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O presente estudo comparou as dimensões de motivação intrínseca, extrínseca e desmotivação de atletas de futebol da categoria sub-20 em uma competição federada.

Comparando as dimensões foi observado que a mediana das dimensões de motivação intrínseca (Md=5,33), extrínseca (Md=3,61) e desmotivação (Md=1,25) dos atletas de futebol da categoria sub-20 apresentaram diferenças significativas (p<0,05), com tamanho de efeito grande (ES>0,5).

Assim, observou-se que os atletas de futebol da categoria sub-20 avaliados apresentaram maior escore de motivação intrínseca, seguida da motivação extrínseca e desmotivação que, por sua vez, foi a menos evidenciada, confirmando os pressupostos teóricos do continuum de autodeterminação (DECI; RYAN, 1985).

No estudo realizado por García-Mas et al. (2010) foram analisados jovens atletas do futebol espanhol, com idades entre 14 e 16 anos buscando estabelecer a relação entre a motivação e o empenho dos atletas. Os autores identificaram que houve uma contribuição positiva da motivação intrínseca e extrínseca no

comprometimento e satisfação com o futebol, enquanto que a desmotivação contribui negativamente para a satisfação e compromisso. Especificamente em relação à motivação, os resultados indicaram que os atletas tinham níveis mais altos de motivação intrínseca comparada à motivação extrínseca e desmotivação, corroborando os resultados encontrados no presente estudo.

No estudo de Vieira et al. (2013) em que também foi estudado o aspecto motivacional dos atletas de futebol das categorias de base (infantil e juvenil) foi verificado que os atletas de futebol apresentaram menores níveis de desmotivação comparados com a motivação extrínseca e intrínseca, corroborando os resultados encontrados no presente estudo. Além disso, observou-se que os maiores índices de motivação dos atletas estão associados à motivação intrínseca, identificando que a motivação do indivíduo está voltada ao prazer e diversão no contexto esportivo.

Borges et al. (2015) analisando o aspecto motivacional dos atletas das categorias de base (sub-15 e sub-17) identificaram maiores níveis de motivação intrínseca em comparação com a motivação extrínseca e desmotivação que foi a dimensão menos percebida pelos atletas, corroborando os resultados encontrados no presente estudo.

Os atletas de futebol da categoria sub-20 se mostraram mais motivados intrinsecamente para o futebol, em relação à motivação extrínseca e desmotivação. Isto indica que esses atletas possuem um comportamento mais autônomo para a prática do futebol. Nota-se que a motivação intrínseca do atleta está ligada à sua participação voluntária na prática esportiva, com aparente ausência de recompensas ou pressão externa (RYAN; DECI, 2000). Atletas motivados intrinsecamente são caracterizados pelo interesse em aprender mais sobre sua modalidade, pela vontade de superar desafios, pela satisfação e prazer que obtêm na prática da sua modalidade esportiva (PELLETIER et al., 1995; PELLETIER et al., 2013). Considerando o processo de transição ou não da categoria sub-20 para o profissional é imprescindível que o atleta de futebol da categoria sub-20 esteja motivado intrinsecamente para que alcance o objetivo de se tornar profissional no futebol.

A motivação extrínseca está ligada a fatores externos e ocorre quando o indivíduo realiza uma atividade no sentido de obter algum tipo de recompensa financeira ou para evitar uma punição (PELLETIER et al., 1995; PELLETIER et al., 2013). No futebol, comumente são concedidos prêmios por produtividade aos atletas

em virtude da conquista de títulos. Essa premiação é uma maneira de estimular a produtividade e um maior rendimento do atleta nas competições. Destaca-se que a categoria sub-20 trata-se de um momento decisivo para a carreira esportiva de jovens atletas, uma vez que poderá ou não haver a transição desses atletas para a categoria adulta do futebol profissional. Assim, na categoria sub-20 os atletas tendem a não se preocuparem muito com os aspectos de recompensas e/ou premiações, já que o maior prêmio é ser alçado para a categoria profissional.

