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Apêndice I: Teste de Normalidade – Divido por Região de Coleta

4.3 Cultura e Cultura Nacional

4.3.4 Modelo de Valores Humanos de Schwartz

Segundo Knoppen e Saris (2009), o estudo dos Valores Humanos é vital para a Pesquisa Social Europeia (European Social Survey – ESS), que têm como objetivo compreender as mudanças de valores, atitudes, atributos e perfis de comportamento no continente Europeu. Para esta importante pesquisa o modelo de Valores Humanos de Schwartz foi escolhido, pois é um dos modelos mais completos e foi extensamente validado cross-culturalmente (KNOPPEN E SARIS, 2009).

A Escala de Valores Humanos de Schwartz utiliza uma definição de valores como “sendo objetivos desejáveis, transituacionais, que variam em importância e que servem como princípios que guiam a vida das pessoas” (SCHWARTZ, 2001).

No modelo de Schwartz são especificados 10 constructos distintos de valores, derivados de um estudo das necessidades comuns a todos os indivíduos em qualquer sociedade, tendo sido construído de forma progressiva, com um diálogo entre a teoria e a realidade observada (TAMAYO & PORTO, 2009). Segundo Schwartz (1994, p.22) é possível classificar praticamente todos os valores de diferentes culturas, em um destes dez tipos motivacionais.

Schwartz (1994) indica que os dez valores ou tipos motivacionais estão divididos em duas dimensões, a primeira, Abertura à Mudança versus Conservação, contrasta valores de Auto direção e Estimulação com Segurança, Conformidade e Valores tradicionais. Já a segunda dimensão de Auto Transcendência versus Auto Melhoria, contrasta os valores relacionados ao Universalismo e Benevolência com Poder e Motivação a Realização.

Ainda segundo Schwartz (1994) a configuração de valores em mais de 200 amostras, sugere que a estrutura teorizada de valores e suas inter-relações são quase universais. Cada um dos dez valores podem ser caracterizados pela descrição de seu objeto motivacional central (SCHWARTZ et al, 2001), conforme Quadro 15:

Quadro 15: Definição dos dez constructos de valores de Schwartz (2001)

VALORES DEFINIÇÃO EXEMPLO DE ITEM

PODER Status Social e prestigio controle

ou domínio sobre pessoas e recursos.

É importante para ela estar no comando e dizer aos demais o que fazer. Ela quer que as pessoas façam o que manda.

REALIZAÇÃO Sucesso pessoal através da

demonstração de competência de acordo com padrões sociais

Ser muito bem-sucedida é importante para ela. Ela gosta de impressionar as demais pessoas.

HEDONISMO Prazer e gratificação sensorial

para si mesmo

Ela procura todas as oportunidades para se divertir. É importante para ela fazer coisas que lhe dão prazer.

ESTIMULAÇÃO Excitação, novidade e desafio na

vida.

Ela gosta de surpresas. É importante para ela ter uma vida emocionante.

AUTODETERMINAÇÃO Independência de ação e de

pensamento, criar, explorar

É importante para ela tomar suas próprias decisões sobre o que faz. Ela gosta de ser livre para planejar e escolher suas atividades

UNIVERSALISMO Compreensão, apreço, tolerância

e proteção do o bem-estar de todos os povos e para a natureza.

Ela acredita que todas as pessoas do mundo deveriam viver em harmonia. Promover a paz entre todos os grupos no mundo é importante para ela.

BENEVOLÊNCIA Preservação e melhoria do bem-

estar das pessoas com quem se está em contato pessoal frequente

É importante para ela entender às necessidades dos outros. Ela tenta apoiar aqueles que conhece.

TRADIÇÃO Respeito, compromisso e

aceitação dos costumes e ideias que a cultura tradicional ou religião proporciona.

Ela acha que é importante não querer mais do que se tem. Ela acredita que as pessoas deveriam estar satisfeitas com o que têm.

CONFORMIDADE Evitar ações, inclinações e

impulsos que possam perturbar ou prejudicar os outros e violar normas ou expectativas sociais.

Ela acredita que as pessoas deveriam fazer o que lhes é ordenado. Ela acredita que as pessoas deveriam sempre seguir as regras, mesmo quando ninguém está observando.

SEGURANÇA Segurança, harmonia e

estabilidade da sociedade, das relações, e de si.

A segurança de seu país é muito importante para ela. Ela acha que o governo deve estar atento a ameaças de origem interna ou externa.

Fonte: Schwartz et al. (2001)

O modelo de Valores Humanos de Schwartz apresenta algumas particularidades, sendo uma das características mais conhecidas a sua estrutura circular. Segundo Schwartz e colaboradores (2001) a estrutura circular indica um padrão de relações de conflito e também de congruência entre os valores, representando um continuo motivacional, sendo assim os valores que estão mais próximos têm motivações próximas e quanto mais distantes, estes valores se tornam mais antagônicos.

