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CAPÍTULO 4. METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

4.2. Estudo 1

4.2.2. Instrumentos de recolha de dados

4.2.2.2. Escala Dellas Identity Status Inventory-Occupation

De forma a corroborar pesquisas anteriores no domínio do desenvolvimento da identidade vocacional de jovens em contexto educativo (e.g., Taveira, 1986; Taveira & Campos, 1987; Taveira, 2000), estuda-se o desenvolvimento vocacional dos jovens institucionalizados, em centros educativos portugueses. Recorrendo ao uso da versão adaptada da escala Dellas Identity Status Inventory-Occupation (Dellas & Jerningan, 1981- DISI-O) (Anexo G) por Taveira (1986) para jovens portugueses, apresenta-se e descreve-se a escala em seguida.

O método inicial de avaliação do conteúdo vocacional foi operacionalizado por Marcia (1966). Este autor baseado no trabalho de Erikson (1956, 1963) reelaborou o modelo de Erikson, centrando-o no desenvolvimento dos adolescentes, através de entrevistas semiestruturadas, posteriormente adotado por diversos investigadores, tais como o próprio Erikson.

Abordando a noção de crise de identidade de Erikson, postulou que a fase adolescente não consiste nem da resolução de identidade, nem da confusão de identidade, mas sim do grau de exploração e comprometimento a que cada indivíduo se

109 expõe com uma identidade, de vários domínios da vida, tais como a vocação, religião, escolhas relacionais e papéis de género. Neste sentido, a teoria de Marcia (1966) argumenta que há duas partes distintas que formam a identidade de um adolescente: crise e compromisso. Este autor definiu uma crise como um momento de turbulência, onde valores antigos ou escolhas estão a ser (re)avaliados. O resultado final de uma crise leva a um compromisso assumido para uma determinada função ou valor.

Depois de desenvolver a entrevista semiestruturada como método para o estudo da identidade, Marcia (1996) delineou quatro estatutos de identidade a serem considerados na psicologia, em particular no desenvolvimento da identidade vocacional, em indivíduos adolescentes, que são definidos pelas experiências autodeclaradas de crise e de compromisso. De acordo com Marcia (1966) os estatutos designam-se:

Identity Diffusion, estado em que o indivíduo não tem uma perceção de que tem de fazer escolhas, ele ou ela ainda não fez (nem está disposto a fazer) um compromisso que altere este estatuto;

Identity Foreclosure, estado em que o indivíduo parece disposto a comprometer-se

com algumas funções e valores para o futuro. Nesta fase ainda não foi experienciada uma crise de identidade, mas o indivíduo tende a estar em conformidade com as expectativas dos outros sobre seu futuro. É um estado em que os “valores como a obediência, liderança forte, e respeito pela autoridade” são apreciados (e.g., permitindo que um pai determine uma perspetiva de carreira) como tal, esses indivíduos ainda não exploraram uma variedade de opções ou escolhas (Marcia, 1966, p. 557);

Identity Moratorium, estado em que o indivíduo está a viver uma crise, explorando

vários compromissos e está pronto para fazer escolhas, mas ainda não assumiu um compromisso efetivo;

Identity Achievement, estado no qual o indivíduo passou por uma crise de identidade

e assumiu o compromisso para uma perceção de identidade, ou seja, assumiu certos papéis ou valores que ele próprio escolheu.

A ideia principal exposta na teoria de Marcia (1966) é a de que qualquer indivíduo adquire uma perceção de identidade, determinadamente em função das escolhas e dos compromissos assumidos pessoal e socialmente.

Apesar das entrevistas semiestruturadas terem sido utilizadas e contribuído largamente para o estudo da identidade, houve necessidade de começar a investigar esta

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temática através do uso dos questionários, metodologia que se mantém atualmente. Esta opção deveu-se ao facto das entrevistas apresentaram algumas limitações (e.g., custos elevados na passagem do instrumento, complexidade na cotação dos protocolos e dificuldades na categorização dos sujeitos) e ao facto “dos questionários oferecerem maior possibilidade de validade de constructo, de consistência interna e de estabilidade. Permitem ainda uma avaliação mais objectiva da identidade e o uso de amostras mais alargadas”, assim como possibilitam uma redução significativa de tempo na sua aplicação (Taveira & Campos, 1987, p. 55).

