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CAPÍTULO 3 AÇÃO RESCISÓRIA

3.8. Hipóteses de cabimento

3.8.8. Erro de fato

Conforme o inciso IX do art. 485 do CPC, se incorreu em erro de fato, resultante de atos ou documentos da causa, a sentença deve ser rescindida.

Erro de fato deve ser compreendido a partir dos parágrafos do art. 485 do CPC. Esses parágrafos prescrevem que há erro de fato, “quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido” e, ainda, que “é indispensável, num como noutro caso, que não tenha havido controvérsia, nem pronunciamento judicial sobre o fato”.

Note-se que o erro de fato não consiste em má interpretação de atos ou documentos do processo, mas sim em considerar, a partir desses atos e documentos, inexistente um fato existente ou existente um fato inexistente.

Suponha-se que a sentença tenha julgado procedente o pedido reivindicatório, com fundamento em contrato de venda do imóvel que não existe nos autos. Essa sentença admitiu como existente um fato inexistente nos autor e, por isso, se não for reformada antes do trânsito em julgada, poderá ser alvo de ação rescisória.

Destaque-se que o §2º do art. 485 do CPC exige que o fato objeto do equívoco do juiz não tenha sido controverso. É fato incontroverso, segundo Barbosa Moreira, o que nenhuma das partes alegou, o que foi alegado por uma parte e confessado pela outra, e o que foi alegado por uma parte e não impugnado pela outra355.

3.9. Procedimento

354 Comentários ao código de processo civil. 12 ed. Rio de Janeiro: Forense, v. 5, 2005, p. 160-161. Na

mesma linha, sustentam Sérgio Rizzi, Ação rescisória. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1979, p. 90; Fredie Didier Jr. e Leonardo José Carneiro da Cunha, Curso de direito processual civil. 9 ed. Salvador: Juspodium, 2008, v. 3, p. 395; Alexandre Freitas Câmara, Ação rescisória. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 105-113.

Discorda dessa posição Cassio Scarpinella Bueno, para quem a distinção está no objeto a ser impugnação. Segundo o autor, a ação anulatória impugna vício do ato de confissão, renúncia ou transação, ao passo que a ação rescisória ataca vício da sentença homologatória transitada em julgado (Curso sistematizado

de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2008, v. 5, p. 343).

116 Vistas as hipóteses de cabimento, passes-se ao exame do procedimento da ação rescisória, que, por sua vez, se encontra disposto nos artigos 488 a 494 do CPC.

Em primeiro lugar, as hipóteses de cabimento da ação rescisória são exaustivas. Não é possível se recorrer à analogia, para interpretar que um vício não arrolado pelo art. 485 do CPC seja capaz de desconstituir a sentença de mérito transitada em julgado.

No entanto, como observa Barbosa Moreira, tem-se um caso que merece atenção particular356. Trata-se do art. 1.030 do CPC, que arrola os casos de rescisão da sentença que homologa a partilha. Nessa hipótese, por constituírem normas especiais, os incisos do art. 1.030 do CPC devem ser entendidos como acréscimos às hipóteses do art. 485 do CPC.

A competência para a propositura da ação rescisória é disciplinada pelos regimentos internos dos tribunais. Em regra, o julgamento da rescisória compete a algum órgão fracionário do tribunal. Assim, se a sentença rescindenda foi proferida por uma vara de primeira instância, é competente uma das câmaras do tribunal; ou se foi uma câmara que prolatou a sentença rescindenda, é competente o órgão especial ou órgão equivalente do mesmo tribunal.

Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal, o que define a competência da ação rescisória é a origem da sentença rescindenda, sendo certo que a sentença proferida pelos órgãos fracionários de um tribunal não pode ser rescindida por tribunal superior357.

Note-se que a ação rescisória deverá ser julgada por um órgão colegiado do tribunal, de sorte que seu processamento se dará perante um relator, sorteado entre os magistrados integrantes do órgão colegiado.

