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Na presença do seu satguru6, o conhecimento floresce; o pesar diminui; sem qualquer motivo, a alegria vem à tona; a escassez diminui; abundância alvorece; e todos os talentos se manifestam. De acordo com o grau em que você se sente conectado ao seu guru, estas qualidades se manifestam em sua vida.

Sri Sri Ravi Shankar No dia doze de fevereiro completou dois anos que encontrei o Mestre Sri Sri Ravi Shankar pessoalmente pela primeira vez. Era o primeiro dia no Ashram, final de tarde. Todos falavam que haveria um Satsang e que ele estaria lá. Havia um grande alvoroço no Ashram e nas pessoas. Inclusive em mim. Eu não tinha idéia do que era um Satsang, o que se fazia ou o sentido de tal evento. Mas eu estava muito curiosa, principalmente em conhecer o tão falado Guruji. Eu já conhecia o significado desta palavra, querido Guru, mas não a usava de modo algum. É assim que é chamado um guru pelos seus devotos na Índia. Eu já fizera o Curso Parte 1 há alguns meses, já praticava o Sudarshan Kriya quase diariamente, nutria uma grande

admiração e carinho por Sri Sri Ravi Shankar, pelo seu trabalho humanitário e espiritualista, mas não sentia necessidade de chamá-lo Guruji.

No meu íntimo eu vivia um conflito entre dois eus. Um eu que havia me acompanhado toda a vida e que se constituiu em uma cultura quase atéia. Muito cedo questionei a existência de Deus, o Deus da religião católica, personalizado, onipotente, onipresente e pleno de poderes para salvar ou castigar a humanidade segundo o comportamento voltado para o bem ou para o mal. Este eu foi aquele que fez opções de vida de modo muito adequado à sociedade, que decidiu seguir uma carreira universitária e construiu uma visão de mundo materialista, positivista, linear, mecanicista, cheia de certezas e seguranças, mesmo às vezes renunciando aos próprios desejos e vontades. Este eu não necessitava de um Mestre, um guia espiritual, um Guru, à moda hindu ou oriental. Era este eu que se mostrava ao mundo, ao trabalho, aos amigos, à minha família de origem. Um eu forte e decidido, mas sofrido, ansioso e angustiado. Este eu se chama Rejane. Outra parte de mim buscava incessantemente um ponto de apoio, um conhecimento, uma técnica, uma tábua de salvação que revelasse outro modo de ser e sentir. Era este outro eu que me impulsionava para o novo, para o mistério, para o misticismo, para a metafísica, para uma dimensão não material, transcendente. Foi por seguir este impulso que iniciei o estudo e a prática de Reiki, Meditação, Psicossíntese e outras abordagens corporais energéticas. Foi por escutar esta voz inquieta e insistente que eu estava ali, na Índia, aguardando um Guru. Esta parte de mim se chama Lúcia, meu primeiro nome, e tem uma história...

Já em 2002, quando eu ainda estava na Itália, senti a necessidade de estar em uma instituição que propusesse um caminho “formativo” espiritual. As práticas que eu fazia até então eram provenientes do sistema Reiki e me ajudaram imensamente a encontrar um equilíbrio interno que eu jamais sentira. Eram práticas de autotramento energético e meditações supostamente desenvolvidas pelo Mestre Mikao Usui, criador do sistema de cura pelas mãos Reiki. No entanto, após dois anos de prática eu comecei a questionar-me sobre a necessidade de novas técnicas, acreditando que em qualquer processo há uma evolução dos exercícios e principalmente um professor ou alguém mais experiente que nos conduza, que nos apóie, que seja um interlocutor para dúvidas e idéias. No Reiki não encontrei tal resposta. Na sociedade contemporânea o Reiki tornou-se um sistema tão diversificado e poucos mestres podem ser realmente chamados de verdadeiros mestres.

