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O Ensino Superior no Brasil e as Reformas do Estado: condições para o surgimento do Currículo Lattes

CURRÍCULO LATTES: DISPOSITIVO DISCIPLINAR DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL

2.1. O Ensino Superior no Brasil e as Reformas do Estado: condições para o surgimento do Currículo Lattes

O Ensino Superior no Brasil é considerado recente se comparado aos países da Europa e também alguns da América Latina como México e Peru, datados de 1500. Bogotá, na Colômbia e Quito, no Equador, tiveram seus institutos constituídos entre 1622 e 1640. No caso das colônias inglesas, são datadas de 1636 com a fundação de Harvard. É importante destacar que enquanto tais países constituíam seus Institutos de Ensino Superior o Brasil estava sendo descoberto e colonizado pelo império Português, justificando-se assim sua trajetória posterior com relação ao estabelecimento das primeiras Escolas de Ensino Superior.

Rica, mas essa tentativa não obteve qualquer êxito. Em 1823, na Constituinte, a idéia voltou à baila, mas também não se obteve resultados reais de tais iniciativas. Sucederam- se ainda outras tentativas, em 1874, no Segundo Reinado, em 1881 e 1883, além da menção de D. Pedro II9, em 1889, sobre a criação de duas universidades, a saber: uma ao sul e uma ao norte do império, além da criação de faculdades de Ciências e Letras de acordo com as necessidades das províncias e que seriam vinculadas ao sistema universitário. Tais intenções apresentadas não obtiveram nenhuma conseqüência efetiva para a consolidação desse nível de ensino no país.

Niskier (1996) destaca que, somente em 1920, a idéia de se instituir concretamente uma universidade no Brasil ganha força, considerando-se que na cidade do Rio de Janeiro já funcionava a Faculdade de Medicina, a Escola Politécnica, e as Faculdades Livre de Direito e de Ciências Jurídicas e Sociais. Nesse sentido, ao governo coube, configurar efetivamente, por meio do Decreto nº 14343, de 07 de setembro de 1920 - homologado pelo Presidente da República, Epitácio Pessoa - a Universidade Livre do Rio de Janeiro, reunindo a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.

Podemos destacar que, após o termino da Primeira Guerra Mundial, aconteceram diversas transformações no contexto social e cultural mundial, as quais tiveram grande influência francesa e de outros países europeus no Brasil, conforme descreve Niskier:

Com o término da Primeira Guerra Mundial, as influências estrangeiras sobre o Brasil sofreram profundas alterações. Durante o Império e nas primeiras décadas do Regime Republicano a França exercera um papel preponderante quase em todas as áreas culturais do pais. (...) Na educação, serviram de guia, ao lado dos franceses, os suíços e alemães. As reformas do ensino decretadas, deixavam transparecer, em seus dispositivos, a familiaridade dos seus autores com os sistemas europeus. (NISKIER, 1996, p. 229).

Neste período, a Universidade Brasileira sofria grande influência do modelo de ensino das escolas francesas:

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Em 1889, D. Pedro II, imperador do Brasil fez menção expressa sobre a temática da criação da Universidade em sua Fala do Trono. A Fala do Trono consistia em um discurso em que os desejos do

A poderosa influência exercida nessa época pela França em relação dos métodos de ensino adotados no Brasil pode ser avaliada, entre outros exemplos, pela criação, em janeiro de 1923, do Instituto Franco- brasileiro de Alta Cultura, instituído oficialmente sob o patrocínio da Universidade do Rio de Janeiro. (NISKIER, 1996, p. 228).

A partir desse modelo e, considerando as questões políticas envolvidas no tratamento das temáticas relacionados à instalação de uma Universidade no Brasil, houve grande movimentação para que fosse instituída uma universidade do país. A constituição e reconhecimento da Universidade de Minas Gerais abriu um viés para se elencar os problemas relacionados à alocação das universidades, além de regulamentar e aperfeiçoar o sistema de ensino no país. Um exemplo da necessidade de reorganização do sistema era que a Universidade de Minas Gerais estava subordinada ao Ministério da Agricultura. Após o decreto de 1928, passou para a jurisdição do Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Contudo, a Escola Naval e o ensino militar continuavam subordinados ao Ministério da Marinha. Dentre os problemas relativos ao surgimento do ensino superior no Brasil, Niskier (1996) destaca que neste momento se introduz a este contexto a necessidade de surgimento de uma universidade em São Paulo, que contudo, só ocorrerá no início de 1930.

