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Entidades à quais foram dedicados assentamentos e sua porcentagem de

No documento Dissertação Rodrigo MN 2013 (páginas 101-106)

4. ESPAÇOS EDIFICADOS, PROFANOS E RITUAIS, EM TERREIROS DE

4.2. Análise dos espaços edificados, profanos e rituais, em terreiros de candomblé

4.2.5. Entidades à quais foram dedicados assentamentos e sua porcentagem de

Os assentamentos foram espaços significativos na amostra analisada. Uma vez quantificados, novamente encontramos uma repetição de determinados orixás aos quais eles são dedicados, tal como ocorrido nas casas e quartos. A situação fica bem visível no gráfico 5: há o assentamento de Ogum, com 20,4%; o de Exu do Portão e Ossaim, com 15,3% cada um e Oxumarê, com 13% , como os mais expressivos na amostra. Isto reforça a constatação de que há um grupo de orixás mais venerados nos terreiros analisados, e consequentemente um culto melhor estruturado.

Outras entidades aparecem ainda na amostragem, mas com valores menores. Identificamos o assentamento de Ayizan, ou Aizan, o das Yamim Oxorongá, o de Nanã, o de Oxum e o de Omolu com 2,6% cada um; o de Exu e o de Oxossi/Odé, com 5,1% cada e Sem Identificação com 7,7%.

A alta porcentagem do assentamento do Exu do Portão (com 15,3%) representa a presença protetora que esta entidade tem na casa, em especial no local onde está assentado, o portão de entrada do terreiro. Esse orixá reside ali no intuito de guardar o axé contra perigos da rua, tendo esta função exercida durante a realização das festas, bem como proteger os filhos de santo quando eles deixam o local. Normalmente, os terreiros despacham este Exu todas as manhãs, para que ele se coloque no portão e ali fique de guarda.

A presença significativa de Ogum (20,4%), até maior que a do Exu do Portão, pode indicar a disseminação do culto a este orixá no Rio de Janeiro. Aqui ele foi sincretizado com São Jorge, santo católico, padroeiro dos policiais cariocas. Ao mesmo tempo, o povo de santo recorre a ele para fins de proteção na rua e contra a violência, utilizando o arquétipo de Ogum quando jovem (guerreiro e virulento). Ele também se caracteriza por andar nas estradas, juntamente com seu irmão Exu, o que denota sua capacidade de proteção de tais locais (KILEUY & OXAGUIÃ, 2009) e daqueles que transitam por eles.

Gráfico 5. Entidades às quais foram dedicados assentamentos e sua porcentagem de ocorrência.

Fonte: Pereira et alii, 2012. 8 6 6 5 3 2 2 2 1 1 1 1 1 20,4% 15,3% 15,3% 13,0% 7,7% 5,1% 5,1% 5,1% 2,6% 2,6% 2,6% 2,6% 2,6%

Entidades às quais foram dedicados assentamentos e seu percentual de ocorrência

O sincretismo que associa São Jorge a Ogum, muito influenciado pela umbanda, mescla o santo católico montado em seu cavalo branco que, com sua lança em punho, está sempre pronto para defender aqueles que buscam por sua ajuda, com o valente e jovial guerreiro africano. Este culto assume grandes proporções no Rio de Janeiro. A devoção a essa entidade, entendida como uma associação entre características do orixá e do santo católico, tem alta visibilidade. Sobre a Festa a São Jorge Pereira et alii 2012, destacam:

Celebração que une pessoas de diferentes procedências religiosas. Umbandistas, candomblecistas e católicos festejam e dividem o mesmo espaço. Quase todos vestidos de vermelho e branco, em torno das igrejas de São Jorge, o santo guerreiro, que se mescla ao orixá Ogum. Tal celebração inicia-se na chamada alvorada, às 5 da manhã, anunciada por fogos de artifício e, por vezes, pelo toque de clarins e dura até o anoitecer. Os fogos e clarins podem ser ouvidos não apenas nos espaços circunvizinhos às igrejas, mas igualmente em diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro, entre outras cidades do Grande Rio, em especial os bairros da zona norte e as cidades da Baixada Fluminense. São justamente essas localidades que abrigam boa parte dos devotos de São Jorge-Ogum, que movimentam a celebração no centro da cidade e no bairro de Quintino. O rito católico da missa é acompanhado não apenas por seus fiéis, mas também por pessoas das referidas religiosidades afro-brasileiras que seguem a risca todos os ditames da celebração católica. Velas, fitas vermelhas, espadas-de-São–Jorge (Sansevieria trifasciata), palmas vermelhas e brancas, e cerveja, são os elementos materiais agregados ao santo/orixá e facilmente vistos guarnecendo seus fiéis neste dia. Nas ruas que circundam as igrejas é possível ouvir o som de atabaques que acompanham os cantos de louvores a Ogum. Também é possível ver manifestações mediúnicas que ocorrem em espaço público. Apesar da confluência de religiosidades, não é comum que ocorram conflitos ou atos de desrespeito às manifestações de devoção. (PEREIRA, et alii, 2012, s/p.)

