• Nenhum resultado encontrado

APÊNDICE III TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS (NA ÍNTEGRA)

ENTREVISTAS TIPO 3 Perfil dos entrevistados:

Professor com Atuação no Ensino Superior (Graduação e/ou Pós-Graduação Professor com produção Artística

Professores Doutorandos, Doutores ou titulação superior com formação em Artes

Entrevista 1   *LUCAS / IES: Mackenzie  Área de Atuação: Arte & Tecnologia  Data: 17/03/2009  Local: Laboratório Interdisciplinar (IES) – São Paulo   Duração: 41”  Você conhece e possui Currículo Lattes no CNPq? Desde quando?    Desde 2000.    Você acha fácil o acesso ao currículo?Tem facilidade com o preenchimento?    Não. Eu acho que sou a pessoa menos indicada para falar sobre isto. Tenho muita dificuldade para  preencher este tipo de informação porque eu acho que ele é exaustivo, ele pergunta muitas vezes a  mesma coisa. Pode ser por causa do sistema, do software. Pode ser,  eu não tenho certeza, que seja  por  causa  do  sistema.  E  com  certeza  ele  nos  causa  um  certo  desânimo  porque  raramente  as  informações dele são usadas pela própria instituição. 

Por exemplo, quando você recebe um convite para dar uma palestra, umas aulas, você é obrigado a  mandar seu currículo e se você mandar seu currículo lates não vale. É estranho esta coisa. Quando  você  importa  o  currículo  lates  para  o  Capes  seria  uma  facilidade  terrível,  informações  como  datas,  local e os RLs não vão. Porque estou dizendo isto. Quando você pergunta se eu acho fácil preenchê‐lo,  na  realidade  eu  faço  toda  uma  relação  da  minha  produção  no  Word  normal  que  é  extremamente  simples, mas na hora de colocar isto lá complica. Fica parecendo até outra produção e não aquela a  qual você destinou. 

 

Porque você preenche ou atualiza o Currículo Lattes?   

Primeiro,  por  uma  necessidade  acadêmica,  uma  exigência  para  pedidos  de  bolsa,  fomento  para  pesquisa, um mal necessário. Eu já fui contra esta coisa de Lattes de Capes. Eu falava, ah! Stalinismo,  né? Mas quando eu fui vice‐diretor de uma instituição, que por ética não vou citar o nome, de seis  faculdades,  e  depois  quando  você  é  vice‐diretor  de  um  lugar  e  começa  a  ver  como  funcionam  os  credenciamentos  aí  você  começa  a  perceber  que  com  toda  a  exigência  do  Lattes,  do  Capes  e  tudo  mais, existe muita informação de caráter mentiroso, de caráter duvidoso. Você sabe que aquilo não  existe. Você sabe que aquela produção não é bem aquilo. 

Eu  tenho  certeza  que  quando  o  pessoal  do  Capes  olha,  o  CNPq  também,  sabe  que  aquilo  não  é  verdade. Então, estas instituições passam a ser um mal necessário. Mas, o preenchimento dela é para  isso na realidade. Eu gostaria muito que nós tivéssemos um recall de que realmente o nosso Lattes foi  lido.  Porque  muitas  avaliações,  pelo  menos  a  mim  pessoalmente,  de  não  ter  sido  aprovada  uma  viagem – viagem é mais fácil ‐, mas estadia, uma coisa assim, você percebe que só foi avaliado o que  você escreveu na exigência do projeto. 

Mas ninguém entrou no Lattes para ver seu histórico, se aquele projeto que você está desenvolvendo  é extremamente pertinente a um dado que já vem com você de anos para cá. Por exemplo, eu lancei  um  DVD  agora.  Ele  é  uma  pesquisa  fruto  de  2004  lá  da  França.  Se  você  entrar  no  meu  Lattes  vai 

O senhor já introduziu um pouco da questão dos campos, mas eu preciso perguntar novamente.  O  senhor  considera  a  estrutura  dos  campos  disponíveis  adequada  para  registrar  suas  pesquisas?    Não. Eu acho que aí  tenho experiência própria. Nós ainda preenchemos ‐ quando eu falo nós eu me  refiro a pessoas que trabalham com ambientes virtuais, mídia eletrônica, com publicação online – ela  ainda entra na produção técnica. Por exemplo, autor. Neste ano que passou eu fui autor de CDs de  poesias sonoras e de um DVD. E se você considerar o livrinho que vem dentro que tem 30 páginas de  poesia também é uma terceira publicação. 