Morosini (2005) afirma que o período até 1930 é movido por “reformas consecutivas e desconexas’’, e a escola brasileira era de conteúdo intelectualista, alienada da realidade e sem vinculação ao mundo do trabalho”. (p.309). As transformações do período podem ser consideradas superficiais no campo da Educação, em especial, no Ensino Superior, embora tenham sido significativas nos campos da política, economia e sociedade.

A partir de 1931 “o ensino superior iria merecer a atenção especial do Governo Provisório, através do Decreto no. 19.851, de 11 de abril de 1931, que passaria a ser conhecido como o estatuto das Universidades Brasileiras” (NISKIER, 1996, p. 250). Esse estatuto seria composto por 116 artigos para estabelecimento das normas de organização da estrutura administrativa e didática que tinha por objetivo reverter um quadro de decadência do Ensino Superior que vinha se acentuando desde a fundação da primeira Universidade do Brasil. Tal estatuto, segundo Romaneli (2006) trouxe como definição, no artigo 1o., que o ensino universitário,

(... ) tem como finalidade: elevar o nível da cultura geral; estimular a investigação científica em quaisquer domínios dos conhecimentos humanos; habilitar ao exercício de atividades que requerem preparo técnico e científico superior; concorrer, enfim, pela educação do indivíduo e pelo aproveitamento de todas as atividades universitárias, para a grandeza da Nação e para o aperfeiçoamento da humanidade. (ROMANELLI, 2006 p. 133).

A autora pontua que já neste momento existia uma visão distorcida sobre a realidade brasileira educacional, uma vez que embora existisse conceitualmente um modelo de educação superior pautado em valores científicos e humanísticos, o cenário social e político, aos poucos, ia se apresentando de forma contrária, com a valorização e incentivo de uma universidade voltada para a formação profissional. Outro fator relevante a ser destacado era a falta de tradição em pesquisa, em função de diversos fatores, dentre eles a forma como a economia do país evoluiu e o processo de industrialização, além das legislações e reformas que pouco contribuíram para a efetiva reversão desta situação.

Consideramos relevante para nossa pesquisa destacar que a Universidade Brasileira mesmo estando num momento de construção de uma identidade, tal construção tornara-se complexa e esta se apresentava em crise. O modelo de universidade que se desejava era ainda considerado humanista, voltado para a formação integral do humano, ou seja, com uma concepção técnica, profissional e cultural. Na prática, porém, o modelo que existia estava sendo substituído por um modelo fixado na formação profissional e de mercado. A esse respeito, Niskier (1996) cita um texto de Francisco Campos, que representa o momento de conflito e contradição existente já neste período. Este trecho aponta uma visão de universidade que valorizava os aspectos humanísticos abordados anteriormente:

“A antiga Universidade do Rio de Janeiro limitava-se ao ensino do Direito, da Engenharia e da Medicina. Faltava-lhe, para completar a sua envergadura universitária, o elemento artístico, indispensável e obrigatório complemento de toda a cultura.... Tornava-se pois indispensável, dar à Universidade do Rio de Janeiro temas autenticamente universitários, incorporando à sua estrutura reduzida ao esqueleto do ensino puramente profissional, as grandes divisões da arte e da cultura científica, o que se faz necessário agregando-se- lhe a Escola de Belas Artes e o Instituto Nacional de Musica radicalmente remodelados na sua orientação artística e didática, e a Faculdade de Educação, Ciências e Letras.” (CAMPOS apud NISKIER, 1996, p.250- 251).

Cabe destacar que em 1932, é autorizada pelo Decreto no. 21303, de 18 de abril de 1932, a criação em São Paulo, de uma Universidade “Técnica”, que de acordo com Niskier (1996), teria como finalidade – a partir do referido decreto - “promover o ensino prático e as investigações de caráter científico ou utilitário indispensáveis à formação dos técnicos destinados às funções dos grandes empreendimentos”. (1996, p.253).

