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IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA NO BRASIL EM CASTROLANDA

5. A IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA NO BRASIL EM CASTROLANDA IERBC

5.4 Os ensinamentos e o governo

A Palavra de Deus, a Bíblia, é o guia fiel, a autoridade final das Igrejas Evangélicas Reformadas. Crêem que o Espírito Santo, agindo através dessa Palavra, conquista

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PEREIRA, João Batista Borges. Religare: Identidade, Sociedade e Espiritualidade. São Paulo: Editora Allprint, 2005, p. 106. O professor Dr. João Batista desenvolve este assunto e conclui: “Há momentos históricos

específicos em que a identidade é redefinida em termos positivos ou negativos, isto é, beneficiando ou prejudicando a imagem do grupo.”

seus membros para viver com Deus. A segurança desses fiéis é ouvir e obedecer, seguir os preceitos da Bíblia. Negam seguir filosofias humanas ou depender da sabedoria dos homens que se mostram atraentes, pois julgam que este caminho os afasta da graça de Deus. Enfatizam crer e confessar ser a Bíblia inspirada por Deus.

Com este termo da "inspiração" querem dizer que os livros do Antigo e do Novo Testamento não são somente o resultado de palavras de homens, mas, ao mesmo tempo, palavra de Deus. Pela ação do Espírito Santo ouve-se, nas palavras humanas escritas na Bíblia, a própria voz de Deus. A confissão da inspiração da Escritura Sagrada, a Bíblia, é a manifestação do reconhecimento que somente pode- se entender este conjunto de escritos, se houver disposição em ouvir o próprio Deus falar.

Acreditam que a Bíblia se formou através de vários séculos. Muitas pessoas, de tempos e costumes diferentes, participaram da elaboração da Bíblia. Quem não levar em conta esta realidade, prejudicará o entendimento da Bíblia nos tempos atuais. Mesmo diante da incredulidade, pregam a inspiração da Bíblia, pois esta é uma das convicções mantidas pelas IER’s para mantê-los distantes dos “pensamentos” errados que os afastam de Deus. Afirmam que, ao falar da inspiração, não querem de forma alguma, atar Deus a um livro, como se pudessem se apoderar dele, pelo contrário, “a confissão da inspiração da Bíblia quer exprimir com limitadas palavras humanas algo do milagre que o Espírito Santo tem feito pelos fiéis, através do livro singular do Antigo e do Novo Testamento”.

Para manter firmes na fé, já desde os primeiros séculos da sua existência, a igreja cristã tem visto a necessidade de resumir a sua fé em confissões. Em geral pode-se dizer que há três objetivos com a elaboração das confissões de fé: ajudam a esclarecer a fé da igreja para o mundo afora, divulgar a fé para as próximas gerações e defendê-la contra doutrinas errôneas.

As Igrejas Evangélicas Reformadas reconhecem, junto com a grande maioria das Igrejas Cristãs, os três "Credos Ecumênicos", a saber: o Credo Apostólico, o Credo de Nicéia-Constantinopla e o Credo Atanasiano. Além destes "credos", as IERs mantém oficialmente mais duas confissões Reformadas: a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg. Todas estas confissões oferecem um resumo do que entendem ser o essencial da fé cristã. Acreditam que são opiniões que os autores destes escritos formularam, sobre a mensagem central da Bíblia, de uma maneira curta, clara e equilibrada.

Enfatizam o valor das confissões, sendo que a mais nova já foi escrita há mais de 400 anos. Admitem que elas têm, como todo escrito humano, suas limitações. “Todas essas confissões foram escritas para defender o âmago da verdadeira fé cristã. É nisso que elas ainda sempre mostram o seu valor, pois continuam firmemente a preservar-nos de desviar do entendimento certo da Palavra de Deus – às vezes até graças às suas limitações! Por isso é um privilégio sermos guiados por estas confissões na explicação da Bíblia e na ênfase do que é fundamental para a fé cristã, mesmo que nós, aqui e ali, coloquemos outro acento.” (Kiers-Pot, 2001)

Desde o início do século passado imigrantes holandeses têm-se fixado no Sul do Brasil. Estes holandeses, na sua maioria, vinham da ala reformada calvinista das igrejas Protestantes na Holanda. A história das Igrejas Evangélicas Reformadas mostram traços de um “protestantismo de imigração”, pois trouxeram do país de origem sua “bagagem espiritual”. Esta é uma das razões porque podemos apontar para várias correntes espirituais nas IERs, pois elas também são encontradas na variedade das igrejas reformadas na Holanda. Assim há uma corrente puritana com ênfase na prática da vida com Deus; uma corrente conservadora com ênfase na pluralidade da fé; uma corrente progressiva com ênfase na renovação da igreja e uma corrente pietista com ênfase no convívio pessoal com Deus. Para os reformados holandeses no Brasil, apesar dessas diferentes ênfases, o importante é manter a fé reformada. Sobre isto diz Kiers-Pot (2001, p. 67)

Vivia e vive entre nós a convicção de que precisamos uns dos outros e de que devemos lutar contra tendências separatistas. Durante os anos as nossas igrejas têm vivido sob a influência da vida na sociedade brasileira. De um lado sentia-se a necessidade de se diferenciar, defendendo e guardando a cultura holandesa. De outro lado sabia-se da necessidade de uma adaptação à vida na sociedade brasileira. Assim estamos buscando na realidade brasileira – bastante mística e predominantemente católico-romana – uma identidade que une de uma maneira aceitável a herança holandesa com a cultura brasileira.