É  um  trabalho  que  levou  tempo  para  fazer.  E  eles  não  têm  como  entrar  em  “autor”.  Aí  entra  em  “outro”.  Esse  “outros”  eu  não  sei  como  é  visto.  Mas,  na  realidade  eu  tenho  que  colocar  tudo  como  produção  técnica.  E  aí  eu  pergunto  o  seguinte:  quer  dizer  que  publicar  um  livro  é  mais  sério  que  publicar um DVD de poesia visual? Porque um DVD leva muito tempo a edição de som.... 

Por  isto  que,  quando  eu  publiquei  os  poemas,  o  texto  de  abertura  de  um  cara  lá  do  Paris  8,  Laboratoire  de  Paragraphe,  um  cara  respeitado  internacionalmente,  e  o  CD  sonoro,  para  perceber  que  eu  fiz  todo  um  percurso  onde  não  descaracteriza  a  importância  da  pesquisa  acadêmica  mais  a  autoria.  Aí  você  me  pergunta  o  seguinte:  eu  preencho  isto  em  produção  sonora,  em  produção  artística, em produção técnica ou preencho isto em autor? Porque quer queira, quer não, eu sou um  autor.  

Entendeu a minha dificuldade? É um problema muito sério porque não é a realidade. Porque o que  conta ponto é publicação de texto em revista Qualis e publicação onde há autoria. Eu já tenho quatro  produtos  de  mídias  digitais  publicados  aqui  no  Mackenzie.  E  eu  não  apareço  como  autor  em  nada.  Parece que este tempo todo que eu fiquei aqui, fiquei olhando para o teto. É difícil. Você foi minha  aluna e viu como é difícil fazer uma produção destas.  

Lembra o dia que eu escrevi na lousa que eu escrevo a partitura que é produção musical? Aí você fala  assim:  olha  como  esse  professor  é  sacana.  Ele  colocou  como  produção  artística,  como  autor,  como  produção técnica, como produção musical e sonora. Ele está em cinco campos com o mesmo produto.  O  que  você  quer  que  eu  faça  se  eu  trabalho  com  interdisciplinaridade?  Então,  eles  que  criem  um  campo interdisciplinaridade e você preenche lá, só com o nome do produto.  

 

Falando  sobre  este  assunto,  das  atividades  de  maior  relevância,  dessa  produção  que  o  senhor  está dizendo, não há espaço para colocar ou há espaço para colocar no Currículo Lattes? 

 

Não. Ele não tem um espaço para colocar. Por exemplo, estava conversando com uma professora que  tem  um  conhecimento  muito  grande  destas  plataformas  e  ela  resolve  colocando  em  “outros”.  Mas  veja  bem,  todo  artista  e  todo  acadêmico  tem  um  ego  terrível.  Nós  somos  ególatras.  É  muito  complicado você trabalhar um produto durante três, quatro anos e colocar em “outros”. 

Para  mim  fica  parecendo  que  estou  negligenciando  uma  produção,  até  pelo  respeito  que  eu  tenho  pelo Mackenzie. Para que eu tenho um espaço deste (Laboratório Interdisciplinar no Mackenzie) para  colocar  em  “outros”?  Não.  Eu  tenho  uma  produção  sonora.  Tenho  as  partituras  impressas.  Na  realidade não há um campo onde nós possamos dar a qualidade que o produto tem. Inclusive para o  próprio  CNPq  e  Capes.  Porque  se  coloco  em  “outros”  fica  parecendo  assim:  ah!,  ele  pegou  lá  um  softwarezinho, criou.... Não! Você viu! Eu tenho produções sonoras como a teatral que eu uso cinco  softwares.  É  uma  produção  grande.  Fora  a  produção  imagética  de  edição.  Então  eu  acho  que  os  campos têm que começar a valorizar estes trânsitos e não apenas o nome “produção artística”.   

