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2.2 Motivação no futebol

2.2.1 Escala de motivação no esporte – SMS

A importância de se medir a motivação no esporte se dá pelo fato de existir diferentes tipos de motivação, os quais podem servir de indicadores de relacionamento e de bem-estar dos indivíduos (DECI; RYAN, 2008). Portanto, saber como é regulado o comportamento do atleta, pode ajudar no entendimento do aspecto motivacional do atleta, com o intuito de se obter um melhor rendimento do mesmo (PINEDA-ESPEJEL et al., 2016).

Diante da necessidade de ter um instrumento capaz de medir a motivação em atletas, inicialmente foi desenvolvido um questionário denominado “Eclelle de

Motivation dans les Sports” no idioma francês (BRIERE et al., 1995). Posteriormente,

quando de sua tradução e adaptação para o idioma inglês recebeu a denominação “Sport Motivation Scale” (PELLETIER et al., 1995). Este instrumento é composto por 28 itens que se dividem igualmente em sete dimensões: “Motivação intrínseca para conhecer” (MI-C); “Motivação intrínseca para atingirem objetivos” (MI-AO); “Motivação intrínseca para experiências estimulantes” (MI-EE); “Motivação extrínseca de regulação externa” (ME-RE); “Motivação extrínseca de introjeção” (ME-I); “Motivação extrínseca de identificação” (ME-ID); “Desmotivação” (DES). Cada item é respondido a partir do enunciado “Pratico o esporte porque…”, em uma escala de medida do tipo Likert de sete pontos que varia de 1 a 7 pontos (1= Não corresponde nada; 2 e 3= Corresponde um pouco; 4= Corresponde moderadamente; 5 e 6= Corresponde muito; 7= Corresponde exatamente). Os resultados atribuídos a cada dimensão são obtidos a partir da média aritmética das respostas dadas aos quatro itens correspondentes a cada dimensão do SMS. O Quadro 1 apresenta cada dimensão do SMS na versão brasileira, as definições conceituais e os itens que compõem cada dimensão.

QUADRO 1 - Dimensões teóricas da Escala de Motivação no Esporte (SMS).

Dimensão Definição Conceitual Itens

“Motivação intrínseca para conhecer” (MI-C)

Relacionada a fatores pessoais ligados a curiosidade e a busca de compreensão que o atleta deseja obter sobre a modalidade praticada.

2, 4, 23 e 27

“Motivação intrínseca para atingirem objetivos” (MI-AO)

Relacionada a fatores pessoais onde o atleta sente prazer na busca de novas habilidades e

movimentos dentro da modalidade esportiva.

8, 12, 15 e 20

“Motivação intrínseca para experiências estimulantes”

(MI-EE)

Relacionada a fatores pessoais que fazem o atleta buscar experiências estimulantes no esporte que podem causar excitação, prazer e

divertimento.

1, 13, 18 e 25

“Motivação extrínseca de regulação externa” (ME-RE)

Relacionada a fatores ambientais externos ligados a recompensas oriundas de um bom desempenho, como por exemplo, a conquista de

troféus, recompensas financeiras ou mesmo status perante o treinador e o grupo.

6, 10, 16 e 22

“Motivação extrínseca de introjeção” (ME-I)

Pressões internas que o atleta pode colocar em si mesmo. Constrangimento ou vergonha de estar envolvido em situações onde falham ou

não conseguem o seu melhor desempenho.

9,14, 21 e 26

“Motivação extrínseca de identificação” (ME-ID)

Associada aos atletas que participam ativamente de esportes porque sentem que isto os ajuda a crescer pessoalmente, consideram o esporte e a

vida em geral.

7, 11, 17 e 24

“Desmotivação” (DES)

Caracteriza-se pelo sentimento de desesperança onde as motivações extrínsecas ou intrínsecas

não afetam o desempenho do atleta que não sente razão para continuar praticando o esporte.

3, 5, 19 e 28

Fonte: Pelletier et al. (1995) e Costa et al. (2011).