A dimensão de desmotivação foi a menos percebida pelos atletas de futebol da categoria sub-20. A desmotivação constitui um estado psicológico em que os atletas experimentam uma sensação de incompetência e falta de controle no que diz respeito à obtenção de um resultado desejado (DECI; RYAN, 1985), sendo caracterizada pelo sentimento de desesperança, em que o atleta não percebe a sua importância na equipe, de modo que tanto a motivação extrínseca quanto intrínseca não é capaz de afetar o rendimento do atleta que não sente razão para continuar praticando o esporte (PELLETIER et al., 1995; COSTA et al., 2011). Nesse caso, o fato dos atletas de futebol da categoria sub-20 terem apresentado um menor escore de desmotivação é considerado um fator positivo para a motivação do atleta, visto que altos escores de desmotivação nesses atletas poderia indicar um desinteresse para a prática do futebol e, em alguns casos, pode até levá-los ao abandono do futebol (CALVO et al., 2010). Com baixos escores de desmotivação os atletas da categoria sub-20 tendem a ficar mais motivados e autoconfiantes na busca de resultados pelas suas equipes, contribuindo para que esses atletas continuem praticando o futebol no sentido de se profissionalizarem.

Os atletas de futebol da categoria sub-20 participantes deste estudo mostraram que percebem mais a dimensão de motivação intrínseca, seguida da motivação extrínseca e desmotivação, confirmando a hipótese H1 do estudo, que diz que haverá diferenças significativas entre as dimensões de motivação dos atletas de futebol da categoria sub-20 em uma competição federada.

Em síntese, os dados encontrados nos atletas de futebol da categoria sub-20 corroboram com os achados de outros estudos que apresentaram resultados similares investigando a motivação no futebol (GARCIA-MAS et al., 2010; VIEIRA et

O presente estudo também comparou o índice de autodeterminação entre os atletas que jogam em clubes grandes e em clubes pequenos em uma competição federada de futebol da categoria sub-20.

Comparando o índice de autodeterminação entre os atletas que jogam em clubes grandes e em clubes pequenos, não foram encontradas diferenças significativas entre os dois grupos de atletas (p>0,05).

O índice de autodeterminação (IAD), por meio das dimensões do SMS, expressa o nível de autodeterminação do atleta, sendo mais modulado pelas dimensões da motivação intrínseca, podendo variar entre -18 a 18. Em relação à comparação dos escores medianos do IAD entre os atletas que jogam em clubes grandes (Md=7,75) e em clubes pequenos (Md=7,14), verificou-se neste estudo que os atletas apresentaram escores de IAD semelhantes. Apesar do fato de que até a presente data, não há estudos que tenham relatado o índice de autodeterminação de atletas que jogam em clubes grandes e em clubes pequenos em uma competição de futebol, é possível realizar algumas reflexões a partir dos resultados observados.

Nota-se, que em geral os atletas de clubes grandes e clubes pequenos apresentaram moderados níveis de IAD. Portanto, considerando o fato de que os atletas que jogam em clubes grandes e em clubes pequenos estão disputando uma mesma competição de destaque para a categoria sub-20, é possível que esses atletas estejam mais autodeterminados a atingirem seus objetivos na competição, o que consequentemente, pode levá-los a alcançarem um maior prestígio e ascensão no futebol mineiro. Estes resultados vão em direção ao proposto pela Teoria da Autodeterminação (DECI; RYAN, 1985, 2000; PELLETIER et al., 2013), na qual suporta que indivíduos mais autodeterminados têm maiores níveis de motivação intrínseca e menores níveis de desmotivação.

No estudo de Curran et al. (2011) foram avaliados jovens atletas do futebol inglês, com idades entre 12 e 21 anos. Segundo os autores, os atletas apresentaram um índice de autodeterminação médio de

x

=5,84. Já Moreno-Murcia et al. (2014) avaliaram 774 atletas espanhóis, com idades entre 12 e 17 anos, homens e mulheres, de esportes coletivos e individuais, os quais apresentaram um índice de autodeterminação médio de

x

=5,17. Tais resultados corroboram com os achados do presente estudo, no qual foi verificado que os atletas dos clubes grandes (Md=7,75) e clubes pequenos (Md=7,14) apresentaram escores positivos do índice de autodeterminação. Ressalta-se, que os escores medianos do índice de

autodeterminação em atletas de futebol da categoria sub-20 foram superiores aos encontrados na literatura esportiva (CURRAN et al., 2011; MORENO-MURCIA et al., 2014).

