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Entidades às quais foram dedicados quartos de santo e sua porcentagem de

No documento Dissertação Rodrigo MN 2013 (páginas 97-101)

4. ESPAÇOS EDIFICADOS, PROFANOS E RITUAIS, EM TERREIROS DE

4.2. Análise dos espaços edificados, profanos e rituais, em terreiros de candomblé

4.2.4. Entidades às quais foram dedicados quartos de santo e sua porcentagem de

Para os quartos de santo identificamos uma situação muito próxima à das casas. Todos os terreiros possuem estes locais e, normalmente, estes cômodos estão associados aos barracões ou próximos a eles. Novamente temos a primazia de determinados orixás nos quartos e, por outro lado, a ausência de alguns. Tal situação pode ser indicativa não apena de uma predileção pela entidade mais cultuada, mas da ausência de alguns orixás e de filhos de santo, o que explica a inexistência do seu culto no terreiro.

Os orixás com maior porcentagem de quartos que lhe foram dedicados na amostra são: Oxalá, com 9,8%; Exu, com 7,6%; Omolu e os Eguns, com 6,4% cada e Ogum, com 4,3%. Temos ainda um alto valor referente aos quartos sem identificação, contabilizando 5,4% do total analisado (vide gráfico 4).

A alta porcentagem de Oxalá pode estar ligada ao destaque que a "nação" Kêtu dá a esse orixá, tido como pai de Xangô (patrono da "nação"), mas também possuidor de grande sabedoria e justiça. Exu, como já explanado, pela ligação que faz entre homens e deuses. O culto ao orixá da varíola, Omolu, se deve à busca por saúde,

podendo ser somado a este problema social a identidade de curandeiro de doenças que este orixá possui (CALDAS, 2008).

A presença do culto aos éguns, em especial no Ilê Asé Baba Nile Ké, única casa exclusiva dessas entidades, se relaciona a dois fatores. O Culto Lésse Égun consiste num sistema autônomo ao do Lésse Orixá, sendo a Ilha de Itaparica (Salvador, BA) o berço das primeiras casas desse tipo. Ao mesmo tempo, os terreiros de candomblé também promovem esse culto, pois nos quartos são assentados os espíritos de dirigentes e membros do terreiro falecidos e que guardam a casa.

O culto Lésse Égun se encontra associado ao candomblé e aparece na distribuição apresentada acima com o valor de 6,4%, mas não é um quarto presente substantivamente na amostra analisada. Tal situação pode se relacionar ao fato de os dirigentes perceberem os éguns como um culto autônomo ao desenvolvido por eles em seus axés, e que não pode ser manejado sem a presença de indivíduos e de determinados preceitos (SANTOS & SANTOS, 2011)36.

A amostra apresentou uma porcentagem muito pequena para os demais orixás. Nanã, Onilé, Oxumarê e Ossaim aparecem com aproximadamente 1% cada; Oxum, com 3,2%; Oyá/Iansã com 2,1% e Oxossi/Odé com 2,1%. Apesar de pequena, a amostra demonstra o culto a estes orixás, o que pode ser entendido como sendo eles os mais corriqueiros nos candomblés e por isso cultuados nos terreiros. Contudo, outros orixás estão ausentes na amostra analisada. Logunedé, Obá e Ewá não possuem nenhum quarto, o que é indicativo da ausência de culto a eles nos terreiros, da falta de filhos de santo dessas deidades ou ainda que os assentamentos estão depositados em outros quartos, fato não detectado nas pesquisas do INRC.

Do mesmo modo foi possível identificar a ocorrência de arranjos familiares para os quartos analisados. Temos as seguintes situações: o quarto das Iabás com 3,2%; o de Xangô e as Iabás e o de Ogum e Oxossi/Odé com 2,1% cada um, e o quarto de Xangô, Oxossi e as Iabás, com 1,1%. Novamente frisamos que a escolha por quartos que estejam inspirados nas relações familiares presentes na mítica do candomblé pode ser a

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Conforme Santos & Santos (2011, p. 98), o principal propósito do culto dos Egúngúns é tornar os espíritos ancestrais visíveis, manipular o poder que emana deles e atuar como um veiculo entre os vivos e os mortos. Ao mesmo tempo que preserva a continuidade entre a vida e a morte, o culto dos Egúngúns também mantém estrito controle sobre a relação dos vivos com os mortos, distinguindo claramente o mundo dos vivos e dos mortos. De fato, os Babás trazem para seus descendentes e seguidores os benefícios dos conselhos e bênçãos, porém não podem ser tocados e sempre permanecem isolados dos vivos. Sua presença é rigorosamente controlada pelos òjès e ninguém pode se aproximar dos Egúngúns". [grifos dos autores].

resposta para tal configuração, ao mesmo tempo que não podemos descartar a ausência de espaço disponível para quartos individuais como outra resposta para tal situação.

Por fim, o que a distribuição com menor porcentagem dos quartos de santo, individuais e coletivos, deixa claro é que há uma predileção por certos orixás que tornam seus locais mais corriqueiros nas casas analisadas, ao passo que orixás menos populares tendem a não aparecer .

Gráfico 4. Entidades às quais foram dedicados quartos de santo e sua porcentagem de ocorrência.

Fonte: Pereira et alii, 2012. 15 12 9 7 6 6 5 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 16,1% 12,9% 9,8% 7,6% 6,4% 6,4% 5,4% 4,3% 4,3% 3,2% 3,2% 3,2% 2,1% 2,1% 2,1% 2,1% 2,1% 1,1% 1,1% 1,1% 1,1% 1,1% 1,1%

Entidades às quais foram dedicados quartos de santo Quantidade de quartos Porcentagem de quartos dedicados a entidades

Dentre os Exus da Terra temos um valor pequeno, mas significativo para a amostra analisada. Os boiadeiros representam aproximadamente 1%, os ciganos, 2,1% e os caboclos 3,2%. Tal como nas casas, a amostra total de 6,4% indica a adoção do culto de tais entidades dentro do candomblé. Um exemplo desta adoção pode servir de explicação para esse tipo de ocorrência.

No Terreiro Ilê Ogun Anaeji Igbele Ni Oman a própria dirigente explicou, em entrevista ao INRC, que assentou sua cigana após a manifestação desta em um determinado momento de sua vida. O que, para ela, veio somar em sua tarefa de direção da casa, dando-lhe mais axé, bem como propiciando aumento no número de seus consulentes, pois muitos desejavam a ajuda dessa entidade (PEREIRA et alii, 2012).

Dois outros quartos apresentaram alta porcentagem na amostra. O sabaji, com 16,1% e o Quarto de Jogo, com 12,9%. Não há uma regra de obrigatoriedade para a composição de tais espaços. Como já explanamos, isso pode resultar de dois fatores: o primeiro se relaciona ao costume aprendido pelo dirigente em sua formação no candomblé, fator muito subjetivo para ter sido contemplado pelo INRC. O segundo remete à disponibilidade de espaço para a criação de tais cômodos. No entanto, os valores encontrados representam quase a metade da amostra analisada, o que nos permite concluir que a implantação desses locais é corriqueira e intencional, sobretudo se observarmos a amostra de 12,9% para os quartos de jogo. Esse espaço permite um melhor atendimento aos consulentes ao mesmo tempo em que impede que eles transitem pelos espaços privados do terreiro, delimitando claramente o interdito para não iniciados.

4.2.5. Entidades à quais foram dedicados assentamentos e sua porcentagem de

No documento Dissertação Rodrigo MN 2013 (páginas 97-101)