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Apêndice I: Teste de Normalidade – Divido por Região de Coleta

4.5 Atitudes

4.5.1 Teoria da Ação Racional

Existem diversos modelos para entender a relação entre atitudes e comportamento. Um dos exemplos mais notáveis é a Teoria da Ação Racional (TAR) de Fishbein & Ajzen (1975), que propõe que as atitudes e normas subjetivas devem se combinar para que determinar as intenções de comportamento, que então explicariam o comportamento em si. Este modelo, juntamente com a Teoria de Comportamento Planejado, estão entre os principais modelos que buscam explicar o relacionamento de atitudes e o comportamento (AJZEN, 1991).

Este modelo reconhece que as atitudes são somente um dos determinantes do comportamento, e coloca a intenção de comportamento como o principal preditor do comportamento. Essa abordagem tem como pressuposto de que o comportamento predito é voluntário, ou seja, podem ser executados ou não executados dependendo da vontade pessoal do indivíduo.

A atitude composta é pela avaliação e crenças do indivíduo sobre o comportamento em termos globais, incluindo as consequências e resultados, baseada na probabilidade de que o comportamento traga resultados positivos ou negativos. O modelo indica que quanto mais positiva são as atitudes em relação ao comportamento, maior será a intenção de se executar este comportamento (FISHBEIN & AJZEN, 1975).

Já as normas subjetivas seriam determinadas por dois fatores: primeiro as crenças normativas, ou seja, a crença do indivíduo que pessoas importantes para ele acreditam que deva executar, ou não executar, um comportamento. O segundo fator seria a inclinação ou motivação pessoal de para agir de com a expectativa de outras pessoas (FISHBEIN & AJZEN, 1975).

As normas subjetivas referem-se a percepção do indivíduo sobre a pressão social para executar (ou não executar) um determinado comportamento. Caso o indivíduo perceba que as pessoas dentro de seu convívio social (amigos, colegas, parentes) apoiam o comportamento, ele se torna mais propenso a agir nesta direção. Por outro lado, se acredita que o comportamento é desaprovado por estas mesmas pessoas, ele tem uma tendência menor a executar este comportamento (AJZEN,1991). A intenção seria então determinada pela atitude em relação ao comportamento e também pelas normas subjetivas. O modelo TAR pode ser visualizado na Figura 12:

Figura 12: Diagrama da Teoria da Ação Racional Avaliação dos resultados Normas Subjetivas Intenção de realizar o comportamento Comportamento Crenças em relação a um resultado Atitude

Crença sobre o que os outros pensam

O que “experts” pensam Motivação para

concordar com outros

Fonte: Adaptado de Fishbein e Ajzen (1980)

Vários estudos têm buscado verificar estimar o desempenho da TAR para a predição do comportamento. Um dos estudos meta-analíticos mais citadas neste sentido foi conduzido por Shepperd e colaboradores (1988) e contou com 87 estudos, obtendo uma correlação múltipla de r=0,66 entre atitude e normas subjetivas e a intenção empreendedora. A intenção empreendedora alcançou uma correlação de r=0,53 com o comportamento. Armitage e Conner (2001) em uma meta-análise com 185 estudos, encontrou uma correlação múltipla de r=0,52, indicando que explicou 27% da variância da intenção.

Ajzen (2001) aponta que para uma grande variedade de estudos que investigam a diversos comportamentos e intenções, a atitude explica mais de 50% da variância das intenções, que por sua vez explicam mais de 30% da variância do comportamento. Esta explicação é significantemente superior à média de 10 % de explicação do comportamento normalmente realizada por medidas de traços ou atitudes, sem o uso de intenções.

Tais resultados indicam que o comportamento pode ser predito com uma razoável precisão se as intenções são utilizadas, ao invés de atitudes, ao passo que as intenções podem ser preditas também com qualidade aceitável se as atitudes em relação ao comportamento e as normas sociais são mensuradas (MANSTEAD, 2001). Por isso, a TAR tem sido amplamente utilizada nas ciências sociais (OSLON & ZANNA, 1993; MANSTEAD, 2001).