Pergunto  também  com  relação  a  isto:  o  senhor  considera  que  estes  campos  de  “produção  artística”, que estão no Currículo Lattes, contemplam suficientemente a área de artes? Ou o que  falta para ele contemplar a área de artes? 

 

 Não.  Apesar  de  ele  ter  um  dispositivo  que  quando  você  clica  você  tem  lá  exposição,  multimeios  e  outras. Na realidade, minha produção não é de multimeios. Multimeios é um termo que a Unicamp  criou e ficou. Na realidade minha produção é hipermídia. E hipermídia não é multimeio. Então eu não  consigo conceito porque... Eu te pergunto: para que serve uma plataforma institucional voltada para o  ensino aprendizado e produção científica? É para você conceitualizar. Para você criar um corpus do  que  realmente  você  está  pesquisando,  para  na  hora  de  pedir  fomentos  o  cara  avaliar  que  o  pesquisador é importante nesta área”. 

trouxe  à  vida  acadêmica  foi  querer  entender  conceitualmente  o  que  eu  produzia.  Se  eu  produzisse  artisticamente o que eu sempre produzi ‐  você sabe disto ‐  eu estou aqui todos os dias, não precisa  não ter lei de quanto tempo você deve fica aqui porque esta é a minha vida, se eu já fosse um artista e  eu tinha uma vida, sempre tive ateliê, eu não teria vindo para a vida acadêmica.     Então pergunto para o senhor, aproveitando o gancho, o que é considerado de um modo geral  produção científica na área de artes?    Hoje, nós temos o conceito de simulação que é um conceito que está transitando entre representação  e simulação. A produção artística sempre foi uma produção voltada para questões de representação:  pinturas, gravuras, produções maravilhosas. Um exemplo disto é o nosso grande professor Norberto  Stori, uma referência.   Mas, a produção intermídia, a produção de simulação, ela é regida, há uma regência toda científica  que  são  os  módulos  algoritmos  digitais.  Então,  por  exemplo,  você  não  trabalha  só  criando  poesia  digital  ou  criando  arte  e  tecnologia.  Você  trabalha  na  produção,  uma  produção  em  conjunto,  pelo  menos  deveria  ser  assim,  com  o  departamento  de  tecnologias  para  o  desenvolvimento  de  certos  softwares,  para  que  você  alcance  este  objetivo.  Neste  caso,  não  posso  colocar  como  produção  artística.  

Quer ver, por exemplo, o Loop poesia, não sei se você se lembra quando dei esta aula, ele não tem o  setup, ou seja, em termos de software quando termina a programação você não fecha ele. Isto é uma  coisa  que  vai  totalmente  contra  as  regras,  porque  ele  vai  rodar  em  cada  computador  de  forma  diferente. Não pode. Você imagina ouvir o Djavan entrar no computador com uma voz numa rotação  diferente?  Mas, para o meu trabalho era importantíssimo mudar o setup. E as empresas que fazem os CDs não  aceitam. Essa é uma produção artística que leva em consideração totalmente um corpus tecnológico.  Porque na verdade quem produz o estranhamento do produto artístico é o algoritmo. Não é o artista.  Então não posso falar isto. Aí vai para a produção técnica. Na produção técnica, o que acontece? Fica  parecendo  que  nós  aqui  temos  um  laboratório  de  engenharia.  Fica  uma  coisa  muito  seca  como  produção técnica. Quando você põe [no Lattes] um DVD em produção técnica fica parecendo que nós  criamos o software.  