Kiers-Pot acredita ser essencial para a manutenção da igreja o contato com a cultura brasileira. Justifica dizendo que a igreja que não tem contatos com a cultura em que vive, seguramente perderá a sua relevância. “Procurando, assim, o nosso lugar e a nossa tarefa no Brasil, nos tornamos o que somos no momento: uma igreja de uns

2.500 membros com traços holandeses, mas com a vontade de ser 100% brasileira.” ( Kiers-Pot, 2001)

Trazem consigo uma convicção de que as igrejas locais não são "filiais" de um corpo eclesiástico matriz, mas que elas, cada uma por si, são igrejas de Jesus Cristo.

Além da Bíblia e das Confissões de Fé a IERBC, juntamente com as demais igrejas do concílio maior, possui um Manual de Culto que rege as devocionais. Trataremos mais a frente sobre este assunto.

Com respeito ao governo administrativo da igreja, como em outras denominações de cunho reformado, o Conselho da igreja local é a assembléia suprema das igrejas. Crêem que Deus chamou os oficiais para, em primeiro lugar, pastorear e supervisionar as igrejas locais. Duas vezes por ano as igrejas locais se reúnem, através de seus deputados, numa assembléia supra-local, chamado Sínodo, para tratarem de assuntos relacionados a todas as igrejas ou que não puderam ser resolvidos pelos Conselhos locais. Os assuntos mais comuns são: missão em conjunto, formação teológica de futuros pastores, contatos com outras denominações eclesiásticas, elaboração de material para a educação cristã, reflexão sobre a identidade do conjunto das igrejas, hinário e formas para o culto e assim por diante. Este sínodo é moderado por uma mesa de quatro pessoas eleitas entre os deputados credenciados. Entre as reuniões do sínodo a mesa se responsabiliza pela resolução dos casos pendentes ou imprevistos e presta relatório das suas atividades.

A IERBC é dirigida pelo Conselho que, no final de 2.007, segundo o guia da comunidade, possuía dez presbíteros, quatro diáconos e dois pastores. Os pastores

são o Srs. Kleber Machado, pastor brasileiro da Igreja Presbiteriana do Brasil e Jörg Buller, pastor alemão da Igreja Luterana. Segundo o Guia da Comunidade (2007, p.2) a IERBC tem o seguinte princípio:

A comunidade de Castrolanda atua em diversas áreas, existindo, portanto, um número significativo de departamentos e comissões nos quais um grande número de membros se dedica de corpo e alma. Muitas pessoas colaboram ativamente em um ou mais desses grupos, nos trabalhos internos ou externos da Igreja, ou de entidades afins.

Além de algumas associações e departamentos ligados a igreja, como Associação de Assistência Social de Castrolanda e as Escolas, existe os seguintes departamentos, entre outros; Secretaria, Boletim, Departamento Patrimonial Shalon, Organistas, Conselho fiscal, Conselho de Finanças, Educação Cristã, Biblioteca, Juventude Unida de Castrolanda, Diaconia, Missão, Contatos Ecumênicos.

A vida eclesiástica é dirigida pela constituição das igrejas. Seu objetivo é que tudo seja feito com decência e ordem. A constituição não aborda todos os detalhes da vida das igrejas, mas quer garantir que a Palavra de Deus seja proclamada a fim de que as pessoas venham a crer e viver fielmente diante da face do Senhor (Romanos 10.14-15).

Os assuntos principais da constituição consistem no reconhecimento de três ofícios especiais: o de Ministro da Palavra de Deus (o pastor), de Presbítero e de Diácono. A constituição aborda como deve funcionar a indicação e eleição destes oficiais e quais são as incumbências dos respectivos cargos. O Conselho da igreja local e o Sínodo são os concílios que dirigem e supervisionam a vida da igreja.

Os reformados holandeses lembram sempre que “a autoridade máxima da igreja está com Jesus Cristo, o Senhor da igreja, é Ele que governa a sua igreja através da sua Palavra e do seu Espírito.” Nas suas resoluções, os concílios têm o dever de ouvir e seguir a vontade do Senhor e de ter como firme propósito a edificação da igreja.

A constituição menciona diretrizes gerais a respeito das tarefas básicas da igreja. Trata de assuntos como a convocação de cultos, a direção dos cultos, a pregação da palavra, a celebração dos sacramentos do Batismo e da Santa Ceia, o levantamento de ofertas, a tarefa missionária da igreja, a educação cristã.

Outro assunto da constituição é a disciplina na igreja. Sempre deve ser levado em conta que a disciplina tem um caráter espiritual (Mateus 16:15-18). Além disso, ela deve ser executada pelo pastor, pois o objetivo da disciplina cristã não é castigar, mas admoestar para que o membro desviado se arrependa e seja reconciliado com Deus e com o próximo.