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Na figura 11, o gráfico com a frequência da variável escolaridade dos agricultores pesquisados registra que 41% destes concluíram a 4ª série do ensino fundamental; com efeito, essa pergunta específica demonstrou-se espinhosa para aqueles que não sabem ler e escrever. Procuravam se esquivar da pergunta, como se decorada a resposta de escolaridade que, possivelmente, utilizaram ao longo da vida, sempre que solicitados. Apesar de alguns declararem ser alfabetizados ou ter estudado até a 4ª série do ensino fundamental, por situações não planejadas durante a aplicação do questionário, demonstraram não saber ler e, tampouco, escrever.

Algumas reações apresentadas quando interpelados sobre a escolaridade denotaram o interesse de “fugir” da pergunta. Essas expressões corporais foram mais marcantes nos municípios de Charrua-RS e Tapejara-RS. Diante dessa ocorrência, constatamos através do Censo (2010, IBGE) que esses dois municípios possuem os maiores índices de não alfabetizados na faixa-etária de 29 a 59 anos, sendo 52,25% e 32,15% respectivamente.

Figura 11 - Escolaridade do/a agricultor/a respondente

Fonte: Pesquisa de campo.

A título de mera ilustração, podemos citar três situações que ocorreram nos estados pesquisados no Nordeste. A primeira delas trata de respondente que declarara ter cursado até a 4ª série do ensino fundamental. Após concluirmos o questionário, fomos conhecer o banco de sementes instalado pelo projeto polo da Petrobras Biocombustível - PBIO em sua propriedade, mas para o uso de todos os agricultores inseridos no programa. Durante o trajeto, o agricultor comentou que por “não saber ler era muito complicado para entender todas aquelas capacitações do projeto polo do biodiesel - PBIO”. Ele disse que “não divulga” quase nada na leitura. Inclusive, não sabia que a placa do banco de sementes levava o seu nome como coordenador.

A segunda situação envolve outro agricultor que declarara ser alfabetizado, mas ao pegar a cartilha de capacitação para a produção de mamona consorciada, disse: “nem sei o que tem nesse papel. Essa coisa de papel não ajuda quem tem pouca leitura”. E reforçou: “frequentei escola, mas não sei ler”. Uma terceira situação se deu com um agricultor pesquisado que no questionário declarara ter escolaridade até 4ª série, porém, na cédula de identidade constava “não alfabetizado”.

De fato, informar que estudou até a 4ª série do ensino fundamental é uma estratégia para não assumirem a condição de não alfabetizados. Essa negação é uma defesa do “individuo inabilitado para a aceitação social plena” (GOFFMAN, 1980, p. 33). De acordo com o autor, é

0 7,60% 3,80% 41,40% 20,20% 9,10% 11,40% 1,10% 4,90% 0,40% N Ã O A L F A B E T I Z A D O A L F A B E T I Z A D O E J A E N S I N O F U N D A M E N T A L A T É 4 S É R I E E N S I N O F U N D A M E N T A L C O M P L E T O E N S I N O M É D I O I N C O M P L E T O E N S I N O M É D I O C O M P L E T O S U P E R I O R I N C O M P L E T O S U P E R I O R C O M P L E T O N Ã O D E C L A R A D O

provável que fossem situações sociais onde os indivíduos, cujo estigma os acompanha, se sentissem pouco à vontade para enfrentar tais perguntas. E como as pessoas estigmatizadas têm mais probabilidade de defrontar tais situações do que os que não são, é provável também que eles elaborem estratégias para contornar essa situação.

4.3.1 Comparação da escolaridade entre os que permaneceram ou não no programa

É interessante destacar a existência de correlação entre nível de escolaridade e permanência do/a agricultor/a no PNPB, como mostra a tabela 7. O teste Qui-quadrado apresentou-se estatisticamente significativo (p<0,05) para a amostra, permitindo-nos dizer que: conforme aumenta a escolaridade do agricultor respondente, aumenta também a permanência no programa. Os alfabetizados pelo EJA se destacam pelo fato de 100% deles não continuarem no programa, enquanto os que se possuem nível superior incompleto permaneceram 100% no programa.