Nesse sentido é relevante apreendermos que existia a Universidade vinculada ao nível Federal, que se pautava ainda nos modelos europeus. Por outro lado, começaram a surgir as Universidades Estaduais como a Universidade de São Paulo, em que coexistiam os dois modelos de Ensino Superior: o modelo europeu e o modelo americano, voltado para o desenvolvimento tecnológico e profissional.

A primeira tentativa nesta linha, no entanto, não caberia ao governo federal, e sim ao governo paulista, que em 1934, na gestão de Armando Sales Oliveira, instituiu a Universidade de São Paulo (USP), centrada na sua faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Para os fundadores da Universidade de São Paulo, ela teria como principal objetivo devolver seu estado, a longo prazo, a posição de liderança nacional perdida em 1932. (SCHWARTZMAN, 2000, p. 222).

É pertinente salientarmos que as influências políticas e econômicas que o país passava durante o período do surgimento da Universidade até a Reforma Universitária de 1968, tiveram relevante papel nas várias mudanças estruturais da universidade, que eram em sua grande maioria, pautadas no desenvolvimento técnico e profissional. Neste sentido, a Universidade de São Paulo é constituída, em 1934, a partir desta mentalidade, mas que em função da criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras não tem o seu projeto de Universidade Técnica concretizado, embora já estivesse estabelecida ali a concepção de universidade técnica voltada para atender o mercado de trabalho.

Em contrapartida, Gustavo Capanema, ministro da Educação e da Saúde, no período de 1934 a 1945 defendeu a instituição do Projeto Universidade do Brasil, que teria como um de seus principais objetivos "implantar em todo o país um padrão nacional e único de Ensino Superior". (SCHWARTZMAN, 2000, p.223).

Para Capanema, o projeto de Universidade do Brasil era fundamentado em quatro atividades principais:

o desenvolvimento da própria concepção de universidade; seu planejamento físico, que se deveria materializar na cidade universitária; a criação de uma faculdade de filosofia, ciências e letras, que seria o núcleo de integração de todo o conjunto; e a criação de novas faculdades e institutos, dentre os quais sobressaía o projeto na faculdade nacional de política e economia. (SCHWARTZMAN, 2000, p. 223).

A Universidade do Brasil foi instituída em 5 de julho de 1937, sancionada por Getúlio Vargas pela Lei no. 452. Capanema defendia uma Universidade para a elite e não era bem visto pela imprensa que o criticava de forma feroz. Esse projeto, perpassou por diversos problemas administrativos, os quais não permitiram sua consolidação completa, mas foi bem sucedido na consolidação de concepções administrativas que foram absorvidas e reproduzidas em anos subseqüentes:

(...) a idéia de que o sistema universitário necessitava de uma sistematização legal que definisse os currículos dos diversos cursos; a noção de que deveria haver modelos e padrões válidos para todo o país; o princípio de que ao título proporcionado pelas universidades deveria corresponder uma profissão regulamentada pela lei; o papel do Ministério da Educação como órgão fiscalizador do sistema educacional, apoiado por um grande Conselho Nacional; a idéia de que o ponto de partida para a estruturação das universidades deveria ser a construção física de seu campus. (SCHWARTZMAN, 2000, p. 243).

Dentre os inúmeros acontecimentos apontados sobre à constituição do Ensino Superior no Brasil é possível perceber como tais fatos ocorrem de maneira desordenada e em diversas regiões do país, tornando-se muito difícil a realização do tipo de projeto de uma Universidade Nacional, como fora proposto por Capanema, que serão reconhecidas em diversos momentos em que o ensino superior passará por mudanças e reformas. Esses elementos impedem o reconhecimento de uma identidade autêntica e homogênea da Universidade no Brasil.

Morosini (2005) destaca que a Universidade Brasileira passará por diversas transformações, até o ano de 1968, com a reforma universitária que se estende até o fim dos anos 80, na qual " (...) já está consolidada a imagem de uma universidade em crise.” (2005, p.314). É importante destacar que esta crise trata da falta de uma padronização dos cursos, pois cada qual organizava-se segundo gestão própria, mesmo com a existência de normativas federais. Por outro lado, aspectos econômicos, como por exemplo, a crise de 1930 e o anseio da classe média em ascender socialmente pela educação, influenciaram,

segundo a autora, no questionamento acerca da universidade e geraram, por sua vez, propostas diferenciadas.