É importante notar que cada componente do modelo (atitude e normas subjetivas) tem um papel relativo que pode variar, dependendo do comportamento estudado. Para a grande maioria dos comportamentos as atitudes são os melhores preditores das intenções. As normas subjetivas

foram o último componente adicionado na TAR. Vários autores indicam ser o componente mais fraco (com menor poder preditivo) (ARMITAGE e CONNER, 2001).

No entanto, um estudo de Trafimov e Finlay (1996) apud Armitage e Conner (2001) indicou que para 30 diferentes comportamentos, foi possível distinguir entre indivíduos que suas ações são influenciadas pelas atitudes e indivíduos que as ações são melhor explicadas pelas normas subjetivas, sugerindo que as normas sociais podem ser mais importantes para algumas pessoas que teriam uma maior motivação para agir de acordo com o que pensam outras pessoas (comply motivation), enquanto para outras esta dimensão não seria tão importante.

Manstead (2001) indica que a TAR possui um escopo mais amplo e importante do que a predição de intenções e do comportamento, pois também é capaz de explicar o comportamento quando específica os determinantes da intenção (atitudes e normas subjetivas) e os fatores que compõem estes determinantes, tais como crenças sobre o comportamento, avaliação de resultados, crenças normativas e motivação em concordar.

Assim, se for possível determinar que os indivíduos que realizam ou tem intenção de realizar um comportamento diferem significativamente em relação as normas sociais, crenças sobre os comportamentos, a avaliação de resultados é possível considerar que os determinantes deste comportamento foram identificados e a partir deste entendimento apreender e explicar o comportamento (MANSTEAD, 2001).

Assim do ponto de vista prático, o modelo TAR ao identificar crenças, avaliações de resultados e normas sociais, permite discriminar os que tem a intenção dos que não tem a intenção, e a desenvolver intervenções que possam ser efetivas em aumentar a intenção e consequentemente o comportamento em uma série de aplicações práticas (MANSTEAD, 2001).

Segundo Oslon e Zanna(1993) a TAR e as teorias derivadas continuam a ser a referência teórica dominante para explicar a relação entre atitude e comportamento, e não só para prever o comportamento em contextos diversos, mas também como referência para comprar novas ideias e teorias na área.

No entanto, Oslon e Zanna (op.cit) também indicam que vários autores apresentam críticas à Teoria da Ação Refletida, e uma grande parte das críticas estão associadas ao papel de variáveis externas, como por exemplo, os comportamentos anteriores, que não seriam completamente mediados por componentes atitudinais e normativos do modelo de Fishbein e Ajzen(1975).

Segundo estas críticas a TAR seria mais adequada para entender e predizer comportamentos que requerem um alto grau de análise entre os pros e contras das ações alternativas, em detrimento a entender comportamentos diários ou rotineiros, que teriam um forte componente habitual, sendo muito mais espontâneos e não calculados e ponderados cuidadosamente, mas sim dependentes do hábito, podendo ser altamente predito por comportamentos anteriores.

Oslon e Zanna (1993) utilizam como exemplos de críticas os estudos de Warshaw e Davis (1985) que afirmam que as expectativas de comportamentos são melhores preditores do que as intenções de comportamento, pois as expectativas levam em consideração a probabilidade de sucesso, assim como o estudo de Gordon (1989) que indicou que as expectativas foram melhores preditoras do desempenho acadêmico do que as intenções.

Outra importante crítica citada, é o trabalho de Kendzierski (1990), faz a distinção entre a tomada de decisão e a implementação desta decisão, indicando a importância do planejamento, pois a intenção de realizar exercícios físicos eram mais prováveis de se tornar um comportamento quando os indivíduos planejavam previamente.

Outra crítica, de Liska (1984) indica que somente os comportamentos mais básicos dependem exclusivamente da vontade do indivíduo, pois a grande parte dos comportamentos que são estudados pelas ciências sociais, dependem também de recursos, habilidades e cooperação de outros, em resumo de uma percepção de ter a capacidade de realizar o comportamento, ou seja possuir estes recursos, habilidades ou suporte necessários. Este componente, de percepção sobre o comportamento, foi adicionado em uma revisão da TAR, feita por Ajzen (1985).