No presente estudo, as subescalas de motivação intrínseca (“para atingir objetivos”, “para experiências estimulantes” e “para conhecer”) foram agrupadas e denominadas de: motivação intrínseca, contendo 12 (doze) itens. Já, as subescalas de motivação extrínseca (“externa”, “introjeção” e “identificação”) foram agrupadas e formaram a dimensão de motivação extrínseca, contendo 12 (doze) itens. A dimensão de desmotivação também foi avaliada, contendo quatro itens. Este tipo de agrupamento já foi adotado em outros estudos no futebol (GARCÍA-MAS et al., 2010; BORGES et al., 2015).

No contexto brasileiro, dois estudos verificaram as propriedades psicométricas da Escala de Motivação no esporte (SMS), sendo um validado para atletas de esportes em geral (BARA FILHO et al., 2011), e o outro para atletas de futebol (COSTA et al., 2011). No estudo de Costa et al. (2011) a amostra foi composta por 370 atletas de futebol do sexo masculino, federados e oriundos das categorias de base infantil e juvenil dos principais clubes do país. Assim como na versão original, ambos os estudos (BARA FILHO et al., 2011; COSTA et al., 2011) mantiveram a mesma quantidade de itens e dimensões, tendo evidenciado propriedades psicométricas aceitáveis (NASCIMENTO JÚNIOR et al., 2014). Os resultados dos estudos de validação permitiram aos autores considerarem os instrumentos confiáveis e adequados para mensuração das dimensões de motivação em atletas brasileiros de esportes em geral (BARA FILHO et al., 2011) e em atletas brasileiros de futebol (COSTA et al., 2011).

Embora o SMS tenha sido alvo de validação em diferentes contextos culturais (PELLETIER et al. ,1995; CHANTAL et al., 1996; MARTENS; WEBER, 2002; BARA FILHO et al., 2011; COSTA et al., 2011) e tais estudos tenham apontado indicadores adequados de validade, pesquisadores vêm debatendo cientificamente as limitações teóricas, empíricas e práticas da versão original do SMS (MALLETT et aI. 2007, PELLETIER; VELLERAND; SARRAZIN, 2007; PELLETIER; SARRAZIN, 2007; MALLETT; KAWABATA; NEWCOMBE, 2007; PELLETIER et aI., 2013; NASCIMENTO JÚNIOR et al., 2014).

Desta forma, o SMS continua em processo de aprimoramento (MALLETT et

aI. 2007; PELLETIER et al., 2013). Mallett et al. (2007) desenvolveram a versão

revisada do SMS, sendo denominada “Sport Motivation Scale-6 (SMS-6)”. Pelletier

et al. (2013) desenvolveram uma nova versão da SMS, denominada Sport Motivation Scale-II (SMS-II). Esta versão revisada (SMS-II) possui 18 itens distribuídos

igualmente em seis dimensões na SMS-II (PELLETIER et al., 2013). Recentemente, a SMS-II passou pelo processo de adaptação transcultural e avaliação das propriedades psicométricas no contexto brasileiro, sendo intitulada Escala de Motivação para o Esporte-II (NASCIMENTO JÚNIOR et al., 2014). Entretanto, no estudo de Nascimento Júnior et al. (2014) a amostra foi composta por atletas adultos, de ambos os sexos e praticantes de diferentes esportes. Além disso, os dados foram coletados nos Jogos Abertos do Paraná. Destaca-se que nesta competição não é exigido que os atletas fossem federados.

Portanto, apesar da versão original da SMS ter recebido algumas críticas (MALLETT et aI. 2007; MALLETT; KAWABATA; NEWCOMBE, 2007) que implicaram em uma revisão do instrumento (PELLETIER et al., 2013; NASCIMENTO JÚNIOR et

al., 2014), no presente estudo foi adotado o SMS na sua versão original, validado

especificamente para atletas de futebol (COSTA et al., 2011). A escolha do SMS (COSTA et al., 2011) justifica-se pelo fato da literatura apresentar argumentos que viabilizam a utilização do instrumento (PELLETIER; VELLERAND; SARRAZIN, 2007; PELLETIER; SARRAZIN, 2007). Além disso, a utilização do SMS (COSTA et al., 2011) fortalece os achados do presente estudo, pois, o instrumento foi validado em uma amostra específica da população de atletas de futebol, do sexo masculino, federados e oriundos das categorias de base infantil e juvenil dos principais clubes de futebol do país (COSTA et al., 2011).