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As novas questões ligadas ao envelhecimento realçam a necessidade de substituição do modelo de ciclo de vida tradicional, dividido em três fases bastante distintas: educação, trabalho e reforma. A questão que envolve o envelhecimento e as pessoas idosas exige uma reconceptualização, uma reforma da gestão da idade. O envelhecimento tem suscitado a curiosidade científica dos investigadores. Como tal, as propostas para explicar o seu processo têm aumentado ano após ano. Não existe um consenso sobre o que se chama de velhice. Para a definir, teremos que considerar três perspetivas diferentes: (i) a idade oficial, que consta no cartão de cidadão; (ii) a idade biológica, que depende do estado orgânico e funcional do corpo de acordo com as características de cada idade; (iii) a idade psicológica, que pode não ser compatível nem com a idade civil nem com o estado orgânico, dependendo da unicidade de cada indivíduo em particular.

O processo de ―optimização de oportunidades de saúde, participação e segurança visando melhorar a QV à medida que as pessoas envelhecem‖ (World Health Organization [WHO], 2002a, p.12), bem como a definição de envelhecimento ativo adotada pela OMS, no fim da década de 90, estabelecem uma clara relação entre as oportunidades de saúde e a QV atingível pelas pessoas no seu processo de envelhecimento e têm por base permitir aos idosos permanecerem integrados e motivados na vida laboral e social; porque parece ser a solução encontrada, torna-se indispensável difundir e implementar as medidas propostas pela OMS. É, pois, cada vez mais necessário adaptar a idade da reforma ao prolongamento da vida de forma saudável, adaptar os postos de trabalho, modificando regras e práticas em matéria de emprego, assegurar modalidades de trabalho mais flexíveis, incluindo a passagem gradual para a reforma, maximizar as suas potencialidades, melhorar os

ambientes de trabalho para tornar uma vida ativa mais longa e também eliminar atitudes e práticas de discriminação.

Esta fase da vida encerra o que se aprendeu e viveu, o que se fez e foi alcançado, o que se sofreu e suportou.

João Paulo II designava a velhice como ―um dom e um privilégio, não apenas porque nem todos têm a sorte de a atingir, mas sobretudo porque a experiência e a sabedoria que a mesma proporciona permitem um melhor conhecimento do passado, uma vivência mais real do presente e uma melhor programação do futuro‖ (Serrania, 1990, p.35). Tal definição remete-nos para uma perspetiva dinâmica da vida, onde o homem está imerso no tempo: nasce, vive e morre. Há um modo correto e um modo errado de envelhecer, e a atitude dos outros em relação ao idoso depende de como este se compreende a si próprio e de como vive.

Porque as divisões cronológicas da vida humana não são absolutas e não correspondem sempre às etapas de processo de envelhecimento natural, tal como já foi referido anteriormente, a velhice não se define apenas pela cronologia (Arantes, 2003). San Martin e Pastor (1990), referem ainda, a influência das condições físicas, funcionais, mentais e de saúde das pessoas, pelo que se podem observar diferentes idades biológicas e subjetivas em indivíduos com a mesma idade cronológica, porque o processo de envelhecimento, geralmente, é muito pessoal e cada indivíduo ao envelhecer pode apresentar alterações a diferentes níveis e graus, já que certas funções e capacidades decaem mais rapidamente que outras.

Por isso, é comum dizer-se que o envelhecimento está, em simultâneo, sob a influência do genoma e do meio ambiente, sem que se possa atribuir, com certeza, um peso específico a cada um destes dois fatores, pois cada um deles tem um peso imenso.

A maioria das pessoas não se prepara para envelhecer; uma forte razão para esta recusa é a imagem negativa e pejorativa associada ao velho e à velhice. Muitos consideram que o velho é um estorvo, alguém sem dignidade, sem direitos e sem utilidade. A imagem que

os meios de comunicação social difundem tradicionalmente é a de uma pessoa curvada (submissa), de bengala, quase cega, surda e claramente caduca.

