podem auxiliar a compreensão do empreendedor (FRESE & RAUCH, 2001).

A perspectiva psicológica aplicada ao estudo do empreendedorismo procura identificar traços e características psicológicas que influenciam na decisão do indivíduo de se tornar um empreendedor e também na possibilidade de sucesso desta iniciativa. Filion (1999) indica que houve um grande interesse no empreendedorismo após os trabalhos de McClelland (1961/1965), que gerou estudos que sugeriram uma série de características ou traços mais frequentemente atribuídos ao empreendedor, conforme Quadro 4:

Quadro 4: Características mais comumente atribuídas aos empreendedores

Características dos Empreendedores

Inovação Otimismo Tolerância a ambiguidade e incerteza

Liderança Orientação para resultados Iniciativa

Riscos Moderados Flexibilidade Capacidade de Aprendizado

Independência Habilidade para conduzir situações Habilidade na utilização de recursos Criatividade Necessidade de realização Sensibilidade a outros

Energia Autoconsciência Agressividade

Tenacidade Autoconfiança Tendência a confiar nas pessoas

Originalidade Envolvimento a Longo Prazo Dinheiro como medida de desempenho

Fonte: Filion (1999)

Thomas e Muller (2000) ao realizar uma pesquisa para testar a aplicabilidade do perfil empreendedor, selecionaram quatro traços para definir o perfil empreendedor: inovação, aceitação ao risco, lócus de controle e nível de energia, justificando que estes traços capturam as várias facetas do empreendedor, associadas comumente as características pessoais necessárias para superar os desafios da criação de novos negócios, conforme encontradas na literatura na área de Economia, Psicologia, Sociologia e também na pesquisa aplicada do Empreendedorismo. Dentre as características psicológicas que têm recebido maior atenção na pesquisa sobre o empreendedor destacam-se os necessidade de realização, lócus de controle e tomada de risco (FRESE & RAUCH, 2001).

Cantillion, circa século XVII, argumentou que o fator principal que permitia diferenciar entre os empresários independentes e os empregados contratados era a tolerância à incerteza e as ameaças potenciais do próprio-emprego, em contrapartida à segurança de receber um salário fixo (LUMPKIN & DESS, 1996). Cunningham & Lischeron (1991) apontam que diversos autores argumentam que a maior propensão ao risco é o elemento chave de distinção entre empreendedores e administradores.

Elke U Weber (2001) indica que existe uma crença estabelecida que a propensão ao risco é um traço psicológico estável, conhecido como atitude em relação ao risco, que implica que um indivíduo tende a tomar riscos similares em uma gama de situações, enquanto outras pessoas tendem a ser mais avessas ao risco do que outras. O risco é percebido de forma diferente por cada indivíduo, cultura ou mesmo subculturas. Assim a diferença na execução de comportamentos ditos arriscados pode estar associada na percepção deste risco e não na atitude em relação ao risco de forma geral.

Por outro lado, Cooper e colaboradores (1988) indicam que os empreendedores não possuem uma atitude mais positiva em relação ao risco, mas sim que tem uma percepção extremamente positiva dos riscos envolvidos. Assim, para os outros, pode parecer que o empreendedor toma maiores riscos, no entanto, os empreendedores apenas tomariam riscos considerados por eles como moderados.

Vários estudos também têm indicado que empreendedores apresentam maior lócus de controle interno do que os que não são empreendedores (THOMAS E MULLER, 2000; RAUCH & FRESE, 2000). Rotter (1966) apresenta o lócus de controle como uma percepção do indivíduo sobre as causas dos eventos que ocorrem em sua vida, podendo ser interno ou externo. Quando um indivíduo possui uma crença que o os eventos são determinados por suas decisões e esforços, diz-se que tem lócus de controle interno.

Por outro lado, quando o indivíduo acredita que não existe tal relação e os eventos são prioritariamente determinados por sorte, destino, por outras pessoas, ou mesmo circunstancias externas, como estar no lugar certo na hora certa, denomina-se lócus de controle externo. Robinson et al, (1991) indicam que uma maior percepção de controle interno está associada a uma atitude empreendedora positiva, além disso, indivíduos com lócus de controle mais interno tendem a possuir uma maior necessidade de realização.

A proatividade é outra característica atribuída aos empreendedores, ser proativo é tomar controle da situação para que as coisas aconteçam ao invés de esperar as coisas acontecerem, é antecipar e prevenir problemas e aproveitar oportunidades (Parker et al, 2010). Bateman e Crant (1993) apresentam a disposição proativa como um constructo que diferencia as pessoas no que se refere na medida em que elas agem para influenciar seu ambiente. O indivíduo com esta personalidade seria alguém que não é restrito por limitações situacionais e que provoca mudanças no ambiente, identificando oportunidades e agindo para aproveita-las, tomando iniciativa e mostrando perseverança. Lumpkin e Dess (1996) também enfatizaram a importância de ser o primeiro a introduzir a melhor estratégia para aproveitar uma oportunidade de mercado.