Hipoteticamente, os atletas de futebol da categoria sub-20 que jogam em grandes clubes no Brasil estão mais próximos de atuarem em uma equipe profissional e, por este motivo, esperava-se que esses atletas também apresentassem maiores níveis de autodeterminação comparados aos seus concorrentes que atuam em clubes pequenos. No entanto, em relação à comparação do índice de autodeterminação entre atletas que jogam em clubes grandes e em clubes pequenos não foram encontradas diferenças significativas, rejeitando a hipótese H2 do estudo, que diz que haverá diferenças significativas do índice de autodeterminação entre os atletas que jogam em clubes grandes e em clubes pequenos em uma competição federada de futebol da categoria sub-20.

Em síntese, observa-se que o índice de autodeterminação pode ser uma ferramenta eficiente no monitoramento da autodeterminação e dos níveis motivacionais de atletas de futebol durante uma temporada.

Outro objetivo deste estudo relacionado à avaliação do índice de autodeterminação foi desenvolver uma tabela normativa para a classificação do índice de autodeterminação, a fim de se identificar nesta amostra especificamente, os atletas de futebol da categoria sub-20 que apresentassem níveis baixo e alto para o índice de autodeterminação. A construção de uma tabela normativa para avaliação do índice de autodeterminação por faixa etária é fundamental dentro de qualquer modalidade esportiva. Esta tabela normativa para a categoria sub-20 ajudará a nortear futuras avaliações do índice de autodeterminação em atletas federados do sub-20 no futebol brasileiro.

A partir disso, foram identificados 26 atletas com nível baixo para o índice de autodeterminação (IAD≤5,55) e 28 atletas com nível alto para o índice de autodeterminação (IAD≥9,42), havendo diferença significativa entre os dois grupos (p=0,001), com tamanho de efeito grande (ES=-0,857). Em seguida, o presente estudo verificou associação entre o status dos clubes (grandes ou pequenos) de futebol da categoria sub-20 e o número de atletas com escores baixo e alto no índice de autodeterminação.

No presente estudo, ficou evidenciado que não houve associação significativa entre o status dos clubes (grandes ou pequenos) de futebol da categoria sub-20 e o número de atletas com escores baixo e alto para o IAD.

No que diz respeito à associação entre o status dos clubes e o número de atletas com escores baixo e alto para o IAD, não foram encontrados estudos na literatura que pudessem ser confrontados com os nossos resultados no momento. Foi verificado que os 26 atletas com baixo IAD estão igualmente distribuídos entre os clubes grandes e clubes pequenos. Da mesma forma, os 28 atletas com alto IAD também estão igualmente distribuídos entre os clubes grandes e clubes pequenos. Assim, percebe-se um equilíbrio entre o número de atletas com escores baixo e alto que jogam em clubes grandes e em clubes pequenos, o qual pode estar relacionado às expectativas que os atletas desses clubes possuem ao disputar uma competição de destaque para a categoria sub-20, no sentido de atingirem seus objetivos na competição, o que consequentemente, pode aumentar as chances de se profissionalizarem no futebol.

Percebe-se que entre os 26 atletas que foram classificados com baixo IAD apenas dois apresentaram IAD com escore negativo, sendo um atleta de clube grande e o outro de clube pequeno e, partindo do pressuposto teórico subjacente à Teoria da Autodeterminação (DECI; RYAN, 1985, 2000; PELLETIER et al., 2013), na qual sugere que indivíduos mais autodeterminados têm mais intenção para continuarem praticando o seu esporte, este achado demonstra que em geral os atletas mantêm a expectativa de se profissionalizarem no futebol.

No presente estudo, foi verificado que o número de atletas com baixos e altos escores para o índice de autodeterminação está distribuído de forma semelhante entre os clubes grandes e clubes pequenos, e ainda que a maioria dos atletas classificados com baixo IAD apresentaram escores positivos de IAD, o que em geral pode caracterizar o perfil dos atletas como autodeterminados. No entanto, no que se refere à associação entre o status dos clubes (grandes ou pequenos) de futebol da categoria sub-20 e o número de atletas com escores baixo e alto para o IAD, rejeita- se a hipótese H3 do estudo, que diz que haverá associação entre o status dos clubes (grandes ou pequenos) de futebol da categoria sub-20 e o número de atletas com escores baixo e alto no índice de autodeterminação.