Os conflitos e congruências entre os valores configuram uma estrutura integrada de 10 valores ou tipos dimensionais divididos em duas grandes dimensões bipolares: Abertura à mudança versus Conservadorismo, que se opõem a valores de Auto Direção e Estimulação aos valores relacionados à Segurança, Conformidade e Tradição, e Auto Transcendência versus Auto

Melhoria, que opõe valores de poder e realização a valores de universalismo e benevolência (SCHWARTZ,2005). Os valores de hedonismo compartilham elementos de abertura a mudança e auto melhoria (SCHWARTZ et al, 2001), a Figura 11 contém o modelo de Schwartz e representa as relações proposta entre os valores:

Figura 11: Modelo de Valores Humanos de Schwartz

Fonte: Estrutura dos Valores Humanos Schwartz (2005)

Segundo Tamayo e Porto (2009) este modelo foi verificado através de pesquisa transcultural em 67 países utilizando dois instrumentos, o Schwartz Values Survey (SVS) e o Portrait Values Questionnaire (PVQ). O SVS é parecido com a Escala Rokeach de Valores, pois foram aproveitados alguns itens da escala de Rokeach enquanto outros foram elaborados especificamente para o SVS.

O SVS apresenta uma escala ordinal onde o indivíduo indica qual a importância relativa de cada valor apresentado, como um princípio orientador de sua vida, diferente da RVS que é um tipo

de escala ordinal. A validação inicial da escala SVS no Brasil foi realizada por Tamayo e Schwartz (1993), sendo confirmada a sua validade por vários estudos posteriormente (SCHWARTZ, 2005).

Os dois instrumentos desenvolvidos por Schwartz (2001) para mensuração dos Valores Humanos, o PVQ e o SVS apresentam medidas similares dos dez tipos de valores, apresentando validade convergente e discriminante e mantendo também a mesma hierarquia de valores, independentemente do método de mensuração dos valores (SCHWARTZ, 2001/2005).

Segundo Schwartz e colaboradores (2001) foram dois os motivos principais para o desenvolvimento do Questionário de Perfis de Valores (Portrait Values Questionnaire), primeiramente ele deveria ser mais concreto e cognitivamente menos complexo para ser utilizado em populações onde o SVS não apresentou resultados adequados. Além disso, deveria ser substancialmente diferente do SVS na forma e na maneira de julgamento, para que pudesse ser um teste do conteúdo e estrutura da teoria dos valores.

Neste caso o PVQ contém perfil de 40 pessoas diferentes, que descrevem os objetivos, aspirações ou desejos que de certa forma apontam a importância do valor para o respondente, ou seja, ao se identificar com alguém que “Para ele é importante ser rico, Ele deseja comprar objetos caros”, sugere que o respondente compartilha estes valores.

Sendo assim, o PVQ e o SVS apresentam métodos diferentes para mensurar as prioridades dos valores, primeiramente porque a PVQ mede os valores indiretamente, enquanto o SVS requer uma declaração dos valores de forma autoconsciente. O PVQ mede estes valores com a apresentação de uma pessoa e pede para o respondente indicar de que forma ele/ela é similar a aquele indivíduo. Já o SVS requer que o indivíduo indique qual a importância de uma série de valores como os valores principais.

Além disso, o PVQ utiliza estímulos na forma de pessoas, com seus objetivos, aspirações e desejos, enquanto o SVS requer o uso de valores abstratos, sem contexto. Finalmente o SVS utiliza uma escala numérica de 9 pontos, com valores negativos e positivos, o que pode ser complexo para indivíduos sem boas noções numéricas, enquanto o respondente do PVQ somente necessita marcar o quanto se parece com o perfil, sem recorrer a números (SCHWARTZ et al, 2011). O instrumento foi utilizado em mais de 200 amostras, em mais de

70 países de todos os continentes apoiam a estrutura circular e as relações entre os valores (STEINMETZ et al, 2012).

Apesar de grande evidencia empírica, o SVS apresentou alguns problemas, especificamente concentrados em países em desenvolvimento, na África Sub Saariana, Índia, Malásia e áreas rurais, sendo que neste caso a PVQ foi um melhor instrumento, sendo recomendável nestes casos (SCHWARTZ, 2001). Steinmetz, Isidor e Baeuerle (2012) em um estudo meta-analítico encontraram um predomínio de estudos que utilizam o PVQ. De um total de 314 estudos, 76 % usaram o PQV(240), enquanto somente 26 % utilizam o SVS (76).

Além disso, Beierlein e colaboradores (2012) apontam que vários estudos indicam que a PQV é particularmente útil para mensurar valores humanos em contextos que os pesquisadores pretendem explicar atitudes, opiniões ou comportamentos.