Estas características são evocadas pelo povo de santo como forma de proteção, garantindo um trânsito nas ruas livre de problemas, como roubos, assassinatos ou outras situações. Assim, a devoção descrita pelo INRC, e mesmo pela religiosidade popular, como no Mercadão de Madureira (PEREIRA et alii, 2012), é expressada no alto percentual de assentamentos desse orixá na amostra analisada.

A presença significativa do assentamento de Ossaim está relacionada ao espaço mata dos terreiros, tendo em vista que esse orixá é o responsável pelas folhas e pela proteção das áreas de vegetação. A presença significativa de 15% de assentamentos que lhe são dedicados na amostra analisada atesta a sua importância nos terreiros. Um dito popular do candomblé expressa sua relevância : "Omi cosi, ewé cosi, orixá cosi" ("sem água, sem folha, sem orixá"), salienta não apenas a consciência ecológica do culto, mas denota a importância que este orixá tem em prover meios de limpeza do corpo e de iniciação do iaô nos terreiros.

Sob a égide de fartura ou fertilidade reside o destaque que o assentamento de Oxumarê teve na amostra analisada, com um percentual de 13%. Tal orixá é responsável pela chuva e pela água dos poços que a fornecem para o uso nos terreiros. Seu animal totêmico é a cobra, "[...] um ser único, [que] ao unir sua cabeça à cauda, transfigura-se na figura do círculo prefeito, transformando-se então no símbolo da continuidade. É o princípio unindo-se ao fim [...]" (KILEUY & OXAGUIÃ, 2009, p. 252).

Ele é responsável pela distribuição das águas pela terra em forma de nuvens que, ao caírem, fertilizarem o solo e retornarem ao céu, representam o círculo contínuo que a imagem do orixá-cobra tem. Se pensarmos que o cultivo das plantas sagradas está associada à irrigação manual e às chuvas, a presença de tais assentamentos são vitais para a manutenção de um axé.

As porcentagens dos demais assentamentos, Nanã, Exu, Omolu, Oxossi/Odé e Oxum, apesar de pequenas em relação aos assentamentos com maiores valores, se configuram como um conjunto de entidades mais reverenciadas nos axés. Essa afirmação pode ser constatada nos dados referentes aos quartos e casas dedicados a esses orixás.

Dois assentamentos identificados na pesquisa merecem destaque, não pela representatividade, mas por denotarem especificidades das "nações" que os contém: o de Ayizan (com 2,6%) e o das Yamim Oxorongas, com o mesmo percentual. Ayizan é uma entidade do candomblé Jêje e representa a morte. Conforme Cacciatore (1998, p. 44), seu assentamento é "[...] enterrado no fundo da terra ou tapado com cimento ou bacia cimentada ao redor. O 'assentamento' é ultrassecreto, e fica, obrigatoriamente, fora da casa, por ser considerado muito perigoso [...]".

Duas características podem ser observadas a partir da descrição da autora. Inicialmente ele é um assentamento exclusivo da nação Jêje, presente no Terreiro Rwe Sinfá (Casa das Águas de Ifá). A outra está relacionada ao modelo de ocupação do espaço que utilizamos. Os assentamentos, áreas privadas de circulação, se localizam no entorno do barracão, mas este, em especial, deve estar longe, pois contém a energia da morte. Esta energia não pode estar em contato com o microcosmo aonde os orixás vêm ser cultuados, daí seu distanciamento. A situação comprova a adoção e emprego do modelo.

O assentamento das Yamim Oxorongas está localizado no Ilê Asé Obaluayê Azauany, casa na nação Kêtu. Estas entidades, ligadas á ancestralidade feminina, são

exclusivas desta nação, sendo identificadas como feiticeiras e donas dos animais da noite, corvos, corujas, sapos, rãs e gatos. A sua atuação esta associada à fertilidade e ao sangue da menstruação. Conforme Kileuy & Oxaguiã (2009), o culto a estas entidades é eminentemente feminino, sendo vedada a participação masculina nos ritos. Tal fato não exclui, contudo que os homens adorem tais seres. Para os autores:

"As Iyamís são cultuadas por uma sociedade secreta feminina denominada Geledê. Seus postos superiores são administrados somente por mulheres. Esta sociedade, da nação iorubá, existe hoje ainda em algumas cidades da África e calculamos que também em recônditos lugares do Brasil! [...]" (KILEUY & OXAGUIÃ, 2009, p. 346). 37

Contudo, essa sociedade não foi identificada no Ilê Asé Obaluayê Azauany, mas apenas a devoção a estas entidades. Discordamos, portanto, dos autores, pois não localizamos a presença da Sociedade Geledê nas casas analisadas. Porém, não é possível descartar que possa haver alguma casa específica de tal grupo nos demais terreiros fluminenses. O que podemos afirmar com certeza, é a presença do culto no Rio de Janeiro, a partir da amostragem realizada.

A quantidade de assentamentos sem identificação, 7,7%, se destaca na amostra e representa, como já afirmamos, a dificuldade de identificar o tipo do assentamento ou mesmo um lapso do pesquisador em registrar. A visita ao conjunto de casas selecionadas pelo INRC se deu em uma fase da pesquisa anterior à coordenada pelo autor desta dissertação, não sendo possível retornar aos terreiros para a complementação das informações.

4.2.6. As Áreas verdes ou o Espaço mata identificados e sua porcentagem de

No documento Dissertação Rodrigo MN 2013 (páginas 101-106)