Em uma tarde de verão, encontrei em uma livraria, na cidade italiana em que morava, um folder sobre a comunidade Ananda, em Perugia. Neste eram apresentados a sua natureza, os cursos oferecidos e algumas fotos do lugar, o qual era realmente magnífico. Uma

espécie de chácara em um planalto nas montanhas da região Umbria, a qual é muito conhecida pelas suas belezas naturais e pela sua riqueza histórica e arquitetônica. É em Umbria que está Assis, a cidade onde nasceu e viveu São Francisco, e onde hoje se situa a Basílica de San Francesco, famosa em todo o mundo. As atividades realizadas na comunidade Ananda estão vinculadas à Self Realization Fellowship, instituição criada por Paramahansa Yogananda, Mestre da Índia, para divulgar o yoga no ocidente. Eu já ouvira falar sobre Yogananda e inclusive houvera o seu livro, Autobiografia de um Yogue, em mãos, muitos anos atrás, mas não me interessei de lê-lo. No entanto, naquele dia me senti bastante atraída pela possibilidade de finalmente ter um Mestre verdadeiro, conceituado, comprovado. Mas não procurei contato com o grupo de Perugia. Era um período de muitas atividades no doutorado e o máximo que fiz para aproximar-me dos conhecimentos de Yogananda foi inscrever-me em uma lista de e-mails sediada na Itália que veicula mensagens de várias áreas de conhecimentos relativas a autoconhecimento, espiritualidade, ciências orientais etc. Esta foi uma fonte de descobertas e aprendizagem incomensurável, da qual até hoje faço parte.

Aos poucos a Lúcia dentro de mim foi insinuando sua voz insistente e convencendo-me da necessidade de ter um verdadeiro Mestre que nos levasse a uma prática segura que desse fruto. Assim, já em Fortaleza, me filiei à Self Realization Fellowship e passei a seguir a prática de pranayamas e meditação desenvolvidas por Paramahansa Yogananda. Ali encontrei pessoas que buscavam o mesmo que a Lúcia buscava, o que me deu certo alívio. Finalmente poderia compartilhar minhas vivências, dúvidas e realizações. Por dois anos pratiquei as lições, li vários livros de Yogananda, sua vida, conhecimentos dos Vedas e suas inspirações, pratiquei a meditação no templo em Fortaleza, participei de retiros de silêncio. Tudo isso me iniciou na cultura hindu, me introduziu na prática do Yoga e me apresentou a um universo espiritual para mim desconhecido. Agora a Lúcia tinha um Guru, sobre o qual a Rejane não era muito de acordo. Novamente, eu sentia como se tivesse uma vida paralela, desconhecida dos meus amigos e não integrada ao meu trabalho. No fundo havia um questionamento pessoal sobre o papel de Paramahansa Yogananda na minha vida que foi se aprofundando continuamente. Cada vez que chegava o convite para eu ser iniciada no Kriya7, o que introduz o aprendiz em um nível mais avançado da prática, eu não me sentia pronta. Encontrava inúmeras razões e desculpas para não fazê-lo: não fiz a prática o

7 Kriya – ação purificadora.

suficiente, não tenho dinheiro para a viagem até Salvador, não posso deixar minha família nesta data, tenho muito trabalho, blá, blá, blá... Hoje compreendo que eram desculpas.

Desculpas para não reconhecer que o caminho da Self Realization Fellowship não me dava os frutos que eu esperava, que a meditação proposta me trazia dores nas costas insuportáveis, que eu não reconhecia e sentia Paramahansa Yogananda como meu Mestre. Na Índia, acredita-se que cada ser humano tem o seu Mestre espiritual que mais cedo ou mais tarde, no momento certo, chegará. Segundo esta crença, quando se encontram, Mestre e discípulo, ocorre um reconhecimento mútuo, uma aceitação imediata e inquestionável. Mesmo não levando a sério tal crença, que não é reconhecida em nossa cultura, sentia um crescente distanciamento deste Mestre, apesar de minha grande admiração por ele, por sua mensagem e experiência de vida. Entre fantasias e sentimentos concretos de frustração, me interessava pelo zen-budismo, meditação segundo diversas tradições, continuando a minha busca de autorealização e felicidade plena.