Para se ter uma idéia, para responder ainda esta sua pergunta, agora não sei como está, mas há uns  anos  atrás  para  eu  publicar  um  CD  Rom  meu,  era  produção  de  software.  Você  punha  na  produção  técnica produção de software. Porque quando você programa através de um software de autoria, faz  a programação de um produto. Mídia poesia, por exemplo, segundo as regras  você tinha criado um  software.  Olha como a coisa é complicada. Porque não colocar lá poesia digital, artes em ambientes  virtuais.  Isto já está catalogado. Isto existe no mundo inteiro. Onde eu faço pós‐doutorado, o Laboratório de  Paragraphe, na França, só faz isto. Porque este passo não é dado? É complicado.    

O  senhor  acredita  que  o  Currículo  Lattes,  a  existência  dele,  influencia  a  produção  do  conhecimento científico? Ele afeta a área de artes? Em que sentido?    Primeiro que eu acho, quando você vai prestar “toefl”, já ouviu falar em “toefl”? Se você vai para uma  área como comunicação visual, artes, você presta “toefl”. Se você for para uma área científica, você for  fazer um estágio na NASA, por exemplo, você faz o GRE (Gradvate Record Examination). Eu não sei  porque o Lattes não é assim. Aí vão dizer: ah! Lucas você não quer uma coisa interdisciplinar?   Porque  eu  acho  que  –  eu  estava  agora  conversando  com  o  Brito,  gerente  de  Desenvolvimento  e  Tecnologia  –  o  que  eu  faço,  academicamente,  ou  seja,  eu  pesquiso  prosa,  literatura  e  poesia  em  ambientes virtuais, acho que o que eu faço é uma contribuição na produção cultural, porque quando  quem abre um catálogo do Brasil, do ponto de vista acadêmico você vai ver que existem pessoas que  pensam a cultura de uma forma mais século XXI, que existe uma preocupação com a nova literatura  do século XXI, etc.  

Mas  se  eu  morrer  não  vai  fazer  falta  para  a  humanidade.  Desculpa,  estou  falando  uma  coisa  muito  cruel. Eu sei que muitos artistas discordam disto. Porquê? Porque meu produto é cultural. Inclusive é  um produto que conta com a minha morte. Os grandes artistas já morreram.  

Tem um “paper” que eu escrevi para um evento que aconteceu em 2008, evento sobre poesia digital,  na  França,  que  eu  começo  assim:  literatura  não  é  ciência.  Literatura  pertence  ao  nosso  imaginário.  Pertence  aos  nossos  dados  cognitivos.  Lingüística  é  Ciência.  Tanto  é  que  todo  sistema  lingüístico  é  utilizado  para  nomenclatura  do  Projeto  Genoma.  Porque  ele  é  código.  Eu  não  estou  produzindo  ciência.  Eu  sou  um  pesquisador  de  atualização  cultural,  que  vai  pensar  em  novos  sistemas  de  você  indagar significados.  

O único lugar que lida com conceito e muda a vida do cotidiano é a maçonaria. É uma discussão que a  gente tem que ter na interdisciplinaridade. Porque, por exemplo, a educação mexe com esta base. Por  isto que nós temos Educação, Arte e História da Cultura, porque esta história da cultura vai ler estes  espaços  artísticos  e  educacionais  para  você  ter  uma  práxis  para  contemplar  a  comunidade.  Meu  trabalho  contempla  a  comunidade.  Culturalmente.  Eu  não  vou  sarar  a  varíola  de  ninguém,  mas  eu  quero  a  impressão  de  quando  ele  for  visto  pela  plataforma  Lattes,  seja  visto  como  importância  fundamental para a humanidade. Esta missão era do Mário de Andrade. Não é minha. Eu acredito que  de  qualquer  pessoa  lúcida  não  seja.  A  não  ser  que  ele  queira  um...  Isto  é  muito  sério  que  estou  falando.  Eu  não  sei  se  nós  vamos  hoje  ter  um  espaço  para  a  existência  de  um  novo  Paulo  Freire.  Porque hoje a produção é interdisciplinar e ela é coletiva. 

