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Com a variável “infraestrutura”, buscamos entender se aquelas unidades de produção com melhores condições de infraestrutura têm maiores possibilidades de serem inseridas na cadeia produtiva do biodiesel. Nesse estudo, consideramos infraestrutura para a produção os seguintes itens: a) trator para arado; b) máquinas plantadeiras; c) máquinas colheitadeiras; d) pulverizador para trator ou sobre rodas; e) arado para trator; f) descascador mecânico; g) arado de tração animal; e h) veículo para transportar a produção. Para melhor compreensão, criamos uma escala de 0-8 que corresponde aos oito itens acima mencionados, assim, partiremos do entendimento que, quanto mais se aproximar de 8, maior será seu nível de infraestrutura, e o inverso ocorrerá quanto mais próximo estiver do número 1.

O resultado do teste T apresentou-se estatisticamente significativo para as médias, obtendo p<0,05. De acordo com a tabela 11, os agricultores que permaneceram no programa possuem média de 5,2com (Min) 1 e (Máx) de 7 itens. A média dos agricultores que desistiram é de 1,4 obtendo uma (Min) e zero e (Máx) de 4 itens por propriedade. Na amostra, não encontramos unidades familiares que acumulassem os 08 pontos de infraestrutura.

Tabela 11 - Média da variável infraestrutura das unidades familiares por permanência no PNPB

Variáveis*

Situação no

PNPB Média Min Max DP

a) trator para arado; b) máquinas plantadeiras; c) máquinas colheitadeiras; d) pulverizador para trator ou sobre rodas; e) arado para trator; f) descascador mecânico; g) arado de tração animal; e h) veículo para transportar a produção.

Permaneceu 5,20 1 7 1,518

Não permaneceu

1,41 0 4 ,980

*Infraestrutura da propriedade 0-8 (soma q 12.1.1 até 12.7.8) Teste T significativo (p<0,005). Fonte: pesquisa de campo.

Estatisticamente, os dados apresentam unidades familiares com características bem distintas entre aqueles agricultores que permaneceram e aqueles que não permaneceram no programa. Para aquelas propriedades que dispõem de maiores recursos tecnológicos a favor da produção, tais como mecanização do processo de plantio e colheita, diminuem os custos com mão de obra, tornando viável a escala de produção conforme demanda o programa do biodiesel, de acordo com os percentuais de matéria-prima exigidos.

Para o entrevistado nº 08, que articulava as ações de implementação do programa através da usina do biodiesel instalada em umas das regiões pesquisadas, a pobreza dos agricultores familiares que aderiram ao PNPB está retratada na ausência de infraestrutura das unidades de produção e isso, na visão do articulador, contribui para a não permanência desse estilo de agricultura mais pobre. Vejamos o que ele diz:

Desenvolver uma cadeia produtiva para inserir um tipo de agricultor que em suas propriedades falta tudo não é uma estratégia para resolver a pobreza rural. Como pensar um cultivo que não é mecanizado? Que para produzir em escala precisa ocupar toda a mão de obra disponível na família? Esses agricultores não têm tratores e, muito menos, os descascadores mecânicos44. Para viabilizar a produção para o biodiesel,

muitos agricultores contrataram mão de obra para a colheita, serviços de trator para preparo do plantio, horas de máquina para descascar a mamona que, antes do projeto, era descascada no chicote45, ou seja, toda a produção da mamona atualmente realizada

é manual (entrevista 08).

O desenho do PNPB previa, inicialmente, duas frentes de ações para inserir os agricultores familiares da região Nordeste na cadeia produtiva do biodiesel. Uma estava ligada a experimentos de novas variedades de sementes de mamona que permitissem a produção em larga escala e com possibilidade de mecanização; a outra seria estimular a mecanização, adquirindo, fosse na modalidade individual ou coletiva, equipamentos de infraestrutura para a produção.

44 Em propriedades com pouca produção, os agricultores usam um chicote para bater a mamona seca. 45 Ver figura 4.

De acordo com Ramos (et al., 2006), para a produção de mamona com foco no mercado do biodiesel é necessário investimentos em cultivos de frutos indeiscentes46, bem como dotar

de infraestrutura mínima aquelas propriedades com poucos recursos (descascadores mecânicos, tratores com arado, depósitos para armazenar a produção contratada pela usina do biodiesel, em especial aqueles grupos de agricultores menos articulados em cooperativas. Para os autores, a produção de mamona para o biodiesel ou qualquer outro cultivo de oleaginosas sem a infraestrutura mínima torna-se inviável para um programa de inclusão produtiva dos agricultores, sobretudo nas regiões menos favorecidas, como se propunha o programa no seu desenho original.

Conforme mencionado em fala do entrevistado 08, segue abaixo na figura 14 a imagem de um chicote de couro utilizado pelos agricultores mais pobres durante a colheita da mamona.

Figura 14 - Instrumento utilizado pelos agricultores na colheita da mamona

Fonte: Acervo do STTR/ Morro do Chapéu/BA.

Apesar dos avanços tecnológicos no que concerne a produção de matéria-prima atualmente utilizada na produção do biodiesel no Brasil, ainda precisamos tratar das desigualdades de acesso a políticas públicas que visam melhorias das condições de infraestrutura para a produção na agricultura familiar das diferentes regiões do país. De um lado estamos pesquisando agricultores que estão inseridos em cadeia produtiva totalmente

46 É uma característica do fruto que possibilita ao agricultor colheita única e mecanizada. Para atender ao

agronegócio da mamona no Brasil, o Instituto Agronômico de Campinas - IAC disponibilizou para o PNPB uma nova cultivar, a IAC-2028, de elevado potencial produtivo, ciclo precoce e frutos indeiscentes. No entanto, essa variedade não se adaptou às condições edafoclimáticas dos estados do Piauí e da Bahia. O PNPB tomou como referência a elevada produção das unidades de demonstração implementadas no Estado de São Paulo (RAMOS et al., 2006).

mecanizada com a redução do uso de mão de obra; do outro lado, agricultores integrados em modos de produção totalmente manuais e com forte dependência de mão de obra.