De forma contrária, os indivíduos não proativos teriam comportamentos diametralmente opostos, como por exemplo, não teriam a capacidade de identificar e muito menos de aproveitar oportunidades para modificar algo, preferindo se adaptar as mudanças (BATEMAN E CRANT, 1993). Dados de uma pesquisa de Crant (1996) provenientes de alunos de graduação e MBA indicaram uma correlação positiva (r=0,48) entre personalidade proativa e intenções de possuir um negócio, mesmo controlando por fatores como gênero, educação, e familiares empreendedores a pró-atividade, a proatividade explicou 17% adicionais na variância nas intenções empreendedoras.

Um outro estudo de Becherer & Maurer (1999) envolvendo 215 proprietários e gestores de pequenas empresas, indicou que uma personalidade mais proativa estava associada à uma postura empreendedora agressiva (r= 0,17). A postura empreendedora agressiva é definida como uma busca pela empresa de oportunidades e a tomada de uma posição agressiva em relação ao mercado

Para McClelland (1965), a necessidade de realização é outra característica associada ao empreendedor, sendo, em geral, adquirida culturalmente. Por isso, as sociedades com elevado nível de necessidade de realização apresentam maiores probabilidades de produzirem um maior número de empreendedores, os quais, por sua vez, serão os responsáveis por um desenvolvimento econômico mais acelerado, gerando um círculo virtuoso.

A importância da inovação, e do processo de inovação, foi abordada no clássico The Theory of Economic Development, onde Schumpeter (1934) descreve a inovação e o empreendedorismo como forças motrizes do crescimento econômico na sociedade capitalista. Knight (1997)

explica que a dimensão de inovação no empreendedorismo está relacionada a busca de soluções novas ou criativas para enfrentar desafios para o negócio, incluindo o desenvolvimento ou melhoria de produtos e serviços, assim como técnicas administrativas e tecnologias para desempenhar funções organizacionais.

A inovação é o processo que transforma uma invenção entre um produto que pode ser comercializado, ou seja, a inovação é um passo além da invenção, pois envolve a comercialização de ideias, implementação e modificação de produtos existentes, sistemas e recursos (GABOR, 1970).

Para Drucker, o empreendedor ocupa um importante papel de inovador na sociedade, indicando que a inovação é “a ferramenta específica do empreendedor” (DRUCKER,1987/2000). Carland, Hoy, Boulton, e Carland (1984) diferenciam o empreendedor do gestor, ao caracterizar o empreendedor como alguém que possui comportamento inovador, para conseguir que o negócio cresça e prospere. Schumpeter (1934) também utiliza a inovação como uma característica explicita e que define o empreendedor.

Existe vasta evidência empírica que os empreendedores são mais inovadores que outros indivíduos na sociedade. Carland e colaboradores (1992) encontraram diferenças significativas entre preferências em relação à inovação em empreendedores de ambos os sexos e gestores, indicando que estes empreendedores possuíam maior preferência à inovação do que os gestores.

A inovação pode ser considerada uma motivação importante para o início de um negócio (THOMAS E MULLER, 2000). Segundo pesquisa realizada por Shane, Kolvereid e Westhead (1991) a oportunidade de ser inovador e estar acompanhando as mais novas tecnologias, é um dos principiais motivos para que indivíduos iniciem um negócio.

Cunningham & Lischeron (1991) realizaram uma tentativa de definir um perfil ou um conjunto de características do empreendedor bem sucedido. Segundos os autores, o empreendedor de sucesso seria um indivíduo que buscaria a sua independência, com uma grande crença em si mesmo e em suas habilidades, com elevada persistência e autoestima, visão, além de contar com um grande criatividade e disposição para inovar.

No entanto, os comportamentos dos empreendedores podem predizer melhor o seu sucesso que os traços de personalidade. Frese e Rauch (2001) enfatizam a importância de se entender a diferença entre a criação de uma empresa e o sucesso de um empreendedor, pois os processos

que levam uma pessoa a abrir um negócio podem ser diferentes dos processos que motivam o sucesso empreendedor. Ainda segundo estes autores, as características de personalidade parecem ser mais importantes na decisão de ser um empreendedor do que na determinação do sucesso deste empreendedor.

Segundo Shook et al (2003), em artigo sobre a criação de empresas e características pessoais, indica que a busca por um perfil psicológico único para empreendedor não tem alcançado sucesso, talvez pela complexidade do fenômeno e a importância de variáveis econômicas, sociais, culturais entre muitas outras, que têm sido objeto de estudo das teorias situacionais.