Então, encontrava-me naquela tarde quente do continente asiático aguardando a chegada de Sri Sri Ravi Shankar, juntamente com milhares de pessoas em um evento chamado Satsang. Estávamos em uma grande área aberta, coberta por uma grande tenda, e no chão um tapete vermelho que cobria completamente o chão de terra vermelha batida, que me recordava a terra da região praiana de Icapuí, município em que minha mãe nasceu e onde passava as férias da infância até a adolescência. Era algo familiar que me dava certo conforto em meio a tantas novidades e pessoas desconhecidas de diversos países. Creio que já estavam presentes, aproximadamente, três mil pessoas tornando o burburinho insuportável. Misturavam-se diversas línguas, algumas conhecidas, inglês, espanhol, português, italiano, outras incompreensíveis ou irreconhecíveis. Depois, vim a saber que todos os continentes estavam representados com mais de cem países presentes, até aqueles menos esperados como Rússia, China, Japão, Coréia, Irã, Iraque, Paquistão, Caxemira, Sri Lanka, Romênia, Republica Tcheca, Israel. Um verdadeiro festival cultural e linguístico.

O grupo brasileiro se posicionou à direita do palco, onde deveria ficar Sri Sri Ravi Shankar. O palco era simples, mas muito expressivo: o chão coberto por um tapete vermelho e a parede com tecido azul escuro, fazendo um belo contraste. Ao centro estava posicionada uma cadeira imponente, dourada, ricamente trabalhada, com o encosto central estofado em vermelho escuro. Do teto pendiam adornos em forma de flâmulas tipicamente indianos, em cor branca. Várias pessoas trabalhavam apressadamente preparando o sistema de som, microfones, instrumentos musicais, em uma disputa contra o tempo. Aos poucos, chegaram alguns indianos e indianas vestidos com belas túnicas e sáris. Respectivamente,

posicionaram-se na frente do palco, e, voltados para este, começaram a tocar alguns instrumentos: violão, pandeiros, cítara. Todos começaram a cantar músicas que eu não conhecia, com muito entusiasmo e alegria. Naquele momento comecei a experienciar um satsang pela primeira vez. Muitos cantavam, outros, como eu, observavam. Para mim era tudo uma surpresa, a sonoridade que se elevava no ar de forma harmônica, apesar de não haver qualquer plano pré-estabelecido ou distribuição de vozes, era empolgante e excitante, outras vezes, doce e tranquilizadora. Músicas diferentes se sucediam e de vez em quando eu experimentava acompanhar. Bhajans são mantras cantados que se repetem inúmeras vezes, portanto são de fácil aprendizagem. Geralmente, o grupo de “cantores” canta uma frase e os demais a repetem, e assim sucessivamente.

Aquele era um cantar muito especial. Havia muita alegria e entusiasmo que crescia a cada momento, como eu nunca havia presenciado em shows ou espetáculos. Ali todos eram partícipes do grande espetáculo. Eu me sentia estranha e deslocada. No meu peito não havia alegria, pelo contrário, mais a alegria se manifestava por todos os lados, mais a tristeza se fazia presente em mim. No meio de tanta festa, de tantas pessoas, de repente me senti sozinha e deprimida. Sentia-me diferente de todos. Por que eu não sinto esta alegria? Quando vou ser feliz? Por que não posso sair desta tristeza? A minha mente era um turbilhão de perguntas e pensamentos negativos. Uma grande vontade de chorar veio à tona, a qual segurei com força, afinal eu não podia chorar em meio a toda aquela gente e aos novos amigos brasileiros. O que pensariam de mim? Prevaleceu a minha preocupação com a opinião dos outros, um modelo comportamental predominante em toda a minha vida.

Com um grande esforço, tentava me concentrar na música, cantava alguns trechos, observava ao redor. A mistura de tipos humanos compunha um quadro muito bonito. Faces, olhos, cabelos, pele multicoloridos. Movimentos, ritmos e expressões várias desenhavam no espaço trajetórias inesperadas e surpreendentes. Um espetáculo movido somente pela alegria de ser, sem drogas ou bebidas. Inacreditável para uma sociedade que tem estes estimulantes como comuns e necessários para o divertimento. Mas eu não conseguia sentir aquela alegria que eu via estampada na face de tantas pessoas. O meu interior era só escuridão como um buraco negro que me sugava, e estranhamente me dava certa segurança, pois era um espaço que eu conhecia há muito tempo. Enquanto aquele espaço lá fora, esfuziante, vibrante, prazeroso me dava certo medo, como se me fosse impossível sentir o prazer que me era oferecido tão facilmente e simplesmente. O riso estava em todos os rostos que eu via, o que me provocava um grande efeito.