A petição inicial deverá ser elaborada conforme os requisitos do art. 488 do CPC, devendo o autor fazer o depósito obrigatório de 5% sobre o valor da causa, a que se refere o inciso II do mesmo artigo. Esse depósito constitui pressuposto

356 Comentários ao código de processo civil. 12 ed. Rio de Janeiro: Forense, v. 5, 2005, p. 154-155. 357 Veja-se:

“Competência. Ação rescisória. Definição. Define-se a competência para o julgamento da demanda rescisória pelo objeto mediato desta, ou seja, considerada a origem da sentença - lato sensu - rescindenda. Não compondo o pedido inicial a rescisao de acórdão do Supremo Tribunal Federal, descabe cogitar da respectiva competência” (STF, Tribunal Pleno, ação rescisória nº 1277/SP, rel. Min. Marco Aurélio, j. em 17.03.1993).

117 processual específico da ação rescisória, e sua não realização acarreta o indeferimento da petição inicial, nos termos do art. 490, inciso II, do CPC.

De acordo com o parágrafo único do art. 488 do CPC, a União, Estado, Município e Ministério Públicos estão isentos de realizar o depósito obrigatório. Também devem ser compreendidos nessa isenção os beneficiários da gratuidade de justiça358. Entender o contrário seria impedir que aqueles que não têm recursos financeiros possam ajuizar a ação rescisória, o que contraria o inciso XXXV do art. 5º da Constituição.

Caso o pedido da ação rescisória seja julgado improcedente, e nesse caso pode ser tanto o pedido rescindente ou o rescisório, o depósito obrigatório reverte-se em favor do réu, como dispõe o art. 494 do CPC, sem prejuízo da condenação em ônus de sucumbência.

O art. 490 do CPC autoriza o juiz a indeferir a petição inicial, nos casos do art. 295 do CPC e na já citada hipótese de não realização do depósito obrigatório. No entanto, antes de indeferir a petição inicial, o juiz deverá intimar o autor para corrigir a falha, no prazo de dez dias, como é assegurado pelo art. 284 do CPC359.

De acordo com o art. 489 do CPC, o autor poderá, na petição inicial ou em momento posterior, pedir a concessão de tutela de urgência, seja cautelar, seja satisfativa, com fundamento nos requisitos de fumus boni iuris e periculum in mora.

Ao receber a petição inicial, o relator mandará citar o réu, fixando-lhe prazo de quinze a trinta dias para contestar a ação. Nesse particular, a regra do art. 491 do CPC é bastante peculiar, porquanto permite ao magistrado determinar o prazo de contestação, conforme as dificuldades do caso concreto.

O art. 492 do CPC prevê que, se houver necessidade de instrução probatória, o tribunal, onde está em curso a rescisória, delegará a uma vara de primeira instância a competência para a produção das provas, já que esses atos processuais são estranhos aos ritos dos tribunais. O mesmo artigo ainda dispõe que o tribunal fixará prazo de quarenta e cinco a noventa dias, para a conclusão da instrução probatória.

358 Vide Barbosa Moreira, Comentários ao código de processo civil. 12 ed. Rio de Janeiro: Forense, v. 5,

2005, p. 182; Fredie Didier Jr. e Leonardo José Carneiro da Cunha, Curso de direito processual civil. 9 ed. Salvador: Juspodium, 2008, v. 3, p. 403; Alexandre Freitas Câmara, Ação rescisória. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 169.

359 O Superior Tribunal Justiça decidiu que ofende o art. 284 do CPC o indeferimento da petição inicial,

118 Feita a instrução, será aberto prazo de dez dias sucessivos, para alegações finais, a teor do art. 493 do CPC. Após alegações finais, o relator da rescisória remeterá os autos ao revisor, nos termos do art. 551 do CPC.

Procedida a revisão, o revisor pedirá dia e hora para julgamento. No dia da sessão de julgamento, será facultada a sustentação oral das partes, de acordo com o art. 554 do CPC. Depois da sustentações, a ação rescisória será julgada pelo colegiado.