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Apêndice I: Teste de Normalidade – Divido por Região de Coleta

4.5 Atitudes

4.5.2 Teoria do Comportamento Planejado

Oslon e Zanna (1993) indicam que considerando a variedade de críticas feitas a Teoria da Ação Racional, não é surpreendente que várias alternativas fossem propostas. A Teoria do Comportamento Planejado (TCP) é uma extensão da TAR criada para superar as limitações do modelo anterior para explicar alguns comportamentos complexos nos quais os indivíduos não possuem controle completo sobre a decisão de executar ou não o comportamento, mas dependem de recursos, habilidades especificas ou cooperação de outros.

Icek Ajzen (1985) apresentou a TCP como uma versão revisada da Teoria da Ação Refletida, que adiciona a dimensão de percepção de controle sobre o comportamento. A TCP pode ser considerada um caso especial da TAR, quanto alguns pressupostos da TAR não estão presentes, principalmente o controle individual sobre a capacidade de executar ou não um dado comportamento. Ou seja, em alguns casos pode-se ter uma atitude positiva em relação ao comportamento, mas se não existirem condições ou recursos para realiza-lo, a intenção tende a ser menor e principalmente a probabilidade desta intenção não se transformar em um comportamento é bem maior.

Nestes casos as atitudes não seriam boas preditoras da intenção e do comportamento. A TAR ao não considerar esta classe de comportamentos, falhava em predizer casos onde o indivíduo não tinha o controle sobre a decisão em realizar ou não o comportamento. A TPC introduz o constructo de controle percebido sobre o comportamento, dentro de um modelo mais geral de relações entre crenças, atitudes, intenções, e comportamento (AJZEN, 1991).

O constructo de percepção de controle sobre o comportamento (PCC) representa a percepção individual sobre qual difícil, ou fácil, é realizar o comportamento, considerando os recursos disponíveis e se ele tem a capacidade de realiza-lo. Assim, quanto mais fácil o indivíduo acredita que é realizar o comportamento, maior a sua percepção de controle sobre o comportamento.

Ajzen (1991) afirma a dimensão de percepção sobre controle do comportamento é muito semelhante ao conceito de auto eficácia de Bandura (1982), que seria uma crença pessoal nas capacidades para desempenhar um determinado comportamento para atingir um resultado. É a fé que um indivíduo tem de poder adquirir ou já possuir os conhecimentos e ferramentas necessárias para realizar algo, mas também a inclui a força de vontade, a crença em seu valor-

próprio (autoestima) e nas suas potencialidades para realizar o comportamento em questão. É importante notar que as ferramentas não necessariamente devam estar presentes, mas sim a crença que o indivíduo pode desprender esforços no sentido de as obter se necessário.

Assim, a auto eficácia influenciaria a escolha de atividades, a preparação, o esforço desprendido durante a execução, assim como padrões de pensamento e reações emocionais. Os indivíduos em geral contam com uma maior disposição em realizar comportamentos quando acreditam em sua capacidade de executa-los (BANDURA, 1982). Muito do conhecimento acerca do papel da percepção sobre o controle do comportamento foi baseada na pesquisa de Bandura, que mostrou que o comportamento das pessoas é fortemente influenciado pela auto confiança em realizar o comportamento.

Ajzen (1991) chama atenção para uma importante diferenciação entre este conceito e a conceituação de lócus de controle, pois enquanto o lócus de controle é uma expectativa relativamente estável, a percepção sobre o controle do comportamento varia conforme as situações e ações. Ou seja, embora um indivíduo possa acreditar que em geral os resultados que obtém são determinados por seu comportamento, isto é, possua um lócus de controle interno, pode ao mesmo tempo acreditar que as suas chances são pequenas de ser, por exemplo, um astronauta, apresentando assim uma baixa percepção de controle neste caso, mesmo apresentando um lócus de controle predominantemente interno (AJZEN, 1991).

Isto é, o lócus de controle é uma característica individual geral, enquanto a percepção de controle seria uma avaliação específica sobre cada comportamento, se o indivíduo acredita que tem condições de realizar o comportamento, se assim desejar.

A percepção de controle é baseada em crenças sobre a percepção de controle, que por sua vez refletem experiências diretas, observadas e relacionadas ao comportamento, além de outros fatores que podem alterar a percepção sobre a dificuldade de se executar o comportamento

(AJZEN, 1985). O modelo de Ajzen (1991) para a TCP, que além dos preditores presentes no modelo da TAR adiciona um terceiro preditor das intenções, a percepção do controle sobre o comportamento, pode ser vista na Figura 13:

Figura 13: Teoria do Comportamento Planejado Avaliação dos resultados Normas Subjetivas Intenção de realizar o comportamento Comportamento Crenças em relação a um resultado Atitude

Crença sobre o que os outros pensam

O que “experts” pensam Motivação para concordar com outros

Percepção do Controle sobre Comportamento

Fonte: Adaptado de Ajzen (1985)

Ajzen (2011) indica que segundo a Teoria do Comportamento Planejado, a ação humana é influenciada por três diferentes fatores, uma avaliação positiva ou negativa de um comportamento (atitudes), a pressão social para realizar ou não o comportamento (normas subjetivas) e a percepção sobre a capacidade de se executar o comportamento (auto eficácia ou percepção do controle sobre o comportamento).