Só um parênteses. Eu tenho uma tese que ninguém aceita. É óbvio, porque nem eu aceito. Que na área  interdisciplinar, não digo mestrado, porque no mestrado você tem que aprender a pesquisa, mas o  doutorado  tinha  que  ser  defendido  por  equipe.  Porque  quando  que  você  num  doutorado  interdisciplinar defende uma idéia sozinho? 

É  um  projeto  interdisciplinar.  Então,  sabe  os  três  astronautas  que  desceram  na  Lua  falou  “olha  a  gente vai na Lua e agora nós vamos defender nosso doutorado. Fala aí Armstrong.”. Você dá o título  de doutor. Porque o título de doutor ainda tem que ter esse “recorte” da originalidade individual do  ser humano. Então, o que está acontecendo? O Lattes, ele na realidade é apenas a grande metáfora da  diferença que existe entre o meio acadêmico e o meio do mercado.  

O  mercado  exige,  e  a  cada  vez  mais,  que  você  trabalhe  em  equipe.  Pagam  fortunas  para  você  ir  a  hotéis fazenda. Pagam fortunas para palestras onde vai fazer fulano trabalhar com outro e assim por  diante.  O  Mackenzie  até  deve  fazer  isto.  Aí  vamos  para  a  vida  acadêmica.  A  prova  é  individual.  A  produção acadêmica é individual. E as disciplinas são individuais. Como que você forma uma pessoa  como  um  todo  se  o  processo  de  ensino  e  aprendizado  é  individual  e,  quando  o  cara  vai  procurar  emprego é regra saber se ele sabe trabalhar em grupo. Esta é a grande contradição brasileira. Uma  tese de doutorado tem que ser defendida em grupo. Ah!, nós somos um laboratório, pá, pá, pá...Eu,  mais dois. Nem que seja em três dias a defesa. Não pode ser mais a fulana ter um recorte original que  pertença  em  hipótese  apenas  a  ela.  Esta  é  a  idéia  do  doutorado  e  você  divide  sozinho.  Isto  é  para  funcionalismo público.      Então, só para retomar esta última parte da influência, o senhor acredita que o fato de existir na  plataforma, nesta estrutura que ela tem, ela de alguma forma determina a pesquisa em arte a  partir de seus critérios?   

Dentro  do  que  eu  faço  –  acho  que  esta  pergunta  seria  importante  para  o  Norberto  e  o  Rizzolli  –  porque  você  sabe  como  chama  meu  doutorado?:  “A  pintura  tradicional  e  sua  atualização  programática”.  O  que  eu  mostro  é  que  todos  os  sistemas  de  pintura  de  alguns  cânones  viraram  software.  É  por  isto  que  qualquer  um  hoje  vai  lá  e  desenha.  No  que  eu  trabalho,  as  referências  artísticas  são  outras,  o  que  nós  podemos  chamar  de  arte.  Por  exemplo,  eu  estou  passando  por  um  processo agora que estou deixando de chamar poesia digital para chamar de poema digital. Porque  isto?  Porque  o  conceito  de  arte  é  uma  obra  pronta,  mesmo  que  ele  seja,  que  ele  esteja  aberto  à  interatividade.  Não  existe  obra  pronta  no  meio  digital.  A  interatividade  é  que  permite  a  toda  hora  estar mudando. Então o que acontece? Teria que se reformular este conceito. Porque o que o meio  acadêmico  espera?  E  o  que  os  órgãos  de  fomento  esperam?  Que  você  tenha  um  produto.  Mas,  se  o  meu produto é um produto – não é efêmero não – que caracteriza‐se pela intervenção, pela mutação,  pela expansão. Nesta estrutura expandida como fica este produto? 