Considerando as características histórias apresentadas até o momento, podemos constatar que o ensino superior no Brasil não conta com um único modelo de ensino, mas com uma universidade diversificada e expandida entre pública e privada, organizadas universidades e não universidades, que compreendem a existência dos Centros Universitários, Federação de Escolas e Faculdades Independentes. Neste sentido, as exigências institucionais e os parâmetros de avaliação se constituem de maneira diversa, o que impede - na maioria dos casos – uma visão de cursos superiores de forma homogênea, dificultando ainda a avaliação da qualidade dos cursos oferecidos.

O Brasil conta com a atuação das agências de fomento à pesquisa tecnológica e à formação, tais como CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior – que acompanha as ações dos programas de Pós-Graduação e o CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -, e que tem por objetivo fomentar a pesquisa e a formação de recursos humanos para o país e participar da gestão política da comunidade científica, por meio de seus comitês e que, de alguma forma, busca estabelecer padrões de qualidade por meio de critérios estabelecidos para a avaliação e concessão de auxílios à pesquisas do país.

O novo contexto, permeado por questões políticas e econômicas acerca da temática da educação superior nos permite identificar a substituição do modelo Francês e das Escolas Européias, consideradas intelectualistas, por uma educação superior pautada na concepção de desenvolvimento baseado na modernização e, conseqüentemente, na produção de tecnologia, visando o desenvolvimento econômico e industrial, que será característica determinante da Universidade contemporânea.

Morosini (2005) destaca que:

Estas normatizações refletem o contexto sócio-político-econômico da nação brasileira, onde o desenvolvimento, com base na industrialização e na internacionalização da economia, caracteriza o processo de modernização da sociedade. (MOROSINI, 2005, p.314).

As Universidades constituirão, ao longo das próximas 3 décadas, - a partir de incentivos políticos - seus currículos e, de certa maneira, direcionarão a produção do conhecimento com vistas ao desenvolvimento de atividades universitárias produtivas,

A imbricação entre política socioeconômica e a educacional fica clara na exposição de motivos da Lei n. 5540, que trata da reforma universitária e declara ser uma das principais metas a racionalização das atividades universitárias, de forma a dar-lhes maior eficiência e produtividade (Relatório GGTRU, 1968, p.25), características das atividades empresariais (MOROSINI, 2005, p.314).

Trata-se de uma reforma cujas transformações foram profundas, uma vez que foram instituídas as funções para o ensino, a pesquisa e a extensão. A carreira docente começou a ser reconhecida por títulos acadêmicos, além da criação do regime de trabalho de dedicação exclusiva à universidade. Pôs-se fim a cátedra e sua representação elitista, uma vez que esta nova configuração de universidade, pautada em características de gerenciamento administrativo empresarial. Essa não permitia que a cátedra universitária fosse praticada como meio para ascensão social.

A Reforma de 1968 trouxe consigo uma fase chamada de “modernização” que, entretanto, se processava anteriormente e que foi revelada pós-68 , tendo como principal característica a busca de uma formação de trabalho com nível universitário que atendesse ao capital monopolista, bem como os interesses das camadas denominadas “médias” da sociedade. É interessante observar que esta situação era considerada “mascarada”, segundo Morosini (2005), em função das promessas de desenvolvimento do país e do populismo que permeava todos os ambientes sociais.

Nesse contexto de “modernização” o conteúdo técnico passou a dominar embora tenha havido intensas discussões sobre as conseqüências da importação de modelos estrangeiros de universidade sem considerar a participação da comunidade acadêmica. Desta forma, a adoção desses modelos por leis e questões políticas permitiram que a reforma da universidade fosse limitada a resolver problemas administrativos e organizacionais, como aponta Morosini (2005):

A reforma da universidade foi profunda. Ela legislava para o ensino com base nas universidades, instituindo a ampliação de suas funções para o ensino, pesquisa e extensão, e criando os departamentos aliados a um complexo sistema organizacional, caracterizado, de um lado, pelo sistema administrativo e, de outro, pelo acadêmico. (MOROSINI, 2005, p. 315).