Tabela 7 - Grau de escolaridade por permanência no PNPB Situação no PNPB

Variáveis Permaneceu Não permaneceu Total

Não alfabetizado 6 14 20

30,00% 70,00% 100,00%

Alfabetizado EJA 0 10 10

0,00% 100,00% 100,00%

Ensino fundamental até 4º série 59 50 109

54,10% 45,90% 100,00%

Ensino fundamental completo 42 12 54

77,7% 22,3% 100,00%

Ensino médio incompleto 19 5 24

79,20% 20,80% 100,00%

Ensino médio completo 29 1 30

96,70% 3,30% 100,00%

Superior incompleto 3 0 3

100,00% 0,00% 100,00%

Superior completo 9 4 13

69,20% 30,80% 100,00%

Teste qui-quadrado significativo p<0,05 Fonte: pesquisa de campo.

Apesar dos dados apontarem uma correlação entre grau de escolaridade e permanência dos agricultores no programa, é importante mencionar que os agricultores que possuem curso superior completo, mas que, ainda assim, não permaneceram no programa, são casos

específicos não aplicados à maioria. Esses agricultores, formados em engenharia agronômica, são representantes de empresas de insumos e praticam o arrendamento de terras para produzir quando encontram uma boa oportunidade de negócio. Nesse sentido, visualizaram no PNPB a oportunidade de produzirem soja com contratos de venda antecipada. Para esses agricultores, o arrendamento não garantiu a renda esperada e desistiram do programa, entregando as terras ao proprietário.

4.4 CONDIÇÃO FUNDIÁRIA DA PROPRIEDADE DOS PESQUISADOS POR PERMANÊNCIA OU NÃO PERMANÊNCIA NO PROGRAMA

Em muitas situações, a condição da propriedade influencia diretamente na permanência ou não do agricultor em determinadas políticas públicas. Todavia, conforme observado na tabela 8, para o nosso estudo, realizamos o teste Qui-quadrado correlacionando a variável condição fundiária com a permanência, não obtendo resultado significativo para o teste. Nas situações em que os agricultores são arrendatários, registra-se um aumento no número dos que desistiram do programa.

Tabela 8 - Condição fundiária da unidade de produção Situação no PNPB

Variáveis Permaneceu Não Permaneceu Total

Proprietário 153 77 230 66,5% 33,5% 100,0% Arrendatário 13 13 26 50,0% 50,0% 100,0% Meeiro 1 5 6 16,7% 83,3% 100,0%

Assentamento de reforma agrária 0 1 1

0,0% 100,0% 100,0%

167 96 263

Total 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo.

Na amostra, os agricultores pesquisados que são arrendatários estão localizados no estado do Rio Grande do Sul, onde arrendam terras para produzir soja pagando um valor fixo, uma espécie de aluguel. Esses valores podem ser pagos em soja após a colheita. O perfil desses agricultores é marcado por jovens empreendedores, com formação superior e que não trabalham

diretamente na produção da soja, contratando todos os serviços para preparação do solo, plantio e colheita. Se tiverem rentabilidade, permanecem no programa; caso contrário, não renovam o contrato. A relação com a terra é estritamente comercial.

A condição de meeiros é marcada pela participação dos agricultores pobres, os mais vulneráveis social e economicamente. Entretanto, no contexto pesquisado encontramos um grupo de agricultores que não possuem terras e que estabelecem contratos na maioria das vezes verbais com o proprietário, visando produzir na condição de partilha da produção ao meio; daí o termo meeiros. Nessa mesma condição de meeiros, encontramos agricultores que possuem terras, mas que são descapitalizados, não possuindo infraestrutura na propriedade e enfrentando limitação no acesso a financiamentos.

Esses agricultores, embora sejam proprietários, se consideram meeiros porque para produzirem firmam contratos de “meeiros” com empresários investidores em maquinários que preparam o solo para plantio, dividindo os custos dos insumos e fazendo financiamentos. Essas unidades de produção possuem características da agricultura familiar camponesa (PLOEG, 2008), porém, a gestão da produção de oleaginosas para o PNPB é empresarial. Todos os controles gerenciais são realizados pelo empresário investidor, que ao final da colheita divide despesas e lucros em partes iguais.

4.5 LOGÍSTICA PARA A ENTREGA E ARMAZENAGEM DA OLEAGINOSA PARA O