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Apêndice I: Teste de Normalidade – Divido por Região de Coleta

4.2 Empreendedorismo

4.2.3 Empreendedorismo: Teorias Situacionais

Welter (2011) indica que já existe há algum tempo um entendimento de que o processo empreendedor pode ser melhor compreendido quando se verifica o contexto em que ocorre, incluindo as dimensões sociais (GRANOVETTER, 1985), espaciais (KATZ & STEYAERT, 2004), institucionais (POLANYI, 1957) e valores das sociedades (WEBER, 1984). O Quadro 5, adaptado de Welter (2011), mostra as dimensões contextuais, os domínios de influência, além de alguns exemplos de influências exercidas:

Quadro 5: Fatores contextuais no empreendedorismo

Dimensões Domínio da

Influência

Exemplo de influências

Negócio Industria ou mercado Estágio de ciclo de vida de industrias e mercados, número e natureza dos concorrentes

Sociais Redes, Familia Estrutura de redes, densidade, frequência de relações de rede, composição e papéis familiares

Espaciais Locais Geográficos, países, estados, clusters

Características Físicas do local onde o negócio está estabelecido, estrutura de suporte, caracteristicas de comunidades locais e regiões

Sociedade Cultura e Sociedade: sistemas políticos e economicos

Atitudes e normas da sociedade, regulações e estrutura legal (baseada em valores), políticas e medidas de apoio.

FONTE: Adaptado de WELTER (2011)

No que tange a pesquisa em Gestão, o contexto normalmente está relacionado a circunstancias, situações ou ambientes que são externos ao fenômeno, podendo auxiliar ou limita-lo (WELTER,2011). Podemos considerar que umas das primeiras tentativas de comparar taxas de empreendedorismo foi a de Weber (1958) em seu célebre “Ética Protestante e o Espírito do

Capitalismo”, argumentando que a ascensão do protestantismo e seus valores, incentivaram o trabalho árduo e permitindo o progresso material, modificando valores que inviabilizavam o desenvolvimento do capitalismo e sua implantação.

Alguns autores também defendem que o comportamento empreendedor como um instrumento de que os grupos minoritários lançam mão para alterarem o status quo, tal como ocorreu com grupos judeus em muitos países (LOW & MACMILLAN, 1988; GODLEY et al, 2001). De modo semelhante, Brenner (1987) defendeu a posição de que os grupos que perderam ou na iminência de perderem o status social tendem a assumir riscos empreendedores. Todavia, há evidências recentes de que nem todos os empreendedores se originam de grupos em desvantagem social; assim, conclui-se que apenas em determinadas ocasiões o empreendedorismo ocorreria em resposta à falta de mobilidade social através de outros canais (LOW & MACMILLAN, 1988).

Welter (2011) aponta que o contexto social é mais estudado em termos da abordagem de redes sociais de apoio, pois estas redes podem facilitar o acesso ou mesmo oferecer capital financeiro, informações importantes, o acesso a clientes ou mão de obra, além de apoio emocional proveniente de família e amigos.

Há evidência empírica que os laços sociais podem ser um recurso importante para compensar as dificuldades de se abrir e manter uma nova empresa (DAVIDSSON & HONIG, 2003) e promover oportunidades e recursos para sociedades ou para formar equipes (ALDRICH & KIM, 2007). Estas redes sociais podem ser especialmente benéficas para algumas minorias étnicas (ALDRICH & WALDINGER, 1990), para mulheres empreendedoras (MANOLOVA, CARTER, MANEV, & GYOSHEV, 2007) ou empreendedores em ambientes turbulentos (ROGERS, 2006).

Um estudo realizado por Birley (1985) mostrou que 160 empreendedores do Estado de Indiana, nos EUA, faziam significativamente mais uso de redes de apoio informais do que formais. A relevância das redes de apoio para o comportamento empreendedor também se reflete no crescente interesse pelas incubadoras, que funcionam como redes de apoio a empresas recém- criadas, fornecendo-lhes a infraestrutura necessária em termos de espaço físico, consultoria técnica e gerencial e contato com outros empreendedores (HOY et al, 1991). Hoy e colaboradores (1991) também destacam o papel das incubadoras para a criação de um ambiente propicio ao empreendedorismo, através do auxílio na preparação de planos de negócios,

facilitação no processo de busca financiamento e na assistência em forma de consultoria para os novos negócios, tendo um importante papel de rede de apoio.

Outra vertente das teorias situacionais, de natureza econômica, identifica o empreendedorismo com o ambiente de negócios, isto é, procura explicar o empreendedorismo a partir da análise das condições, leis e processos econômicos que facilitam ou não o surgimento, desenvolvimento e manutenção de novos negócios. Um ambiente favorável envolve uma combinação de fatores que podem desenvolver ou fomentar o empreendedorismo.

Segundo esta lógica, os países que minimizam a quantidade de regras e regulações, oferecem incentivos tributários e fornecem serviços de aconselhamento e treinamento para novos empreendedores, aumentariam significativamente a criação de empresas. Fatores como leis e regulações para entrada e saída de mercados, ou mesmo regulações em relação à propriedade, podem criar novas oportunidades para empreendedores, como no caso de reformas no período pós-socialista nos países da Europa Oriental que passaram a permitir empresas privadas (WELTER, 2011).

Um dos estudos mais conhecidos sobre estes fatores é o Doing Business Report, editado pelo World Bank. Este estudo cria uma medida quantitativa das regulações para iniciar um negócio, lidar com permissões de construção, emprego de trabalhadores, registro de propriedade, obtenção de crédito, proteção de investidores, pagamentos de impostos, comercio internacional, cumprimento de contratos e resolução de insolvência, para pequenas e médias empresas em cada país. Na edição de 2013 foram pesquisados 186 países (World Bank, 2011).