Assim, quando são combinadas as atitudes, as normas e a percepção de controle e capacidade de se realizar o comportamento, uma melhor predição da intenção de comportamento é possível. Ajzen (2011) afirma que, em geral, quanto mais favoráveis forem as atitudes e as normas subjetivas, mais provável é que se estabeleça uma intenção de comportamento, no entanto, a importância relativa de cada um dos componentes vária de comportamento para comportamento, assim como de população para população. É importante notar que a percepção de controle sobre o comportamento (PCC) está relacionada ao comportamento de duas maneiras distintas. Indiretamente através do impacto nas intenções e também diretamente influenciando o comportamento.

Por isso, Ajzen (1991) explica que a PCC pode ter um papel duplo na predição dos resultados de um comportamento. Em primeiro lugar, quando a magnitude das intenções são comparáveis, o ânimo para se realizar um comportamento tende a ser maior quando se têm uma maior percepção do controle sobre o comportamento. Em segundo lugar, a percepção de controle pode

muitas das vezes ser um proxy, ou seja, uma boa estimativa, sobre o controle real sobre o comportamento que o indivíduo possui. Assim, quando alguém tem uma intenção e não consegue realizar um comportamento, esta falha pode ser atribuída à falta de controle real sobre o comportamento, que é estimado pela PCC, embora não seja igual.

Assim, quanto mais precisa for a auto percepção de controle sobre o comportamento, melhor o modelo pode explicar o comportamento. Ou seja, a percepção de controle somente pode auxiliar na predição do comportamento se o indivíduo tem experiência e discernimento suficientes para apontar se tem ou não controle efetivo sobre o comportamento (AJZEN, 1991).

Adicionalmente, Ajzen(1991) indica que outros fatores influenciam o poder preditivo da PCC. A magnitude desta relação depende do tipo de comportamento e da natureza da situação, pois quando as atitudes são fortes ou as normas sociais têm um papel determinante, o PCC pode adicionar pouco à explicação da relação entre atitudes, intenção e comportamento. A TCP tende a funcionar melhor que a TAR à medida que o comportamento envolve decisões que não dependem somente da vontade de se executar, tem como requisitos a capacidade de executar este comportamento, e esta capacidade pode não estar presente, mesmo com atitudes positivas.

Várias pesquisas foram realizadas com o intuito de comparar as duas teorias (TAR e TCP) em relação a seu valor preditivo do comportamento. Os resultados apresentaram-se inconclusivos, embora a maioria apoie a ideia de que a teoria da ação planejada, com mais um componente, tenha certa vantagem preditiva em relação ao modelo anterior de ação racional (Oslon e Zanna, 1993).

Ajzen (1991) indica que em todos os estudos analisados o uso da dimensão de percepção de controle de comportamento, melhorou os modelos que utilizavam o modelo TAR. Godin e Kok (1996) também apresentam as mesmas conclusões ao analisar 54 estudos utilizando a TCP na área de comportamentos de saúde, segundo os autores a adição da percepção de controle sobre o comportamento contribuiu com uma explicação de 13% da variância das intenções e 12% da variância do comportamento.

Aritage e Conner (2001) também indicam que a adição da percepção de controle pode auxiliar a predição das intenções e o comportamento. A meta-análise realizada pelos autores, com 185 estudos até publicados até 1997 indicou que a variável de percepção de controle adiciona em média 6% adicionar de predição em relação a modelos baseados na TAR (atitudes e normas

subjetivas). Manstead (2001) concluí que para a maioria dos comportamentos estudados pelas ciências sociais o modelo TCP é superior ao TRA para prever comportamentos.

No entanto, Ajzen (1991), indica que para existir uma predição razoável do comportamento usando o modelo TCP, três condições devem estar presentes. Primeiramente, as medidas de percepção de controle devem corresponder ou serem compatíveis com o comportamento que se objetiva predizer, ou seja, as medidas devem ser especificas nos dois casos, utilizando os mesmos contextos para que sejam comparáveis.

Em segundo lugar, as intenções e a percepção de controle sobre o comportamento devem ser estáveis no intervalo entre a sua mensuração e a observação do comportamento, pois eventos que intervenham nestes constructos podem alterar e diminuir a capacidade de predição do comportamento utilizando este modelo.

Finalmente, o terceiro requisito é que a dimensão de percepção de controle sobre o comportamento deve ser precisa, e representar de certa forma o controle real sobre o comportamento. No entanto, a percepção de controle pode não ser realística quando existe pouca informação sobre o comportamento, quando recursos ou requisitos foram modificados, ou outros elementos foram adicionados. Nestas condições a percepção de comportamento tende a adicionar pouco poder preditivo ao modelo TAR (AJZEN,1991).