Tendo em consideração a opção da aplicação de questionários ao invés das entrevistas semiestruturadas, surge uma escala específica para o estudo da identidade vocacional. Esta escala foi proposta por Dellas (1979), designada de DISI-O e validada por Dellas e Jernigan (1981), a qual, por sua vez, foi adaptada à população de jovens portugueses por Taveira (1986).

A escala DISI-O é uma escala de escolha forçada que oferece uma medida de avaliação da identidade vocacional. De acordo com Taveira e Campos (1987):

A escala DISI-O pretende avaliar a identidade vocacional dos indivíduos em cinco estatutos designados por Achiever, Moratória, Foreclosure, Difusão-

Difusão e Difusão-Sorte. Os estatutos são definidos (Dellas & Jernigan, 1981)

de um modo semelhante aos que Marcia utiliza para definir os quatro estatutos do seu modelo (Identity Achievement,Moratorium, Foreclosure e Identity

Diffusion) (pp. 55).

A DISI-O tem sido usada para avaliar os modos de resolução da identidade vocacional dos indivíduos em cinco estatutos da identidade vocacional, originalmente designados como Achievement, Moratorium, Foreclosure, Diffusion-Diffusion e

Diffusion-Luck. Em Portugal foram designados por Realização da Identidade,

Identidade em Moratória, Adopção de Identidade, Difusão-Difusão e Difusão-Sorte, respetivamente (Taveira, 1986; Taveira & Campos, 1987).

A formulação dos cinco estatutos definidos na escala DISI-O (Dellas & Jernigan, 1981) é feita de um modo semelhante ao que Marcia (1966) usou para definir os quatro estatutos de identidade na sua teoria. Por conseguinte, cada estatuto caracteriza-se pela presença ou pela ausência, grau de exploração de alternativas e pelo grau de compromisso efetivo e de ação em questões de identidade vocacional.

Os estudos feitos com a escala DISI-O (Dellas & Jernigan, 1981), na sua versão original, a um conjunto de alunos norte-americanos do ensino secundário e do ensino

111 universitário (N = 354) para testar a fidelidade e validade da escala revelaram o seguinte:

(…) valores de fidelidade (coeficientes alfa) satisfatórios para as subescalas

Foreclosure (.92), Achiever (.91) e Moratória (.84) e valores inferiores para as

subescalas de Difusão (.71 e .64). O estudo de validade dos resultados, a de uma análise factorial e de uma análise discriminativa, parece ter confirmado a existência de cinco dimensões distintas na escala, apesar de terem sido verificadas correlações significativas entre itens das subescalas de Difusão. (Taveira & Campos, 1987, p. 56)

Os resultados obtidos apresentam uma organização composta por cinco fatores, em que a consistência interna da escala revela coeficientes alpha satisfatórios.

À semelhança da teoria de Marcia (1966), seguindo Dellas e Jernigan (1981), Taveira e Campos (1987) e Taveira (2000), o estatuto de Realização da Identidade permite caracterizar os indivíduos que experienciaram um período de exploração e que estão a prosseguir objetivos de identidade determinados pessoalmente. O estatuto de Identidade em Moratória caracteriza os indivíduos que estão a viver um período de exploração das questões da identidade, manifestando dificuldade em fazer escolhas. O estatuto de Adopção de Identidade descreve os indivíduos, que já exploraram e que já estabeleceram um compromisso efetivo e firme com opções de identidade, embora estas tenham provavelmente sido influenciadas pelos pais ou outros grupos sociais, não sendo

per si uma escolha individual. Trata-se de um estatuto que revela a existência de pouco

ou nenhum envolvimento na exploração e que implica uma tomada de decisão pouco refletida. O estatuto de Difusão-Difusão designa-se aos indivíduos que ainda não definiram uma orientação da sua identidade, embora possam já ter iniciado alguma atividade exploratória nesse sentido. Por último, o estatuto Difusão-Sorte descreve a ausência de investimentos e a decisão vocacional é dependente do acaso do destino ser marcado pelo fator sorte.