Verificamos que este processo de modernização se estendeu e se ampliou em âmbito acadêmico. Tanto que, a partir de 1972 os cursos de pós-graduação, mestrado e

doutorado, que “ (...) fundamentavam a concepção de desenvolvimento nos governos militares” (Morosini, 2005, p.314) recebem grande apoio por meio de três Planos Nacionais de Pós-Graduação, sendo eles em: 1972-1979; 1982-1985 e 1986-1989. Vale ressaltar que nesse momento questões políticas direcionavam os rumos da Universidade no Brasil com a finalidade de atender a interesses de caráter econômico tendo em vista a produção industrial.

É relevante destacar ainda que esta modernização, com objetivos específicos de desenvolvimento tecnológico e industrial, permitiu a ampliação do ensino superior privado por meio da instalação de inúmeras faculdades isoladas que se espalharam nas cidades do interior e nas periferias urbanas. Entretanto, a oferta de cursos de graduação nem sempre levavam em conta os padrões acadêmicos para cursos superiores. Temos uma abertura desordenada no campo do Ensino Superior do Brasil incentivada por interesses políticos e econômicos. Esta prática, por um lado permite o acesso ao ensino superior para um grande número de estudantes e, por outro, introduz um problema de avaliação da qualidade do ensino, uma vez que a proliferação de escolas e institutos superiores dificultam a fiscalização por parte dos órgãos públicos responsáveis.

A Universidade Brasileira estende sua fase de modernização até o início dos anos 90, expandindo-se em números e, principalmente, no setor privado com grande destaque para a priorização de uma abordagem empresarial. Esta década é também marcada pela revolução tecnológica, pela globalização e as diferentes concepções do Ensino Superior.

As influências internacionais no campo educacional, principalmente no que tange ao financiamento externo, trouxeram à baila questões relacionadas a grande diversidade que os modelos universitários possuem. Esses modelos são cada vez mais pautados nas relações econômicas e produtivas, em que há a necessidade de se criar instrumentos de normatização e avaliação das práticas docentes e da produção do conhecimento. Neste sentido, torna-se extremamente difícil garantir uma normatização, o que por sua vez, coloca em risco a qualidade do ensino que é oferecido visando incorporar o ensino ao sistema técnico produtivo da modernidade. Esse sistema atende aos quesitos estabelecidos por instituições de poder econômico e político com objetivos e interesses próprios.

Dentre elas, em contexto internacional, as tensões advindas do processo de globalização versus o atendimento de necessidades nacionais levaram muitos países a

UNESCO, os encontros regionais em cidades como Havana, Dakar, Tóquio, Palermo e Beirute. A partir desses encontros, de acordo com Morosini (2005), em 1998 houve a publicação do documento “A Educação no século XXI: visões e ações: informe da Conferência Mundial sobre o Ensino Superior” em que são abordadas as culturas da paz, da equidade e da qualidade. A autora destaca que o documento sugere as seguintes missões para o ensino superior:

(...) educar, formar, e realizar pesquisas; ter funções ética, de autonomia, de responsabilidade e de prospecção; igualdade de acesso a todos e às mulheres em especial; promoção do saber mediante a

pesquisa e a difusão de resultados; orientação a longo prazo fundada

na pertinência; cooperação com o mundo do trabalho; diversificação como meio de reforçar a igualdade de oportunidades; métodos educativos inovadores; protagonismos dos professores e estudantes, avaliação da qualidade; potencialização dos desafios da tecnologia; reforço à gestão e ao financiamento da educação como serviço público; disseminação dos conhecimentos entre os países; e fortalecimento de alianças sociais. (MOROSINI, 2005, p.317).10

É relevante considerar também as concepções de educação superior apontadas pelo documento do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional em 1995, que em função de investimentos a serem ofertados aos países para o desenvolvimento educacional, sugerem que as universidades estejam voltadas para o mercado, sejam eficientes e racionais. Morosini (2005) afirma que:

A influência internacional no sistema de educação superior,do pais, proposta pelo documento elaborado pelo Banco Mundial (1995), reflete a presença de um estado avaliador e que orienta os países em desenvolvimento para a redução do papel do Estado na educação superior; a privatização e a diversificação no sistema de educação superior (SES) e a avaliação da qualidade, todos esses princípios fundamentados num grande articulador – a flexibilização do SES, (MOROSINI, 2005, p.317).

Faz-se necessário ainda considerar as influências políticas e econômicas