É como se você a toda hora, a todo cheque, mudasse a sua assinatura. Você deixaria de ser cidadão?  Então não é que artístico não tenha produção. Se você entrar – o meu Lattes antes de 2004 era uma  desgraça ‐  eu fiz mais de 49 exposições como artista plástico. Esta gravura é minha. Mas tudo bem. É  gravura,  ta  numerado,  prova  de  artista.  Mas  você  pega,  por  exemplo,  o  trabalho  “Quando  assim  termina  o  nunca”,  percebe  que  é  um  dado  efêmero  naqueles  poemas  visuais.  Percebe  que  ele  é  passageiro. E isto precisa ter novas plataformas, novos campos. Mas, não adianta ter novos campos se 

trazer  consultores  à  área.  Consultores  que  passam  por  este  mesmo  problema.  Por  exemplo,  o  Conselho  Multidisciplinar  falava,  vamos  fazer  em  Brasília  ou  em  qualquer  lugar,  pode  ser  até  na  minha casa, vamos juntar o pessoal que tem esta produção digital. Já deve ter sido feita esta reunião.  Eu  não  tenho  esta  informação.  Como  eu  te  falei,  eu  sou  um  pesquisador,  eu  meto  a  cabeça  aqui  e  esqueço o mundo.  

Vamos ver o que é para eles produção. Os franceses não têm este problema. É autor. EUA não tem  este problema. Também é autor. Eles vão falar que nós somos autores, só que a pontuação não é a  mesma.    A  produção  técnica  vale  menos  que  a  teoria  de  alguma  coisa.  É  complicadíssimo  isto.  Eu  costumo brincar que sou que nem o Bangu, aquele time do Rio de Janeiro, participo, mas não entro.   

Já  que  estamos  falando  das  agências  de  fomento,  nas  estatísticas  que  eu  levantei  no  banco  de  dados do CNPq, entre 3% e 4% do total geral de bolsas e de fomento é oferecido à área de artes.  Porque em sua opinião este índice é tão baixo em relação a outras áreas do conhecimento?   

Eu não poderia falar aqui gravado. Seria antiético e eu teria que provar. Eu vou tentar dizer coisas  que  aconteceram  comigo.  Estou  na  vida  acadêmica  como  professor  há  30  anos.  Comecei  em  1978.  Estou nesta pós‐graduação desde 1991, mas só de 1997 para cá que conta. Porque estou te dizendo  isto?  Porque  a  primeira  vez  que  o  CNPq  me  deu  alguma  coisa  além  da  bolsa  de  mestrado  e  de  doutorado que foi Capes foi em julho deste ano (2009) para eu ir para o Uruguai.  

Até pensei: será que me deram para eu não ter que voltar mais? Ainda se tivesse me dado para ir para  a Alemanha, tudo bem. Porque sempre as minhas viagens para fora foram pagas pelo pessoal de fora.  O  Mackenzie  nem  tenho  o  que  falar.  O  Mackenzie  sempre  incentiva  e  fomenta  esta  parte.  Mas  veio  observações assim. Se você acha que é 2%, 3% é pouco, eu também concordo.  

Você vê agora o Obama permitiu as células‐tronco. Mas eu me lembro que há dois anos atrás saiu um  edital querendo professor convidado. Eu li e falei para a minha esposa, este edital sabe para o que é?  Para  um  bando  de  cientistas  americanos  fazerem  pesquisa  aqui  no  Brasil  e  levarem  para  lá  os  resultados e os royalties ficam para os americanos. Isto porque aqui podia este tipo de pesquisa e lá  não  podia.  Assim  como  a  China  não  permitia.  Agora  nos  EUA  pode,  mas  vai  ver  se  você  consegue  bolsa para fazer pesquisa lá. 

São poucas bolsas, porque primeiro não há política cultural no Brasil. Segundo, as observações que  têm  para  sua  pesquisa  não  ser  aprovada  é  no  assunto.  Você  pede  uma  bolsa  de  pós­doc  e  eles  analisam como se você quisesse uma bolsa de doutorado. Sabendo que pós­doc você senta, escreve e  entrega. E a pessoa vem te questionar que seu conceito não está claro. Ninguém tem que questionar  que meu conceito não está claro. Eu vou fazer o trabalho ainda. Vêm observações do tipo: bibliografia  não  está  clara.  Então,  você  percebe  que  estas  observações  elas  fazem  com  que  este  percentual  que