Em Portugal a adaptação da escala DISI-O, por Taveira (Taveira, 1986; Taveira & Campos, 1987) foi feita com alunos de ambos os sexos (N= 600) do ensino Básico e Secundário, com idades compreendidas entre os 11 e os 21 anos, de estabelecimentos de ensino público e particulares do distrito do Porto. Este estudo de adaptação da escala DISI-O incluiu abordagens metodológicas mistas, em que a versão da escala adaptada é composta por 35 itens, com resposta tipo Likert Response, permitindo cinco alternativas de resposta a cada item da seguinte forma: Totalmente de Acordo Comigo (A), De

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Acordo Comigo (B), Nem de Acordo nem em Desacordo Comigo (C), Em Desacordo Comigo (D) e Totalmente em Desacordo Comigo (E). Cada resposta pode ser cotada numa escala de cinco pontos, em que A corresponde a cinco pontos, B quatro, C três, D dois e E corresponde a um ponto. O resultado para cada estatuto de identidade obtém-se pela soma dos itens que a constituem.

A versão portuguesa da escala DISI-O apresenta resultados satisfatórios, conforme Figura 10 e bastante aproximados da versão original de Dellas e Jernigan (1981), pelo que asseguram a qualidade do instrumento para avaliar a identidade no domínio vocacional. De acordo com Taveira (1986) e Taveira e Campos (1987), os valores encontrados para as subescalas Difusão na amostra portuguesa, apresentam uma consistência interna elevada em comparação com os valores da escala original com a amostra norte-americana.

Figura 10. Coeficientes de estabilidade e de consistência interna da versão portuguesa

da escala DISI-O. Retirado de Taveira e Campos (1987, p.58).

A análise da validade fatorial, presente na Figura 11, a seguir apresentada, também foi ao encontro dos resultados que Dellas fez no seu estudo, sendo que os resultados da análise evidenciaram um modelo dimensional de cinco fatores, quatro distintos e um quinto mais difuso.

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Figura 11. Matriz fatorial da versão portuguesa da escala DISI-O. Retirado de Taveira e

Campos, 1987, p. 58.

Os fatores foram designados como Realização da Identidade (Achiever-composto pelos itens 2, 10, 15, 16, 23, 29, 32), Identidade em Moratória (composto pelos itens 1, 9, 17, 13, 24, 30, 33), Adopção de Identidade (Foreclosure-composto pelos itens 4, 8, 11, 20, 22, 26, 35), Difusão-Difusão (composto pelos itens 3, 6, 14, 18, 25, 27, 34) e Difusão-Sorte (composto pelos itens 5, 7, 12, 19, 21, 28, 31) e a análise de consistência interna do modelo fatorial da DISI-O (Figura 11) revelou resultados igualmente satisfatórios, com 51% da variância total e com coeficientes alpha de Cronbach iguais ou superiores a .40, exceto para 2 dos 14 itens da Difusão.

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Em relação à análise validade diferencial dos resultados em função do ano de escolaridade, da idade e do género dos alunos participantes das amostras consideradas, tanto no estudo de adaptação à população portuguesa (Taveira, 1986) como no estudo Americano (Dellas & Jernigan, 1981) e até num outro estudo Holandês de adaptação da escala DISI-O (Meeus, 1993), revelaram que os jovens adolescentes “utilizam modos de resolução de identidade semelhantes e que à medida que se avança na escolaridade e na idade, verifica-se uma progressão rumo a formas mais adequadas de identidade (Moratória ou Realização)” (Taveira, 2000, p. 198).

Em suma, os resultados dos estudos de adaptação da DISI-O à população portuguesa (Taveira,1986; Taveira & Campos, 1987) evidenciam que os coeficientes de estabilidade e consistência interna, assim como a análise fatorial, apresentaram resultados satisfatórios e aproximados da versão original de Dellas e Jerningan (1981), pelo que se considera que a qualidade do instrumento é bastante útil para a avaliação da identidade no domínio vocacional.

Tendo em conta a natureza do estudo convém especificar que no Estudo 1, à exceção da informação sociodemográfica, pretende-se avaliar as dimensões dos constructos psicológicos da identidade vocacional de acordo com o trabalho desenvolvido por Taveira (e.g., 1986, 2000), considerando as seguintes dimensões: Realização de Identidade (RI), Adopção de Identidade (AI), Identidade em Moratória IM, Difusão de Identidade. Esta última dimensão subdivide-se em Difusão-Difusão (DD) e Difusão- Sorte (DS).