Para mim, sorrir sempre foi difícil. Uma regra dada pela minha mãe na infância e adolescência, ao sair de casa, era sempre: “não dê confiança a ninguém, não fale com desconhecidos, cuidado com pessoas estranhas”. Estas regras me causavam um grande impacto e como solução encontrei “uma cara séria e sem sorrisos”, afinal o sorrir é sempre uma abertura para o outro, é um convite ao contato e à conversa. Assim, segui com minha cara sem sorrisos, o coração fechado e o distanciamento das pessoas. Tornou-se mais que um hábito, mas a minha expressão cotidiana, parte de mim, e mudar um hábito necessita de tempo e de motivações, não é mesmo? Então, estar imersa nos sorrisos, nas faces que se abriam para mim era uma experiência quase apavorante. Sentia dentro de mim uma espécie de luta entre aceitar e rejeitar o contato com as pessoas, entre a alegria e a tristeza, entre a luz e a escuridão, entre o prazer e o sofrimento. Opostos que coexistiam. O meu sentimento era de angústia e vontade de fugir dali para não viver esta dualidade, uma necessidade urgente de alcançar um estado interno de paz e tranquilidade.

E o tempo passava... O número de presentes aumentava e a inquietação pela chegada de Sri Sri Ravi Shankar também. Podia-se sentir no ar, nos movimentos agitados dos presentes e do burburinho que crescia. Estávamos todos sentados no chão, sobre almofadas, colchonetes, tapetes de yoga, cangas, cobertas, tudo que servisse para aliviar as dores causadas pela posição desconfortável e pelo espaço que diminuía com a chegada de mais e mais pessoas. O fluxo era constante tornando o Satsang mais animado. A este ponto estava muito excitada com a expectativa de conhecê-lo de perto, pois estávamos a apenas dez metros de onde ele se posicionaria. Perguntei a algumas pessoas que estavam comigo como ele era. “Você vai ver. É melhor esperar para você ver por si”. Obtive uma resposta vazia com ar de mistério que só aumentou a minha curiosidade.

De repente, várias pessoas começaram a dizer: “É ele, é ele!”. Todos se voltavam para o lado esquerdo do palco na direção do templo e percebi um movimento diferente de pessoas, um séquito, mas não pude identificá-lo em meio à multidão. Em poucos minutos ali estava Sri Sri Ravi Shankar em meio ao palco acenando e sorrindo para todos. Minha primeira impressão foi de estranhamento. Imaginava-o como uma pessoa grande, alta, forte, mas ali estava um “homenzinho” de baixa estatura, magro, aparentando ser quase um adolescente, alegrinho e sorridente. Mas imediatamente senti-me presa por aquela figura. Ali existia uma força que o tornava grande como um gigante que conseguia alcançar muito além do que uma pessoa normal. Meus olhos o acompanhavam fixamente e o meu coração batia no meu peito como um tambor. Ao mesmo tempo eu me observava e me criticava: “Mas o que é isso? Que

boba! Controle-se! O meu lado mais rígido reagia a tudo o que estava acontecendo, enquanto o outro lado era envolvido vertiginosamente pelo magnetismo de Sri Sri Ravi Shankar”.

Vestia um dhoti branco (um longo tecido retangular, de cinco metros de comprimento, não pespontado, enrolado na cintura), tipicamente indiano, a parte superior do corpo envolta em um angavastram também branco (pedaço de tecido não pespontado medindo aproximadamente, 1,50 m), de um tecido fino e delicado, cabelos pretos longos mal penteados, quase desgrenhados, barba longa, um pouco grisalha. Distribuía acenos e sorrisos enquanto era aplaudido vibrantemente por todos os presentes. O seu sorriso suave e sereno descortinava dentes branquíssimos que se destacavam em meio à negritude do bigode e da barba. O que mais se destacava eram os seus olhos. São pretos ou castanhos, dependendo da luz presente, de uma expressividade indescritível, sob as sobrancelhas grossas e escuras. O seu olhar era doce, acolhedor, como um rio de amor que escorre em todas as direções. Entre os olhos, na altura do chamado terceiro olho, uma pequena marca vermelha feita de tinta, em forma de gota. Paz era o que emanava daquele Ser, e contagiava a todos ao seu redor. Percebi que as pessoas agora sorriam de forma alegre e serena, e me percebi com a mesma expressão na face. O meu sentimento era de surpresa, mas de grande alegria. A inquietação dera lugar a uma mistura de paz interior e imensa emoção. Não queria perder nem um segundo daquela visão. Às vezes ficava de pé para ver melhor, já que muitas pessoas à nossa frente estavam de pé ou ajoelhadas. Fiz algumas fotos, aliás, flashes era o que não faltava, explodiam a cada segundo, numa tentativa de eternizar aquele momento.