No entanto, os dados empíricos indicam que somente um melhor ambiente de negócios não é um bom preditor da quantidade de novas empresas. Um estudo de Zouain, Almeida & Sato (2013) indicou que a correlação entre as dimensões de Doing Business e a taxa de novos negócios nos 3 anos selecionados (2008,2010 e 2012) foi negativa, variando de r=-0,170 para proteção de investidores a r=-0,417 para a dimensão de fechamento de negócio. Este resultado indica que outros fatores estão afetando a taxa de empreendedorismo. Os mesmos autores, tendo como objetivo entender o fenômeno, buscaram outras variáveis e utilizaram o índice de infraestrutura para determinar de forma gráfica o mesmo comportamento:

Figura 8: Relação entre empreendedorismo e infra estrutura

FONTE: Zouain, Almeida & Sato (2012)

Os autores mostram que embora a relação entre as variáveis seja negativa, este fenômeno possivelmente está associado a baixa taxa de crescimento de países mais desenvolvidos, ao mesmo tempo que o crescimento tem se concentrado em países da Ásia e África. Embora um bom ambiente de negócios seja importante, os autores indicam que não é condição suficiente para a criação de empresas.

Por isso, atualmente há uma tendência de se considerar o comportamento empreendedor como consequência da dinâmica de fatores psicológicos, sociais e econômicos (WELTER, 2011). Covin e Slevin (1989) apontam que o ambiente externo e seus fatores associados podem ser um ponto de partida para qualquer análise sobre empreendedorismo. Guerreiro e colaboradores (2008) indicam que nas últimas décadas alguns autores tem analisado fatores ambientais, e as atitudes em relação ao empreendedorismo para entender melhor as motivações que levam os indivíduos a iniciar uma carreira como empreendedores.

Shapero e Sokol (1982) apontam que é justamente a convergência de atitudes (do indivíduo) e fatores situacionais (ambiente) que conduz ao início de um negócio. De modo semelhante, Krueger e Brazeal (1994) indicam que a intenção de empreender é baseada na interação entre

características pessoais, percepções, valores, crenças, variáveis sócio demográficas e o ambiente. Assim, alguns autores têm procurado desenvolver modelos que integram todos esses aspectos, buscando melhor explicar o comportamento empreendedor, conforme a Figura 9, baseada em Martin & Picazo(p.199, 2009):

Figura 9: Interfaces e Ciclo do empreendedorismo

Fonte: Adaptado de Martin & Picazo (p.199, 2009)

Glade (apud LOW & MACMILLAN, 1988) concebe o empreendedor como um tomador de decisões que atua em um cenário social e cultural específico, o qual denominou “estrutura de oportunidades”, enfatizando que tal contexto se relaciona tanto à percepção da existência de oportunidades quanto à disponibilidade de recursos. Crook e colaboradores (2009) afirmam que a pesquisa em empreendedorismo têm crescido rapidamente nos últimos anos, citando como exemplo a divisão de Empreendedorismo da Academy of Management, teve o número de membros aumentado de 917 no início da década para 2370 em 2009, significando um aumento de 155%.

No entanto, embora o aumento quantitativo seja inegável, ainda não há uma consolidação do campo, principalmente no que tange a questão do design de pesquisa em empreendedorismo. De acordo com Low (1988), a pouco tempo atrás a pesquisa na área de empreendedorismo ainda estava em estágio emergente, ou seja, em fase de definição dos limites da área e os métodos de pesquisa a serem utilizados.

Uma análise realizada por Chander e Lyon (2001) para o período de 1989 a 1999 encontrou práticas e desenhos de pesquisa ainda incipientes, com uma clara falta de técnicas ou desenhos de pesquisa mais sofisticados, o que dificultava o entendimento das complexas relações presentes nos estudos de empreendedorismo, impedindo a sugestão de políticas ou recomendações normativas por parte dos pesquisadores.

Crook e colaboradores (2009) realizaram uma pesquisa com o intuito de continuar o trabalho de Chander e Lyon e verificar até que ponto a pesquisa e os métodos em empreendedorismo avançaram nos últimos anos, utilizando artigos produzidos entre 2002 e 2007, dos seguintes periódicos: Journal of Business Venturing e Entrepreneurship Theory and Practice, além de artigos relacionados com o empreendedorismo do Academy of Management Journal, Administrative Science Quarterly, Journal of Management, Management Science, Organization Science, e Strategic Management Journal, totalizando 238 artigos.

Os autores indicaram que houve uma melhoria significativa na sofisticação dos modelos utilizados nas pesquisas, com uma maior preocupação com a questão de validade e confiabilidade dos instrumentos, além de uma maior frequência de testes de moderação e mediação de efeitos, ocorrendo também um aumento significativo na quantidade de estudos longitudinais, considerados mais completos e aptos para inferir causalidade entre variáveis.

Como conclusão os autores afirmam que embora as mudanças tenham ocorrido, ainda há um longo caminho a ser percorrido, sugerindo a adoção de um curriculum doutoral mais rígido quanto à formação no desenho de pesquisa e também na adoção e ensino de técnicas estatísticas mais sofisticadas, como por exemplo, a análise fatorial confirmatória (CFA) principalmente para o estudo do empreendedorismo que é uma das áreas em que envolve amostras e fenômenos mais diversos (CROOK et al, 2009).

Podemos assim verificar que modelos empíricos e abordagens têm sido desenvolvidas e aperfeiçoadas na tentativa de compreender o comportamento empreendedor. Todavia, esses modelos ainda carecem de evidência empírica acerca da sua validade.