No entanto, a velhice também é vida, pelo que quem envelhece de forma adequada torna- se capaz de entender a vida no seu todo. Como já não antevê propriamente um futuro, volta o seu olhar para o passado, percebe as conexões entre os acontecimentos, perceciona correlações mútuas entre tendências e realizações, conquistas e renúncias, alegrias e dores, e vê como se origina essa maravilhosa estrutura a que damos o nome de «vida humana».

É preciso recriar uma vida nova, o que pode ser excelente, mas exige preparação, adaptação e procura de novos interesses e novos relacionamentos. É que, como se exprime um autor conhecido, ―quanto mais honestamente o idoso assumir a sua velhice, quanto mais profunda a compreensão que tiver do seu sentido, e quanto mais rendida a sua submissão à verdade, tanto mais autêntica e valiosa será essa fase da sua vida‖ (Guardini, 1990, p.86).

Só envelhece tranquilamente quem assume interiormente o seu envelhecimento. Mas o mais frequente é que as pessoas não aceitem o seu envelhecimento e se limitem a suportá- lo. Não podem eliminar o facto de terem setenta anos e não cinquenta ou trinta; ou de as suas forças já não lhes permitirem subir escadas a correr, mas apenas a passos lentos; ou ainda, o facto de a sua pele já não ser lisa, mas cheia de rugas.

A chave do problema do envelhecimento consiste em que o homem aceite envelhecer e que compreenda e realize o seu sentido. Importa acrescentar, porém, que o papel da sociedade também é fundamental, uma vez que deve reconhecer a velhice com retidão e benevolência. ―Numa perspectiva preventiva, revela-se importante actuar sobre os estilos de vida (educação para a saúde, por exemplo) e sobre o contexto de vida do idoso (optimizando o seu ambiente residencial) …‖ (Fonseca, 2008, p.214), mas só isso não é suficiente, pelo que também é importante, simultaneamente, ―o reforço da capacidade de coping, tendo em vista amortecer ao máximo o impacto das fontes de stresse, e dos recursos disponíveis para lidar com problemas significativos‖ (Fonseca, 2008, p.215). Observa-se, hoje, por toda a parte, uma conceção que somente considera a vida jovem

como humanamente valiosa, ao passo que a velhice é vista como um ―estorvo‖ decrépito e inútil, tal como já foi referido anteriormente.

Não é legítimo que consideremos apenas o Estado como responsável pelas modificações que devem ser empreendidas a nível social, no que se refere à terceira idade. Cada um de nós, individualmente, e o nosso grupo de ―pares‖, também faz parte desta sociedade em que vivemos e que tanto criticamos. A cooperação pode ser entendida como um ―trabalho conjunto com determinado fim, mas cuja natureza do vínculo ou dos atributos do trabalho dos actores não é valorizada‖ e a aliança como ―união, ou acordo para cooperar... entre as partes actuantes‖ (Dinis, 2006, p.57), o que, neste contexto, faz todo o sentido e potencia a ação. Estes dois conceitos devem estar presentes numa relação de parceria, pois deve haver uma partilha de informação e de poder entre os dois atores desta relação: os idosos e o conjunto das entidades responsáveis (Dinis, 2006). Isso pode ser considerado como um ―processo social de reconhecimento, promoção e desenvolvimento das pessoas para conhecerem as suas próprias necessidades, resolver os seus próprios problemas e mobilizar os recursos necessários de forma a sentir um maior controlo das suas próprias vidas‖ (Dinis, 2006, p.58). Essa cooperação envolveria o núcleo familiar, o local de trabalho, as relações de vizinhança, de forma a potenciar a cooperação interpares, aumentando a autonomia e a equidade. Assim, talvez conseguíssemos fazer alguma coisa de positivo e, eventualmente, a sociedade, no seu todo, poderia ser bastante melhor.