Em seguida deram-lhe um microfone e ele nos falou algumas palavras de boas- vindas. “Olá! Estão todos confortáveis?”. E todos responderam em uníssono: “Sim”. “Good, good, good”, respondeu ele. A sua voz era melodiosa e carinhosa. Uma energia ainda maior, de calma e tranquilidade, se fizeram presente. Não me lembro de suas palavras, do seu pequeno discurso, a emoção era tão intensa que a minha mente não conseguia fixar-se nas palavras. Eu estava ali, completamente absorvida por aquela personalidade tão especial. Seus gestos e movimentos eram singelos e delicados como uma nuvem que desliza suavemente no céu. Ele, todo vestido de branco, era como uma miragem em meio ao deserto, trazendo uma brisa fresca e renovadora.

Fotografia 8 - Sri Sri Ravi Shankar no Satsang de 14/02/2006, Bangalore, Índia.

Sri Sri Ravi Shankar dirigiu-se para a cadeira localizada no centro do palco e sentou-se em posição meditativa. O grupo de músicos recomeçou a tocar e ouviu-se um sonoro “Om Namah Shivaya” elevar-se no ar. O satsang prosseguiu. Enquanto cantávamos, sim eu também cantava aquelas frases, em sânscrito, incompreensíveis, e naqueles momentos, a tristeza não estava mais presente, eu sentia somente a alegria. Ás vezes fechava os olhos e me sentia imersa em uma vibração intensa que se confundia com a vibração do meu próprio corpo. Outras vezes, abria os olhos e ficava observando Sri Sri Ravi Shankar que meditava calmamente com um ligeiro sorriso nos lábios. Creio que se passou uma hora, e ele estava ali, tranquilamente e impassível em sua serenidade. Já não meditava, nos olhava, com aquele seu olhar cativante, em todas as direções, como alguém que cuidava de todos os presentes e esperava que acabássemos a nossa festa.

Quando os instrumentos cessaram e as vozes silenciaram, elevou-se um silêncio intenso e profundo. Por alguns minutos (talvez vinte minutos) meditamos todos juntos. Aquele lugar era somente paz. Não tenho palavras para explicar ou descrever. Descobri, após anos de meditação, que meditar com um Mestre iluminado é muito especial. Foi muito diferente das meditações que vinha praticando em casa, onde a dor era sempre presente, às vezes até insuportável, a mente cheia de pensamentos, a inquietação e a impaciência sempre

presente. Ali, naquela tarde, apesar do desconforto, a meditação que vivi aconteceu de modo fácil, quase instantânea e com muita profundidade. Não havia pensamentos, não havia mais racionalizações, emoções ou sentimentos, eu apenas estava ali, em paz. Quando abri os olhos pude observar ao redor e ver a mesma paz no ambiente e nas pessoas. Foi um momento mágico, somente quem já viveu um momento assim poderá realmente compreender o que estou tentando expressar.

E então, outro momento mágico aconteceu. Por um momento o meu olhar encontrou o de Sri Sri Ravi Shankar. Ele então acenou levemente com a cabeça e abriu um sorriso em minha direção. Senti, então, uma onda, que se espalhava em todo o meu corpo, e na região do coração um sentimento de amor brotou, trazendo lágrimas aos meus olhos. Foi uma emoção tão intensa que comecei a soluçar. Aquele choro me trouxe um grande alívio, senti-me livre das tensões, dos medos e da tristeza. Foi um momento de grande leveza e alegria. Como é possível apenas um olhar, um contato com um Ser, e acontecer tudo isso? Existe uma resposta racional, uma explicação aceitável para tal fato? Pensei comigo mesma.