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2.2 A consultoria organizacional

2.2.1 Entendendo os conceitos relacionados à prática da consultoria

Consultoria organizacional é uma expressão utilizada para definir uma relação de interação que envolve uma atividade de ajuda para a solução de problemas (MANCIA, 1997). Esta ajuda pode ser oferecida a diferentes tipos de pessoas e/ou instituições, sendo estas: órgãos do Estado, empresas privadas, clubes esportivos, ONGs, e outros.

Considerando a consultoria realizada para empresas, Oliveira (2004, p. 21) expõe que esta atividade é “um processo interativo de um agente de mudanças externo à empresa, o qual assume a responsabilidade de auxiliar os executivos e profissionais da referida empresa nas tomadas de decisões, não tendo, entretanto, o controle direto da situação”. Assim, o que diferencia um consultor do gerente, é que o primeiro não tem o controle direto sobre as atividades, podendo atuar apenas como conselheiro.

O fato dos consultores não terem controle direto sobre as atividades faz com que muitos não se comprometam com a eficiência e eficácia de suas propostas.

Esta posição de alguns consultores que afirmam que não têm responsabilidade pelos resultados de seus projetos, pelo simples fato de não os terem implementado, pode ser considerada como uma das principais razões do distanciamento de algumas empresas para com os serviços de consultoria (OLIVEIRA, 2004, p. 24).

Neste campo podem atuar diversos profissionais, sendo que a única exigência é que estes consigam clientes que contratem seus serviços. Não existe uma regulamentação desta atividade (VALENÇA; ASSOCIADOS, 1995), e conseqüentemente não existem ações ou metodologias padronizadas.

Essa situação reflete as baixas barreiras à entrada no setor de consultoria, em que qualquer profissional pode pendurar a placa “consultor” em sua porta; muitos executivos fazem isto de maneira assídua, mas com elevado nível de fracasso profissional. Isso porque políticas empresariais de aposentadoria antecipada, downsizing e terceirização têm criado a oferta e a demanda por consultores independentes, e muitos desses pequenos negócios geralmente existem para atender a um único cliente (OLIVEIRA, 2004, p. 29).

Além desta falta de padronização de ações e de metodologias voltadas para atividades de consultoria, poucos são os pesquisadores que se dedicam a estudar esta área com profundidade (ARGYRIS, 1970).

Dentre estes poucos pesquisadores destaca-se Chris Argyris, tendo seus principais trabalhos sobre a área publicados na década de 70, com destaque para o livro “Intervention,

Theory and Method” (ARGYRIS, 1970). Seus trabalhos têm um enfoque comportamental,

enfatizando a importância da “organização orgânica” e das atividades interpessoais para a eficácia das organizações e conseqüentemente para a eficácia das atividades de intervenção.

A consultoria organizacional para Argyris (1970) é um processo de intervenção, sendo essa realizada em uma organização que ele denomina de sistema-cliente. Intervir, na sua

concepção (1970, p. 15) “é entrar num sistema de relações em andamento, aproximar-se de pessoas, grupos ou objetos com o propósito de ajudá-los”.

A concepção de consultoria organizacional para autores como Oliveira (2004) está relacionada a um processo de geração de mudança. Argyris (1970) e Argyris e Schön (1974) ao definirem três tarefas primárias4 da atividade de intervenção - gerar informação válida e útil, possibilitar a escolha livre e informada e facilitar o desenvolvimento do comprometimento interno das pessoas que compõe o sistema-cliente - não concordam com a definição de consultoria como um processo de mudança. Estes últimos defendem a facilitação para a escolha livre dos clientes. Para eles, são os clientes que devem optar pela mudança e não o consultor. “Ele não deve conceber estratégias de mudanças, que embora possam provocar mudanças, também podem reduzir a escolha livre ou ao comprometimento interno” (ARGYRIS, 1970, p. 21).

Na prática, existe uma confusão sobre o que o termo consultoria realmente significa. Normalmente esta atividade é confundida com as atividades de treinamento, auditoria, assessoria e de pesquisa. Fala-se em consultoria desde a atividade de venda de cosméticos à prática de ajuda espiritual (MOURA, 2005). Buscando distinguir estes termos, Oliveira (2004) fez a seguinte diferenciação:

- Treinamento: “é o processo educacional aplicado de maneira sistemática e organizada sobre a qualificação dos funcionários e executivos de uma empresa, proporcionando aprendizado de conhecimentos, atitudes e habilidades em função de objetivos estabelecidos e negociados entre as partes” (OLIVEIRA, 2004, p. 44).

- Assessoria: “é a atividade sistemática de auxiliar a empresa-cliente ou o responsável

de uma unidade organizacional em assuntos gerais ou específicos (jurídicos, relações públicas etc.)” (p. 95).

- Pesquisa: “é o instrumento de investigação das condições dos diversos fatores que

interagem, basicamente, na ação mercadológica e no modelo de gestão da empresa” (p. 100).

- Auditoria: “é a análise dos diversos elementos contábeis e processuais verificando a

exatidão e fidelidade dos procedimentos, demonstrações e relatórios, de acordo com os princípios por lei e pela empresa” (p. 101). Na visão de Moura (2005) a auditoria busca a detecção do problema, enquanto a consultoria busca superá-los.

Além da diferença existente entre consultoria e as atividades citadas acima, a primeira pode ter diferentes classificações. Quanto à relação do consultor com o sistema-cliente a

consultoria pode ser classificada em dois tipos: interna e externa. Para Oliveira (2004) a consultoria externa é representada por um consultor autônomo ou por um profissional de uma empresa de consultoria, e, a consultoria interna é representada por um funcionário da empresa-cliente, o qual realiza serviços para áreas diversas da referida empresa. Ao considerar a existência de consultorias internas o autor parece entrar em contradição com seu conceito de consultoria citado anteriormente quando a conceitua como uma atividade realizada por um agente externo à empresa. Não obstante, reforçamos nossa consideração quanto ao fato de considerarmos neste estudo como consultor o agente externo à ONG contratante da consultoria.

Quanto ao serviço prestado, ela pode ser classificada em consultoria especializada ou em consultoria total. A consultoria especializada “é a que atua em um ou poucos assuntos dentro de uma área de conhecimento” (OLIVEIRA, 2004, p. 67). A consultoria total “é aquela que atua praticamente em todas as atividades da empresa-cliente” (p. 70).

Quanto ao produto ou serviço que um consultor oferece no mercado, eles são contemplados por três componentes de acordo com Oliveira (2004, p. 35):

- A especialidade que está sendo oferecida, tais como planejamento estratégico, estrutura organizacional, reengenharia, sistemas de informações gerenciais, engenharia simultânea, pesquisa de mercado, etc.;

- A competência e o nível de conhecimento do consultor no assunto considerado, e; - A amplitude e estilo de atuação do consultor, tendo em vista a melhor interação com a realidade da organização-cliente.